É o tema das Jornadas de Teologia 2018 que a Faculdade de Teologia da Universidade Católica
Portuguesa (Porto) realiza, de 29 de janeiro a 1 de fevereiro,
em colaboração a Diocese do Porto. As Jornadas decorrem diariamente das 10 às
16,30 horas, com exceção do último dia, em que ocupam apenas a manhã e encerram
com a celebração da Eucaristia.
Inserem-se no
quadro proporcionado pelo Plano Pastoral
da Diocese do Porto para o ano pastoral em curso e do desafio que foi
lançado em junho passado à Faculdade de Teologia por Dom António Francisco dos
Santos, então Bispo diocesano, para que se refletisse sobre esta área temática.
Assim, estas Jornadas procurarão
abordar de um modo abrangente o vasto tema da caridade, designadamente no atinente
à ação social, considerando o contexto português e portucalense, no passado e
no presente.
Com efeito,
o aludido Plano Pastoral da Diocese do
Porto inscreve expressamente a Universidade Católica no ponto 11) das Propostas de Ação Pastoral, nos termos seguintes:
“Valorizar
as iniciativas formativas do Centro de Cultura Católica e da Universidade
Católica Portuguesa, no âmbito da formação dos agentes da caridade e de um
laicado mais ativo e comprometido nos diversos mundos, social, laboral e
cultural”.
Por outro
lado, o mesmo Plano elege a Universidade
Católica como agente na Pastoral do Anúncio da Fé e na Pastoral Comunitária –
isto sem esquecer a ação própria dos centros universitários e da estrutura diocesana
da Pastoral Universitária no âmbito da evangelização, da celebração da fé e na
pastoral da caridade.
Constituirão, pois, as Jornadas
uma reflexão também para ajudar a pensar as instituições sociais da Igreja. E,
embora destinadas primariamente à comunidade académica, elas serão
também úteis a todos aqueles que buscam as razões da sua fé e configuram uma
iniciativa fundamental de formação permanente do clero da Diocese do Porto.
***
Tanto o site da Diocese como o da UCP elencam o programa
com os seguintes itens:
No dia 29 de
janeiro: “A caridade e os direitos
sociais”, por Julio Martínez Martínez, da Pontifícia Universidade
Comillas (Madrid); “O lugar da Igreja num tempo de assistencialismo do Estado”, também
por Julio Martínez Martínez; “O
catolicismo social oitocentista em Portugal e no Porto: A intervenção do
cardeal Dom Américo”, por Adélio Fernando Abreu, do CEHR (Centro de Estudos de História Religiosa) da Faculdade de Teologia, UCP-Porto; “Do amor que encarece: A metanoia da justiça em Leonel de Oliveira,
presbítero”, por José Pedro Angélico, do CITER (Centro de Investigação em Teologia e Estudos de
Religião) da Faculdade
de Teologia, UCP-Porto.
No dia 30 de
janeiro: “O anúncio do evangelho e a
solicitude para com o próximo”, por Bernardo d’Almeida, da Faculdade
de Teologia da UCP-Porto; “Os
direitos sociais: Sua evolução e justificação”, por João Carlos Espada, do Instituto
de Estudos Políticos da UCP-Lisboa; “A
relevância do serviço à comunidade na génese e no funcionamento das
organizações de economia social em Portugal”, por Américo Mendes, da Católica
Porto Business School da UCP-Porto; “A
ação das Instituições Particulares de Solidariedade Social da Igreja: Entre a
caridade e a justiça”, por Lino Maia, da Confederação Nacional das
Instituições Particulares de Solidariedade Social; “Arco Maior: Dar oportunidades educativas a quem é excluído da escola”,
por Joaquim Azevedo, da Faculdade de Educação e Psicologia da UCP-Porto.
No dia 31 de
janeiro: “Entre evangelização e
promoção social: Antigas e novas prioridades da ação da Igreja”, por Jorge
Cunha, do CEFi (Centro de Estudos de
Filosofia) da Faculdade
de Teologia da U CP-Porto; “O catolicismo
social em Portugal e no Porto no século XX”, por Paulo Fontes, do CEHR
da UCP-Lisboa; “A caridade em Padre
Américo: Alicerces de um conceito-programa”, por Luís Leal, do CEHR da
UCP-Porto; “A intervenção social de
Dom António Ferreira Gomes no contexto do pensamento portuense”, por Arnaldo
Cardoso de Pinho, da Faculdade de Teologia da UCP-Porto.
E, no dia 1
de fevereiro: “O amor feito ajuda
material: A esmola nos Padres da Igreja”, por Alexandre Freire Duarte, da Faculdade
de Teologia da UCP-Porto; e “Ação
sócio-caritativa e vulnerabilidades futuras”, por Dom Manuel Linda, da
Faculdade de Teologia da UCP-Porto e Bispo das Forças Armadas e de Segurança.
***
A este respeito,
o
Padre Adélio Abreu, Diretor Adjunto da Faculdade de Teologia da UCP, deu uma
entrevista à Voz Portucalense, em que esclareceu a temática, o programa e os
objetivos das Jornadas de Teologia 2018
da Universidade Católica do Porto, desta vez, dedicadas ao tema da caridade por
especial vontade de Dom António Francisco dos Santos. Dela se recolhem os aspetos
considerados mais pertinentes.
