sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

“A tua dextra, Senhor, esplendorosa de poder” (Ex 15,6)

É o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (oitavário), que está a decorrer de 18 a 25 de janeiro no hemisfério Norte e que serve de guião espiritual e celebrativo para todo o ano 2018, em especial para a ocasião do Pentecostes, no hemisfério Sul (de acordo com o que foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem em 1926).
O material foi preparado e publicado sob a responsabilidade conjunta do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos  e da Comissão “Fé e Constituição” do Conselho Mundial de Igrejas. Foram escolhidas as Igrejas do Caribe para montar o material para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos de 2018, sob a liderança de Sua Graça Kenneth Richards, arcebispo católico de Kingston e bispo responsável pelo ecumenismo na Conferência Episcopal das Antilhas (AEC), junto com o Senhor Gerald Granado, Secretário-Geral da Conferência Caribenha de Igrejas (CCC). E foi convidada uma equipa ecuménica de mulheres e homens para organizar o material.
As citações bíblicas estão baseadas no texto da Tradução Ecuménica da Bíblia (TEB).
Na convicção da necessidade de flexibilidade e da urgência da oração pela unidade, propõe-se o uso deste material ao longo de todo o ano para expressar o grau de comunhão que as Igrejas já têm atingido e para orar juntos pela plena unidade, que é o desejo de Cristo.
O material é oferecido com a compreensão de que será adaptado para uso em situações específicas locais, devendo ter-se em conta a prática litúrgica e devocional, bem como o contexto social e cultural específico. O ideal é que a adaptação seja feita de forma ecuménica. Em alguns lugares existem estruturas ecuménicas para a adaptação deste material; noutros, é de esperar que a necessidade de adaptação seja estímulo para a criação de tais estruturas.
Para as Igrejas e comunidades cristãs que vivem juntas a Semana de Oração foi providenciado um texto para a celebração ecuménica.
As Igrejas e comunidades cristãs podem também incorporar material da Semana de Oração nas suas próprias celebrações. Orações do culto ecuménico, os “oito dias” e a seleção de materiais adicionais constituem recursos a usar como se julgar apropriado em cada situação.
As comunidades que têm celebrações da Semana de Oração em todos os dias durante a semana podem usar para isso o material proposto para cada um dos “oito dias”.
Quem deseje fazer estudo bíblico sobre o tema pode usar como base os textos e reflexões dados para os oito dias. A cada dia, a reflexão pode levar a um tempo final de oração de intercessão.
Quem deseje orar de modo privado pode encontrar material útil para orientar as intenções das suas preces, podendo assim ter consciência de estar em comunhão com outros que oram no mundo inteiro pela maior visibilidade da unidade da Igreja de Cristo.
O texto bíblico base para a reflexão/oração neste ano é Êxodo 15,1-21, um cântico de exaltação a Deus libertador, acompanhado de danças sob a liderança por Miriam, irmã de Moisés.
***
Conservando o nome dum dos grupos dos seus povos indígenas, a região caribenha é uma realidade territorial complexa pela “vasta extensão geográfica” que inclui ilhas e territórios continentais “com uma rica e variada coleção de tradições étnicas, linguísticas e religiosas”. É uma realidade política complexa na variedade de organizações governamentais e institucionais, desde territórios coloniais (ingleses, holandeses, franceses e americanos) até nações republicanas.
O Caribe é marcado pelo projeto de exploração colonial. Na agressiva busca de ganhos de mercado, os colonizadores organizaram sistemas brutais de comércio de seres humanos e de trabalho forçado – práticas que escravizaram, agrediram e até exterminaram povos indígenas. Seguiu-se a escravização de africanos e a introdução de pessoas da Índia e da China.
A escravidão dos africanos não foi só o processo de transporte de trabalhadores dum lugar para outro. Numa afronta à dignidade humana, transformou-se em objeto de comércio uma pessoa humana, tornando-a propriedade de outrem. A partir daqui normalizaram-se “outras práticas que foram mais longe no tratamento desumano dos africanos”, entre as quais se incluía a negação do direito a práticas religiosas e culturais, casamento e vida familiar.
