Embora entrem mais parceiros estratégicos no capital dos CTT, a reestruturação não
passa do encerramento de lojas e dispensa de pessoal, pela via da reforma antecipada,
rescisão por mútuo consentimento ou por despedimento.
Discute-se
se a empresa deveria ter sido privatizada ou não, garantindo alguns que ela
estava arruinada a viver cada vez mais só do serviço essencial da distribuição
de correspondência, cada vez mais reduzido, e dizendo outros que vivia de outros
expedientes como a venda de materiais de livraria e papelaria e o pagamento de
serviços dos clientes ao Estado e a empresas.
O certo
é que a troika impôs a privatização, que foi operacionalizada através da
dispersão em bolsa e não pela procura de uma parceiro estratégico. Depois, foi
criado o Banco CTT a funcionar com base no pessoal e nas instalações de maior
referência da empresa. E o banco cedo começou a cantar de galo, pela eficiência
e lucros. Mas o pessoal que resistiu à mudança tem cada vez mais trabalho e em
piores condições, vindo a privilegiar as operações mais diretamente ligadas à
banca e sujeitando-se à venda de lotarias e outras bugigangas. Parece uma
empresa low cost, que vende tudo e a
minipreço.
***
Entretanto, a 19 de dezembro pp, ficou
a saber-se que, no âmbito da reestruturação, os CTT querem dispensar 1.000
trabalhadores até 2020, havendo um processo de
rescisões a decorrer, ao qual já aderiram 140 trabalhadores. Até ao final de
2017, a empresa de correios esperava atingir os 200. E, nos próximos três anos,
quer “despedir” mais 800.
A medida consta do plano de reestruturação que vem sendo
implementada de forma faseada.
O primeiro objetivo da empresa é “reforçar o programa de otimização de
recursos humanos” atualmente em curso, através da “continuação da eliminação de
redundâncias”. Cerca de 140 trabalhadores a tempo inteiro já tinham aderido ao
programa em 2017 e a empresa esperava chegar aos 200 até ao final desse ano ou
até aos primeiros dias do primeiro mês do ano corrente.
Já a partir deste ano, vai começar a ser implementado o novo programa de
rescisões, através do qual a administração pretende despedir, como se disse,
outros 800 trabalhadores. Feitas as contas, a empresa, que, no final de
2016, contava com 12.401 trabalhadores, reduzirá a sua força de trabalho em 8%.
Este segundo processo constitui uma das medidas implementadas para “reorganizar
a rede de distribuição para melhorar a eficiência operacional”. A empresa
planeia “redesenhar a arquitetura e a cobertura da rede de distribuição“,
bem como “ajustar a dimensão e tipologia da frota e concentrar centros de distribuição
postais”. Para lá disso, os CTT querem “melhorar a eficiência dos
processos de divisão e sequenciamento através da automatização” e
“aumentar a produtividade através da redução do absentismo”.
Com esta dispensa de pessoal, a empresa espera poupar até 31 milhões de
euros, um impacto positivo que só irá fazer-se sentir no EBITDA (lucros antes
de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 2020. Os custos imediatos com indemnizações deverão superar este
valor, ascendendo a 39 milhões de euros entre 2018 e 2019, estima a empresa. Mas
o objetivo desta
profunda reestruturação passa por alcançar poupanças anuais na ordem dos
45 milhões de euros, para o que contribui também a redução de vencimentos dos
administradores da empresa até 25%, bem como a eliminação de prémios de gestão,
o que geralmente é difícil de conseguir no topo das grandes empresas.
Como parte do plano de reestruturação, os CTT vão ainda
fechar lojas. A
“otimização da cobertura da rede” será feita “através da conversão de lojas em
postos de correio ou fecho de lojas com pouca procura por parte dos clientes”, como
se pode ler no plano enviado à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). Ainda assim – ressalva ironicamente – será
assegurada “a proximidade com os cidadãos, qualidade dos serviços e as
obrigações regulatórias”.
***
Porém, a
2 de janeiro, soube-se que, se a reestruturação previa fecho de lojas, a
administração ainda não tinha quantificado o número de encerramentos, o que passou
então a deixar perceber.
Francisco
Lacerda fez chegar à Comissão de Trabalhadores um pedido de parecer sobre o
encerramento de 22 lojas, para já. São elas: Junqueira, Avenida (Loulé), Universidade (Aveiro), Termas de São Vicente (Penafiel), Socorro (Lisboa), Riba d’Ave (Famalicão), Paços de Brandão (Santa
Maria da Feira),
Lavradio (Barreiro),
Galiza (Porto), Freamunde, Filipa de Lencastre
(Belas), Olaias (Lisboa), Camarate (Loures), Calheta (Ponta
Delgada),
Barrosinhas (Águeda),
Asprelas (Porto),
Areosa (Porto), Araucária (Vila
Real), Alpiarça (Santarém), Alferrarede (Abrantes), Aldeia de Paio Pires (Seixal) e Arco da Calheta (Madeira).
Tal
como já tinha sido tornado público anteriormente, os CTT confirmam o Plano de
adequação da sua rede envolvendo estes 22 Pontos de Acesso, inseridos nos mais
de 2.300 existentes e dos mais de 4.000 agentes PayShop, que, nesta fase, ainda
não tem data marcada”.
