quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Aromas de Natal no Santuário de Fátima


À cabeça, vem a Mensagem de Natal do Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (abreviadamente “Santuário de Fátima). Nela, o Padre Carlos Cabecinhas lembra a “condição humana”, que é condição de peregrino, e a nossa vida, que é peregrinação, explicitando que, “no mistério do Natal, Deus faz-Se peregrino connosco e nosso companheiro de viagem”, pois “toda a vida de Jesus Cristo é apresentada pelos Evangelhos como uma caminhada, uma viagem, uma peregrinação”, que tem o seu ápice em Jerusalém.
Referindo que “Dar Graças por peregrinar em Igreja” é o tema do ano pastoral de 2018/2019, o segundo dum ciclo de três anos, intitulado genericamente como “Tempo de Graça e misericórdia”, e que evoca a dimensão eclesial deste dom que Fátima é para a Igreja e para a humanidade, o Reitor do Santuário dá graças a Deus “por peregrinarmos em Igreja e por descobrirmos no Deus-Menino do presépio, Jesus Cristo, o Deus que se faz nosso Companheiro de viagem, o Guia e o Caminho que nos conduz à vida plena”.
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Depois, surge a notícia de que o Santuário de Fátima apoia, designadamente através da coleta das Missas de Natal, dois projetos para a infância na Guiné Bissau, que dão corpo a duas iniciativas nas áreas da saúde e da educação dinamizadas por religiosos franciscanos e religiosas franciscanas. Assim, este ano, a coleta das celebrações natalícias irá para os projeto Nô Kume Sabi, em Cacheu, uma das regiões da Guiné-Bissau onde a missionação está a cargo da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora da Aparecida, do Brasil, e para a Escola Antero Sampaio, dinamizada pelos Padres Franciscanos, para compra de mesas para as novas salas de aula decorrentes da extensão da escola da 9.ª classe para a 12.ª classe. 
Em Cacheu e porque na Guiné-Bissau a ida à escola nunca é só a ida à escola, as irmãs trabalham na área da alimentação e da saúde com as mães e mulheres grávidas.
Em Canchungo, as irmãs criaram, há alguns anos, o Jardim Esperança, onde recebem as crianças para a educação de infância. Ao terminarem esta etapa, passam para a Escola Antero Sampaio, dinamizada pelos padres Franciscanos, que tem desde o 1.º ano até ao 12.º ano.
Um dos objetivos deste projeto das Irmãs é prevenir e combater a desnutrição das grávidas e das crianças até aos 5 anos, através da produção e comercialização duma mistura vitamínica composta por ingredientes de produção local, como é o caso da cabaceira, do caju, as sementes de abóbora, moringa, farelo de arroz, folhas de mandioca e folhas de batata-doce.
Numa outra ação desenvolvida por esta iniciativa, é proporcionado um quadro de formações semanais em ordem a uma gravidez saudável, um parto seguro e institucionalizado e um aleitamento materno exclusivo até aos 6 meses.
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O Santuário de Fátima vai viver o tempo de Natal de forma intensa e especial. No dia 24 de dezembro, Solenidade do Natal do Senhor, pelas 23 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, os peregrinos são convidados a participar na Missa do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Neste dia, não haverá recitação do Rosário às 21,30 horas. E, a 25 de dezembro, segue-se o programa habitual dos domingos, sendo que nas missas do dia se fará a osculação da imagem do Menino Jesus. E, no rosário durante a oitava do natal meditam-se os Mistérios Gozosos
A Eucaristia no dia 30, Festa da agrada Família, é celebrada pelas 11 horas, na Basílica da Santíssima Trindade, com consagração das famílias.
Entretanto, a 16 de dezembro, o Cardeal Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, abençoou imagens do Menino Jesus em Fátima e desafiou à vivência “da alegria da festa do Natal” – iniciativa coincidente com a típica festa de Natal do Santuário de Fátima.
Presidindo, este domingo, à missa na Basílica da Santíssima Trindade, na qual participaram os colaboradores e voluntários do Santuário de Fátima e abençoando as imagens do Menino Jesus que os peregrinos tinham consigo, Dom António Marto disse.
Deus alegra-se em ti e por tua causa; tu alegras-te em Deus e com Deus e tu és capaz de levar esta alegria aos irmãos”.
Neste 3.º domingo do Advento, que a igreja assinala como sendo o Domingo da Alegria, tempo de preparação para o Natal, o Bispo de Leiria-Fátima sublinhou que só quem experimenta a alegria de Deus a pode transmitir aos irmãos. E, convidando os presentes a um permanente esforço de conversão, em consonância com a resposta de João Batista a quem lhe perguntava “que devemos fazer”, vincou:
Quem não for capaz de abrir o seu coração ao outro; quem deixa corromper a sua consciência, sem capacidade de distinguir entre o bem e o mal, quem se deixa subjugar pelo poder não pode viver a Alegria de Deus nem a pode levar aos outros”.
Esta missa do programa oficial do Santuário foi particularmente participada pelos colaboradores da instituição que hoje fizeram a sua festa de Natal. Por isso, o prelado diocesano dirigiu-lhes uma mensagem particular pedindo a intercessão de Nossa Senhora, “cheia de Santa Alegria”, e que o Santuário seja a “casa da Alegria de Deus e dos Irmãos” onde os peregrinos recebam “a Alegria do Evangelho”.
A festa de Natal do Santuário terminou com um concerto de Natal (entrada livre), no anfiteatro do Centro Pastoral de Paulo VI, com a presença do Coro e Orquestra do Conservatório de Música e Artes do Centro e da Orquestra Bomtempo, sob a direção do maestro Cesário Costa.
O concerto estreou a peça “Pastoral de Natividade”, do compositor português Sérgio Azevedo, para coro de crianças, oboé e orquestra de cordas, com melodias e textos da nossa tradição oral, onde “a pureza e ingenuidade das vozes brancas das crianças alia-se a uma escrita orquestral, harmónica, melódica e rítmica sofisticada, por vezes até complexa” (lê-se na descrição do autor).
A “Abertura em Ré M”, de António Leal Moreira (1758-1819) e a peça “Os Pássaros”, do compositor italiano Ottorino Respighi (1879-1936), foram outras das peças que integraram o repertório do concerto, com a Orquestra Bomtempo, que iniciou a sua atividade na temporada de 2017/2018. Desde então, esta formação já se apresentou em Ourém, Batalha, Fátima, Pombal, tendo também participado no Festival de Música do Centro, bem como, mais recentemente, no Festival de Órgão, de Santarém.
A par da orquestra, esteve em palco um coro, constituído por cerca de 240 crianças que integram o Conservatório de Música e Artes do Centro, que centra a ação no desenvolvimento das artes, com especial enfoque no ensino oficial da música, e que atualmente congrega mais de 3 mil alunos em projetos internos e de itinerância.
Na direção, esteve, como se disse, Cesário Costa, diretor artístico e maestro titular da Orquestra Bomtempo, que desde 1997 já dirigiu inúmeras formações nacionais e estrangeiras, entre as quais: a Orquestra do Algarve; a Orquestra Clássica do Sul; a Orquestra Sinfónica Portuguesa; a Orquestra Gulbenkian; a Orquestra Sinfónica do Porto, Casa da Música; a Orquestra Metropolitana de Lisboa; a Orquestra de Câmara da Rádio Romena; a Berliner Symphoniker; a Royal Philharmonic Orchestra e a Orquestra Sinfónica de Nuremberga. Depois de concluir, em Paris, o Curso Superior de Piano, estudou Direção de Orquestra, completando com nota máxima a licenciatura e o mestrado na Escola Superior de Música de Würzburg, na Alemanha.
