Após a morte de
João Paulo II, ocorrida a 2 de abril de 20015, foi eleito, no dia 19, no quarto
escrutínio do Conclave, o novo Papa. O eleito era um dos mais estreitos
colaboradores de Wojtyla, Joseph Ratzinger, até então Prefeito da Congregação
da Doutrina da Fé, que escolheu o nome de Bento XVI. Hoje, o portal de notícias do Vaticano evoca o
13.º aniversário da eleição pontifícia de Bento XVI, atualmente Papa emérito.
Como recorda o ‘Vatican News’, “na tarde de 19 de abril de 2005, a Praça São Pedro
estava lotada de fiéis, o que acontecia desde o dia 2 de abril, quando faleceu
o amado futuro santo João Paulo II, que guiou a Igreja durante 26 anos, 5 meses
e 17 dias”. Às 17,56 horas locais (menos uma em Lisboa), da chaminé da Capela Sistina surgia
fumo branco: os cardeais, reunidos há dois dias em Conclave, haviam escolhido o
265.º sucessor de Pedro [Bento IX (século XI) desempenhou esta
missão em três ocasiões diferentes]. O cardeal Joseph Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé, era o novo Papa e escolhera o nome de Bento XVI.
Na audiência geral de 27 de abril, quis
explicar a razão da escolha, evidenciando a coragem de Bento XV (1914-1922) em tempo de guerra e o compromisso pela paz, mas admitiu ter-se inspirado
também em São Bento de Núrsia, copadroeiro da Europa, grande “Patriarca do
monaquismo ocidental”. E, na primeira e breve alocução como Papa, Bento XVI
definiu-se como “um simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”, pedindo
orações aos fiéis.
O Anuário
Pontifício, do Vaticano, identifica 210 Papas do atual território italiano
(109 de Roma), 16 da atual França, 11 gregos (todos até ao século VIII), 6 sírios e 5 da Alemanha, o último dos
quais Bento XVI.
No passado dia 16, o Papa emérito celebrou
os seus 91 anos de idade, junto do seu irmão Georg.
Sete
dos últimos 13 Papas da Igreja Católica tinham 65 anos ou menos no dia da sua
eleição; Bento XVI, aos 78 anos, foi o Papa mais velho a ser escolhido desde
1730.
Apresentou a renúncia a 11 de fevereiro de 2013, por
causa da “idade avançada” e dificuldades do corpo e do espírito, que não lhe
permitiam arcar com o pontificado: nascido então há 85 anos e 10 meses, Joseph
Ratzinger era o 7.º pontífice mais idoso da História da Igreja.
***
É
um pontificado que é de justiça recordar e apreciar. Segundo o
vaticanista Lucio Brunelli, sem estabelecer verdades absolutas sobre
o resultado final do conclave, facto que esbarra no segredo imposto aos cardeais
pela Constituição Apostólica “Universi Dominici gregis”, na 1.ª votação, de 18 de abril de
2005, ocorrida por volta das 18 horas, Ratzinger obteve 47 votos, contra 10
votos de Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires e 9 votos para Carlo
Maria Martini, Arcebispo emérito de Milão. Na 2.ª votação no dia seguinte,
ainda segundo Brunelli, Ratzinger tivera aproximadamente 60 votos. Na 3.ª
votação, na manhã de 19 de abril, Ratzinger obteve 72 votos, contra 40 de Bergoglio.
Na votação encerrada na tarde de 19 de abril, Ratzinger obteve 84 votos, contra
26 de Bergoglio. Mas, Brunelli, como foi dito, em razão do segredo de ofício
imposto aos cardeais sob pena de excomunhão, não tem nenhuma fonte fidedigna
que ampare essas suas suposições.
Aos
78 anos, o Cardeal Joseph Ratzinger foi eleito Papa pelo sacro colégio. O conclave findo
em 19 de abril foi um dos mais céleres da história, tendo apenas 4
votações e duração de apenas 22 horas. No dia 24 de abril do mesmo ano,
iniciou solenemente o seu ministério petrino com a celebração Eucarística (receção do anel do Pescador
e do pálio papal) na Praça de São Pedro em Roma.
O fumo
branco saíra da chaminé da Capela Sistina às 17,56 daquele 19 de abril. O nome
foi anunciado cerca das 18,40 locais, da varanda da Basílica de São
Pedro, onde o novo Papa surgiu minutos depois usando o solidéu branco, aclamado
por milhares de pessoas que enchiam a Praça de São Pedro, o coração do
Vaticano.
