sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A primeira mulher general nas Forças Armadas Portuguesas


Era talvez a tropa a área em que a mulher não conseguia chegar ao topo, mas já aconteceu. Com efeito, vários órgãos de comunicação social, com base na informação difundida pela agência Lusa, referiram, a 21 de dezembro, que a coronel Regina Mateus foi promovida a brigadeiro-general, tornando-se na primeira mulher a ascender ao generalato na história das Forças Armadas Portuguesas (FAP).
E o semanário “O Diabo” refere que a diretora do HFAR (Hospital das Forças Armadas) “fez história na passada sexta-feira ao tornar-se a primeira mulher portuguesa a alcançar o generalato”.
Segundo a edição on line do Público, de 21 de dezembro, era a coronel mais antiga das FAP e, como dissera à Lusa fonte oficial, o despacho de promoção de Regina Mateus foi assinado na passada sexta-feira pelo Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, e seguiu para confirmação do Presidente da República.
Citado em comunicado do Ministério da Defesa Nacional, Gomes Cravinho considerou que a promoção de Regina Mateus a general é um momento “de grande simbolismo” e representa “um telhado de vidro que se quebra”. E formulou o seguinte voto:
Espero que este momento seja um exemplo para todas as mulheres nas fileiras e uma fonte de inspiração para aquelas que pensam na possibilidade de uma carreira militar”.
Entretanto, a 27 de dezembro, o Diário da República n.º 249, Série I, publica o Decreto do Presidente da República n.º 100/2018, de 27 de dezembro, em que “é confirmada a promoção ao posto de Brigadeiro-General da Coronel Médica Regina Maria de Jesus Ramos Mateus, efetuada por deliberação de 6 de dezembro de 2018 do Conselho de Chefes de Estado-Maior e aprovada por despacho do Ministro da Defesa Nacional de 21 de dezembro de 2018”.
Regina Mateus assumiu a direção do HFAR a 23 de Julho passado, mantendo o posto de coronel, mas com a perspetiva de promoção. A promoção ficou dependente de vagas na FA (Força Aérea) e de autorização do Governo. Sucedeu no cargo ao Brigadeiro-General António Lopes Tomé e tem como subdiretor do hospital o Capitão-de-mar-e-guerra Manuel Ribeiro, que sucedeu ao Capitão-de-mar-e-guerra Luís Carlos Bronze dos Santos Carvalho, que acaba de ser promovido a Comodoro por  deliberação de 6 de dezembro de 2018 do Conselho de Chefes de Estado-Maior, aprovada por despacho do Ministro da Defesa Nacional de 14 de dezembro de 2018 e confirmada pelo Decreto do Presidente da República n.º 96-K/2018, de 18 de dezembro.
Nascida em 1966, em Lourenço Marques, hoje Maputo (Moçambique), frequentou o curso de Medicina na Universidade de Coimbra, concluído em 1991. Ingressou no quadro permanente da FA em 1993, sendo a mais antiga coronel das FAP. Foi colocada no antigo hospital da FA, atual HFAR, e tirou depois o curso de Medicina Aeronáutica. Fez o internato complementar em Cirurgia Geral e obteve o grau de assistente hospitalar em 2002.
Em 2003 chefiou a equipa de saúde militar presente no exercício de avaliação táctica da NATO, em Ovar, e participou em várias missões da Aliança Atlântica como “Avaliadora de Proteção da Força” em Portugal, Grécia, Turquia e Espanha. Foi chefe do centro de Saúde da Base Aérea de Monte Real e do Centro de Medicina Aeronáutica da Força Aérea.
Desde o final da década de 80, as mulheres passaram a poder integrar o serviço militar voluntário incluindo o quadro permanente dos ramos militares, sendo a FA o primeiro ramo a adotar a medida.
