Ficou marcada pela questão PGR e
relações com Angola, pelo estatuto das magistraturas e pelo Pacto da justiça.
Marques Vidal salienta a importância da ligação entre os MP dos Membros da CPLP no contexto em que Portugal atravessa um incidente diplomático com o processo que envolve o ex-vice presidente de Angola Manuel Vicente, dizendo a uma plateia repleta de magistrados, procuradores, advogados e membros do Governo:
Marques Vidal salienta a importância da ligação entre os MP dos Membros da CPLP no contexto em que Portugal atravessa um incidente diplomático com o processo que envolve o ex-vice presidente de Angola Manuel Vicente, dizendo a uma plateia repleta de magistrados, procuradores, advogados e membros do Governo:
OA frisa
o défice de proteção de direitos fundamentais; PGR sublinha a maior eficácia do MP,
mesmo no combate à criminalidade de grande complexidade; STJ diz que é preciso
evitar política criminal à ‘flor da pele’; e PR, reconhecendo a necessidade de
avançar com medidas urgentes, pede que partidos se posicionem quanto ao Pacto
da Justiça.
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A Procuradora-Geral
da República (PGR)
disse, na sua
intervenção, que a ação penal, nos dias que correm, é mais eficaz, mesmo no
combate à criminalidade de grande complexidade, pois, como garantiu, “assiste-se,
hoje, a um mais eficaz exercício de ação penal, mesmo quando está em causa
criminalidade de elevada complexidade”.
Para a PGR,
os prazos de duração de vários processos diminuíram, a utilização dos
mecanismos de simplificação processual foi aumentando, tendo atingido, em 2017,
60% da totalidade dos inquéritos em que foram apurados indícios mínimos para o
exercício da ação penal. Além disso, a criação de estruturas especializadas
para a investigação da corrupção, da criminalidade económico-financeira e da
criminalidade complexa, foi também um fator “imprescindível do necessário
incentivo” para uma “melhor e mais eficaz investigação criminal”.
Joana Marques
Vidal destacou a importância da cooperação judicial internacional, onde
reconheceu que a “especial ligação do Ministério Público (MP) português aos ministérios públicos dos países da CPLP e
territórios de língua oficial portuguesa”, foram uma ajuda enorme.
A PGR fez
questão de saudar todos os procuradores, acrescentando que todos contribuíram
para “o retomar do prestígio e do reconhecimento público” do MP, sublinhando:
“Num quadro de manifesta e reconhecida falta de magistrados e funcionários, superaram as dificuldades e as perturbações de funcionamento causadas pela entrada em vigor de uma nova organização judiciária, cujo distinto paradigma não foi acompanhado nem conjugado com as consequentes e necessárias alterações ao Estatuto do Ministério Público”.
Marques Vidal salienta a importância da ligação entre os MP dos Membros da CPLP no contexto em que Portugal atravessa um incidente diplomático com o processo que envolve o ex-vice presidente de Angola Manuel Vicente, dizendo a uma plateia repleta de magistrados, procuradores, advogados e membros do Governo:
“Num quadro de manifesta e reconhecida falta de magistrados e funcionários, superaram as dificuldades e as perturbações de funcionamento causadas pela entrada em vigor de uma nova organização judiciária, cujo distinto paradigma não foi acompanhado nem conjugado com as consequentes e necessárias alterações ao Estatuto do Ministério Público”.
Marques Vidal salienta a importância da ligação entre os MP dos Membros da CPLP no contexto em que Portugal atravessa um incidente diplomático com o processo que envolve o ex-vice presidente de Angola Manuel Vicente, dizendo a uma plateia repleta de magistrados, procuradores, advogados e membros do Governo:
“Há que reconhecer a especial
ligação do Ministério Público português aos Ministérios Públicos dos países da
CPLP e territórios de língua oficial portuguesa”.
Estas palavras têm um significado mais forte no
contexto em que, no próximo dia 22, começa a primeira sessão de
julgamento da Operação Fizz, o caso que envolve Manuel Vicente,
ex-vice-presidente de Angola e ex-presidente da Sonangol, em que está em causa
a alegada corrupção do procurador do MP Orlando Figueira ao promover o
arquivamento dum inquérito relacionado com suspeitas de branqueamento de
capitais do próprio Vicente. Recorde-se que Orlando Figueira, que desempenhou
funções no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) entre 2008 e 2012, vai ser
julgado pelos crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de
segredo de justiça e falsificação de documento.
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Por seu
turno, o Bastonário da OA criticou a impossibilidade de
sindicância judicial das decisões do MP na fase de inquérito, alegando um
défice de proteção de diretos fundamentais.
Guilherme
Figueiredo disse que, no processo penal, “deve ser pensada e ponderada a atual impossibilidade de sindicância
judicial de decisões do Ministério Público, durante o inquérito, que contendam
com direitos fundamentais, os quais, por princípio, nem deveriam ser da
competência do Ministério Público, nos termos do artigo 32.º da Constituição”.
Para o Bastonário da Ordem dos Advogados (OA), existe também “um problema
sério de défice de proteção de direitos fundamentais quando estão em causa atos
administrativos ou jurisdicionais manifestamente inconstitucionais”.
O líder
dos advogados levantou ainda a questão da defesa dos direitos fundamentais dos
cidadãos na jurisdição constitucional.
E
prometeu que a Ordem vai realizar um debate sobre a eventual consagração de um
recurso de amparo que terá de contemplar pressupostos de “admissibilidade
exigentes”, de forma a evitar os riscos de banalização do instituto e de bloqueio
do Tribunal Constitucional”.
Guilherme Figueiredo reconheceu uma excessiva limitação de acesso
ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ),
no âmbito do processo penal, restrição desnecessária e desproporcionada e que
“há mais garantias no processo civil do que no processo penal”. E frisou:
“Importa
realçar e criticar o facto de atualmente estar vedado o recurso ao Supremo
quando os arguidos sejam pessoas coletivas”.
O Bastonário defendeu uma justiça de proximidade, um
reforço da importância da advocacia e uma política de densificação de
identidade das profissões jurídicas “um exercício profissional absolutamente
incompatível com outra qualquer profissão”.
Defendeu ainda a realização de pactos na área, “mesmos que estes
tenham um âmbito mais sobre o quotidiano e menos sobre a estruturação do sistema”, por forma a impulsionar um fórum
da justiça ou “uma plataforma permanente de justiça”. Esta plataforma, proposta
no recente Pacto da Justiça, permitirá, segundo Guilherme Figueiredo, “uma
discussão aberta e plural”.
No atinente ao Direito Fiscal, o Bastonário defendeu ser
“essencial aproximar as garantias do processo tributário ao processo civil, designadamente ao processo
executivo: os contribuintes devem poder reagir contra as decisões do órgão
executivo (o serviço de
finanças) em tempo útil,
através da subida imediata das reclamações judiciais contra atos desse órgão”.
E concluiu:
“É
impossível apelidar de justo o atual regime que impõe, como regra, a venda dos
bens dos executados como passo prévio à subida das reclamações contra os atos
de penhora e/ou venda, salvo em caso de prejuízo irreparável”.
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Já o Presidente
do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) declarou
que é necessário “evitar política criminal à flor da pele”, que tem sido condicionada por pressões com
assinatura, criticando também a “expansão absurda” do regime de
contraordenações.
António
Henriques Gaspar considera importante refletir sobre o perigo do excesso de
retórica existente em torno da “criminalidade económica”, argumentando:
“Além
do ruído, sobra uma noção sem muito conteúdo, quando as conceções da nova
economia financeira lançam para o lixo crimes com bens jurídicos sedimentados e
impõem ao legislador a fuga para o mundo das contraordenações”.
O Presidente
do STJ defende a necessidade de acabar a discussão estatutária dos magistrados
e garantir um “estatuto decente”, deixando um alerta:
“Todas
são questões políticas centrais que ultrapassam a capacidade de intervenção da
justiça” e apenas devem ter “uma resposta política. Não podemos é permanecer na
tranquilidade do fingimento de que não existem.”.
Henriques Gaspar
lançou vários desafios respeitantes à organização das vias de recurso para os
processos civis e penais, uma vez que é importante reinventar estratégias que
permitam, com os 60 milhões de euros que o Estado gasta anualmente, o
patrocínio efetivo no apoio judiciário.
Aludindo ao
Pacto da Justiça, lembrou que “o exercício tem de ser continuado, para
definir um método de análise do resultado que permita dar-lhe coerência intrassistemática”,
referindo ser agora o momento de as instituições olharem sobre o conjunto, para
lá das “ideias avulsas ou de sugestões pragmáticas que nascem da circunstância
e na circunstância e têm de ser resolvidas”.
No entanto,
não foram só lançados desafios durante o seu discurso, houve ainda tempo para
algumas reprovações, tendo criticado a “corrida a formas de justiça
privada e do apoio político que a acompanha, sem estudos de consequência nem
preocupações sobre o risco” destas.