Sobre o objetivo da temática das
Jornadas, sustenta que se pretende “refletir sobre a realidade da fé
cristã na relação com a cultura e o quadro em que vivemos” para se poder “ler a
realidade à luz da fé e contribuir também para uma reflexão em que o saber
teológico, o saber universitário tem uma palavra a dizer”. Por outro lado, surgiu
uma outra vertente teleológica das Jornadas,
desde há uns anos a esta parte: constituirão um “espaço de formação permanente
dos presbíteros e dos diáconos”, pelo que resultam da organização conjunta da Faculdade
de Teologia da UCP e da Diocese do Porto. E são as duas entidades que fazem “o
esforço de ver onde é que é necessário tocar e incidir”. E, em concreto, “a
questão da caridade tem como quadro a temática da diocese para o corrente ano
pastoral”. Desde logo, “o lema da diocese é Movidos
pelo amor de Deus, que levou a que houvesse “um esforço para incidir neste
âmbito”. Apesar de se ter colocado “a hipótese de tratar da questão da família”,
foi por vontade de Dom António Francisco, que “decidimos tratar o tema da ação
social”.
A propósito de, nestas Jornadas, se fazerem “referências a importantes
figuras que marcaram a história da diocese, tais como, o Cardeal Dom Américo,
Dom António Ferreira Gomes, o Padre Américo e o Padre Leonel”, Adélio
Abreu não
tem dúvidas de que “a caridade é uma das marcas da Igreja do Porto”, aliás como
é “uma marca da Igreja em todos os lugares”.
Depois, salientou
que a preocupação “de incidir sobre a realidade da Igreja do Porto” quer dizer
que se desejou que a reflexão fazer “sobre a caridade não se ficasse por uma
abordagem em abstrato, apenas de um ponto de vista teológico, mas que incidisse
na nossa realidade concreta, no nosso tecido social e eclesial”. Ademais, foi
esta uma vontade de Dom António Francisco dos Santos: “termos uma atenção para com a Igreja do Porto”. Para tanto, ter-se-á
em linha de conta “a reflexão do
catolicismo social quer no século XIX quer no século XX destacando uma ou outra
figura”.
Sem a pretensão
da exaustividade, releva-se o Cardeal Dom Américo, figura que, no século XIX, teve
uma enorme importância, pois foi quem, de entre as figuras do episcopado da
altura, melhor repercutiu o conteúdo e o espírito da “Rerum Novarum”, encíclica de Leão XIII sobre o trabalho e a questão
social em geral. A seguir, destacam-se outros: o Padre Américo, pela
importância que tem, não só no Porto, mas a nível nacional com a ‘Obra da Rua’;
Dom António Ferreira Gomes, pelo que dele conhecemos e porque é possível olhar
para a sua intervenção social no contexto mais vasto do pensamento portuense.
Porém, a
constituição do programa não podia ficar-se pela preocupação de olhar para as
figuras: tinha de “olhar o tema sob diferentes perspetivas”, nomeadamente a
perspetiva histórica e a perspetiva teológica – “mais a partir da moral social,
na qual destacamos o padre Julio Martínez Martínez, um jesuíta espanhol,
especialista em moral social, atualmente reitor da Pontifícia Universidade
Comillas de Madrid” e “especialistas nossos, da própria Faculdade de Teologia,
como o Prof. Jorge Cunha e o Dom Manuel Linda. E, na explicitação seguinte, em
que se releva a importância do período patrístico e o papel das instituições
sociais da Igreja, disse:
“Teremos
também um olhar sobre como a caridade era vista no período patrístico: nos
inícios da Igreja a questão da esmola. E depois também que esta reflexão sobre
a caridade possa servir de horizonte teórico da concretização da caridade na
ação pastoral. E recordo-me que, em diálogo com Dom António Francisco, percebi
que havia a preocupação de que esta reflexão, mesmo que não diretamente,
pudesse ajudar a pensar, por exemplo, a questão das instituições sociais da
Igreja e dos centros sociais paroquiais.”.
Quanto à questão
de esta
temática ficar como uma marca da breve passagem de Dom António Francisco na liderança
da diocese do Porto, o entrevistado refere que “a preocupação
social é uma marca muito significativa quer do pensamento quer da ação pastoral”
deste prelado. Com efeito, os seus textos “estão perpassados da necessidade da
atenção às pessoas concretas, àquelas que vivem na pobreza, à realidade das
marginalidades de hoje” e da “marca de como é que a Igreja deverá fazer a ação
social hoje”. É uma preocupação “muito patente” na pessoa do último Bispo do
Porto, em resultado, “certamente, da sua ação pastoral, mas também do seu modo
de ser”. Era um Bispo cujo “modo de ser” era “muito marcado pela questão da
proximidade”, da proximidade a todos: “aos padres, aos leigos, aos pobres, a
toda a realidade humana”.
E o Padre Abreu
sustenta que, “quando se tem no horizonte
de vida este aspeto da proximidade, certamente, que esta precisa de ser
exercida relativamente aos mais frágeis e àqueles que precisam de ser mais necessariamente
objeto da ação social da Igreja, porque vivem em circunstâncias de pobreza”.
***
Oxalá estas Jornadas sejam a pedra de toque para a
UCP ser cada vez mais universidade, cada vez mais católica e cada vez mais
portuguesa como desejava o Papa Francisco no discurso que lhe dirigiu por ocasião
do seu 50.º aniversário e que, pelo menos, os teólogos, os economistas, os juristas
e os gestores, ali formados, tenham a perspetiva da opção preferencial da Igreja
pelos pobres e uma grande sensibilidade para a magnitude das questões sociais –
nomeadamente o trabalho estável, digno e remunerado, a pobreza, a educação, a saúde
e a proteção na doença, no desemprego e na velhice.
2018.01.28 – Louro de Carvalho
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