quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

CTT: reestruturação consiste em fecho de lojas e dispensa de pessoal


Embora entrem mais parceiros estratégicos no capital dos CTT, a reestruturação não 
passa do encerramento de lojas e dispensa de pessoal, pela via da reforma antecipada, 
rescisão por mútuo consentimento ou por despedimento.
Discute-se se a empresa deveria ter sido privatizada ou não, garantindo alguns que ela estava arruinada a viver cada vez mais só do serviço essencial da distribuição de correspondência, cada vez mais reduzido, e dizendo outros que vivia de outros expedientes como a venda de materiais de livraria e papelaria e o pagamento de serviços dos clientes ao Estado e a empresas.
O certo é que a troika impôs a privatização, que foi operacionalizada através da dispersão em bolsa e não pela procura de uma parceiro estratégico. Depois, foi criado o Banco CTT a funcionar com base no pessoal e nas instalações de maior referência da empresa. E o banco cedo começou a cantar de galo, pela eficiência e lucros. Mas o pessoal que resistiu à mudança tem cada vez mais trabalho e em piores condições, vindo a privilegiar as operações mais diretamente ligadas à banca e sujeitando-se à venda de lotarias e outras bugigangas. Parece uma empresa low cost, que vende tudo e a minipreço.
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Entretanto, a 19 de dezembro pp, ficou a saber-se que, no âmbito da reestruturação, os CTT querem dispensar 1.000 trabalhadores até 2020, havendo um processo de rescisões a decorrer, ao qual já aderiram 140 trabalhadores. Até ao final de 2017, a empresa de correios esperava atingir os 200. E, nos próximos três anos, quer “despedir” mais 800.
A medida consta do plano de reestruturação  que vem sendo implementada de forma faseada.
O primeiro objetivo da empresa é “reforçar o programa de otimização de recursos humanos” atualmente em curso, através da “continuação da eliminação de redundâncias”. Cerca de 140 trabalhadores a tempo inteiro já tinham aderido ao programa em 2017 e a empresa esperava chegar aos 200 até ao final desse ano ou até aos primeiros dias do primeiro mês do ano corrente.
Já a partir deste ano, vai começar a ser implementado o novo programa de rescisões, através do qual a administração pretende despedir, como se disse, outros 800 trabalhadores. Feitas as contas, a empresa, que, no final de 2016, contava com 12.401 trabalhadores, reduzirá a sua força de trabalho em 8%. Este segundo processo constitui uma das medidas implementadas para “reorganizar a rede de distribuição para melhorar a eficiência operacional”. A empresa planeia “redesenhar a arquitetura e a cobertura da rede de distribuição“, bem como “ajustar a dimensão e tipologia da frota e concentrar centros de distribuição postais”. Para lá disso, os CTT querem “melhorar a eficiência dos processos de divisão e sequenciamento através da automatização” e “aumentar a produtividade através da redução do absentismo”.
Com esta dispensa de pessoal, a empresa espera poupar até 31 milhões de euros, um impacto positivo que só irá fazer-se sentir no EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 2020. Os custos imediatos com indemnizações deverão superar este valor, ascendendo a 39 milhões de euros entre 2018 e 2019, estima a empresa. Mas o objetivo desta profunda reestruturação passa por alcançar poupanças anuais na ordem dos 45 milhões de euros, para o que contribui também a redução de vencimentos dos administradores da empresa até 25%, bem como a eliminação de prémios de gestão, o que geralmente é difícil de conseguir no topo das grandes empresas.
Como parte do plano de reestruturação, os CTT vão ainda fechar lojas. A “otimização da cobertura da rede” será feita “através da conversão de lojas em postos de correio ou fecho de lojas com pouca procura por parte dos clientes”, como se pode ler no plano enviado à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários). Ainda assim – ressalva ironicamente – será assegurada “a proximidade com os cidadãos, qualidade dos serviços e as obrigações regulatórias”.
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Porém, a 2 de janeiro, soube-se que, se a reestruturação previa fecho de lojas, a administração ainda não tinha quantificado o número de encerramentos, o que passou então a deixar perceber.
Francisco Lacerda fez chegar à Comissão de Trabalhadores um pedido de parecer sobre o encerramento de 22 lojas, para já. São elas: Junqueira, Avenida (Loulé), Universidade (Aveiro), Termas de São Vicente (Penafiel), Socorro (Lisboa), Riba d’Ave (Famalicão), Paços de Brandão (Santa Maria da Feira), Lavradio (Barreiro), Galiza (Porto), Freamunde, Filipa de Lencastre (Belas), Olaias (Lisboa), Camarate (Loures), Calheta (Ponta Delgada), Barrosinhas (Águeda), Asprelas (Porto), Areosa (Porto), Araucária (Vila Real), Alpiarça (Santarém), Alferrarede (Abrantes), Aldeia de Paio Pires (Seixal) e Arco da Calheta (Madeira).
Tal como já tinha sido tornado público anteriormente, os CTT confirmam o Plano de adequação da sua rede envolvendo estes 22 Pontos de Acesso, inseridos nos mais de 2.300 existentes e dos mais de 4.000 agentes PayShop, que, nesta fase, ainda não tem data marcada”.
No final do primeiro semestre de 2017, os CTT dispunham de uma rede de lojas composta por 4.377 pontos de contacto, sendo constituída por 613 lojas próprias, 1.744 lojas em parceria (postos de correio) e 2.020 postos de venda de selos.
A chamada “otimização da cobertura da rede” será concretizada “através da conversão de lojas em postos de correio ou fecho de lojas com pouca procura por parte dos clientes”, como se podia ler no documento enviado a 19 de dezembro à Comissão CMVM e como acima foi dito.
Esta é a resposta de Lacerda para travar a desconfiança dos investidores com o mau desempenho operacional da empresa. Isto depois de os Correios terem visto cair o lucro cair 57% nos 9 primeiros meses de 2017 comparativamente com os mesmos meses de 2016, enquanto os custos sofriam um ligeiro agravamento.
No profit warning emitido em outubro, o presidente executivo anunciou logo os primeiros cortes: reduzir o dividendo em 20%, dos 48 cêntimos para os 38 cêntimos, deixando o mercado, os investidores e até acionistas em sobressalto.
Entre as medidas incluídas no chamado Plano de Transformação Operacional, constam ainda as acima referidas reduções nas remunerações da própria gestão da empresa, num raro sinal de que os administradores têm de alinhar nesta contenção de custos.
A situação afigura-se tão preocupante que a Assembleia da República agendou a apreciação e votação do requerimento apresentado pelo PCP para audição do ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, sobre as medidas anunciadas pela administração dos CTT.
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A par dos protestos das populações acompanhados pelos dos autarcas e da discussão parlamentar da situação, surge agora o parecer da comissão de trabalhadores dos CTT.
A comissão de trabalhadores está contra o encerramento das lojas e já entregou o parecer pedido pela administração. Argumenta que, além de não haver racional económico no fecho destas lojas ou estações porque geram lucro para os CTT, tem de considerar que as alternativas mais próximas a estas lojas apresentam vários problemas estruturais e de incómodo para o público utente dos serviços – um público em geral debilitado socialmente.
José Rosário, coordenador da Comissão dos Trabalhadores dos CTT, critica, em declarações ao ECO, o facto de os encerramentos virem “em bolo” e foi essa a mensagem principal transmitida no parecer que entregou à administração liderada por Francisco Lacerda e que, amanhã, dia 12, vai ao Parlamento explicar aos deputados no quadro da visão dos trabalhadores em relação ao plano de reestruturação da empresa de correios. E explicou:
Uma coisa era a administração ter solicitado o nosso parecer em relação a uma estação pontualmente, alegando este ou aquele motivo. Quando estamos a falar de um bloco de lojas, a nossa opção foi por dar um parecer geral negativo e crítico. E deixámos evidente a nossa preocupação em relação a novos fechos mais à frente”.
São sobretudo dois os argumentos que levam a Comissão a rejeitar os planos dos CTT para fecharem 22 lojas, a maioria das quais concentradas no Porto e em Lisboa. Em primeiro lugar, o argumento económico. Com efeito, como frisa Rosário, “se fossem estações não rentáveis, que dessem prejuízos, eventualmente a empresa teria aqui um argumento económico legítimo no sentido de as encerrar”, porém, “no global, elas dão lucro anual de 2,4 milhões de euros”.
Em segundo lugar e apesar de administração vir dizer que as lojas a encerrar têm alternativa a cerca de 1 Km de distância, a alternativa que os CTT disponibilizam aos clientes mostra situações diversas. Se, nalguns casos, há situação de alguma proximidade, sobretudo para não tem especiais dificuldades de mobilidade, noutros, há situações que ultrapassam os 7.000 metros de distância. E muitas destas alternativas são postos de correio e os postos de correio têm um conjunto de problemas que já identificados há anos. Ou seja, mesmo que houvesse argumento para o encerramento das estações, a solução alternativa em postos de correio tem problemas graves em relação à confidencialidade, ao serviço postal e em relação à prestação da totalidade de serviços que a empresa consegue prestar.
Utentes e trabalhadores aventaram a possibilidade de a Anacom (Autoridade Nacional de Comunicações) apertar as malhas aos CTT. Mas aquela entidade já declarou que a empresa não precisa da sua autorização para encerrar ou despedir. Mas a empresa o que quer é que a Anacom não lhe dificulte o negócio com mais exigências na prestação de serviços ao público.
Por outro lado, sabe-se que o Goldman Sachs passou a deter uma participação qualificada nos CTT. De acordo com a informação remetida, a 21 de dezembro à CMVM, o banco de investimento norte-americano superou a fasquia dos 2%, chegando aos 2,07%. Em termos bolsistas, o ano de 2017 não foi fácil para a empresa de correios. Foi das que registaram a queda mais acentuada no acumulado do ano.
Para amanhã de manhã estão agendadas, no Parlamento, na Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, audições dos sindicatos dos correios e ainda da Comissão de Trabalhadores dos CTT, sendo, à tarde, a vez do Movimento de Utentes de Serviços Públicos e da  Anacom.
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E é neste contexto que a esquerda fala em renacionalização dos CTT.
Ora, se é verdade, como dizem, que o Estado não gere bem, também é verdade que, pelo menos neste caso, os privados não fazem melhor. Reestruturar assim também eu sabia e talvez não fizesse pior!
2018.01.11 – Louro de Carvalho

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