O Vatican
News publicou, a 11 de janeiro, uma entrevista ao Cardeal Pietro
Parolin, Secretário de Estado do Vaticano sobre temas candentes de 2018 para o
Papa e para a Santa Sé. Entre eles, figuram a iminente viagem apostólica ao
Chile e Peru, de 15 a 22 de janeiro; o Sínodo dos Bispos “sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional” em outubro, próximo futuro; o encontro mundial das
famílias em Dublin, de 21 a 26 de agosto e o debate
no mundo católico sobre a Amoris Laetitia; e a reforma da Cúria Romana, em curso.
O purpurado
detém-se, particularmente, sobre as grandes expectativas que a Igreja tem em
relação aos jovens, no ano que terá a realização do Sínodo dedicado à
juventude, em outubro próximo, precedido de uma sessão pré-sinodal, de 19 a 24
de março, para a qual o Papa convidou os jovens de várias partes do mundo, tanto
jovens católicos como jovens de outras confissões cristãs e outras religiões,
ou jovens não crentes, organizada pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, em
colaboração com o Conselho Pontifício para os Leigos, a Família e a Vida.
A reunião pré-sinodal
contribuirá para enriquecer a fase de consulta já iniciada com a publicação do Documento
Preparatório e do questionário correspondente, com a abertura do sítio
on line que contém um questionário
especial para os jovens e com o Seminário Internacional sobre a condição
juvenil, celebrado em setembro de 2017. O fruto dos trabalhos desta reunião
será submetido aos Padres sinodais juntamente com outra documentação, para
que possam refletir e aprofundar.
A data
prevista para esta sessão pré-sinodal foi escolhida ex professo para que todos os participantes possam tomar
parte, no final dos trabalhos, na celebração do Domingo de Ramos com o Santo
Padre Francisco na Praça de São Pedro por ocasião da XXXIII Jornada Mundial da Juventude
2018 cujo tema é: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus” (Lc 1,30).
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Segundo o Cardeal Parolin, o ano de 2018 será
caraterizado por uma especial concentração da atenção da Igreja, em todos os
seus níveis, sobre os jovens e, especificamente, sobre as suas expectativas, as
suas aspirações, os desafios que têm de enfrentar “e também sobre as esperanças
que trazem consigo, bem como sobre as fraquezas e os medos”. Já daqui se deduz
que “será um ano importante”. O próprio Papa já o indicou nos recentes
discursos durante esta quadra natalícia. E o Secretário de Estado crê “que a
coisa mais inovadora desta abordagem é a busca de uma nova relação da Igreja
com os jovens, marcada por um paradigma de responsabilidade isento de todo e
qualquer paternalismo”. Na verdade, este dirigente eclesiástico está convicto
de que “a Igreja quer entrar verdadeiramente em diálogo com a realidade
juvenil, quer entender os jovens e quer ajudá-los”.
Evocando “o
famoso discurso que John Kennedy fez aquando da sua posse, no longínquo 1961”, em
que o então promissor Presidente dos EUA disse que não deviam interrogar-se
sobre o que o país pode fazer pelos cidadãos, mas sobre o que estes podem
fazer, devem fazer pelo país”, mostrou-se convicto de que será “esta, afinal de
contas, também a abordagem inovadora, ou seja, a Igreja pergunta aos jovens”.
Isto é, “o Papa e a Igreja perguntam aos jovens o que podem fazer pela Igreja,
qual contribuição que podem dar ao Evangelho, para a difusão do Evangelho, hoje”.
E o purpurado crê, pela sua perspicácia e inspirado pela sua experiência eclesial,
“que os jovens saberão responder a esse convite com a sua generosidade e também
com o seu entusiasmo”.
Também o
Papa antecipou um raciocínio análogo na carta que escreveu aos jovens, em 13 de
janeiro de 2017, aquando da apresentação do documento preparatório deste
Sínodo:
“Um mundo melhor constrói-se também graças a
vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de
ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a
consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. Também a Igreja
deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé;
até das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito,
deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores. São Bento
recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem
também os jovens porque ‘muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor
revela a melhor solução’ (Regra de São Bento III, 3).”.
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Porque “naturalmente,
os jovens evocam a família”, o Vatican News questionou o purpurado
a propósito do encontro mundial das famílias que se vai realizar no próximo mês
de agosto, em Dublin, na Irlanda – “um evento importante que tem lugar dois
anos após a publicação da Amoris laetitia” – querendo saber que
balanço pode ser feito sobre a receção deste documento e porque terá suscitado
um debate tão intenso no mundo católico.
O Cardeal Parolin sublinhou o posicionamento da Igreja na linha de orientação papal após a
celebração dos dois Sínodos sobre a família e depois da publicação da notável Exortação
apostólica Amoris laetitia. E mostrou a sua firme convicção de que
“o encontro mundial das famílias em Dublin será uma etapa” importante, até por
ser o primeiro grande encontro desta índole após a publicação deste documento. Constituirá
certamente “uma etapa de reflexão, uma etapa de aprofundamento e uma etapa
também para levar adiante este processo de aplicação das indicações da Amoris
laetitia”. E recordou, a
propósito, que “a Amoris laetitia nasceu de um novo paradigma
que o Papa Francisco está levando adiante com sabedoria, com prudência e também
com paciência”.
Pensa que “provavelmente,
as dificuldades que surgiram e que ainda existem na Igreja, além de alguns aspetos
do conteúdo”, terão a sua razão de ser “nessa mudança de atitude que o Papa nos
pede”. A mudança de paradigma, inerente ao próprio texto, consiste num
“espírito novo” que se exprime numa “nova abordagem”. Adverte, porém, que “toda
a mudança comporta sempre dificuldades” – o que “já era previsto” – sendo que
as mudanças “devem ser enfrentadas com afinco, para encontrar respostas que se
tornem momentos de ulterior crescimento, de ulterior aprofundamento”. E,
concluindo, pressupõe:
“Também aí creio que a Amoris laetitia, além de ser um
abraço que a Igreja faz à família e a seus problemas no mundo de hoje, possa
ajudar realmente a incarnar o Evangelho no seio da família – que já é um
Evangelho: o Evangelho da família –, é, ao mesmo tempo, também um pedido de
ajuda às famílias a fim de que colaborem e contribuam para o crescimento da
Igreja”.
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Celebrando-se, no próximo dia 13 de
março, o quinto aniversário da eleição do Papa Francisco e sendo um dos pontos
fortes do seu Pontificado o processo de reforma da Cúria (e não
somente) é legítimo querer saber, da parte
do seu colaborador mas próximo, como se poderá desenvolver esse processo no
futuro próximo.
Neste sentido, o entrevistado regista que “já foram dados passos, notáveis passos avante”. E recordou que, “no ano
passado, o Papa no discurso à Cúria elencava, de certo modo, todas as medidas
adotadas após estudo, sobretudo por parte do Conselho dos cardeais do C9”.
Porém, tratando-se de discurso recorrente “no Magistério do Papa Francisco,
quando se fala da Cúria”, o Secretário de Estado opina que este Magistério não consiste
tanto na insistência “nas reformas estruturais, com a promulgação de novas
leis, de novas normas, nomeações e assim por diante”, mas, e sobretudo, em pôr
em evidência o “espírito profundo que deve animar toda e qualquer reforma da
Cúria”, que “é a dimensão fundamental da vida cristã, ou seja, a conversão”.
Pretende, pois, o Pontífice “fazer de modo que a Cúria – sempre mais e melhor,
livrando-se também daquelas sombras que possam ser de obstáculo para este
empenho e esta missão – possa tornar-se realmente um auxílio ao Papa para
anunciar o Evangelho, para testemunhar o Evangelho, para evangelizar o mundo de
hoje”. Insiste o Cardeal “mais uma vez sobre isso, embora se trate de um olhar
de fundo e não desça na concretude das reformas singularmente consideradas ou
de cada mudança, que, porém, já houve e que continuará”.
E não deixa
de acrescentar que “estão em andamento outros aprofundamentos concernentes aos
demais organismos da Cúria romana” e que gostaria de evidenciar que aquela “é a
perspectiva fundamental na qual devemos nos colocar e à qual o Papa
continuamente nos chama”.
Também Parolin se refere ao significado das viagens pontifícias e, em
concreto, destaca o atinente à importante visita papal
ao Chile e Peru.
Assegura que, nestas visitas apostólicas, se trata sempre do “encontro com as Igrejas”, “o encontro com a
comunidade cristã”. O Pontífice desloca-se “como pastor universal da Igreja
para encontrar Igrejas locais, naturalmente”, para encontrar “Igrejas que são
particularmente vivas, particularmente ativas como a Igreja no Chile, como a
Igreja no Peru e que, por outro lado, se encontram também enfrentando numerosos
desafios diante da realidade do mundo de hoje”. E, de entre os muitos desafios
que se colocam àquelas Igrejas, o eminente purpurado assinala dois “que o Papa
tem muito a peito”: o desafio da população indígena, dos indígenas; e o desafio
da corrupção.
Sobre o
desafio dos indígenas, Parolin faz referência ao Sínodo sobre a Amazónia, convocado
recentemente pelo Papa e que se realizará em 2019. E a questão que se levanta é
sobre “qual é o papel, qual é a contribuição dessas populações no seio de cada
país, de suas sociedades, e para dar uma contribuição também a essas sociedades”.
E, relativamente ao desafio da corrupção, sublinha “que impede o
desenvolvimento”, bem como “a superação da pobreza e da miséria”.
Assim, o
Secretário de Estado crê que não será uma viagem simples, mas será realmente
uma viagem muito interessante”.
***
Estas declarações
do Cardeal Parolin ao Vatican News, embora prestadas de forma despretensiosa,
retratam o essencial do estado da questão sobre o Pontificado do Papa argentino
a que fazemos bem prestar atenção e seguir na parte que nos compete.
2018.01.12 – Louro de Carvalho
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