sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

2018: Francisco no signo de jovens, família e reforma da Cúria Romana

O Vatican News  publicou, a 11 de janeiro, uma entrevista ao Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano sobre temas candentes de 2018 para o Papa e para a Santa Sé. Entre eles, figuram a iminente viagem apostólica ao Chile e Peru, de 15 a 22 de janeiro; o Sínodo dos Bispos “sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional” em outubro, próximo futuro; o encontro mundial das famílias em Dublin, de 21 a 26 de agosto e o debate no mundo católico sobre a Amoris Laetitia;  e a reforma da Cúria Romana, em curso.
O purpurado detém-se, particularmente, sobre as grandes expectativas que a Igreja tem em relação aos jovens, no ano que terá a realização do Sínodo dedicado à juventude, em outubro próximo, precedido de uma sessão pré-sinodal, de 19 a 24 de março, para a qual o Papa convidou os jovens de várias partes do mundo, tanto jovens católicos como jovens de outras confissões cristãs e outras religiões, ou jovens não crentes, organizada pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, em colaboração com o Conselho Pontifício para os Leigos, a Família e a Vida.
A reunião pré-sinodal contribuirá para enriquecer a fase de consulta já iniciada com a publicação do Documento Preparatório e do questionário correspondente, com a abertura do sítio on line  que contém um questionário especial para os jovens e com o Seminário Internacional sobre a condição juvenil, celebrado em setembro de 2017. O fruto dos trabalhos  desta reunião será submetido  aos Padres sinodais juntamente com outra documentação, para que possam refletir e aprofundar.
A data prevista para esta sessão pré-sinodal foi escolhida ex professo para que  todos os participantes possam tomar parte, no final dos trabalhos, na celebração do Domingo de Ramos com o Santo Padre Francisco na Praça de São Pedro por ocasião da XXXIII Jornada Mundial da Juventude 2018 cujo tema é: “Não temas, Maria, porque achaste graça diante de Deus (Lc 1,30).
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Segundo o Cardeal Parolin, o ano de 2018 será caraterizado por uma especial concentração da atenção da Igreja, em todos os seus níveis, sobre os jovens e, especificamente, sobre as suas expectativas, as suas aspirações, os desafios que têm de enfrentar “e também sobre as esperanças que trazem consigo, bem como sobre as fraquezas e os medos”. Já daqui se deduz que “será um ano importante”. O próprio Papa já o indicou nos recentes discursos durante esta quadra natalícia. E o Secretário de Estado crê “que a coisa mais inovadora desta abordagem é a busca de uma nova relação da Igreja com os jovens, marcada por um paradigma de responsabilidade isento de todo e qualquer paternalismo”. Na verdade, este dirigente eclesiástico está convicto de que “a Igreja quer entrar verdadeiramente em diálogo com a realidade juvenil, quer entender os jovens e quer ajudá-los”.
Evocando “o famoso discurso que John Kennedy fez aquando da sua posse, no longínquo 1961”, em que o então promissor Presidente dos EUA disse que não deviam interrogar-se sobre o que o país pode fazer pelos cidadãos, mas sobre o que estes podem fazer, devem fazer pelo país”, mostrou-se convicto de que será “esta, afinal de contas, também a abordagem inovadora, ou seja, a Igreja pergunta aos jovens”. Isto é, “o Papa e a Igreja perguntam aos jovens o que podem fazer pela Igreja, qual contribuição que podem dar ao Evangelho, para a difusão do Evangelho, hoje”. E o purpurado crê, pela sua perspicácia e inspirado pela sua experiência eclesial, “que os jovens saberão responder a esse convite com a sua generosidade e também com o seu entusiasmo”.
Também o Papa antecipou um raciocínio análogo na carta que escreveu aos jovens, em 13 de janeiro de 2017, aquando da apresentação do documento preparatório deste Sínodo:
Um mundo melhor constrói-se também graças a vós, ao vosso desejo de mudança e à vossa generosidade. Não tenhais medo de ouvir o Espírito que vos sugere escolhas audazes, não hesiteis quando a consciência vos pedir que arrisqueis para seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta da vossa voz, da vossa sensibilidade, da vossa fé; até das vossas dúvidas e das vossas críticas. Fazei ouvir o vosso grito, deixai-o ressoar nas comunidades e fazei-o chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque ‘muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução’ (Regra de São Bento III, 3).”.
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Porque “naturalmente, os jovens evocam a família”, o Vatican News questionou o purpurado a propósito do encontro mundial das famílias que se vai realizar no próximo mês de agosto, em Dublin, na Irlanda – “um evento importante que tem lugar dois anos após a publicação da Amoris laetitia” – querendo saber que balanço pode ser feito sobre a receção deste documento e porque terá suscitado um debate tão intenso no mundo católico.