O
grande mote de Ratzinger, nos dias antecedentes ao conclave, fora a
questão do secularismo e do relativismo. Bento seria grande
defensor dos valores absolutos, da doutrina e do dogma, já que
afirmara na missa de abertura do conclave que viria a elegê-lo:
“A pequena barca com o
pensamento dos cristãos sofreu, não pouco, pela agitação das ondas, arrastada
de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo até à libertinagem, do
coletivismo ao individualismo mais radical, do ateísmo a um vago misticismo, do
agnosticismo ao sincretismo”.
Acreditava-se
também, devido ao nome escolhido (São Bento é padroeiro da Europa), que Bento XVI se
voltaria para este continente que, segundo ele, vem caindo no secularismo (abandono dos valores
religiosos e redução de tudo ao espectro político de direita e esquerda). A sua primeira encíclica Deus Caritas est (Deus é Amor) “sobre o amor cristão”, publicada a 25 de dezembro de
2005, ainda no seu 1.º ano de pontificado, é um documento denso, com que delineia
os rumos que pretende dar ao seu ministério petrino. Neste documento, envia uma
mensagem de paz ao mundo:
“Num
mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, a vingança ou mesmo o dever
do ódio e da violência, essa é uma mensagem de grande atualidade e de
significado muito concreto. Por isso, na minha primeira encíclica, desejo falar
do amor com que Deus nos cumula e que deve ser comunicado aos outros por nós. […] O meu desejo é insistir sobre alguns
elementos fundamentais, para, assim, suscitar no mundo um renovado dinamismo de
empenhamento na resposta humana ao amor divino.”.
Esta diferente face de Deus levou o Papa a considerar, em dezembro
de 2008, que ainda resta um longo caminho a percorrer para o pleno respeito aos
ideais previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Numa vigília no
Vaticano por ocasião do 60.º aniversário do documento, precisou que “os
direitos humanos são frágeis porque privados de uma base sólida”; disse que já
foi percorrido um longo caminho, mas falta ainda andar muito; e mencionou “o
direito à vida, à liberdade, à segurança” e o “respeito à igualdade entre todos
e à dignidade de cada pessoa”. E, no Natal do mesmo ano, por ocasião da
mensagem e bênção Urbi et Orbi, disse
que esperava que o Natal trouxesse “a esperança para aqueles que sofrem com a
guerra, o terrorismo, a injustiça e a pobreza e fez um apelo pela paz na Terra
Santa”. Fez o apelo a uma solidariedade autêntica e, a respeito da crise
financeira global, afirmou que, “se as pessoas só considerarem seus próprios
interesses, o nosso mundo certamente desmoronará”. Pediu pela paz na Terra
Santa e frisou os problemas do Zimbábwe onde havia
hiperinflação e mortes por epidemia de cólera. Com efeito, o rosto
amoroso de Deus merece melhor atitude dos homens.
***
Para
Daniel Johnson, esperava-se a cruzada contra a eugenia e a eutanásia,
graças à convivência do Papa com as mazelas do nazismo, e uma abertura ao ecumenismo,
sobretudo com as Igrejas ortodoxas e protestantes. O Papa entusiasmaria os
fiéis com as suas interpretações da Teologia, animando, por exemplo, os
jovens com a Teologia do Corpo, que vê a sexualidade como uma emanação do
amor divino. E, considerando toda a sua obra literária, as atitudes como
sacerdote e bispo e ainda pelo que se verifica dos anos passados à frente
da Congregação da Doutrina da Fé, Ratzinger possui um pensamento católico ortodoxo
que, para muitos críticos, é tido como conservador. Ora, Bento XVI adotou
efetivamente, no seu Pontificado, propostas semelhantes às do seu predecessor
relativos à moral e ao dogma e reafirmou no seu magistério a doutrina
do Catecismo da Igreja Católica, para o qual mandou elaborar um compêndio.
Também no âmbito da Juventude e da Família, Bento XVI deu continuidade aos
encontros com a juventude iniciados pelo antecessor. Assim a 13 de agosto de
2005, o cardeal americano James Frncis Stafford anunciou no Vaticano
a concessão de indulgência aos participantes na Jornada Mundial da Juventude a
realizar entre 13 e 21 de agosto de 2005 em Colónia, na Alemanha. Em
8 e 9 de julho de 2006, participou no “V Encontro Mundial do Papa com as
Famílias” em Valência, Espanha. E demonstrou capacidade de mobilização das
multidões, em 2011, por ocasião da XXVI Jornada Mundial da Juventude, que reuniu
quase 2 milhões de pessoas em Madrid. E, em 2008, fora a XXIII Jornada Mundial
da Juventude em Sydney (Austrália), de 15 a 20 de
julho, a 1.ª na Oceânia e que juntou 500 mil pessoas, sob o tema “Recebereis
a força do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1,8).
Milhares de jovens aproveitaram a visita do Papa à Espanha durante
a XXVI Jornada Mundial da Juventude, em 2011 para ganhar o
perdão da Igreja. O Parque do Retiro, que foi visitado pelo Papa no
sábado, 20 de agosto, atraiu uma multidão de jovens arrependidos. O Papa
tentou conduzir o público ao sacramento da Igreja, o Sacramento da Reconciliação,
que ganhou força nesta XXVI Jornada
Mundial da Juventude. Foram instalados 200 confessionários ao ar livre e
800 confessores se revezavam no atendimento aos jovens. Até o dia 22 de
agosto em Madrid, em toda a cidade, a Igreja estava a conceder o perdão para
o aborto, que prevê a excomunhão latae
sententiae (automática). Qualquer um daqueles sacerdotes podia conceder a
absolvição durante este período da Jornada Mundial da Juventude.
Porém, o Vaticano teve a coragem de publicar
uma lista em que atualiza comportamentos considerados pecaminosos. Drogas,
poluição e manipulação genética, bem como injustiças sociais e económicas, são áreas
de comportamento consideradas pecados.
Na
década de 1990, Ratzinger participou na elaboração de documento sobre
a conceção humana como sendo o momento da animação. A partir da união
do óvulo com o espermatozoide temos uma vida humana
perante Deus. Assim, não pode a Igreja mudar de posição face às
pesquisas com células estaminais (células-tronco) embrionárias ou face ao aborto.
Na verdade, esperava-se que o Papa reafirmasse o Magistério eclesial nestes e noutros
temas da atualidade relacionados com a Moral, a Ética e a Doutrina
Social da Igreja, o que efetivamente se verificou.
No âmbito do
social, refira-se que, em 2011, Bento XVI em resposta aos
jornalistas, apontou os graves problemas económicos que a Europa atravessa,
aproveitou para defender a ética na economia e afirmou que o homem deve ser posto
no centro das atenções económicas, dizendo:
“A Europa tem a sua
responsabilidade. A economia não pode ser só lucro, mas também solidariedade.”.
Na
“Jornada Mundial da Alimentação”, de
2011, afirmou que “a libertação da submissão da fome é a primeira manifestação
concreta do direito à vida”, que, apesar de ter sido proclamada solenemente, “está
muito longe de ser alcançada”. Esta asserção foi direcionada ao diplomata Jacques
Diouf, Diretor da FAO (Organização das Nações Unida para a Agricultura e
a Alimentação).
E
o pontificado de Bento XVI foi também marcado pelo esforço de incremento do
diálogo inter-religioso iniciado por seus antecessores, principalmente por João
XXIII. Paulo VI e João Paulo II, para o que envidou esforços para manter
encontros com personalidades de todas as religiões do mundo e explorou os
pontos em comum existentes entre elas e a Igreja Católica. Por exemplo, em 25
de janeiro de 2009, Bento XVI na Basílica romana de São Paulo Extramuros,
ao encerrar a “Semana de Preces para a Unidade dos Cristãos”, afirmou na
presença de diversos representantes de outras religiões cristãs que faltam “gestos
corajosos de reconciliação” entre os cristãos, que vivem separados há quase
mil anos. Disse que, num mundo onde prevalece “o trágico barulho da
violência e das armas”, os cristãos têm que ser “um instrumento de paz e
de reconciliação”.
***
Em janeiro
de 2013, o Papa Bento XVI publicou os seus escritos conciliares,
rememorando o Concílio Vaticano II. A comunicação oficial foi feita no dia 28
pelo coordenador da obra, Dom Gerhard Ludwig Muller, Cardeal Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, que frisou:
“Como sétimo volume da opera omnia (obras completas), foi
publicada agora a coleção, numa síntese de tipo cronológico e organizado, dos
escritos de Joseph Ratzinger sobre os ensinamentos do Concílio, que coincide
com o cinquentenário do Vaticano II”.
Segundo
Muller, Bento XVI teve participação significativa na génese dos textos mais
variados, primeiro ao lado do Arcebispo de Colónia, Cardeal Joseph Frings, e,
mais tarde como membro autónomo de diversas comissões do Concílio. No dia
11 de fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou que renunciaria ao papado no dia 28
de Fevereiro de 2013.
***
Foi um pontificado pouco amado e
apreciado, porque analisado pelas primeiras impressões obtidas antecipadamente
a partir da prestação na Congregação da Doutrina da Fé e pegado por pontas se superfície.
Mas vale a pena revisitá-lo. Colher-se-á muito proveito pessoal e eclesial.
2018.04.19 – Louro de Carvalho
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