A Sala de
Imprensa da Santa Sé comunicou que, no domingo, 28 de janeiro, às 16 horas, o
Papa irá à Basílica de Santa Sofia encontrar-se com a comunidade greco-católica
ucraniana, atendendo ao convite do Arcebispo-Mor de Kyiv-Halyč dos ucranianos,
Sviatoslav Shevchuk.
Essa
intenção estava sobre a mesa há uns tempos e, no passado dia 12, a informação
foi confirmada pelo diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke.
A Ucrânia é
um país que está no coração do Santo Padre, que não poucas vezes lançou apelos
pela resolução do conflito vivido no país, que além da perda de vidas humanas,
provoca deslocações internas e pesados danos materiais.
Em 2016, por
desejo de Francisco, foi realizada uma coleta de fundos nas igrejas
europeias, cujo valor arrecadado foi destinado àquele país do leste europeu.
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A este
propósito, lembrei-me de proceder a um excursus
sobre o título de Santa Sofia: Roma, Kiev e Constantinopla (Istambul), já que é a História que explica determinadas situações
do hoje.
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A Basílica
de Santa Sofia (em latim, Sancta
Sophia, Santa Sabedoria) na Via
Boccea é um local subsidiário de culto da Paróquia de Santa Maria da
Apresentação e a igreja nacional em Roma dos ucranianos. Dedicada à Santa Sabedoria, um
dos dons do Espírito Santo, serviu
como igreja-mãe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que está
em comunhão plena com o Papa, enquanto a Catedral de São
Jorge, em Lviv, esteve sob o controlo da Igreja Ortodoxa Russa.
É uma
das igrejas nacionais dos ucranianos em Roma, ponto de
encontro e centro de devoção religiosa a comunidade, onde a Divina
Liturgia é celebrada no rito bizantino-ucraniano.
Em fevereiro
de 1963, logo após sua saída da prisão num gulag na Sibéria, o arquieparca
Josyp Slipyj, que não
recebeu permissão para retornar para a República Socialista Soviética da
Ucrânia, começou a recolher fundos para
construir em Roma uma igreja para a comunidade da Igreja Greco-católica
ucraniana. E a construção, inspirada
na Catedral de Santa Sofia de Kiev, teve início
em junho de 1967, sendo concluída em setembro de 1969.
Os mosaicos
do altar são obra do artista ucraniano Svyatoslav Hordynsky.
A Igreja –
dedicada à Divina Sabedoria – foi consagrada em 27-28 de setembro de 1969 pelo
arquieparca Josyp Slipyj e 17 bispos, na presença do Papa Paulo VI. E ficou
conhecida como “Santa Sofia a Via Boccea” ou Basílica
de Santa Sofia na Via Boccea.
As relíquias
do Papa Clemente I (Pontífice entre 88 e 97) foram transferidas da Basílica de “San Clemente al Laterano”, que conta
também com uma iconóstase (típica do rito bizantino, pintada
por Juvenalij Josyf Mokryckyj), e
depositadas sob o altar-mor.
Em 1985,
o Papa São João Paulo II transformou este igreja em igreja
titular, digna de um cardeal-presbítero. O primeiro protetor
do título de Santa Sofia na Via Boccea foi Myroslav Ivan
Lubachivsky e o atual é Lubomyr Husar, Arcebispo-mor de
Kyiv-Halych.
Em 1998, a
igreja foi elevada ao título de basílica menor.
Em setembro
de 2011 foram concluídos os trabalhos de restauração promovidos pela Associação
“Santa Sofia” que é a legítima proprietária da igreja e das construções anexas.
Em 14 de
outubro de 2012, durante uma solene liturgia presidida pelo Arcebispo-Mor
Svjatoslav Ševčuk e concelebrada por outros prelados, foi realizado um ato
simbólico de bênção da restaurada basílica de Santa Sofia.
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A Catedral de Santa Sofia em Kiev,
que inspirou a basílica de Roma com o mesmo título (em ucraniano, Собор Святої Софії,
Sobor Sviatoyi Sofiyi o Софійський собор, Sofiys’kyi sobor; e,
em russo, Собор Святой Софии, Sobor Svyatoi Sofii o Софийский собор,
Sofiyskiy sobor) é um
notável monumento arquitetónico sobressalente da Rus de Kiev, hoje um
dos monumentos mais conhecidos da cidade que constitui, juntamente com o Mosteiro de Kiev-Pechersk, o primeiro património
ucraniano inscrito da lista do Património Mundial da UNESCO.
O nome da catedral vem dea “Hagia
Sofia” do século VI em Constantinopla (atual Istambul) e significa “Sagrada sabedoria”, não estando dedicada a um santo em particular.
Concebida como a Nova Constantinopla
para representar o cristianismo oriental, a Santa
Sofia de Kiev foi construída no século XI, no auge do poder da Rus de Kiev,
uma política medieval na Ucrânia atual, e foi a principal igreja metropolitana
na Rússia. Foi concluída na sua forma atual 700 anos depois, após ciclos de
destruição e reconstrução. A catedral costuma ser exibida com o campanário e as
13 cúpulas, a praça da catedral e o monumento a Bohdan Khmelnytsky, um cossaco
do século XVII, considerado como um herói nacional ucraniano.
A estrutura tem 5 naves, 5 ábsides e, surpreendentemente
tratando-se de arquitetura bizantina, 13 cúpulas. Está cercada de
galerias de duas linhas por três lados. Mede 37 metros por 55. O exterior
costumava ter pedestais. No interior, conserva mosaicos e afrescos do
século XI, incluindo uma representação ruinosa da família de Yaroslav e
a Virgem em oração.
O complexo da
catedral é o principal componente do Santuário Nacional Sifia de Kiev, a
instituição estatal responsável da conservação do complexo catedralício junto
com outros monumentos históricos da cidade.
Esta construção incrível, situada
no centro da cidade, é um dos monumentos ucranianos mais conhecidos e belos.
Datada do século XI, a construção da catedral foi encomendada por Yaroslav, o Sábio,
governante do Principado de Kiev na época.
Cúpulas
verdes escuras, belos afrescos e mosaicos decoram a Catedral de Santa Sofia. No
centro da igreja, como foi referido já, fica um enorme mosaico de Maria rezando.
Os moradores de Kiev creem que a cidade continuará a existir enquanto esta obra
de arte for preservada. No entanto, nem todas as obras de arte da catedral são
de natureza religiosa. Há também imagens do Príncipe Yaroslav e família, e
vários afrescos de pessoas a festejar em Constantinopla, onde se inspirou a
catedral.
No século XI, a catedral também serviu como cemitério dos governantes do
Principado de Kiev. É por isso que, na década de 1980, o governo quis devolver
a Catedral à Igreja Ortodoxa Russa. Porém, vários partidos dentro do governo
discordavam dessa decisão. Por fim, chegou-se a um acordo de abrir a catedral ao
público e transformá-la num museu. Além dos afrescos e mosaicos, a antiga sala
de jantar também apresenta objetos que foram encontrados nas escavações
arqueológicas ao redor da catedral. Os visitantes podem ver várias maquetes em
escala da cidade, do período em que Kiev foi invadida pelos tártaros.
Desde a sua construção original, a catedral passou por muitas mudanças.
O prédio foi danificado várias vezes, especialmente no século XIII, quando os
tártaros conquistaram Kiev. Nas várias restaurações, foram acrescentados novos
salões. Sob a política antirreligiosa da União Soviética, na década de 1930,
foi traçado um plano para demolir a catedral. Mas, depois duma chuva de
críticas da parte de historiadores e do Governo francês, os russos voltaram
atrás na decisão. Hoje parece impossível imaginar que essa linda construção
quase foi destruída.
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Santa Mãe Sofía o Hagia Sophia (do grego: Άγια Σοφία, ‘Santa
Sabedoria’; em latim: Sancta Sophia o Sancta Sapientia;
em turco: Ayasofya) é uma antiga basílica patriarcal ortodoxa,
posteriormente convertida em mesquita e atualmente em museu, na cidade
de Istambul, na Turquia.
Desde a data
da dedicação no ano 360 e até 1453, serviu como a catedral ortodoxa
bizantina de rito oriental de Constantinopla, exceto no período
entre 1204 e 1261, em que foi reconvertida em catedral católica de
rito latino, durante o patriarcado latino de Constantinopla do Império
latino, fundado pelos cruzados. Após a conquista de Constantinopla pelos
otomanos, o edifício foi transformado em mesquita, mantendo esta função desde 29
de maio de 1453 até 1931, data em que foi secularizado. E, a 1 de fevereiro de
1935, foi inaugurado como museu.
Às vezes chamada de
Sancta Sophia (como
se fosse o nome duma Santa Sofia), sophia é, na realidade, a transcrição
fonética para latim da palavra grega que significa “Sabedoria”. O nome completo
em grego é: Ναός τῆς Ἁγίας τοῦ
Θεοῦ Σοφίας – Igreja da Santa Sabedoria de Deus.
O templo era
dedicado à Divina Sabedoria, imagem tomada do Livro da Sabedoria do
Antigo Testamento, referente à personificação da sabedoria de Deus ou
segunda pessoa da Santíssima Trindade. A festa celebra-se a 25 de dezembro,
o aniversário da encarnação do Verbo o Logos em Cristo.
Famosa pela
enorme cúpula, é considerada como o epítome da arquitetura bizantina.
E dela se diz que “mudou a história da arquitetura”. Foi a catedral com
maior superfície do mundo em quase mil anos até se completar a catedral de
Sevilha em 1520. O edifício atual foi reconstruído, entre 532 e
537, para ser usado como igreja, por ordem do imperador bizantino
Justiniano I, sendo a 3.ª igreja da Santa Sabedoria edificada nesse horizonte
temporal. O traçado é obra do arquiteto e físico Jónio Isidoro de Mileto e
do matemático arquiteto lídio Antemio de Tralles.
A igreja
contém grande coleção de relíquias de santos, e contou com um iconóstase de prata
de 15 metros. Foi a sede do Patriarca de Constantinopla e o ponto
focal religioso da Igreja ortodoxa oriental em quase mil anos. Foi nesta igreja
que o cardeal Humberto excomungou Miguel I, o Cerulário, em 1054 – ato que se
considera como o começo do Grande Cisma.
Em 1453,
Constantinopla foi conquistada pelos turcos otomanos sob as ordens do
Sultão Mehemed II, que posteriormente decidiu converter o templo em mesquita.
Foram
retirados sinos, altar, iconóstase e vasos do sacrifício e foram engessados muitos
dos mosaicos . No domínio otomano acrescentaram-se-lhe detalhes
arquitetónicos islâmicos, como o mihrab,
o minbar e quatro minaretes.
O edifício manteve-se como mesquita até 1931, momento em que foi encerrado ao
público pelo Governo da Turquia até à sua reabertura, já como museu, em 1935.
Mesquita
principal de Istambul durante quase 500 anos, Santa Sofia serviu como modelo para outras mesquitas otomanas, como
a mesquita do Sultão Ahmed, também conhecida como a Mesquita Azul de
Istambul, a Mesquita Sehzade, a Mesquita de Solimán, a Mesquita
Rüstem Pasha e a Mesquita Kiliç Ali Pasha.
***
Santa Sofia,
antes de passar a mesquita, passou por três fases, ou seja, três igrejas,
porque até à terceira foram-se destruindo por força de incêndios ocorridos em ocasião
de graves distúrbios.
Assim, a primeira
igreja, conhecida como Μεγάλη Ἐκκλησία (Megálē Ekklēsíā, ‘Iglesia Grande’ – ou Magna
Ecclesia em latim) por suas dimensões mais avantajadas que as das outras igrejas contemporâneas
da cidade, foi inaugurada a 15 de fevereiro de 360, no reinado de Constâncio
II, pelo bispo ariano Eudóxio de Antioquia, foi construída junto da zona
onde se estava a edificar o palácio imperial. A vizinha igreja de Santa Irene –
“Santa Paz” – foi concluída antes e serviu como catedral até se acabar a igreja
de Santa Sofia.
O Patriarca de Constantinopla João Crisóstomo entrou em conflito
com a imperatriz Elia Eudóxia, esposa do imperador Arcádio,
e foi exilado a 20 de junho de 404. Durante os distúrbios que se produziram
então, a igreja foi queimada e derrubada em grande parte e, na atualidade, não
se conserva nada deste primeiro edifício.
O imperador Teodósio
II ordenou a construção duma segunda igreja, que inaugurou a 10 de outubro
de 415. Esta basílica, com teto de madeira, foi construída pelo arquiteto Rufino.
Mas, durante os distúrbios de Niká deflagrou um incêndio que queimou
e derrubou este segundo edifício, entre 13 e 14 de janeiro de 532.
Sobrevivem
alguns blocos de mármore desta segunda igreja, entre os quais uns relevos com
12 cordeiros, representando os 12 apóstolos, que originalmente faziam parte duma
monumental porta de entrada. Hoje estes blocos encontram-se numa escavação
junto à entrada do museu.
A 23 de
fevereiro de 532, o imperador Justiniano I mandou construir uma terceira
basílica completamente diferente, maior e mais majestosa que as predecessoras.
Esta nova igreja foi reconhecida pelos contemporâneos como uma
grande obra de arquitetura. O imperador, juntamente com o patriarca Eutíquio,
inaugurou-a com muita pompa a 27 de dezembro de 537. Os mosaicos dentro da
igreja completaram-se sob o reinado do imperador Justino II (565-578).
Santa Sofia foi a sede do patriarca ortodoxo de Constantinopla e o cenário
principal das cerimónias imperiais bizantinas, como as coroações. A basílica também
oferecia asilo aos malfeitores.
Passou por
vários terramotos e saques (terrível o saque dos cruzados) que deixaram sequelas. Foram destruídos os ícones. E,
enfim, chegou a era da mesquita e recentemente a do museu.
É o percurso
dum forte ícone religioso – católico, ortodoxo, muçulmano – agora laico,
recheado de história e de cultura, com a transferência do cerimonial de fé
católico bizantino para Roma.
2018.01.13 – Louro de Carvalho
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