O Cardeal Parolin sublinhou o posicionamento da Igreja na linha de orientação papal após a celebração dos dois Sínodos sobre a família e depois da publicação da notável Exortação apostólica Amoris laetitia. E mostrou a sua firme convicção de que “o encontro mundial das famílias em Dublin será uma etapa” importante, até por ser o primeiro grande encontro desta índole após a publicação deste documento. Constituirá certamente “uma etapa de reflexão, uma etapa de aprofundamento e uma etapa também para levar adiante este processo de aplicação das indicações da Amoris laetitia”. E recordou, a propósito, que “a Amoris laetitia nasceu de um novo paradigma que o Papa Francisco está levando adiante com sabedoria, com prudência e também com paciência”.
Pensa que “provavelmente, as dificuldades que surgiram e que ainda existem na Igreja, além de alguns aspetos do conteúdo”, terão a sua razão de ser “nessa mudança de atitude que o Papa nos pede”. A mudança de paradigma, inerente ao próprio texto, consiste num “espírito novo” que se exprime numa “nova abordagem”. Adverte, porém, que “toda a mudança comporta sempre dificuldades” – o que “já era previsto” – sendo que as mudanças “devem ser enfrentadas com afinco, para encontrar respostas que se tornem momentos de ulterior crescimento, de ulterior aprofundamento”. E, concluindo, pressupõe:
Também aí creio que a Amoris laetitia, além de ser um abraço que a Igreja faz à família e a seus problemas no mundo de hoje, possa ajudar realmente a incarnar o Evangelho no seio da família – que já é um Evangelho: o Evangelho da família –, é, ao mesmo tempo, também um pedido de ajuda às famílias a fim de que colaborem e contribuam para o crescimento da Igreja”.
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Celebrando-se, no próximo dia 13 de março, o quinto aniversário da eleição do Papa Francisco e sendo um dos pontos fortes do seu Pontificado o processo de reforma da Cúria (e não somente) é legítimo querer saber, da parte do seu colaborador mas próximo, como se poderá desenvolver esse processo no futuro próximo.
Neste sentido, o entrevistado regista que “já foram dados passos, notáveis passos avante”. E recordou que, “no ano passado, o Papa no discurso à Cúria elencava, de certo modo, todas as medidas adotadas após estudo, sobretudo por parte do Conselho dos cardeais do C9”. Porém, tratando-se de discurso recorrente “no Magistério do Papa Francisco, quando se fala da Cúria”, o Secretário de Estado opina que este Magistério não consiste tanto na insistência “nas reformas estruturais, com a promulgação de novas leis, de novas normas, nomeações e assim por diante”, mas, e sobretudo, em pôr em evidência o “espírito profundo que deve animar toda e qualquer reforma da Cúria”, que “é a dimensão fundamental da vida cristã, ou seja, a conversão”. Pretende, pois, o Pontífice “fazer de modo que a Cúria – sempre mais e melhor, livrando-se também daquelas sombras que possam ser de obstáculo para este empenho e esta missão – possa tornar-se realmente um auxílio ao Papa para anunciar o Evangelho, para testemunhar o Evangelho, para evangelizar o mundo de hoje”. Insiste o Cardeal “mais uma vez sobre isso, embora se trate de um olhar de fundo e não desça na concretude das reformas singularmente consideradas ou de cada mudança, que, porém, já houve e que continuará”.
E não deixa de acrescentar que “estão em andamento outros aprofundamentos concernentes aos demais organismos da Cúria romana” e que gostaria de evidenciar que aquela “é a perspectiva fundamental na qual devemos nos colocar e à qual o Papa continuamente nos chama”.
Também Parolin se refere ao significado das viagens pontifícias e, em concreto, destaca o atinente à importante visita papal ao Chile e Peru.
Assegura que, nestas visitas apostólicas, se trata sempre do “encontro com as Igrejas”, “o encontro com a comunidade cristã”. O Pontífice desloca-se “como pastor universal da Igreja para encontrar Igrejas locais, naturalmente”, para encontrar “Igrejas que são particularmente vivas, particularmente ativas como a Igreja no Chile, como a Igreja no Peru e que, por outro lado, se encontram também enfrentando numerosos desafios diante da realidade do mundo de hoje”. E, de entre os muitos desafios que se colocam àquelas Igrejas, o eminente purpurado assinala dois “que o Papa tem muito a peito”: o desafio da população indígena, dos indígenas; e o desafio da corrupção.
Sobre o desafio dos indígenas, Parolin faz referência ao Sínodo sobre a Amazónia, convocado recentemente pelo Papa e que se realizará em 2019. E a questão que se levanta é sobre “qual é o papel, qual é a contribuição dessas populações no seio de cada país, de suas sociedades, e para dar uma contribuição também a essas sociedades”. E, relativamente ao desafio da corrupção, sublinha “que impede o desenvolvimento”, bem como “a superação da pobreza e da miséria”.
Assim, o Secretário de Estado crê que não será uma viagem simples, mas será realmente uma viagem muito interessante”.
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Estas declarações do Cardeal Parolin ao Vatican News, embora prestadas de forma despretensiosa, retratam o essencial do estado da questão sobre o Pontificado do Papa argentino a que fazemos bem prestar atenção e seguir na parte que nos compete.

2018.01.12 – Louro de Carvalho

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