***
Não foi, no entanto, Portugal o pioneiro nessa matéria no quadro dos países de expressão portuguesa. Já lá vão 6 anos: em 20 de dezembro de 2012, segundo o G1, em Brasília, a Presidenta Dilma Rousseff homenageou Dalva Maria Carvalho Mendes, promovida ao posto de contra-almirante da Marinha. Era a primeira mulher da história a ocupar um cargo de oficial-general das FAB (Forças Armadas Brasileiras). E Dilma, durante solenidade de apresentação dos generais-oficiais recém-promovidos ao topo das Forças Armadas, enfatizava:
É com satisfação que recebo os generais recém-promovidos ao mais alto círculo da atividade militar. Não poderia deixar de registar aqui que, pela primeira vez, uma mulher ascende à patente de oficial-general, demonstrando que também, nas Forças Armadas, patriotismo e profissionalismo independem de distinções de género.”.
E, a 13 de outubro de 2014, segundo o DN, a deputada do MPLA Luzia Inglês, líder da estrutura feminina do partido, no poder em Angola, tornou-se a 1.ª mulher angolana a ser promovida a oficial-general, por ordem do Presidente José Eduardo dos Santos.
Com efeito, de acordo com o despacho de 10 de outubro do também Comandante-em-Chefe, ao qual a Lusa teve acesso, a promoção de Luzia Pereira de Sousa Inglês Van-Dúnem, antes com o posto de brigadeiro, foi feita depois de ouvido o Conselho de Segurança Nacional, estando esta na situação de reforma.
Além de deputada pelo MPLA, Luzia Inglês, foi, segundo a imprensa angolana, a primeira mulher a ascender à classe dos oficiais-generais das Forças Armadas Angolanas.
A agora general “Inga”, como é conhecida, integrou a guerrilha do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) durante o período colonial português. Aos 66 anos, era ainda secretária-geral da OMA (Organização da Mulher Angolana), estrutura feminina daquele partido, então liderado por José Eduardo dos Santos e hoje por João Lourenço, o Presidente da República.
De acordo com dados daquela estrutura, a OMA era a “maior organização social” de Angola, atuando em áreas como a educação, saúde ou o combate à pobreza e à violência, contando com mais de 2,5 milhões de membros, o que representava 51% do total de militantes do MPLA.
***
Sobre a ascensão das mulheres na sociedade brasileira, Clara Becker escrevia na Folha de São Paulo, a 18 de março de 2018, que “só uma mulher chegou ao nível mais alto da carreira militar”, o nível de oficial-general – o mais alto na hierarquia das FAB – ao longo de toda a História. De acordo com dados oficiais, Dalva Maria Carvalho Mendes, contra-almirante da Marinha desde 2012, é a primeira e única mulher a ser promovida oficial-general e, assim, hoje ocupa um dos 433 cargos que exigem do militar esse nível. A Aeronáutica e o Exército do Brasil nunca tiveram mulheres entre os seus oficiais-generais.
A título de informação, refere que, dentro desse nível, cada uma das Forças Armadas tem quatro patentes, sendo-lhes atribuído um determinado número estrelas. Têm 5 estrelas o almirante (na Marinha), o marechal (no Exército) e o marechal do ar (na Aeronáutica) – militares que participaram em guerras. São dadas 4 estrelas ao almirante de esquadra, ao general de exército e ao tenente-brigadeiro; 3 estrelas ao vice-almirante, ao general de divisão e ao general-brigadeiro; e, por fim, 2 estrelas identificam o contra-almirante, o general de brigada e o brigadeiro.
A contra-almirante Dalva Maria Carvalho Mendes é médica do corpo auxiliar da Marinha. Foi promovida, como se disse, em 2012, tornando-se a 1.ª mulher do país a alcançar o generalato.
As mulheres representam 8,7% do total de militares brasileiros. São 29.633 entre os 367,5 mil que servem nas Forças Armadas. E a Marinha que deu a Dalva o grau de oficial-general também foi pioneira na admissão do sexo feminino nos seus quadros. Em 1980, pela Lei n.º 6.807, a Força Naval criou o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha, marco inicial da participação da mulher nas FAB. Hoje elas representam 12,2% desta Força, com um total de 8.609 mulheres. Em 2014, a Marinha admitiu a primeira turma de aspirantes femininas da Escola Naval. No entanto, foi apenas no ano passado, por meio do Memorando n.º 1, de 10 de abril de 2017, que foi autorizada a participação de oficiais e praças femininas em atividades de aplicação efetiva do Poder Naval, como o embarque em navios e unidades de tropa. Até então, as mulheres que integravam a Força só desempenhavam atividades auxiliares, não as conexas com as finalidades da Marinha, ou seja, com a “missão de zelar pela segurança do país, valendo-se do Poder Naval (o poder bélico da Marinha)”.
A 19 de março, a Folha de São Paulo, publicou esta atualização (adapto ao português europeu): 
Em nota, a Marinha afirmou que ‘As mulheres sempre participaram em todas as atividades, sejam elas operacionais, técnicas ou administrativas. A restrição existia, num sentido positivo, de proteção à família, para que elas não participassem nas ações de combate’. A lei que fazia essa restrição foi alterada no final do ano passado, garantindo que ‘aquelas candidatas que optarem por ingressar como Oficiais Operativas, do Corpo da Armada ou de Fuzileiros Navais, seguirão carreiras que são estruturadas até ao posto de Almirante de Esquadra, posto máximo em tempo de paz’, de acordo com a corporação.”.
Na Aeronáutica, as mulheres representam 17,43% do efetivo total. São 11.550 mulheres e 66.228 homens na corporação, conforme a própria força. A primeira turma de mulheres aviadoras foi aberta em 2003. Desde então, a Força Aérea Brasileira tem pilotos mulheres nos mais diversos tipos de aviação militar, inclusive nos aviões de caça. Mas a mais alta patente ocupada por uma mulher na Aeronáutica é a de coronel – um nível abaixo dos oficiais-generais. Segundo a própria força, são 8 coronéis mulheres. Todas elas fazem parte do quadro de saúde, sendo 4 comandantes de unidade. A primeira delas foi a coronel Carla Lyrio Martins. Médica, assumiu a direção da CGABEG (Casa Gerontológica de Aeronáutica Brigadeiro Eduardo Gomes), no Rio de Janeiro, em 2015. Em fevereiro de 2018, transmitiu o seu cargo na Casa a outra militar, na primeira passagem de comando entre duas mulheres na Força Aérea. De acordo com a Aeronáutica, as mulheres que hoje são coronéis podem chegar até o posto de major-brigadeiro médico, conforme “a avaliação de suas carreiras e o cumprimento dos interstícios regulamentares”.
Já o Exército Brasileiro levará pelo menos 30 anos para promover uma mulher a oficial-general. O ingresso feminino na AMAN (Academia Militar das Agulhas Negras), que forma os oficiais combatentes do Exército, só foi permitido este ano. Mas, após a conclusão no curso de formação são precisos 30 anos de carreira para um oficial chegar a general. Em 2017 ocorreu a primeira promoção duma mulher ao posto de coronel no Exército. Como na Força Aérea, esta é a mais patente alta atribuída a uma mulher. No Exército, as mulheres estão em menor número (representam 4,5% da corporação).
Em nota, o Exército lembrou momentos da participação feminina na sua história, como a presença de Maria Quitéria, em 1823, na manutenção da Independência do Brasil, e a ida de enfermeiras brasileiras para a II Guerra Mundial, em 1943. A força afirma que adequou as suas instalações e contratou instrutores para uma formação adequada das mulheres na AMAN, “não havendo, portanto, diferenças entre a carreira masculina e feminina”.
***
Ainda está difícil a ascensão da mulher ao topo da hierarquia militar: 4 e 5 estrelas (ficam em 2)! E talvez as Forças Amadas precisem da cooperação feminina para o êxito militar…
2018.12.28 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário