Já se sabia que o grande incêndio do Pinhal de Leiria
tivera origem em mão criminosa. Com efeito, já na segunda quinzena de janeiro (mais propriamente a 22), embora as autoridades não tenham
adiantado detalhes sobre o método usado para atear os fogos, declaravam,
através da Polícia Judiciária de Leiria que os dois incêndios que, a 15 e 16 de
outubro de 2017, devastaram 86% do Pinhal de Leiria tiveram “mão criminosa”,
que a investigação continuava e o inquérito ainda não tinha terminado.
Também o Expresso do dia 19 de janeiro afirmava
que, num dos incêndios do pinhal de Leiria, “foi usado um engenho artesanal
para atear o fogo”, embora os investigadores não tenham ainda conseguido
identificar os autores.
Foram, não
um, mas dois incêndios que destruíram mais de quatro quintos do histórico Pinhal
do Leiria, naquele que foi considerado o pior dia do ano de 2017 em fogos. Nesse
dia e no dia seguinte, morreram 49 pessoas vítimas dos incêndios florestais que
atingiram sobretudo a região Centro.
Hoje, dia 13 de abril, a TVI 24 refere que a
destruição incendiária do Pinhal de Leiria foi preparada com a antecedência de
um mês e avança que nas reuniões em que foram planeados os detalhes do incêndio
foram também decididos preços para a madeira.
Segundo a reportagem de Ana Leal, feita seis meses depois – com imagem de Romeu Carvalho e montagem de João Ferreira, que o
Jornal das 8 da TVI vai apresenta na íntegra, esta noite – terão estado
envolvidos no planeamento madeireiros, responsáveis por grandes empresas e
também de fábricas que compram e vendem madeira. É o negócio feito a partir da
desgraça coletiva, à custa de bens, vidas e sossego
De acordo com a explicação da mesma estação televisiva, as
reuniões para planear o incêndio aconteceram numa cave, onde também foram
delineados os preços para a madeira ardida. Terão sido também utilizados, para
iniciar as chamas, vasos de resina com caruma no interior. Assim, pode dizer-se
com verdade que “o pinhal estava armadilhado
para arder”, por obra e graça de máfia organizada.
***
Recorde-se que os incêndios de outubro de 2017, que atingiram
36 concelhos da região Centro, provocaram 49 mortos e cerca de 70 feridos e
destruíram total ou parcialmente perto de 1.500 casas e cerca de meio milhar de
empresas.
Extensas áreas de floresta e de terrenos agrícolas foram
igualmente destruídas pelos fogos de 15 e 16 de outubro de 2017, que afetaram
de forma mais grave os municípios de Castelo de Paiva e Vagos, no distrito de
Aveiro; Oleiros e Sertã, no distrito de Castelo Branco; Arganil, Figueira da
Foz, Lousã, Mira, Oliveira do Hospital, Pampilhosa da Serra, Penacova, Tábua e
Vila Nova de Poiares, no distrito de Coimbra; Gouveia e Seia, no distrito da
Guarda; Alcobaça, Marinha Grande e Pombal, no distrito de Leiria; e Carregal do
Sal, Mortágua, Nelas, Oliveira de Frades, Santa Comba Dão, Tondela e Vouzela,
no distrito de Viseu.
Na sequência dos fogos que deflagram em 15 de outubro foram
consumidos 190.090 hectares de floresta, cerca de 45% da área total ardida
durante 2017, de acordo com o Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF).
O Expresso afirmava igualmente que os
fogos que nesses dias deflagraram no distrito da Guarda foram resultados de
queimadas iniciadas por dois pastores locais.
Por outro
lado, o investigador Paulo Fernandes disse que o fogo que no mesmo dia
deflagrou na Lousã, no distrito de Coimbra, teve origem num “acidente elétrico”.
***
Entretanto,
hoje o Primeiro-ministro afirmou que o Estado não se deixará “capturar por
cartéis” ligados a empresas de meios aéreos e que este verão esses meios estarão
disponíveis a tempo e horas “custe o que custar”.
António
Costa falava aos jornalistas na ANPC (Autoridade Nacional de Proteção
Civil), em Carnaxide (Oeiras), tendo ao seu lado o Ministro da Administração
Interna, Eduardo Cabrita, após uma reunião de trabalho sobre a preparação do
dispositivo especial de combate aos incêndios.
Interrogado
sobre os meios aéreos que estarão disponíveis para o combate no próximo verão,
o líder do executivo respondeu: “Há uma
coisa que gostaria de deixar claro, é que pode ser que as autoridades
reguladoras e judiciais não ajam atempadamente para desfazer os cartéis que querem capturar o Estado”.
E declarou a seguir:
“Mas o Estado não será capturado e teremos os meios aéreos a tempo e horas custe
a quem custar – e vai custar, porque não é aceitável que alguém queira
transformar a segurança das populações numa ameaçada ao Estado”.
Entretanto o
PCP manifestou a intenção de ouvir o Ministro da Administração Interna, Eduardo
Cabrita, e o presidente da Autoridade Nacional da Proteção Civil, Mourato
Nunes, sobre “a preparação, meios e respostas previstas para a fase mais crítica
de incêndios que se aproxima”, na Comissão Parlamentar de Assuntos
Constitucionais.
Num
requerimento entregue esta sexta-feira de manhã, o grupo parlamentar comunista
nota que “informações e relatos” que chegaram aos deputados do partido “dão
conta de atrasos que se verificam na preparação da proteção civil para a época
mais crítica de incêndios”.
Segundo o
deputado Jorge Machado, numa intervenção no plenário da Assembleia da
República, notou que a discussão sobre a proteção civil “não pode estar refém
de calendários mediáticos nem pode ser discutida à margem dos agentes de
proteção civil”. E, antecipando a entrega do requerimento para ouvir Eduardo
Cabrita e Mourato Nunes, sustentou que, “no que à proteção civil diz respeito,
estamos piores do que estávamos no ano passado”.
***
Obviamente
que o Estado não pode estar refém de empresas de meios aéreos, mas tem estado.
E não sei se o Governo tem força para anular essa tentação cartelista. Não o
fez noutras áreas, salvo honrosas exceções, dado que se trata de empresas
poderosíssimas num Estado sem autoridade. Tanto assim é que se sabe que a maior
parte dos incêndios tem origem em mão criminosa ou em atitudes de negligência e
as atitudes de negligência continuam e as mãos criminosas prosseguem
impunemente. Não sei se a culpa é da Lei (se é, que a mudem) se da Justiça (se é, que a escrutinem e não nos
atirem com a sua autonomia e independência).
Depois, a
culpa acaba por ser imputada pela opinião pública a quem não limpa matas,
porque não tem possibilidades económicas…
Se o Estado
não se acautela e não ganha autoridade para intervir sempre que a comunidade
está em perigo, é de perguntar para que diabo queremos o Governo, o Parlamento
e os Tribunais. Muitos efetivamente se governam à custa do Estado, sobretudo aqueles
que querem que haja menos Estado, pretendendo vender com facilidade a ideia de
melhor Estado sendo exíguo o Estado. Depois, facilmente prejudicam os
interesses públicos, seja nas PPP, seja nos contratos swap, seja nos vistos
Gold, seja na resolução/venda bancária, seja com outros mecanismos.
Quanto aos
fogos, está visto que é preciso articular o combate com a prevenção, tirando
duma e doutra vertente a especulação negociária. Obviamente que aqueles que
trabalham merecem o salário justo e quem vende merece a justa paga, não mais. Ninguém
pode engordar com o mal alheio, muito menos com o mal público.
E, mais que
a prevenção/combate a incêndios, importa cuidar a floresta, pelo reordenamento,
seleção de espécies, pontos de água, vias de acesso e penetração, pluricultura,
travagem negociária especulativa. Depois, responsabilizar duramente os prevaricadores.
Um incêndio
foi planeado com um mês de antecedência, combinaram os preços de madeira queimada,
deram cabo da joia florestal da Coroa. E que lhes acontecerá? Quando? Como? Nada
ou no “Dia de São Nunca à tarde”. Para alguns as provas nunca são inequívocas. Porque…
têm poder, dinheiro e sabem estar no terreno em prol dos próprios interesses! Até
quando?
2018.04.13 – Louro de Carvalho
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