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E o Presidente
da República (PR) defendeu,
no seu discurso, a necessidade de avançar “com medidas urgentes”, sem esperar
por “magnas reformas”, pedindo aos partidos que se posicionem quanto ao Pacto
da Justiça acordado pelos parceiros judiciário.
Marcelo
Rebelo de Sousa referiu, no encerramento da sessão solene da abertura do ano
judicial, que decorreu no Supremo Tribunal de Justiça, em Lisboa, que “da parte
do Governo ficou já explícita a disponibilidade para equacionar as pistas agora
propostas”. E desafiou:
“Importa
igualmente conhecer o posicionamento dos partidos que dispõem de assento na
Assembleia da República e apurar se – independentemente das
suas perspetivas próprias e até da salutar afirmação de vias
diferentes quanto à governação – aceitam também, desta feita, receber e ouvir
com apreço e espírito aberto o que resultou da ponderação difícil e longa
daqueles que todos os dias cumprem a sua missão na nossa justiça”.
Ademais,
Marcelo sustentou que “há que aproveitar estes ventos e não perder tempo” à espera
da “construção ideal de um sistema completo”. E pediu:
“Avancemos
com medidas urgentes em áreas em que a necessidade é mais visível”.
Marcelo
exortou a que não seja confundido “o institucional com o que não é, a essência
com a especulação sobre ela, o fundamental com a espuma de cada dia”. E foi
mais adiante:
“Não
nos dispersemos, entretanto, quanto ao essencial: dignificar e vitalizar a
nossa justiça, num ordenamento constitucional claro na caraterização dos
poderes e, desde logo, na definição como públicas das missões da própria
justiça”.
Relativamente
ao Pacto da Justiça, que foi o tema principal da sua intervenção, considerou
que “a maioria esmagadora dos protagonistas da justiça entendeu plenamente” o
seu apelo, feito na sessão solene de abertura do ano judicial de 2017, e
expressou reconhecimento aos signatários deste mesmo acordo, adiantando que, na
sua opinião, “o poder político só ganha em contar com a energia vital daqueles
que têm a vida permanentemente ligada à efetivação da justiça”.
Já em relação
ao acordo entre os parceiros da justiça, o Chefe de Estado disse que houve “arrojo, em propostas de estimulante
controvérsia, mesmo constitucional, desde o estudo da unificação das
jurisdições comum e administrativa e fiscal à especialização dos tribunais
superiores na área da família e da criança, à maior publicidade e
comunicação da justiça, à transparência da informação sobre sociedades”.
O Presidente
da República relembrou que agora é preciso “não abrandar” e prosseguir este
processo com um “encontro ainda mais intenso entre os parceiros da justiça, o
Governo e a Assembleia da República”. E assegurou:
“O
que todos desejamos é que dessa interação com a Assembleia da
República e o Governo possam decorrer muitos mais passos positivos para todos
os portugueses, que lhes sejam explicados e que possam motivar a sua adesão”.
O Chefe de Estado defende que
acordos para a Justiça são “arrojados” e “semente para o futuro”. E exorta os
grupos parlamentares a tomarem uma posição. E sublinha: “agora é continuar”.
Marcelo defendeu que a Justiça é “uma trave mestra num Estado
democrático”. E
assume que a sociedade se encontra “desperta” na área da Justiça. “Numa
palavra: mais atual se apresenta, ainda que lançado por mim, um acordo na
Justiça”.
Estão em causa os “Acordos para o Sistema de Justiça” trabalhados
por cinco
parceiros da Justiça, concretizados em 89 medidas, que
dão corpo ao Pacto da Justiça em versão preliminar e foram entregues a semana
passada a Marcelo Rebelo de Sousa por todos os operadores judiciários.
A este respeito, o Chefe de Estado referiu:
“Avançámos
com medidas urgentes em áreas mais sensíveis, demos passos conjuntos corajosos
e consistentes a pensar no médio e longo prazo. Estes acordos merecem uma
palavra de reconhecimento: trazem originalidade, empenho, abertura ao diálogo,
arrojo, são a semente de futuro, numa postura de interesse coletivo
que evitou chamar à colação matérias de estatuto e dignificação das
magistraturas.”.
***
Veremos
como é que Governo e Assembleia da República vão acolher e gerir o Pacto da
Justiça, sendo ou não capazes de desmentir os céticos; veremos como ficarão os
estatutos das magistraturas; veremos qual do desfecho diplomático do caso
Manuel Vicente e as consequências daí resultantes, bem como o julgamento dos
arguidos na Operação Fizz. Não vá acontecer que a
reclamação do “summum ius” sobre
indivíduos venha a acarretar a “summa
iniuria” sobre os povos.
2018.01.18 – Louro de Carvalho
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