Em quinhentos anos de colonialismo e escravidão, a atividade missionária na região, com exceção duns poucos exemplos, estava ligada ao sistema. E, “enquanto aqueles que trouxeram a Bíblia para a região usavam as Escrituras para justificar a subjugação do povo, nas mãos dos escravizados, ela tornou-se “uma inspiração, uma garantia de que Deus estava ao lado deles e que Deus os conduziria à liberdade”. E hoje os cristãos caribenhos veem a mão de Deus a agir para acabar com a escravidão. “É uma experiência de união em torno da ação salvadora de Deus que leva à liberdade”. Por isso, foi tida por muito adequada a escolha do canto de Moisés e Miriam (Ex 15,1-21) como motivação para esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. É um canto de triunfo sobre a opressão cujo tema foi assumido num hino, A mão direita de Deus, escrito numa reunião de trabalho da Conferência Caribenha de Igrejas, em agosto de 1981, e que se tornou marca do movimento ecuménico na região.
Como os israelitas, o Caribe tem a canção de vitória, liberdade e união. Porém, novos desafios ameaçam escravizar e ferir a dignidade do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. Embora a dignidade humana seja inalienável, fica obscurecida tanto por pecados pessoais como por estruturas sociais pecaminosas. As relações sociais, muitas vezes, não têm a justiça e a compaixão que honram a dignidade humana. E pobreza, violência, injustiça, o vício das drogas e da pornografia e a dor, o desgosto e a angústia gerados por tudo isso são experiências que distorcem a dignidade humana.
Muitos destes desafios são legado do passado colonial, com o comércio escravo e resultado do neocolonialismo. O ferido sentimento coletivo manifesta-se hoje em problemas sociais conexos com a baixa autoestima, violência doméstica e de grupos e relações familiares prejudicadas. Nestas circunstâncias parece quase impossível para muitas nações da região escapar à pobreza e endividamento. Além disso, em muitos lugares existe um sistema legislativo residual que continua a ser discriminatório.  
A mão direita de Deus, que tirou o povo da escravidão e deu contínua esperança e coragem aos israelitas, continua agora a trazer esperança aos cristãos do Caribe. Mas, porque eles não são vítimas de circunstâncias fora de controlo e testemunhando essa esperança comum, as Igrejas estão a trabalhar juntas para prestar serviço a todos os povos da região, mas particularmente aos mais vulneráveis e negligenciados. É o que se vê nas palavras do hino: “a mão direita de Deus está semeando em nossa terra, plantando sementes de liberdade, esperança e amor”.
A referenciada perícopa do Êxodo mostra como a via para a unidade precisa frequentemente de passar pela experiência comunitária de sofrimento. A libertação dos israelitas da escravidão é o evento fundamental da constituição do povo. E o processo tem o seu clímax na encarnação e no mistério pascal. E, embora na salvação Deus tenha a iniciativa, “Deus envolve forças humanas na realização do seu objetivo e nos planos para a redenção de seu povo”. Os cristãos, pelo batismo, participam do ministério divino de reconciliação, mas as nossas divisões restringem o nosso testemunho e a nossa missão num mundo necessitado da cura que vem de Deus.
***
No âmbito da celebração ecuménica proposta, o grupo caribenho que escreveu o texto sugere que a Bíblia e três conjuntos de correntes, símbolos que são parte da celebração do culto, fiquem colocados em destaque no espaço da celebração. A Bíblia é muito importante na experiência das Igrejas caribenhas. Nas mãos destes oprimidos povos, a Bíblia tornou-se fonte primária de consolação e libertação. As correntes, por seu turno, são um símbolo poderoso de escravização, tratamento desumano e racismo. São igualmente um símbolo do poder do pecado, que nos separa de Deus e uns dos outros. O grupo recomenda o uso de correntes de ferro verdadeiras durante as preces de reconciliação nesta celebração, mas, se não estiverem disponíveis correntes de ferro, podem usar-se correntes alternativas com visual que transmita a ideia de força. Durante a celebração, as correntes de ferro da escravidão são substituídas por uma corrente humana que expressa os laços de comunhão e a ação conjunta contra a moderna escravização e todos os tipos de conduta desumanizadora individual ou institucionalizada. O convite dirigido à assembleia inteira para participar desse gesto é parte integrante da celebração.
Como canto após a proclamação da Palavra, o grupo sugere o hino The right hand of God (A mão direita de Deus)Inspirado no canto de Miriam e Moisés em louvor da ação libertadora de Deus no Êxodo, está associado ao movimento ecuménico do Caribe, em que as Igrejas trabalham juntas para superar os desafios sociais enfrentados pelo povo da região.
***
No quadro do roteiro do culto, destacam-se:
- O canto de reunião da assembleia, com a entrada dos que vão liderar a celebração, precedidos por um assistente que carrega a Bíblia e a colocará em lugar de destaque no centro do espaço de celebração, donde serão proclamadas, a partir dessa Bíblia, as leituras da Escritura.
- A saudação e palavras de acolhimento, com a explicação do conteúdo e contexto dos textos desta Semana de Oração.
- A invocação do Espírito Santo para que o seu fogo venha aos nossos corações ao orarmos pela unidade da Igreja. 
- A proclamação da Palavra de Deus: Êxodo 15,1-21 (cântico de vitória); Salmo 118,5-7.10-24 (Celebrai o Senhor, pois Ele é bom e sua fidelidade é para sempre); Romanos 8,12-27 (a vivência pelo espírito e a ajuda do Espírito Santo); uma aclamação adequada de Aleluia; Marcos 5,21-43 (valorização e aperfeiçoamento da Lei à luz das bem-aventuranças).
- A homilia: Reflexão sobre a Palavra de Deus proclamada e relação com o tema.
- O canto: The Right Hand of God (A mão direita de Deus) – ver mais adiante.
- Proclamação da Fé: Recitação do Símbolo dos Apóstolos.
- As orações pelo povo: Dando graças pela libertação da escravidão ao pecado, colocam-se as nossas necessidades diante do Senhor, pedindo-lhe que quebre as cadeias que nos escravizam e que, em vez disso, nos una com os laços do amor e da comunhão.
Cada intercessão é proclamada por leitor diferente. Ao terminar, cada um dos leitores une as suas mãos ou braços com membros da assembleia, formando assim uma corrente humana.
- A oração do Senhor: Unindo as mãos, seguros não por correntes mas pelo amor de Cristo que foi derramado em nossos corações, oramos ao Pai com as palavras que Jesus nos ensinou.
A oração do Pai Nosso pode ser cantada.
Depois da oração do Senhor, ainda de mãos dadas, a assembleia pode cantar uma canção que lhe seja familiar e que celebre a unidade. Depois do canto, as pessoas saúdam-se com um sinal de paz.
- Compromisso: Redimidos pela mão direita de Deus, e unidos no único Corpo de Cristo, vamos adiante amparados pelo poder do Espírito Santo.
Todos: O Espírito do Senhor está sobre nós, porque o Senhor nos ungiu para levar a boa nova aos pobres, para proclamar a libertação aos cativos e a recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor. Amém! Aleluia!
 - Canto final: À escolha de quem lidera a assembleia em consonância com o grupo de canto.
***
Temas de reflexão para cada um dos oito dias e celebração segundo o roteiro acima:
(As frases temáticas que figuram a seguir à indicação dos textos bíblicos sugeridos para cada dia referem-se, por esta ordem: à 1.ª leitura; ao salmo; à 2.ª leitura; e ao Evangelho)
Dia 1:Amareis também o estrangeiro, porque fostes estrangeiros no Egito” (Lv 19,33-34; Sl 146; Heb 13,1-3; Mt 25,31-46) – Amarás o migrante como a ti mesmo. O Senhor protege os migrantes. Alguns, sem saberem, acolheram anjos. Eu era estrangeiro e acolhestes-me.
Dia 2:Não mais como escravo, mas como irmão amado” (Gn 1,26-28; Sl 10.1-10; Film 1-23; Lc 10,25-37) – Deus criou o homem à sua imagem. Porque, Senhor, permaneces afastado? Não mais como escravo, mas como irmão bem amado. A parábola do bom samaritano.
Dia 3:O seu corpo é templo do Espírito Santo” (Ex 3,4-10; Sl 24,1-6; 1Cor 6,9-20; Mt 18,1-7) – Deus liberta os que estão em humana escravidão. Esta é a geração dos que procuram a tua face. Glorificai, portanto, a Deus por vosso corpo. Ai do homem por quem acontece a queda.
Dia 4: Esperança e cura (Is 9,2-7a; Sl 34,1-15; Ap 7,13-17; Jo 14,25-27) – Estender-se-á a soberania e haverá paz sem fim. Procura a paz e vai atrás dela! Deus enxugará toda lágrima de seus olhos. Eu vos deixo a paz.
Dia 5: Escuta! O grito do meu pobre povo vem de longe e espalha-se na terra! (Dt 1,19-35; Sl 145,9-20; Tg 1,9-11; Lc 18,35-43) – O Senhor marcha à tua frente e te carrega. O Senhor é o apoio dos caídos. O rico passa como a flor dos prados. Jesus, filho de David, tem compaixão de mim!
Dia 6: Cuidemos dos interesses dos outros” (Is 25,1-9; Sl 82; Fl 2,1-4; Lc 12,13-21) – Exultemos, jubilemos, pois ele nos salva. Fazei justiça ao infeliz e ao indigente. Cada um não olhe só por si mesmo, mas também pelos outros. Guardai-vos de toda ganância.
Dia 7: Sendo família no lar e na Igreja” (Ex 2,1-10; Sl 127; Heb 11,23-24; Mt 2,13-15) – Nascimento de Moisés. Se o Senhor não construir a casa, os construtores trabalham em vão. Moisés foi ocultado pelos pais, pois tinham visto a sua beleza. José levantou-se, tomou consigo o menino e a mãe, de noite, e retirou-se para o Egito.
Dia 8: Ele reunirá os dispersos... dos quatro cantos da terra” (Is 11,12-13; Sl 106,1-14.43-48; Ef 2,13-19; Jo 17,1-12) – Efraim não terá mais ciúme de Judá e Judá não será mais adversário de Efraim. Congrega-nos no meio das nações e celebraremos o teu santo nome. Em sua carne destruiu o muro de separação. Eu fui glorificado neles.
***
Tudo se faça para refazer a unidade dos filhos de Deus desnecessariamente divididos e dispersos!
***
The Right Hand of God
(A mão direita de Deus)
A mão direita de Deus
Está escrevendo em nossa terra,
Escrevendo com poder e amor;
Nossos conflitos e nossos medos,
Nossos triunfos e nossas lágrimas.
São gravados pela mão direita de Deus.

A mão direita de Deus
Está atingindo a nossa terra,
Pondo para fora inveja, ódio e ambição;
Nosso egoísmo e luxúria,
Nosso orgulho e atos injustos
São destruídos pela mão direita de Deus.
A mão direita de Deus
Está elevando nossa terra,
Erguendo os caídos um por um;
Cada um tem seu nome conhecido,
E é resgatado agora da vergonha
Pela elevação da mão direita de Deus.

A mão direita de Deus
Está curando nossa terra,
Curando dilacerados corpos, mentes e almas;
Tão maravilhoso é seu toque,
Com amor que tanto significa,
Quando somos curados
Pela mão direita de Deus.

(Selecionado, compilado e adaptado a partir do site do Vaticano)

2018.01.19 – Louro de carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário