terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Guardem quem nos defende, joga com nosso dinheiro e nos cobra impostos


Segundo o Observador e o Correio da Manhã, a PJ (Polícia Judiciária) está a fazer buscas na IGF (Inspeção-Geral de Finanças), no MDN (Ministério da Defesa Nacional) e na CVP (Cruz Vermelha Portuguesa) por suspeita de subornos em troca de informação com inspetores do fisco.
Na origem desta investigação estarão várias denúncias na IGF, que visam também Vitor Braz, o seu inspetor-geral, por conflito de interesses e crimes de tráfico de influência.
As diligências foram, entretanto, confirmadas pela PGR (Procuradoria Geral da República), que informa, em comunicado, que o processo de inquérito, dirigido pelo DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) de Lisboa, investiga fundadas suspeitas de “corrupção passiva, peculato e abuso de poder imputáveis, indiciariamente, a altos responsáveis de serviços centrais da Administração Pública do Estado”, havendo inclusivamente quem tenha vendido informações confidenciais para o exterior. Os inspetores da PJ estão a vasculhar casas e locais de trabalho. Durante a operação está previsto que sejam constituídos arguidos, embora se desconheça ainda em que número, mas não foram emitidos quaisquer mandados de detenção.
Segundo a PGR, o MP (Ministério Público) quererá apurar “responsabilidades individuais de dirigentes da administração pública da área de serviços com a missão designadamente do controlo financeiro e fiscal do Estado, da área ministerial, incluindo uma Instituição humanitária de utilidade pública e uma empresa privada – tendo em conta os indícios da prática de atos ilícitos em procedimentos concursais, em ações de fiscalização que lesaram gravemente o Estado nos seus interesses financeiros –, tendo como contrapartidas benefícios individuais dos visados”.
Haverá, segundo o Correio da Manhã (CM), “toupeiras” na IGF a aceitar subornos de interesses privados, pelo que a PJ está nestas entidades com a sua UNCC (Unidade Nacional de Combate à Corrupção) e vários magistrados (ao todo, 50 inspetores da PJ, peritos informáticos e financeiros da PJ, 6 magistrados do MP e 4 auditores) para também investigar altos responsáveis da IGF que poderão estar a acumular cargos remunerados em empresas públicas que têm como dever fiscalizar. Com efeito, vários diretores da IGF têm cargos em entidades e instituições com fundos públicos, como Vítor Braz, que é presidente do conselho de auditoria da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. E a PJ suspeita de que a IGF não fiscaliza com rigor entidades como o MDN e a CVP por conflitos de interesse similares. O mesmo CM refere que Filomena Bacelar, responsável da IGF, mulher dum empresário da construção civil que teve vários contratos com o Estado e uma das visadas no caso Swissleaks, tem uma conta num paraíso fiscal.
A agência Lusa também questionou o Mistério das Finanças, mas fonte oficial recusou pronunciar-se dizendo não comentar “processos judiais em curso”.
***
Por seu turno, o ECO assinala que arriscam veto do BCE (Banco Central Europeu) 14 gestores que passaram pela CGD (Caixa Geral de Depósitos), o banco do Estado, e que Norberto Rosa terá sido a primeira vítima.
Na verdade, os gestores que passaram pela CGD entre 2005 e 2008 e que queiram mudar de emprego no setor bancário poderão ter dificuldades em obter o aval do BCE por causa da auditoria da EY à gestão do banco público. Com efeito, esta auditoria concluiu que, entre 2005 e 2008,  o banco do Estado aprovou várias “operações ruinosas”, como consta de documento já na posse do BCE, que tem utilizado, segundo o comentador Marques Mendes, a informação nele inclusa para avaliar a idoneidade dos gestores que passaram pela instituição nesse período, caso mudem de funções e precisem novamente de ter o ‘ok’ do BCE.
Segundo os relatórios e contas da CGD, entre 2005 e 2008, a que o ECO acedeu, passaram pela Caixa 14 administradores, entre os quais Norberto Rosa (esteve 6 meses à espera de luz verde do BCE para integrar a equipa do BCP, tendo acabado por desistir), o próprio Carlos Costa, governador do BdP (Banco de Portugal), e Faria de Oliveira, presidente da APB (Associação Portuguesa de Bancos). E a auditoria à gestão da CGD entre 2000 e 2015, que teve o custo de cerca de um milhão de euros, terá concluído que “o banco aprovou entre 2005 e 2008 várias operações ruinosas”, como revelou Marques Mendes no seu comentário semanal na Sic, que acrescentou:
Não é apenas nesse período. Mas esse período – 2005 a 2008 – é considerado pela auditoria o período mais negro da gestão da Caixa”.
Tal documento foi enviado “aos supervisores e às autoridades de investigação criminal, na eventualidade de conter indícios de práticas que possam configurar crime, mas não ao acionista Estado”, segundo avançou o Ministro das Finanças, que recusou enviá-lo à Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças, invocando o sigilo bancário.
Por outro lado, o relatório da auditoria já está, há alguns meses, no MP a pedido da própria instituição. A Caixa anunciou que tinha enviado a auditoria para o MP, mas recusava-se a enviar o relatório à predita comissão parlamentar. Por isso, Marques Mendes admite que se venham a desencadear “investigações e acusações por gestão danosa da Caixa”. E outra consequência da auditoria, ainda segundo Marques Mendes, é “que gestores que passaram pela Caixa naquele período [2005/2008] não vão conseguir no futuro a aprovação do BCE para voltarem a ser gestores de bancos em Portugal”, ficando, assim, uma “chamada de atenção para gestores cuja idoneidade tenha de ser avaliada ou reavaliada pelo BCE no futuro”. Porém, esta limitação só terá relevância prática para os administradores que pretendam mudar de funções e necessitem de uma nova avaliação por parte do BCE, o que não será o caso da maior parte dos administradores em funções no período em causa porque já estão próximos da idade da reforma ou sem perspetiva de nomeação para a administração de outro banco.
Os administradores em causa, segundo o ECO, são: Carlos Santos Ferreira, Maldonado Gonelha, Vítor Lopes Fernandes, Carlos Costa, Celeste Cardona, Norberto Rosa, Francisco Bandeira e Armando Vara, que integraram o conselho administração da Caixa em 2005 – que se manteve em funções no ano seguinte, exceto Carlos Costa que renunciou ao cargo em setembro de 2006, tendo sido substituído como vogal por José Joaquim Berberan; e, como o conselho de administração teve uma mexida mais significativa em 2008, Fernando Faria de Oliveira, que assumiu a presidência, tendo Francisco Bandeira como vice-presidente (mantendo-se Norberto Rosa como vogal), Rodolfo Lavrador, José Araújo e Silva, Jorge Tomé e Pedro Cardoso, que entraram, repetindo-se no ano seguinte.
Questionado o BdP pelo ECO sobre se o BCE já está a avaliar a idoneidade daqueles gestores (até porque Norberto Rosa estava, desde maio, à espera de uma resposta do BCE para integrar o conselho de administração do BCP, mas optou por aceitar o cargo de secretário-geral a APB), fonte oficial do regulador, que se escudou nos “deveres de segredo a que se encontra legalmente obrigado”, sublinhou:
No exercício das funções de supervisão e, em particular na avaliação da adequação para efeitos do exercício de funções em órgão de administração e fiscalização das instituições supervisionadas, as autoridades de supervisão tomam em consideração toda a informação relevante que seja do seu conhecimento”.
Também Pedro Cardoso, administrador financeiro a partir de 2007 e ex-líder do BNU (Banco Nacional Ultramarino), banco da CGD em Macau, espera a autorização do BdP para começar a exercer funções de CEO do Bison Bank, o antigo banco de investimento do Banif, não havendo qualquer informação disponível sobre a situação deste processo, que está em Lisboa porque este banco não é supervisionado pelo BCE.
De qualquer modo, uma fonte do setor bancário português mostrou-se convicta de que o BCE pode não estar a limitar o seu período de análise aos gestores da CGD em funções entre 2005 e 20108, então liderada por Carlos Santos Ferreira; poderá estar em causa mesmo todo o período sobre o qual incide a auditoria da EY, ou seja, entre 2000 e 2015.
***
 Tendo em conta os casos investigados, os casos em investigação e outros que foram objeto de rumores a propósito dos fundos comunitários – por exemplo, a gestão ruinosa de fundos atribuídos à formação profissional, o desvio dos legítimos fins nas ajudas à agricultura e à indústria, a compra de jipes e carros de alta cilindrada com fundos do QREN… –, o PSD, na sua estratégia para os fundos estruturais, sugere a mudança de tutela, a reestruturação de recursos humanos nos organismos intermédios e a aposta nos resultados em detrimento da execução, pois entende que tais fundos devem ser orientados para resultados, e não norteados pelo “imperativo da execução”, e defende o “princípio da equidade” e o combate à corrupção nos fundos através da criação da figura da delação premiada.
A este respeito, Rui Vinhas da Silva, ex-gestor do Compete e coordenador do CEN (Conselho Estratégico Nacional) do PSD para a Economia, Trabalho e Inovação, apresentou hoje o documento “Recursos da União Europeia e Fundos Estruturais: Que caminho para o Futuro?”, em que defende o combate à corrupção nos fundos por “mecanismos de prevenção e deteção de fraude”, e pela delação premiada e por um sistema antifraude europeu assente no desenvolvimento, em cada Estado-membro da UE (União Europeia), de mecanismos eletrónicos de submissão de queixas pelos cidadãos em estreita cooperação com o OLAF (The European Anti-Fraud Office). E, para moralização da utilização dos fundos, defende que, em territórios de baixa densidade, sejam financiados pelos fundos estruturais só os projetos que criam emprego e riqueza cujas unidades produtivas (e não sedes fictícias) se situem nesses territórios (Pobre do Interior!).
