quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Olhar Fátima como Epifania do Amor

É a perspetiva apontada pelo Bispo de Leiria-Fátima Dom António Augusto dos Santos Marto no balanço que fez dos acontecimentos importantes vividos em 2017, a partir de Fátima e na ótica de Fátima como centro de vida formativa e celebrativa da fé e de vida apostólica.
O prelado do Lis presidiu, na noite de 31 de dezembro, à celebração de Ação de Graças na Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima.
A celebração, que teve início pelas 22 horas, constou da Missa com o canto do Te Deum, em ação de graças pelo ano que findou e pelas graças recebidas, procissão para a Capelinha e rosário – e contou com a presença de muitos peregrinos oriundos de Portugal e do Estrangeiro.
O Bispo diocesano e responsável máximo pelo Santuário relembrou, na sua homilia, os acontecimentos mais relevantes acontecidos em Fátima e na Igreja em Portugal.
Em primeiro lugar, evocou a celebração do centenário das aparições de Nossa Senhora durante sete anos com o seu momento mais alto na visita do Papa Francisco, visita que o prelado agradeceu, aproveitando para reiterar o apoio ao Sumo Pontífice na sua missão petrina.
Dom António Marto afirmou que a vivência da celebração do Centenário das Aparições de Fátima “significou sair de uma visão parcial de Fátima centrada na curiosidade dos segredos e na série de devoções avulsas para olhar Fátima como Epifania do Amor”.
Em 1917, disse, “a Virgem confiou aos pastorinhos de Fátima a missão sempre antiga e sempre nova de chamar o mundo atribulado às próprias fontes do Evangelho em tempos de descrença e de guerras”, o que para o bispo diocesano significa “partir de novo da presença de Deus próximo e amoroso com os dons da misericórdia e da paz; converter ou reeducar o nosso coração ao amor verdadeiro através da adoração, da compaixão e da oração do rosário para nos conformar ao coração de Cristo e de sua Mãe; e decidir-se finalmente pelo Bem e pela Paz na história através da colaboração na reparação do pecado do mundo”.  
O prelado leiriense-fatimita frisou que, ao longo destes sete anos, foi possível “experienciar a catolicidade e a projeção mundial de Fátima”, que foi e é “um dom para a Igreja e para a humanidade”, salientando que “Fátima não pertence só a Portugal ou à Igreja; é do mundo inteiro que aqui afluiu de todos os povos, culturas e línguas, acima de todas as expectativas”, segundo os registos do Santuário, o que os olhos podem ver e o movimento económico da cidade e arredores deixa perceber.
Depois, apontou “a canonização de Jacinta e Francisco Marto” como “um outro motivo para o nosso júbilo e para atual meditação”, considerando que a “primeira coisa que salta à vista é o valor da vida invisível de Jacinta e de Francisco”. A este respeito, vincou:
Eles não foram heróis famosos nem conheceram a popularidade das redes sociais de comunicação, mas simples crianças como tantas outras que viveram uma experiência particular de fé guiadas por Nossa Senhora. A sua santidade é um puro acontecimento da graça divina que atua onde quer e como quer.”.
Outra caraterística evidente que sobressai nos pastorinhos “é o facto de serem um sinal divino da nova valoração da infância e da dignidade das crianças como um compromisso a assumir”. Na verdade, Francisco e Jacinta “são um exemplo e modelo de santidade para toda a Igreja com o perfil espiritual próprio de cada um; são um desafio ao santuário para levar mais a peito a sua vocação a ser escola de santidade de povo, santidade popular”.
***
Todavia, não apenas Fátima que fica em destaque. Outro aspeto que o prelado considera importante realçar é a vivência do centenário da restauração da diocese de Leiria-Fátima, onde está sediado o Santuário de Fátima, ficando para a História o dia 17 de janeiro de 1918, após o intervalo de 36 anos provocado pela sua extinção por motivos políticos em 1882.
Sobre esta efeméride centenária, o Bispo diocesano disse:
Queremos que seja um tempo de graça e de renovação espiritual e pastoral desta diocese particularmente abençoada pelo carisma de Fátima, das aparições e da mensagem da Senhora e do Santuário popularmente reconhecido como altar do mundo”.
Por fim, Dom António Marto realçou o dia mundial da paz dedicado aos “migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”. E destacou os quatro pilares da mensagem papal para este 51.º Dia Mundial – “acolher, proteger, promover e integrar” – para responder a este dramático cenário no atual cenário político internacional. E explicou as exigências inerentes a estes quatro pilares:
[estes quatro aspetos]  “requerem uma prática constante de quatro virtudes, a saber: acolher significa viver a hospitalidade; proteger significa exercer a tutela, a atenção e defesa dos mais frágeis e indefesos, da sua dignidade e direitos humanos; promover significa a fortaleza de combater preconceitos e medos e criar espaços e oportunidades de diálogo, colaboração e desenvolvimento; integrar significa exercer a fraternidade que encurta distâncias e abre caminhos de encontro, de adaptação, de compreensão e de inclusão”.
No final da homilia, Dom António Marto desafiou os peregrinos a “assumir o compromisso próprio – por mais insignificante que possa parecer – de ajudar os irmãos refugiados e migrantes a encontrar aqui na nossa terra, na nossa pátria, na nossa Europa horizontes concretos de um futuro melhor a construir”.
E, no final da celebração, entoou-se o cântico Te Deum em ação de graças pelo ano vivido. Após este momento, os peregrinos foram convidados a seguir em procissão até à Capelinha das Aparições, onde foi recitado o rosário.
***
Já na manhã do dia 1 de janeiro, a Basílica da Santíssima Trindade, no Santuário de Fátima, acolheu a celebração da Eucaristia, presidida pelo Reitor, o Padre Carlos Cabecinhas, e na qual foi evocada a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Fez-se anunciar junto do Serviço de Peregrinos do Santuário de Fátima um grupo de peregrinos portugueses.
O Presidente da celebração lembrou que iniciamos “cada novo ano contemplando o Presépio e celebrando Santa Maria, Mãe de Deus” e afirmou que entrar no novo ano de 2018 sob a proteção materna de Maria “significa confiar-lhe as nossas esperanças, anseios e expectativas”.
O Reitor explicou que a expressão vulgarmente utilizada “ano novo vida nova” não resulta apenas “de um automatismo”, visto que a mudança de ano, no calendário, “não faz mudar automaticamente a vida”. E frisou:
Começando cada novo ano com a celebração de Santa Maria, Mãe de Deus, não pedimos apenas a ajuda e intercessão de Nossa Senhora: aceitamos também o apelo a imitarmos as suas atitudes, pois, contemplando o seu exemplo e imitando-o, podemos fazer com que este novo ano signifique efetivamente vida nova”.
Perante os muitos peregrinos presentes na Basílica da Santíssima Trindade, o Padre Carlos Cabecinhas explicou que “Deus não dispensa a colaboração humana”, uma vez que foi o “sim” de Maria que tornou possível o “milagre do Natal”. E não se esquivou a explicitar a força desta maravilhosa onda inefável do amor divino espelhado na pessoa, postura, gestos e ações de Maria, sendo que o “sim” da Serva do Senhor forneceu a concretização do Plano de Deus:
É por ela que nos chega a salvação. Por seu intermédio, nós recebemos a maior das bênçãos de Deus, o maior dos Seus dons: o Seu próprio Filho que, no Menino do presépio, assume a nossa condição, as nossas dores, preocupações e anseios. Maria, manifestando disponibilidade ao plano salvífico de Deus, mostra-nos como é possível fazer Jesus nascer no mundo: através de um ‘sim’ incondicional à vontade de Deus.”.
O Padre Cabecinhas considera que “com Maria, como Maria e com a sua ajuda, somos convidados a estar disponíveis para a vontade de Deus ao longo deste novo ano, para que ele signifique efetivamente ‘vida nova’: uma vida posta ao serviço de Deus e do Seu amor”.
Neste sentido, deixou como alerta o seguinte enunciado: “São os humildes e os pobres, aqueles que não são orgulhosos nem autossuficientes que podem experimentar a alegria do Natal”, reiterando que “são os que se sabem frágeis e necessitados de Deus que se alegram porque o Senhor vem à sua vida”.
O Reitor lembrou aos peregrinos que Maria é um “exemplo” na forma “a louvar a Deus e a glorificá-Lo pelas maravilhas que realiza em nosso favor”, precisando que o Magnificat não é só “o canto de Maria; é o canto de cada um de nós quando há necessidade de Deus”.
Somos, pois, desafiados “a aprender d’Ela e com Ela a escutar o que Deus nos diz através dos acontecimentos e das pessoas; o desafio a aprender d’Ela e com Ela a reconhecer os muitos modos pelos quais Deus se faz presente nas nossas vidas”.
Neste Dia Mundial da Paz, após a missa das 15 horas, celebrada na Basílica da Santíssima Trindade, realizou-se Procissão Eucarística para o Altar do Recinto, pela paz no mundo, no 58.º aniversário do Lausperene no Santuário de Fátima.
***
Também se soube em Fátima que o navegador solitário Ricardo Diniz chegou, no passado dia 31 de dezembro, a Salvador da Bahia, no Brasil, atracando às 16,30 horas (hora de Lisboa) após uma viagem iniciada em Portugal no seu barco à vela, onde se encontra uma imagem de Nossa Senhora de Fátima”.
Ricardo Diniz recebeu, no passado dia 15 de outubro de 2017, uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que levou até ao Brasil, com o objetivo de unir o Centenário das Aparições de Fátima aos 300 anos da Senhora Aparecida. A imagem, que foi benzida no final da celebração da missa dominical, no Recinto de Oração, é uma réplica de 70 centímetros de altura, idêntica à da Capelinha das Aparições, oferecida pelo Santuário de Fátima.
Por respeito pelos valores desta missão, que o navegador considera ser “a mais importante de sempre”, no lugar dos habituais patrocínios ou logos que dão cor ao veleiro, Ricardo Diniz colocou as palavras “fé, paz e amor”, traduzidas também em inglês “faith, peace, love”.
No seu trajeto, o navegador fez escalas em Lisboa, Portimão, Canárias e Cabo Verde, país onde o Bispo do Mindelo, Ildo Fortes, acolheu a imagem, que seguiu em procissão até à Igreja Matriz de São Vicente, onde “foi saudada pela população”. Dali seguiu diretamente para Salvador da Bahia. E hoje, dia 3 de janeiro, a imagem será levada, em procissão, para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima – Stella Maris, onde irá permanecer em definitivo.
***
É assim Fátima em Portugal e pelo mundo!

2018.01.03 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário