Em ataque a uma igreja na Nigéria, foram mortos
dois sacerdotes e 16 fiéis. O ataque
armado aconteceu em Mbalom, no Estado de Benue, logo após a celebração da
Missa.
A região é
marcada por conflitos entre pastores nómadas da etnia fulani e trabalhadores sazonais. E um sacerdote nigeriano denuncia
o caso como “um massacre de que o mundo não toma conhecimento e de que ninguém
fala”.
Como se vem
verificando, casos destes são recorrentes nos tempos que correm e é de
perguntar o que faz correr os agressores para os templos cristãos. Recordo que
JMJ de 2016 decorreu em Varsóvia sob a nuvem negra dum ataque a uma igreja
francesa.
O “Vatican News” dá conta da
ocorrência em causa nos termos seguintes:
“Novas violências na Nigéria central. Dois
sacerdotes católicos, padre Joseph Gor e padre Felix Tyolaha e pelo menos 16
fiéis foram mortos”, no dia 24, “pela manhã num ataque armado contra a igreja
do vilarejo de Mbalom, no Estado de Benue. Homens armados entraram em ação logo
depois da celebração da Missa na paróquia de St. Ignatius, que pertence à
diocese de Makurdi. Segundo fontes locais, algumas casas também foram
incendiadas.”.
Face a estes
acontecimentos, o Presidente nigeriano Muhammadu Buhari não se fez esperar na firme
condenação dos “hediondos crimes” ora cometidos.
Por seu
turno, a diocese de Makurdi manifestou a própria dor, denunciado a insegurança
da população. Com efeito, a região é marcada por uma sequência de violências e
combates pelo controlo da água e das terras agrícolas. Pastores nómadas de
etnia fulani atacam com muita frequência
pessoas e propriedades, combatendo com agricultores sazonais. Segundo a
organização humanitária Human Rights
Watch, desde 2010 as violências já causaram pelo menos 3 mil mortes.
Em seu eloquente testemunho, o Padre
Patrick Alumuku, responsável pela comunicação na arquidiocese de Abuja, conta
da Nigéria que “entre a população “há um grande medo”. E relata na 1.ª pessoa
qual espectador compungido:
“Vi a página de Facebook de um dos sacerdotes que morreram. Alguns meses
atrás, escreveu: ‘Tenho muito medo, vivo no medo. Os fulani estão a
circundar-nos, trazem os seus rebanhos ao redor do território da minha igreja e
não sei o que fazer’. E foi morto. O segundo sacerdote que estava em outra
paróquia que foi fechada pelo agravamento da situação foi deslocado para esta
paróquia onde foi assassinado.”.
São visíveis e incomodam as ações dos fulani.
A este respeito, o sacerdote
em referência, recordando o grupo extremista que desde 2009 já causou ao menos
20 mil mortes, referiu:
“Nos últimos três anos a região de Benue, onde 95% da população é
cristã, já foi atacada várias vezes por grupos de terroristas muçulmanos do norte.
A ideia, o sistema e os métodos são os mesmos do grupo Boko Haram.”.
São pastores
que ocupam as terras porque é uma região muito fértil. Atacam um vilarejo
depois do outro, matando as pessoas. Isso – observa Padre Alumuku – “é um
massacre de que o mundo não toma conhecimento e de que ninguém fala”.
Alertando
que os grupos de pastores fulani
estão a transformar-se em verdadeiro e próprio grupo terrorista, quer pelas
vítimas que originam, quer pelo ambiente de terror que criam, disse:
“É exatamente assim, os fulani acreditam
que têm a missão de levar a religião do islã do norte até ao oceano”.
Porém, não atuam sozinhos. Há armas infiltradas do exterior. O Padre Alumuku explica:
“Há um grupo que se chama ‘MyettiAllah’, literalmente ‘Os mensageiros de
Deus’, que deixa claro as suas intenções de conquistar esta parte do país.
Depois da morte dos sacerdotes e fiéis ocorrida ontem, na noite do mesmo dia
homens armados mataram cerca de trinta pessoas num outro vilarejo do mesmo
Estado de Benue. O presidente Buhari, que nestes dias está na Inglaterra para a
Conferência do Commonwealth, em uma entrevista, acusou os militantes vindos da
Líbia, depois do desmantelamento daquele país, de trazerem armas para a
Nigéria. Mas a pergunta é: se homens armados chegam de fora e continuam a matar
dia após dia, por que não enviar militares locais, prendê-los e tomar o controlo
da situação?”.
***
Enfim,
uma guerra étnica apoiada ou querida por motivos religiosos e a criar problemas
a quem precisa de trabalhar – isto pela ambição de dispor de mais terra para a pastorícia.
No entanto,
é estranho como estes ataques têm como alvo locais de congregação cultual. Não é
um campo de batalha nem a useira e vezeira emboscada.
Além das
perdas mortais e dos ferimentos, ataca-se a dignidade das pessoas e dos povos
no que têm de profundamente cultural: a religião/fé e a apetência do
encontro/reunião.
Interesses
de pequena economia e rivalidades étnico-sociais. Que faria se os interesses
fossem de grande economia, de cruzada religiosa ou de apetência de ocupação militar
imperialista!
Mas não
percamos a ideia. Porque surgem efetivamente os grandes conflitos? O imperialismo,
a cruzada religiosa ou antirreligiosa, a guerra económica, sobretudo sobre os
recursos naturais. Enfim, o homem como homo
homini lupus!
Se calhar,
é preciso intensificar a cruzada da paz pela educação e pela criação de um novo
estilo de vida na fé e na ética.
2018.04.26 –
Louro de Carvalho
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