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Também com aromas de Natal do Santuário, o organista do mesmo Santuário de Fátima, David Paccetti Correia, realizará um recital de órgão no próximo dia 30 de dezembro pelas 15,30 horas, uma iniciativa integrada no Ciclo do Órgão da Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima no último domingo de cada mês.
Durante cerca de 25 minutos, o organista interpretará um programa musical alusivo à época de Natal e que integra Toccata in d (Sonate d’Intavolatura per organo e cimbalo), de Domenico Zipoli; Sonata em Fá Menor K.43, de Carlos Seixas; Sonata em K.70, de Domenico Scarlatti ; Sonata em Sol Maior K.48, de Carlos Seixas; Versi in C I, II, III & IV (Sonate d’Intavolatura per organo e címbalo) e Canzona in F (ibidem), de Domenico Zipoli; e Noël “Où s’en vont ces gais Bergers” – offertoire (29) (Livre de noëls pour l’orgue et le clavecin), Noël “Chantons, je vous prie – autre” (45) e Noël “Il n’est rien de plus tendre” (35), de Jean-François Dandrieu .
David Paccetti Correia é diplomado em Órgão pelo Conservatório Superior de Música de Saragoça e licenciado em Órgão pela Universidade de Évora. Em 2012, assumiu o cargo de organista titular da Igreja Catedral de Santarém e da Igreja da Piedade na mesma cidade, que acumula, desde 2018, com a função de organista no Santuário de Fátima. Foi professor de Órgão na Academia de Música de Santa Cecília (Lisboa). De 2010 a 2018 assumiu o cargo de gestor dos Órgãos Históricos de Santarém, diretor artístico do Ciclo de Órgão de Santarém, e diretor da edição da coleção discográfica Órgãos Históricos de Santarém. É diretor artístico, professor de Órgão e organista titular da Schola Cantorum da Catedral de Santarém, único coro-escola oficialmente associado a uma catedral em Portugal, e da Schola Cantorum de Belém (Mosteiro dos Jerónimos). Atuou como organista em Portugal, Espanha, França e Áustria. É organista residente nas edições anuais do Ciclo de Concertos a seis Órgãos na Basílica de Mafra desde a 1.ª edição, em 2011. É presidente da Federação Portuguesa de Pueri Cantores desde a sua constituição em 2014.
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Por fim, é de meditar a Mensagem de Natal do Cardeal Dom António Marto a que dá o título “Um novo abraço entre gerações".
Começa por afirmar que “a celebração do mistério admirável de Deus feito homem” é “o acontecimento que não pertence só ao passado”, pois “nunca cessa de se atualizar”. Com efeito, “Deus decidiu vir ao nosso encontro e na sua carne humana abraçar a todos com a sua ternura no rosto encantador de Jesus-Menino” e “introduz esta ternura nos corações humanos para os aproximar uns dos outros”. E, referindo que “o presépio representa plasticamente a beleza deste mistério” e nos convida a “assumir a cultura do encontro, da aproximação e da proximidade, da ternura” elege-o como “uma das marcas mais belas que o Natal de Cristo deixou na nossa cultura e na sociedade”, pois “nos mobiliza, de todas as partes, para o encontro e a festa em família e a solidariedade com os necessitados”, parecendo concretizar a profecia: “Ele converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais” (Ml 4,24).
Depois, coloca o dedo na ferida da sociedade hodierna e põe em evidência o desafio do Natal:
Assistimos a uma fragilização dos laços em família e na sociedade, a um distanciamento entre a geração mais nova e a mais adulta ou idosa. Este Natal desafia-nos a um abraço ou uma aliança entre gerações! Trata-se de uma questão vital para o futuro das nossas sociedades!”.
A seguir, fala dos jovens no Natal de Cristo, no cruzamento do recente Sínodo dos Bispos, em que esteve em foco “a relação com os jovens” e o programa pastoral da diocese a que pertence Fátima, que também tem como tema essa relação com os jovens. E, assumindo uma passagem dum texto do Papa a convidar-nos a esta reflexão a partir da contemplação do presépio, discorre:
Ao olhar o presépio, deparamo-nos com os rostos de José e Maria: rostos jovens, cheios de esperanças e aspirações, cheios de incertezas; rostos jovens, que perscrutam o futuro com a tarefa não fácil de ajudar o Deus-Menino a crescer. Não se pode falar de futuro sem contemplar estes rostos jovens e assumir a responsabilidade que temos para com os nossos jovens; mais do que responsabilidade, a palavra justa é dívida: sim, a dívida que temos para com eles.”.
E faz um levantamento de contradições na relação da Igreja com a juventude: cria-se “cultura que (…) idolatra a juventude procurando torná-la eterna”, mas, paradoxalmente, condenam-se os jovens “a não possuir um espaço de real inserção”, porque “os fomos marginalizando da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou que não lhes permite projetar o amanhã”; espera-se e exige-se que “sejam fermento de futuro, mas discriminamo-los e ‘condenamo-los’ a bater a portas que, na maioria, permanecem fechadas”.
Ora, sob a égide do presépio, “somos convidados a não ser como o estalajadeiro de Belém que, à vista do jovem casal, dizia: aqui não há lugar. Não havia, de facto, lugar para a vida, para o futuro. Mas agora tem de haver. Para tanto, diz o prelado fatimita, “a cada um de nós é pedido para assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os nossos jovens a encontrar”, na sua pátria “horizontes concretos de um futuro a construir”. E “contemplar o presépio desafia-nos a ajudar os nossos jovens para não ficarem desiludidos à vista das nossas imaturidades e a estimulá-los para que sejam capazes de sonhar e lutar pelos seus sonhos; capazes de crescer e tornar-se pais e mães do nosso povo” – insiste o cardeal.
Por isso, o Bispo de Leiria-Fátima considera que “não podemos deixar os jovens sozinhos”, pois, “correm o risco de ficarem fechados no mundo das relações virtuais, desenraizados, sem as raízes vitais da carne e do sangue, de histórias e de experiências ricas de amor”. Assim, “há que ajudá-los a enfrentar o futuro sobretudo quando este gera ansiedade, insegurança e medo”.
Citando Dom José Tolentino de Mendonça, o Cardeal Dom António Marto diz que “é preciso que os adultos testemunhem aos jovens que a sua irrequietude é um dom; que a sua sede de verdade e de beleza representam um tesouro; e que vale a pena acreditar”.
Depois, citando o Papa Francisco, almeja “um mundo que vive um novo abraço entre os jovens e os idosos, para o que “é necessária a audácia da ternura para criar quotidianamente uma ponte para aproximar um jovem a um idoso e vice-versa” – abraço que “enriquece a todos e leva a um avanço da sociedade”, tornando-a “mais humana”.
Finalmente, estende o seu abraço fraterno próprio do Natal, “sob a forma de ternura, proximidade, partilha e solidariedade”, em especial, “aos irmãos mais frágeis e carenciados, os sós, os doentes, os presos, os descartados”, pois, como dizia Santa Teresa de Calcutá, “é Natal cada vez que sorrio ao meu irmão e lhe ofereço a minha mão”. E apela vivamente à participação de todos na iniciativa de solidariedade de Natal promovida pela Cáritas Nacional e levada a cabo pelas Cáritas Diocesanas 10 milhões de estrelas – um gesto pela paz.
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Para que o Natal seja a festa de Deus e a festa do homem, precisa da cooperação de todos e de cada um. Ninguém pode deixar de abrir o coração a Deus e à Sua ternura, aos irmãos e às suas necessidades ou às suas alegrias. É festa. Celebremos também com Fátima e a Mãe!  
2018.12.20 – Louro de Carvalho

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