Tais sugestões ganham nova premência já que o Expresso (acesso pago) denunciou, este fim de semana, que 8 funcionários do IAPMEI estão a ser investigados pela PJ  por suspeitas de corrupção e tráfico de influências na atribuição de fundos europeus, já que alegadamente exigiam dinheiro em troca da atribuição dos fundos às empresas.
Porém, as propostas socialdemocratas vão mais além. Em termos de arquitetura da gestão dos fundos, a mudança começa pela tutela, devendo ser o Primeiro-Ministro ou o Ministro da Economia a ter a tutela dos fundos, que está, de momento, com o Ministro do Planeamento e das Infraestruturas, sendo que as várias áreas setoriais se encontram sob a alçada dos respetivos ministérios: Economia, com as empresasPescas e Mar, com Ana Paula Vitorino; Agricultura, com Capoulas Santos; e o POSEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos), com João Matos Fernandes. Por outro lado, o documento apresentado hoje, na sede do PSD, com a presença de David Justino e de Isabel Meirelles, respetivamente presidente do CEN e coordenadora do CEN para os Assuntos Europeus, propõe que as autoridades de gestão dos fundos e os organismos intermédios (Aicep, ANI, Iapmei, AEP, AIP, etc.) devem ser alvo da “reestruturação de recursos humanos”, introduzindo-se “sangue novo das universidades, empresas, associações setoriais e centros tecnológicos”. E as CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional), que atualmente têm a tutela conjunta do Planeamento, Ambiente e Ministro-Adjunto “devem ser instrumentos de política económica do Ministério da Economia”.
Em termos estratégicos, o PSD propõe uma cooperação mais estreita entre as empresas e as instituições de ensino superior de gestão e engenharia nacionais e estrangeiras, com um aumento de doutorados nas empresas; a criação de centros de exposição de produtos e serviços para grandes clientes e negócios de elevado valor acrescentado; e, ainda, o desenvolvimento e implementação dum núcleo de análise estatística, que assista ao planeamento estratégico e ao processo decisório, pela medição rigorosa do impacto dos fundos estruturais na economia.
Do ponto de vista mais macroeconómico, vem a sugestão de que a PAC (Política Agrícola Comum) seja racionalizada, “já que é a rubrica individual mais expressiva em todos os Quadros Financeiros Plurianuais”, e se aumente a sua eficiência, “enquadrando-a e interligando-a nos focos: valor acrescentado europeu; investigação e inovação, bem como sofisticação do tecido empresarial europeu”. E, na Política de Coesão, o Orçamento europeu, deve focar-se nas áreas com maior potencial de aportar valor acrescentado europeu (transnacional), como a investigação, a inovação, a segurança (interna e externa), a mobilidade de pessoas, bens e serviços (através de interligações físicas e digitais) e a competitividade da economia europeia.
***
O exposto mostra que temos de encontrar mecanismos de controlo sobre quem tem o encargo da defesa e da segurança da República, sejam as Forças Armadas (vejam-se os casos de Tancos e os ocorridos na Armada), sejam a PSP, a GNR e a PJ, sejam os bombeiros.
Também está visto que aqueles que gerem os nossos dinheiros nem sempre estão revestidos do caráter escrupuloso que lhes merecem os contribuintes, os depositantes e os investidores. Não seria estranho que a sede do lucro tivesse levado ao descalabro a Banca, exigindo-se, porém, que o regulador e o judiciário atuassem em conformidade e com a prontidão exigível, mas é lamentável que os gestores do banco do Estado, que deveria ser o nosso banco, passem impunes. Que é isso de não poderem ser administradores de banco, se pretenderem mudar-se, mas poderem continuar a ser Governador do BdP ou ser secretário-geral a APB?!
Depois, como é que os trabalhadores do fisco não conseguem cobrar as dívidas e coimas por fraude de passageiros em transportes públicos, transportando a culpa para a informática, e se divertem a prevaricar por conflito de interesses e crimes de tráfico de influência, incluindo venda de informação para o exterior (isto, para não falar das fugas do segredo de justiça e do segredo profissional…)? Quem nos livra das tentações consumadas de quem nos cobra, tantas vezes em excesso, os impostos e contribuições e dos políticos que se governam à nossa custa, esbulhando-nos, em vez de nos governarem?
E, quanto às sugestões do PSD para os fundos estruturais, sem comentar o seu mérito, que o é em muitos aspetos, só me pergunto: Qual a diferença em sermos roubados pelo Ministro A, pelo Ministro B ou pelo Primeiro-Ministro ou por outrem sob a tutela de algum destes?
Haja quem nos defenda e haja quem guarde quem nos defende? Bastará confiar em Deus, mas quem não tem experiência de confiar no ser humano, que vê, como pode ter experiência de confiar em Deus, a quem não vê?
2018.12.11 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário