São dois temas a abordar nos próximos dias 10 e 11 de abril, no Auditório Padre José Bacelar e Oliveira, na Universidade
Católica (UCP), em Lisboa (Edifício
Antigo), numa conferência em italiano e
português com tradução simultânea, com entrada livre.
É uma iniciativa
do CITER (Centro de
Investigação em Teologia e Estudos de Religião), da Faculdade de Teologia da Universidade Católica
Portuguesa, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura, a corresponder ao
desígnio da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé. E integra o
programa “Lições sobre os Estudos de
Religião”, que, segundo o CITER, procura promover a disciplina académica
dos Estudos de Religião enquanto Estudos de Cultura, investigadores reconhecidos
nesta área que apresentam os seus estudos recorrentes.
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A iniciativa
traz a Lisboa Lucetta Scaraffia,
professora de História Contemporânea da Universidade de Roma La Sapienza, para
nova lição sobre os “Estudos da Religião”.
A “lição” realizar-se-á a 10 de abril, pelas 16,30 horas, na
sede da UCP em Lisboa. Segundo o comunicado da UCP oportunamente divulgado,
Lucetta Scaraffia vai destacar o modo
como “entre os humanismos a construir num diálogo entre vozes diferentes e não
necessariamente reconciliáveis, não pode faltar a voz da mulher, como uma forma
de expressão de subjetividades que, na história milenar da humanidade, foram
confinadas à mera funcionalidade biológica e a uma condição de subordinação e
mutismo social, na radical remoção e mortificação da sua autonomia simbólica,
ética e antropológica”. Com efeito, “nenhum humanismo pode renascer no nosso
tempo se não for nele audível uma inconfundível voz de mulher”.
Neste sentido, a também ensaísta
e coordenadora do suplemento mensal “Donne
Chiesa Mondo” do “L’Osservatore
Romano” vem desenvolver o tema “Dizer
a humanidade com voz de mulher. Instâncias antigas, novas respostas”. Luísa Almendra, a moderadora da sessão, abrirá o
debate em tempo oportuno.
A investigadora da história das mulheres e da história religiosa, dois
campos de pesquisa que convergem numa série de trabalhos sobre a religiosidade
feminina, nos últimos anos dedicou-se intensamente à reflexão histórica e
teológica sobre o papel da mulher na sociedade e, em particular, na Igreja.
Tornando-se porta-voz da necessidade de pensar e implementar novos espaços e
modalidades de participação feminina na vida eclesial, Scaraffia destaca, em
escritos como o seu diário de participação no Sínodo sobre a família, o facto de
que “a Igreja estará dramaticamente atrasada em relação à história e ao
Evangelho enquanto a diversidade de carismas que derivam da diferença de género
permanecerem conjugados como exclusão e subordinação e não como igualdade
efetiva.
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No dia 11 de
abril, no mesmo local e à mesma hora, o teólogo Enzo Bianchi e o filósofo
Massimo Cacciari conversarão sobre “O
humanismo trágico da razão e o humanismo redimido da cruz. Diálogo ou ‘disputatio’?”. E
o Padre José Tolentino Mendonça, que moderará a sessão, abrirá o debate em
tempo oportuno.
Massimo
Cacciari é
professor emérito da Faculdade de Filosofia da Universidade Vita-Salute San
Raffaele de Milão, de que foi cofundador e primeiro presidente. Exerceu os cargos
de professor de Estética na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Veneza
e de diretor do Departamento de Filosofia da Academia de Arquitetura de Lugano de 1998 a 2005. Foi
cofundador e codiretor de algumas das revistas que marcaram a vida política,
cultural e filosófica italiana entre os anos ‘60 e ‘90, de Angelus Novus a
Contropiano, de Laboratorio Politico a Centauro e Paradosso.
Conhecido
internacionalmente, ensina em várias universidades europeias e as suas obras
estão traduzidas em muitas línguas. Combinou sempre as atividades científicas e
culturais com um forte compromisso civil e político que o levou a ocupar o
cargo de Parlamentar Europeu e de Presidente da Câmara Municipal de Veneza.
Enzo Bianchi
nasceu
em Castel Boglione, em Itália, a 3 de março de 1943. É o fundador e prior da
Comunidade Monástica de Bose. É
um monge secular, teólogo e ensaísta. A sua comunidade propõe uma escolha de
vida cristã orientada para a radicalidade evangélica, que conjuga a tradição
monástica em chave ecuménica, acolhendo monges católicos, protestantes e
ortodoxos.
Formou-se em Economia na Universidade de Turim e é autor de
um grande número de livros sobre espiritualidade e tradição de diálogo da
Igreja com o mundo cristão contemporâneo. Colaborador
regular de inúmeros jornais e revistas, em
Itália, escreve para La Stampa e, em
França, para La Croix, sendo os seus
livros editados pela conceituada Einaudi. Fé, esperança, ética e perdão são
alguns dos seus temas fundamentais. O Papa Francisco nomeou-o consultor
pontifício do Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
Enzo
Bianchi é uma das figuras de referência do catolicismo italiano: a nova
humanidade que nasce do encontro com Cristo encarna-se na sua vida e na sua
palavra num luminoso testemunho de fé em Cristo e de fidelidade ao homem e à
Igreja.
O trabalho, a
oração, a meditação da Palavra na lectio
divina e a pregação catequética são os principais carismas desta Regra
monástica. Porém, a comunidade de Bose não é uma ordem religiosa, mas uma associação
de fiéis que vinculam a sua vida comunitária às regras da fidelidade ao
Evangelho, da comunhão de bens e do celibato.
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Os intervenientes dos dois dias vão
falar da “humanidade trágica e humanidade crucificada, perguntando-se o quão ‘sustentável’
seja uma humanidade desprovida de futuro, que desespera, ao reconhecer a
própria condição trágica, e quão o seja uma humanidade que escandalosamente
afirma poder esperar precisamente a partir da cruz, dando-se um futuro a partir
da morte”.
A este
respeito, a organização do evento assinala:
“Se for verdade que a categoria do humanismo
caracteriza o “nascimento” da sociedade moderna como um ‘renascimento’, no qual
recuperar a continuidade com o passado constitui a condição para criar algo de
radicalmente novo, reatar com a grande tradição do humanismo italiano é um
passo indispensável para começar esta jornada para o futuro”.
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A filologia é
dimensão essencial de um pensamento que se reconhece como dialógico,
processual, nascido do encontro crítico com o passado para produzir propostas
de interpretação do presente.
No projeto do
CITER, a focalização desta passagem está confiada ao contributo do professor
Cacciari, autor de um estudo fundamental sobre os humanistas italianos, que se
apresenta como uma introdução histórico-filológica a um pensamento humanista do
presente. Nesta reconstrução, o professor Cacciari mostra como a natureza
dialógica da reflexão humanista não interessa apenas a interlocução com os
autores do passado, mas também com o homem do futuro, numa radicalidade trágica
(por encarar um desafio
impossível) que obriga a
razão a questionar as razões da fé, numa confrontação não pacífica, mas
inquieta e dolorosa, num diálogo que é também disputa irreconciliável e sem
fim. Tendo isto em conta, esta complexidade será transmitida de forma mais
efetiva, se não for formulada apenas em termos de conteúdos, mas for explicada
na forma da sua partilha, de modo que a intervenção do professor Cacciari será
concebida na modalidade de diálogo-disputa em que se confrontam, colidem e se
encontram duas tradições, duas imagens do futuro, dois recursos de humanidade –
a razão e a fé.
O filósofo
Massimo Cacciari e o monge leigo Enzo Bianchi são convidados a falar-nos de
humanidade trágica e humanidade crucificada, perguntando-se o quão ‘sustentável’
seja uma humanidade desprovida de futuro, que “des-espera”, ao reconhecer a
própria condição trágica, e quão o seja uma humanidade que escandalosamente afirma
poder esperar precisamente a partir da cruz, dando-se um futuro a partir da
morte.
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Criado
em 2017, o CITER tem por objetivo a organização, promoção e divulgação, numa
perspetiva multi e interdisciplinar, das investigações em Teologia e Estudos de
Religião, favorecendo um intercâmbio ativo entre estas áreas científicas, bem
como as ligações de cada uma delas com outros campos do saber. Ao tentar
estabelecer uma ponte entre ciência e sociedade, o Centro favorece um debate
público tanto em relação a questões centrais da atualidade sociocultural bem
como aos fundamentos espirituais do ocidente.
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Uma grande oportunidade de debate e de repensamento da partilha de vida
e de intervenção da parte de homens e mulheres, mais igualitária, e da reassunção
do verdadeiro humanismo atento ao imanente e aberto ao transcendente!
2018.04.06 – Louro de Carvalho
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