É o tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (oitavário), que está a decorrer de 18 a 25 de janeiro no
hemisfério Norte e que serve de guião espiritual e celebrativo para
todo o ano 2018, em especial para a ocasião do Pentecostes, no hemisfério Sul (de acordo com o que foi sugerido pelo movimento Fé e
Ordem em 1926).
O material
foi preparado e publicado sob a responsabilidade conjunta do Pontifício Conselho para a Promoção
da Unidade dos Cristãos e da Comissão “Fé e Constituição” do Conselho
Mundial de Igrejas. Foram escolhidas as Igrejas do Caribe para montar o
material para a Semana de Oração pela
Unidade dos Cristãos de 2018, sob a liderança de Sua Graça Kenneth
Richards, arcebispo católico de Kingston e bispo responsável pelo ecumenismo na
Conferência Episcopal das Antilhas (AEC),
junto com o Senhor Gerald Granado, Secretário-Geral da Conferência Caribenha de
Igrejas (CCC). E foi convidada uma equipa ecuménica
de mulheres e homens para organizar o material.
As citações bíblicas estão baseadas no texto da Tradução Ecuménica da
Bíblia (TEB).
Na convicção
da necessidade de flexibilidade e da urgência da oração pela unidade, propõe-se
o uso deste material ao longo de todo o ano para expressar o grau de comunhão
que as Igrejas já têm atingido e para orar juntos pela plena unidade, que é o
desejo de Cristo.
O material é
oferecido com a compreensão de que será adaptado para uso em situações
específicas locais, devendo ter-se em conta a prática litúrgica e devocional,
bem como o contexto social e cultural específico. O ideal é que a adaptação
seja feita de forma ecuménica. Em alguns lugares existem estruturas ecuménicas
para a adaptação deste material; noutros, é de esperar que a necessidade de
adaptação seja estímulo para a criação de tais estruturas.
Para as
Igrejas e comunidades cristãs que vivem juntas a Semana de Oração foi
providenciado um texto para a celebração ecuménica.
As Igrejas e
comunidades cristãs podem também incorporar material da Semana de Oração nas
suas próprias celebrações. Orações do culto ecuménico, os “oito dias” e a
seleção de materiais adicionais constituem recursos a usar como se julgar
apropriado em cada situação.
As
comunidades que têm celebrações da Semana de Oração em todos os dias durante a
semana podem usar para isso o material proposto para cada um dos “oito dias”.
Quem deseje
fazer estudo bíblico sobre o tema pode usar como base os textos e reflexões
dados para os oito dias. A cada dia, a reflexão pode levar a um tempo final de
oração de intercessão.
Quem deseje
orar de modo privado pode encontrar material útil para orientar as intenções
das suas preces, podendo assim ter consciência de estar em comunhão com outros
que oram no mundo inteiro pela maior visibilidade da unidade da Igreja de
Cristo.
O texto
bíblico base para a reflexão/oração neste ano é Êxodo 15,1-21, um cântico de exaltação a Deus libertador, acompanhado
de danças sob a liderança por Miriam, irmã de Moisés.
***
Conservando
o nome dum dos grupos dos seus povos indígenas, a região caribenha é uma
realidade territorial complexa pela “vasta extensão geográfica” que inclui
ilhas e territórios continentais “com uma rica e variada coleção de tradições
étnicas, linguísticas e religiosas”. É uma realidade política complexa na
variedade de organizações governamentais e institucionais, desde territórios
coloniais (ingleses, holandeses, franceses e americanos) até nações republicanas.
O Caribe é
marcado pelo projeto de exploração colonial. Na agressiva busca de ganhos de
mercado, os colonizadores organizaram sistemas brutais de comércio de seres
humanos e de trabalho forçado – práticas que escravizaram, agrediram e até exterminaram
povos indígenas. Seguiu-se a escravização de africanos e a introdução de
pessoas da Índia e da China.
A escravidão
dos africanos não foi só o processo de transporte de trabalhadores dum lugar
para outro. Numa afronta à dignidade humana, transformou-se em objeto de
comércio uma pessoa humana, tornando-a propriedade de outrem. A partir daqui
normalizaram-se “outras práticas que foram mais longe no tratamento desumano
dos africanos”, entre as quais se incluía a negação do direito a práticas religiosas
e culturais, casamento e vida familiar.
Em
quinhentos anos de colonialismo e escravidão, a atividade missionária na
região, com exceção duns poucos exemplos, estava ligada ao sistema. E, “enquanto
aqueles que trouxeram a Bíblia para a região usavam as Escrituras para
justificar a subjugação do povo, nas mãos dos escravizados, ela tornou-se “uma
inspiração, uma garantia de que Deus estava ao lado deles e que Deus os
conduziria à liberdade”. E hoje os cristãos caribenhos veem a mão de Deus a
agir para acabar com a escravidão. “É uma experiência de união em torno da ação
salvadora de Deus que leva à liberdade”. Por isso, foi tida por muito adequada a
escolha do canto de Moisés e Miriam (Ex 15,1-21) como motivação para esta Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. É um canto de triunfo
sobre a opressão cujo tema foi assumido num hino, A mão direita de
Deus, escrito numa reunião de trabalho da Conferência Caribenha de
Igrejas, em agosto de 1981, e que se tornou marca do movimento ecuménico na
região.
Como os
israelitas, o Caribe tem a canção de vitória, liberdade e união. Porém, novos
desafios ameaçam escravizar e ferir a dignidade do ser humano criado à imagem e
semelhança de Deus. Embora a dignidade humana seja inalienável, fica obscurecida
tanto por pecados pessoais como por estruturas sociais pecaminosas. As relações
sociais, muitas vezes, não têm a justiça e a compaixão que honram a dignidade
humana. E pobreza, violência, injustiça, o vício das drogas e da pornografia e
a dor, o desgosto e a angústia gerados por tudo isso são experiências que
distorcem a dignidade humana.
Muitos
destes desafios são legado do passado colonial, com o comércio escravo e
resultado do neocolonialismo. O ferido sentimento coletivo manifesta-se hoje em
problemas sociais conexos com a baixa autoestima, violência doméstica e de
grupos e relações familiares prejudicadas. Nestas circunstâncias parece quase
impossível para muitas nações da região escapar à pobreza e endividamento. Além
disso, em muitos lugares existe um sistema legislativo residual que continua a
ser discriminatório.
A mão
direita de Deus, que tirou o povo da escravidão e deu contínua esperança e
coragem aos israelitas, continua agora a trazer esperança aos cristãos do
Caribe. Mas, porque eles não são vítimas de circunstâncias fora de controlo e testemunhando
essa esperança comum, as Igrejas estão a trabalhar juntas para prestar serviço
a todos os povos da região, mas particularmente aos mais vulneráveis e
negligenciados. É o que se vê nas palavras do hino: “a mão direita de Deus
está semeando em nossa terra, plantando sementes de liberdade, esperança e amor”.
A
referenciada perícopa do Êxodo mostra como a via para a unidade precisa frequentemente
de passar pela experiência comunitária de sofrimento. A libertação dos
israelitas da escravidão é o evento fundamental da constituição do povo. E o
processo tem o seu clímax na encarnação e no mistério pascal. E, embora na salvação
Deus tenha a iniciativa, “Deus envolve forças humanas na realização do seu
objetivo e nos planos para a redenção de seu povo”. Os cristãos, pelo batismo,
participam do ministério divino de reconciliação, mas as nossas divisões
restringem o nosso testemunho e a nossa missão num mundo necessitado da cura
que vem de Deus.
***
No âmbito da
celebração
ecuménica proposta, o grupo caribenho que escreveu o texto sugere que a
Bíblia e três conjuntos de correntes, símbolos que são parte da celebração do
culto, fiquem colocados em destaque no espaço da celebração. A Bíblia é muito
importante na experiência das Igrejas caribenhas. Nas mãos destes oprimidos
povos, a Bíblia tornou-se fonte primária de consolação e libertação. As correntes,
por seu turno, são um símbolo poderoso de escravização, tratamento desumano e
racismo. São igualmente um símbolo do poder do pecado, que nos separa de Deus e
uns dos outros. O grupo recomenda o uso de correntes de ferro verdadeiras
durante as preces de reconciliação nesta celebração, mas, se não estiverem
disponíveis correntes de ferro, podem usar-se correntes alternativas com visual
que transmita a ideia de força. Durante a celebração, as correntes de ferro da
escravidão são substituídas por uma corrente humana que expressa os laços de
comunhão e a ação conjunta contra a moderna escravização e todos os tipos de
conduta desumanizadora individual ou institucionalizada. O convite dirigido à assembleia
inteira para participar desse gesto é parte integrante da celebração.
Como canto
após a proclamação da Palavra, o grupo sugere o hino The right hand of
God (A mão direita de Deus). Inspirado no
canto de Miriam e Moisés em louvor da ação libertadora de Deus no Êxodo, está
associado ao movimento ecuménico do Caribe, em que as Igrejas trabalham juntas
para superar os desafios sociais enfrentados pelo povo da região.
***
No quadro do roteiro do culto,
destacam-se:
- O canto de reunião da assembleia,
com a entrada dos que vão
liderar a celebração, precedidos por um assistente que carrega a Bíblia e a
colocará em lugar de destaque no centro do espaço de celebração, donde serão
proclamadas, a partir dessa Bíblia, as leituras da Escritura.
- A saudação e palavras de acolhimento, com a explicação do conteúdo e
contexto dos textos desta Semana de Oração.
- A invocação do Espírito Santo para que o seu fogo venha aos nossos corações ao
orarmos pela unidade da Igreja.
- A proclamação
da Palavra de Deus: Êxodo 15,1-21 (cântico de
vitória); Salmo
118,5-7.10-24 (Celebrai o Senhor, pois Ele é bom e sua fidelidade é para sempre); Romanos 8,12-27 (a vivência pelo espírito e a ajuda do Espírito Santo); uma aclamação
adequada de Aleluia; Marcos 5,21-43
(valorização e aperfeiçoamento da Lei à luz das bem-aventuranças).
- A homilia: Reflexão sobre a Palavra de Deus proclamada e relação com o
tema.
- O canto:
The
Right Hand of God (A mão direita
de Deus) – ver mais adiante.
- Proclamação da Fé: Recitação do Símbolo
dos Apóstolos.
- As orações pelo povo: Dando graças pela libertação da escravidão ao pecado,
colocam-se as nossas necessidades diante do Senhor, pedindo-lhe que quebre as
cadeias que nos escravizam e que, em vez disso, nos una com os laços do amor e
da comunhão.
Cada intercessão é proclamada por
leitor diferente. Ao terminar, cada um dos leitores une as suas mãos ou braços
com membros da assembleia, formando assim uma corrente humana.
- A oração do Senhor: Unindo as mãos, seguros não por correntes mas pelo
amor de Cristo que foi derramado em nossos corações, oramos ao Pai com as
palavras que Jesus nos ensinou.
A oração do Pai Nosso pode ser
cantada.
Depois da oração do Senhor, ainda de
mãos dadas, a assembleia pode cantar uma canção que lhe seja familiar e que
celebre a unidade. Depois do canto, as pessoas saúdam-se com um sinal
de paz.
- Compromisso: Redimidos
pela mão direita de Deus, e unidos no único Corpo de Cristo, vamos adiante
amparados pelo poder do Espírito Santo.
Todos: O Espírito
do Senhor está sobre nós, porque o Senhor nos ungiu para levar a boa nova aos
pobres, para proclamar a libertação aos cativos e a recuperação da vista aos
cegos, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano da graça do Senhor. Amém!
Aleluia!
- Canto final: À escolha de quem lidera a assembleia
em consonância com o grupo de canto.
***
Temas de reflexão para cada um dos oito dias e celebração segundo o
roteiro acima:
(As frases temáticas que figuram a seguir à indicação dos textos bíblicos sugeridos
para cada dia referem-se, por esta ordem: à 1.ª leitura; ao salmo; à 2.ª
leitura; e ao Evangelho)
Dia 1: “Amareis também o estrangeiro, porque fostes estrangeiros no Egito” (Lv 19,33-34; Sl 146; Heb 13,1-3; Mt 25,31-46) – Amarás o migrante como a ti mesmo. O Senhor protege os
migrantes. Alguns, sem saberem, acolheram anjos. Eu era estrangeiro e acolhestes-me.
Dia 2: “Não mais como escravo, mas
como irmão amado” (Gn
1,26-28; Sl 10.1-10; Film 1-23; Lc 10,25-37) – Deus criou o homem à sua imagem. Porque, Senhor, permaneces afastado? Não mais como
escravo, mas como irmão bem amado. A parábola do bom samaritano.
Dia 3: “O seu corpo é templo do
Espírito Santo” (Ex 3,4-10;
Sl 24,1-6; 1Cor 6,9-20; Mt 18,1-7) – Deus
liberta os que estão em humana escravidão. Esta é a geração dos que procuram a
tua face. Glorificai, portanto, a Deus por vosso corpo. Ai do homem por quem
acontece a queda.
Dia 4: “Esperança e cura” (Is 9,2-7a; Sl 34,1-15; Ap 7,13-17; Jo 14,25-27) – Estender-se-á
a soberania e haverá paz sem fim. Procura a
paz e vai atrás dela!
Deus enxugará toda lágrima de seus
olhos. Eu vos deixo a paz.
Dia 5: “Escuta! O grito do meu pobre povo vem de longe e espalha-se na terra!” (Dt 1,19-35; Sl 145,9-20; Tg 1,9-11; Lc 18,35-43) – O Senhor marcha à tua frente e te carrega. O Senhor é o apoio dos caídos.
O rico passa como a flor dos prados. Jesus, filho de David, tem compaixão de mim!
Dia 6: “Cuidemos dos interesses dos
outros” (Is 25,1-9; Sl 82; Fl 2,1-4; Lc 12,13-21) – Exultemos,
jubilemos, pois ele nos salva. Fazei justiça ao infeliz e ao indigente. Cada um
não olhe só por si mesmo, mas também pelos outros. Guardai-vos de toda
ganância.
Dia 7: “Sendo família no lar e na
Igreja” (Ex 2,1-10; Sl 127; Heb 11,23-24; Mt 2,13-15) – Nascimento
de Moisés. Se o Senhor não construir a casa, os construtores trabalham em vão.
Moisés foi ocultado pelos pais, pois tinham visto a sua beleza. José
levantou-se, tomou consigo o menino e a mãe, de noite, e retirou-se para o
Egito.
Dia 8: “Ele reunirá os dispersos...
dos quatro cantos da terra” (Is 11,12-13;
Sl 106,1-14.43-48; Ef 2,13-19; Jo 17,1-12) – Efraim não terá mais ciúme de Judá e
Judá não será mais adversário de Efraim.
Congrega-nos no meio das nações e celebraremos o teu santo nome. Em sua carne destruiu o muro de separação. Eu fui glorificado neles.
***
Tudo se faça para refazer a unidade dos filhos de
Deus desnecessariamente divididos e dispersos!
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The Right Hand of God
(A
mão direita de Deus)
A mão direita de Deus
Está escrevendo em nossa terra, Escrevendo com poder e amor; Nossos conflitos e nossos medos, Nossos triunfos e nossas lágrimas. São gravados pela mão direita de Deus.
A mão direita de Deus
Está atingindo a nossa terra, Pondo para fora inveja, ódio e ambição; Nosso egoísmo e luxúria, Nosso orgulho e atos injustos São destruídos pela mão direita de Deus. |
A mão direita de Deus
Está elevando nossa terra, Erguendo os caídos um por um; Cada um tem seu nome conhecido, E é resgatado agora da vergonha Pela elevação da mão direita de Deus.
A mão direita de Deus
Está curando nossa terra, Curando dilacerados corpos, mentes e almas; Tão maravilhoso é seu toque, Com amor que tanto significa, Quando somos curados Pela mão direita de Deus. |
(Selecionado,
compilado e adaptado a partir do site do Vaticano)
2018.01.19
– Louro de carvalho
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