No
final do primeiro semestre de 2017, os CTT dispunham de uma rede de lojas
composta por 4.377 pontos de contacto, sendo constituída por 613 lojas próprias,
1.744 lojas em parceria (postos
de correio) e 2.020
postos de venda de selos.
A
chamada “otimização da cobertura da rede” será concretizada “através da
conversão de lojas em postos de correio ou fecho de lojas com pouca procura por parte dos
clientes”, como se podia ler no documento enviado a 19 de
dezembro à Comissão CMVM e como acima foi dito.
Esta
é a resposta de Lacerda para travar a desconfiança dos investidores com o mau
desempenho operacional da empresa. Isto depois de os Correios terem visto
cair o lucro cair 57% nos 9 primeiros meses de 2017 comparativamente com os
mesmos meses de 2016, enquanto os custos sofriam um ligeiro agravamento.
No profit warning emitido em
outubro, o presidente executivo anunciou logo os primeiros cortes: reduzir o
dividendo em 20%, dos 48 cêntimos para os 38 cêntimos, deixando o mercado, os
investidores e até acionistas em sobressalto.
Entre
as medidas incluídas no chamado Plano de Transformação Operacional, constam ainda
as acima referidas reduções nas remunerações da própria gestão da empresa, num raro
sinal de que os administradores têm de alinhar nesta contenção de custos.
A situação afigura-se tão preocupante que a Assembleia da
República agendou a apreciação e votação do requerimento apresentado pelo PCP
para audição do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques,
sobre as medidas anunciadas pela administração dos CTT.
***
A par
dos protestos das populações acompanhados pelos dos autarcas e da discussão
parlamentar da situação, surge agora o parecer da comissão de trabalhadores dos
CTT.
A
comissão de trabalhadores está contra o encerramento das lojas e já
entregou o parecer pedido pela administração. Argumenta que, além de não haver
racional económico no fecho destas lojas ou estações porque geram lucro para os
CTT, tem de considerar que as alternativas mais próximas a estas lojas
apresentam vários problemas estruturais e de incómodo para o público utente dos
serviços – um público em geral debilitado socialmente.
“Uma
coisa era a administração ter solicitado o nosso parecer em relação a uma
estação pontualmente, alegando este ou aquele motivo. Quando estamos a falar de
um bloco de lojas, a nossa opção foi por dar um parecer geral negativo e
crítico. E deixámos evidente a nossa preocupação em relação a novos fechos mais
à frente”.
São
sobretudo dois os argumentos que
levam a Comissão a rejeitar os planos dos CTT para fecharem 22 lojas, a maioria
das quais concentradas no Porto e em Lisboa. Em primeiro lugar, o argumento económico.
Com efeito, como frisa Rosário, “se fossem estações não rentáveis, que dessem
prejuízos, eventualmente a empresa teria aqui um argumento económico legítimo
no sentido de as encerrar”, porém, “no global, elas dão lucro anual de 2,4
milhões de euros”.
Em segundo
lugar e apesar de administração vir dizer que as lojas a encerrar têm
alternativa a cerca de 1 Km de distância, a alternativa que os CTT
disponibilizam aos clientes mostra situações diversas. Se, nalguns casos, há
situação de alguma proximidade, sobretudo para não tem especiais dificuldades de
mobilidade, noutros, há situações que ultrapassam os 7.000 metros de distância.
E muitas destas alternativas são postos de correio e os postos de correio têm
um conjunto de problemas que já identificados há anos. Ou seja, mesmo que
houvesse argumento para o encerramento das estações, a solução alternativa em
postos de correio tem problemas graves em relação à confidencialidade, ao
serviço postal e em relação à prestação da totalidade de serviços que a empresa
consegue prestar.
Utentes
e trabalhadores aventaram a possibilidade de a Anacom (Autoridade
Nacional de Comunicações) apertar as malhas aos CTT. Mas aquela entidade já declarou
que a empresa não precisa da sua autorização para encerrar ou despedir. Mas a
empresa o que quer é que a Anacom não lhe dificulte o negócio com mais
exigências na prestação de serviços ao público.
Por outro lado,
sabe-se que o Goldman Sachs passou a deter uma participação qualificada nos
CTT. De acordo com a informação remetida, a 21 de dezembro à CMVM, o banco
de investimento norte-americano superou a fasquia dos 2%, chegando aos 2,07%. Em
termos bolsistas, o ano de 2017 não foi fácil para a empresa de correios. Foi das
que registaram a queda mais acentuada no acumulado do ano.
Para amanhã
de manhã estão agendadas, no Parlamento, na Comissão de Economia, Inovação e
Obras Públicas, audições dos sindicatos dos correios e
ainda da Comissão de
Trabalhadores dos CTT, sendo, à tarde, a vez do Movimento de Utentes de
Serviços Públicos e da Anacom.
***
E é
neste contexto que a esquerda fala em renacionalização dos CTT.
Ora, se
é verdade, como dizem, que o Estado não gere bem, também é verdade que, pelo
menos neste caso, os privados não fazem melhor. Reestruturar assim também eu
sabia e talvez não fizesse pior!
2018.01.11 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário