O Professor Vítor Manuel Aguiar e Silva, de 78
anos, natural da freguesia de Real, Penalva do Castelo, é o vencedor do “Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural”, que visa distinguir, anualmente, uma personalidade que se tenha realmente
evidenciado na área da Cidadania Cultural.
A notícia foi avançada ontem, dia 3, pela
entidade promotora do Prémio.
O Prémio, instituído pela Estoril Sol, em parceria com a Editora Babel, tem
o valor pecuniário de 40 mil euros, e o nome do distinguido é “conhecido” a 3
de janeiro, dia do aniversário do homenageado Vasco Graça Moura.
O Prémio é reservado a uma personalidade de nacionalidade portuguesa, que
se tenha notabilizado por um conjunto de obras ou por uma obra original e
inovadora de excecional valia para a cidadania cultural do país.
De acordo com o regulamento, o Prémio poderá ser atribuído a um escritor,
ensaísta, poeta, jornalista, tradutor ou produtor cultural que, ao longo da carreira,
tenha contribuído para “dignificar e projetar no espaço público o setor a que
pertença”.
Ao promover este prémio, a Estoril Sol e a Babel assumem a convicção de que
a sua natureza e abrangência serão o justo reconhecimento pela obra de Vasco
Graça Moura e pela sua imensa, profícua e invulgar polivalência criativa.
O Prémio foi atribuído pela primeira vez em 2016 ao ensaísta Eduardo
Lourenço. No ano passado, o distinguido foi o jornalista e escritor José Carlos
Vasconcelos.
Guilherme d’Oliveira Martins, Presidente do Centro Nacional de Cultura,
preside ao júri, cuja base é comum ao dos Prémios Literários Fernando Namora e
Revelação Agustina Bessa-Luís, ao qual presidiu Vasco Graça Moura.
Formam ainda o júri os autores e investigadores José Manuel Mendes, pela APE
(Associação Portuguesa de Escritores), Manuel Frias Martins, pela APCL (Associação Portuguesa
de Críticos Literários), Maria Carlos Loureiro, pela DGLAB (Direção-Geral do
Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas), Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual e,
ainda, José Carlos Seabra
Pereira, em representação da Babel, e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
Poeta, ensaísta, romancista, dramaturgo, cronista e tradutor, Vasco Graça
Moura morreu aos 72 anos, no dia 27 de abril de 2014. Graça Moura desempenhava então
as funções de Presidente do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, desde janeiro
de 2012.
O júri, nesta terceira edição do Prémio, escolheu por maioria Vítor Aguiar
e Silva, antigo vice-reitor da Universidade do Minho, referindo que é um
“exemplo de cidadania cultural, que liga a dimensão didático-científica à
pedagógica”.
A data de entrega dos prémios não é ainda conhecida.
O “Prémio Vasco Graça Moura –
Cidadania Cultural” foi atribuído ao escritor, professor e investigador
Vítor Aguiar e Silva, autor de “Camões:
Labirintos e Fascínios” e “Teoria da
Literatura”, como anunciou esta quarta-feira a Estoril-Sol, que patrocina o
galardão.
Em ata, o júri destacou o “percurso incomum” de Aguiar e Silva, “nos
domínios da Teoria Literária, instrumento fundamental na formação de gerações,
da Literatura Portuguesa e na fixação e estudo de parte relevante da obra
camoniana, num brilhante exercício de intervenção pública, quer pelo seu
magistério universitário, quer pelas altas missões no campo da política da
Língua e da Educação”.
***
A Estoril-Sol realça que o galardoado se tem dedicado à investigação da
Literatura Portuguesa dos períodos maneirista (século XVI), barroco (século XVIII) e modernista (primeira metade do século XX), e ao estudo da Teoria da Literatura,
“área em que o seu trabalho como professor e investigador tem sido nacional e
internacionalmente reconhecido”.
O investigador publicou, entre outros livros, “Camões: Labirintos e Fascínios” (1994), que lhe valeu o Prémio de Ensaio da
Associação Portuguesa de Críticos Literários e o da Associação Portuguesa de
Escritores.
Entre as suas obras contam-se “A Lira
Dourada e a Tuba Canora”, editada em 2008, “Jorge de Sena e Camões. Trinta Anos de Amor e Melancolia”, em 2009,
e “Teoria da Literatura”, obra de
referência do autor, publicada originalmente em 1967, primeiro em fascículos, e
desde então reeditada regularmente num só corpo, tendo sido profundamente
revista e atualizada a partir de 1981, sendo que em 2011 já ia na 8.ª edição.
Aquando da Profissionalização em Exercício na área do Português e Francês
ou do Português e Latim e Grego, em 1983/84, foi-nos aconselhada a aquisição da
4.ª edição, que ainda consulto para a dissipação de dúvidas e aprofundamento do
conhecimento.
Além de ter estado na génese do Instituto Camões, Vítor Aguiar e Silva
também coordenou a CNALP (Comissão Nacional de Língua Portuguesa), tendo sido ainda membro do Conselho
Nacional de Cultura. Além disso, o laureado foi um dos signatários da petição
“Em Defesa da Língua Portuguesa contra o Novo Acordo Ortográfico”, ao lado de
Vasco Graça Moura (1942-2014).
Aguiar e Silva, natural da freguesia de Real, no concelho de Penalva do
Castelo, distrito de Viseu, recebeu várias distinções, entre as quais o Prémio
Vergílio Ferreira, atribuído em 2002 pela Universidade de Évora, e o Prémio
Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores, em 2007.
A obra “A Lira Dourada e a Tuba
Canora: Novos Ensaios Camonianos” valeu-lhe, em 2009, o Prémio D. Diniz da
Casa de Mateus, atribuído por um júri do qual fazia parte Graça Moura.
Vítor Manuel Aguiar e Silva licenciou-se em Filologia Românica, na
Universidade de Coimbra, onde se doutorou em Literatura Portuguesa e foi professor
catedrático. Transferiu-se, em 1989, para a Universidade do Minho, onde foi
catedrático do Instituto de Letras e Ciências Humanas e onde fundou e dirigiu o
Centro de Estudos Humanísticos, assim como a revista Diacrítica.
O Prémio Vasco Graça Moura “visa distinguir um escritor, ensaísta, poeta,
jornalista, tradutor ou produtor cultural que, ao longo da carreira — ou
através de uma intervenção inovadora e de excecional importância –, haja
contribuído para dignificar e projetar no espaço público o sector a que
pertença”, segundo o regulamento.
A cerimónia de entrega do Prémio, cujo distinguido foi conhecido esta
quarta-feira, no dia em que Graça Moura completaria apenas 75 anos (morreu demasiado cedo), “será anunciada oportunamente”, como adiantou a Estoril-Sol.
***
Não
posso dizer, como Paulo Neto, o autor e coordenador da edição digital “Rua Direita”, que Vítor Manuel Aguiar e
Silva foi meu mestre, mas devo dizer que é dos académicos que mais admirei em conferências
que lhe ouvi ou em painéis que integrou, sobretudo em Viseu e em Sernancelhe.
A propósito,
recordo que num Encontro da Língua Portuguesa promovido pelo que havia de vir a
ser Centro Regional das Beiras da UCP na década de 90 (dantes,
era desde 1980, Secção da Faculdade
de Filosofia de Braga da UCP),
assisti a um painel moderado por Henrique Maximino e constituído por José Carlos
Seabra Pereira, Óscar Lopes e Vítor Manuel Aguiar e Silva. Cada um falou
durante sensivelmente meia hora ou até mais. O meu entusiasmo foi tal que, logo
que Henrique Maximino abriu o debate, me aproximei do microfone e, querendo uma
orientação prática sobre a matéria, disse mais ou menos o seguinte:
“Agradecendo esta notável comunicação, devo dizer que, por força das circunstâncias,
leciono literatura portuguesa a alunas e alunos do 12.º ano (4.º curso). Como
em Moimenta da Beira não temos lá estes “monstros sagrados da Literatura”,
aquela vila fica longe de Coimbra, Aveiro Braga, Porto e Açores (noutro momento
tinha intervindo magistralmente Rosa Goulart) e aquelas criancinhas sabem que
vim a Viseu aprender literatura, assim, quando lá chegar, vão perguntar-me: ‘Ó professor o que é a literatura’? E eu
que lhes devo responder?”.
Estranhamente,
a paciência dos oradores do painel não acusou limites e cada um deles respondeu
à minha interpelação. E eu fiquei contente, porque dava gosto ouvi-los. E ainda
hoje, quando Seabra Pereira e eu nos encontramos (Arouca,
Porto, Sernancelhe…),
ele lembra o episódio.
Por
isso, não me admira que Marcelo Rebelo de Sousa tenha referido, numa
mensagem de felicitações dirigida ao investigador, divulgada na página da
presidência:
“Professor e
investigador de créditos firmados, autor da mais importante obra portuguesa de ‘Teoria
da Literatura’, estudioso de Camões e dos seus ‘labirintos e fascínios’, Aguiar
e Silva esteve ligado às universidades de Coimbra e do Minho, e tem um sólido
percurso de ‘cidadania cultural’, colaborando com instituições e iniciativas de
defesa da literatura e da língua portuguesas”.
Lamento apenas que a nossa Comunicação Social
de referência seja tão parca ou omissa na abordagem do facto. Parece que não
gostam duma personalidade construída na solidez do granito beirão, crestada
pelo ar solarengo daquelas encostas e vales do coração beiraltino, aromatizada pelo
néctar do Dão ou curtida entre os rebanhos de gado miúdo donde resulta uma das
modalidades apreciadas do queijo da serra – as terras dos pastores com o cheiro
das ovelhas, como pede o Papa Francisco aos pastores espirituais.
2018.01.04 – Louro de Carvalho
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