domingo, 28 de janeiro de 2018

“As metamorfoses da caridade: a ação social e a Igreja do Porto”

É o tema das Jornadas de Teologia 2018 que a Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (Porto) realiza, de 29 de janeiro a 1 de fevereiro, em colaboração a Diocese do Porto. As Jornadas decorrem diariamente das 10 às 16,30 horas, com exceção do último dia, em que ocupam apenas a manhã e encerram com a celebração da Eucaristia.
Inserem-se no quadro proporcionado pelo Plano Pastoral da Diocese do Porto para o ano pastoral em curso e do desafio que foi lançado em junho passado à Faculdade de Teologia por Dom António Francisco dos Santos, então Bispo diocesano, para que se refletisse sobre esta área temática. Assim, estas Jornadas procurarão abordar de um modo abrangente o vasto tema da caridade, designadamente no atinente à ação social, considerando o contexto português e portucalense, no passado e no presente.
Com efeito, o aludido Plano Pastoral da Diocese do Porto inscreve expressamente a Universidade Católica no ponto 11) das Propostas de Ação Pastoral, nos termos seguintes:
Valorizar as iniciativas formativas do Centro de Cultura Católica e da Universidade Católica Portuguesa, no âmbito da formação dos agentes da caridade e de um laicado mais ativo e comprometido nos diversos mundos, social, laboral e cultural”.
Por outro lado, o mesmo Plano elege a Universidade Católica como agente na Pastoral do Anúncio da Fé e na Pastoral Comunitária – isto sem esquecer a ação própria dos centros universitários e da estrutura diocesana da Pastoral Universitária no âmbito da evangelização, da celebração da fé e na pastoral da caridade.
Constituirão, pois, as Jornadas uma reflexão também para ajudar a pensar as instituições sociais da Igreja. E, embora destinadas primariamente à comunidade académica, elas serão também úteis a todos aqueles que buscam as razões da sua fé e configuram uma iniciativa fundamental de formação permanente do clero da Diocese do Porto.
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Tanto o site da Diocese como o da UCP elencam o programa com os seguintes itens:
No dia 29 de janeiro: “A caridade e os direitos sociais”, por  Julio Martínez Martínez, da Pontifícia Universidade Comillas (Madrid); “O lugar da Igreja num tempo de assistencialismo do Estado”, também por Julio Martínez Martínez; “O catolicismo social oitocentista em Portugal e no Porto: A intervenção do cardeal Dom Américo”, por Adélio Fernando Abreu, do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Faculdade de Teologia, UCP-Porto; “Do amor que encarece: A metanoia da justiça em Leonel de Oliveira, presbítero”, por José Pedro Angélico, do CITER (Centro de Investigação em Teologia e Estudos de Religião) da Faculdade de Teologia, UCP-Porto.
No dia 30 de janeiro: “O anúncio do evangelho e a solicitude para com o próximo”, por Bernardo d’Almeida, da Faculdade de Teologia da UCP-Porto; “Os direitos sociais: Sua evolução e justificação”, por João Carlos Espada, do Instituto de Estudos Políticos da UCP-Lisboa; “A relevância do serviço à comunidade na génese e no funcionamento das organizações de economia social em Portugal”, por Américo Mendes, da Católica Porto Business School da UCP-Porto; “A ação das Instituições Particulares de Solidariedade Social da Igreja: Entre a caridade e a justiça”, por Lino Maia, da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social; “Arco Maior: Dar oportunidades educativas a quem é excluído da escola”, por Joaquim Azevedo, da Faculdade de Educação e Psicologia da UCP-Porto.
No dia 31 de janeiro: “Entre evangelização e promoção social: Antigas e novas prioridades da ação da Igreja”, por Jorge Cunha, do CEFi (Centro de Estudos de Filosofia) da Faculdade de Teologia da U CP-Porto; “O catolicismo social em Portugal e no Porto no século XX”, por Paulo Fontes, do CEHR da UCP-Lisboa; “A caridade em Padre Américo: Alicerces de um conceito-programa”, por Luís Leal, do CEHR da UCP-Porto; “A intervenção social de Dom António Ferreira Gomes no contexto do pensamento portuense”, por Arnaldo Cardoso de Pinho, da Faculdade de Teologia da UCP-Porto.
E, no dia 1 de fevereiro: “O amor feito ajuda material: A esmola nos Padres da Igreja”, por Alexandre Freire Duarte, da Faculdade de Teologia da UCP-Porto; e “Ação sócio-caritativa e vulnerabilidades futuras”, por Dom Manuel Linda, da Faculdade de Teologia da UCP-Porto e Bispo das Forças Armadas e de Segurança.
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A este respeito, o Padre Adélio Abreu, Diretor Adjunto da Faculdade de Teologia da UCP, deu uma entrevista à Voz Portucalense, em que esclareceu a temática, o programa e os objetivos das Jornadas de Teologia 2018 da Universidade Católica do Porto, desta vez, dedicadas ao tema da caridade por especial vontade de Dom António Francisco dos Santos. Dela se recolhem os aspetos considerados mais pertinentes.
Sobre o objetivo da temática das Jornadas, sustenta que se pretende refletir sobre a realidade da fé cristã na relação com a cultura e o quadro em que vivemos” para se poder “ler a realidade à luz da fé e contribuir também para uma reflexão em que o saber teológico, o saber universitário tem uma palavra a dizer”. Por outro lado, surgiu uma outra vertente teleológica das Jornadas, desde há uns anos a esta parte: constituirão um “espaço de formação permanente dos presbíteros e dos diáconos”, pelo que resultam da organização conjunta da Faculdade de Teologia da UCP e da Diocese do Porto. E são as duas entidades que fazem “o esforço de ver onde é que é necessário tocar e incidir”. E, em concreto, “a questão da caridade tem como quadro a temática da diocese para o corrente ano pastoral”. Desde logo, “o lema da diocese é Movidos pelo amor de Deus, que levou a que houvesse “um esforço para incidir neste âmbito”. Apesar de se ter colocado “a hipótese de tratar da questão da família”, foi por vontade de Dom António Francisco, que “decidimos tratar o tema da ação social”.
A propósito de, nestas Jornadas, se fazerem “referências a importantes figuras que marcaram a história da diocese, tais como, o Cardeal Dom Américo, Dom António Ferreira Gomes, o Padre Américo e o Padre Leonel”, Adélio Abreu não tem dúvidas de que “a caridade é uma das marcas da Igreja do Porto”, aliás como é “uma marca da Igreja em todos os lugares”. 
Depois, salientou que a preocupação “de incidir sobre a realidade da Igreja do Porto” quer dizer que se desejou que a reflexão fazer “sobre a caridade não se ficasse por uma abordagem em abstrato, apenas de um ponto de vista teológico, mas que incidisse na nossa realidade concreta, no nosso tecido social e eclesial”. Ademais, foi esta uma vontade de Dom António Francisco dos Santos: “termos uma atenção para com a Igreja do Porto”. Para tanto, ter-se-á em linha de conta “a reflexão do catolicismo social quer no século XIX quer no século XX destacando uma ou outra figura”.  
Sem a pretensão da exaustividade, releva-se o Cardeal Dom Américo, figura que, no século XIX, teve uma enorme importância, pois foi quem, de entre as figuras do episcopado da altura, melhor repercutiu o conteúdo e o espírito da “Rerum Novarum”, encíclica de Leão XIII sobre o trabalho e a questão social em geral. A seguir, destacam-se outros: o Padre Américo, pela importância que tem, não só no Porto, mas a nível nacional com a ‘Obra da Rua’; Dom António Ferreira Gomes, pelo que dele conhecemos e porque é possível olhar para a sua intervenção social no contexto mais vasto do pensamento portuense.  
Porém, a constituição do programa não podia ficar-se pela preocupação de olhar para as figuras: tinha de “olhar o tema sob diferentes perspetivas”, nomeadamente a perspetiva histórica e a perspetiva teológica – “mais a partir da moral social, na qual destacamos o padre Julio Martínez Martínez, um jesuíta espanhol, especialista em moral social, atualmente reitor da Pontifícia Universidade Comillas de Madrid” e “especialistas nossos, da própria Faculdade de Teologia, como o Prof. Jorge Cunha e o Dom Manuel Linda. E, na explicitação seguinte, em que se releva a importância do período patrístico e o papel das instituições sociais da Igreja, disse:
Teremos também um olhar sobre como a caridade era vista no período patrístico: nos inícios da Igreja a questão da esmola. E depois também que esta reflexão sobre a caridade possa servir de horizonte teórico da concretização da caridade na ação pastoral. E recordo-me que, em diálogo com Dom António Francisco, percebi que havia a preocupação de que esta reflexão, mesmo que não diretamente, pudesse ajudar a pensar, por exemplo, a questão das instituições sociais da Igreja e dos centros sociais paroquiais.”.
Quanto à questão de esta temática ficar como uma marca da breve passagem de Dom António Francisco na liderança da diocese do Porto, o entrevistado refere que “a preocupação social é uma marca muito significativa quer do pensamento quer da ação pastoral” deste prelado. Com efeito, os seus textos “estão perpassados da necessidade da atenção às pessoas concretas, àquelas que vivem na pobreza, à realidade das marginalidades de hoje” e da “marca de como é que a Igreja deverá fazer a ação social hoje”. É uma preocupação “muito patente” na pessoa do último Bispo do Porto, em resultado, “certamente, da sua ação pastoral, mas também do seu modo de ser”. Era um Bispo cujo “modo de ser” era “muito marcado pela questão da proximidade”, da proximidade a todos: “aos padres, aos leigos, aos pobres, a toda a realidade humana”.
E o Padre Abreu sustenta que, “quando se tem no horizonte de vida este aspeto da proximidade, certamente, que esta precisa de ser exercida relativamente aos mais frágeis e àqueles que precisam de ser mais necessariamente objeto da ação social da Igreja, porque vivem em circunstâncias de pobreza”.
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Oxalá estas Jornadas sejam a pedra de toque para a UCP ser cada vez mais universidade, cada vez mais católica e cada vez mais portuguesa como desejava o Papa Francisco no discurso que lhe dirigiu por ocasião do seu 50.º aniversário e que, pelo menos, os teólogos, os economistas, os juristas e os gestores, ali formados, tenham a perspetiva da opção preferencial da Igreja pelos pobres e uma grande sensibilidade para a magnitude das questões sociais – nomeadamente o trabalho estável, digno e remunerado, a pobreza, a educação, a saúde e a proteção na doença, no desemprego e na velhice.

2018.01.28 – Louro de Carvalho

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