quinta-feira, 26 de abril de 2018

Dom Amândio José Tomás deixa ainda muitos desafios à diocese


Dom Amândio José Tomás, Bispo de Vila Real, completou 75 anos de idade no passado dia 23, momento em que apresentou formalmente à Santa Sé o seu pedido de resignação, nos termos do Cân. 401, § 1 do Código de Direito Canónico, para que, segundo a norma, o Sumo Pontífice providencie “depois de examinadas todas as circunstâncias”. Assim, o Bispo diocesano mostra-se disponível para qualquer decisão da Santa Sé sobre o futuro e alerta para o impacto da desertificação.
Em declarações à agência Ecclesia sobre o facto, Dom Amândio Tomás disse que “irá sujeitar-se às intenções do Santo Padre”, que “decidirá sobre a sua continuidade ou não continuidade” à frente da diocese “e por quanto tempo”. E frisou:
Até lá vou trabalhando normalmente e, mesmo como Bispo emérito, não deixo de amar a Cristo e a Igreja”.
A par destas declarações, o prelado destacou os muitos desafios que ainda existem para abordar no território, a começar pelo problema do despovoamento do interior. E adiantou:
Ainda hoje [dia 26], estive no Conselho Presbiteral onde um dos assuntos foi se não deveríamos fazer uma redução nas paróquias e como servi-las, sendo comunidades tão pequeninas”.
***
Com efeito, a Diocese de Vila Real tem mais de 4 mil quilómetros de extensão e cerca de 264 paróquias, mas, em termos de população global conta com pouco mais de 200 mil pessoas. Comparando as caraterísticas da sua diocese com as de outras, como, por exemplo, a de Lisboa, disse:
Por exemplo, a Diocese de Lisboa tem paróquias que têm quase a população toda da nossa diocese. Hoje o interior está esvaziado de gente, só tem pessoas mais idosas, há uma hemorragia para o litoral e para o estrangeiro, raramente cá ficam, emigram todas. E é com esta realidade que temos de trabalhar.”.
Sobre o futuro, em cima da mesa poderá estar mesmo a reconfiguração da Diocese de Vila Real em unidades pastorais, modelo que já foi adotado por outras circunscrições eclesiásticas em Portugal. Pelo que alertou o Bispo natural de Cimo de Vila da Castanheira, em Chaves:
Mas primeiro temos de criar mentalidade nas pessoas, temos de educar as pessoas e educar-nos a nós próprios para servir de outra maneira. Realizar comunhão.”.
E vai mais longe na abordagem ao atual contexto da sua diocese, estribado em importante dado doutrinal, a que se contrapõe o dado sociológico:
A Igreja é um mistério de comunhão fundamentalmente, e atualmente este espírito pouco existe porque há muito bairrismo, há muitas aldeias pequeninas, todas querem ser grandes. E reconfigurar isto, criando unidades pastorais, comunhão, faria com que as pessoas se sentissem como parte de um todo. Mas isso leva tempo.”.
Outro desafio, ligado à questão demográfica, é o dos “jovens”, que o prelado definiu como “o amanhã da Igreja e da sociedade”, e cujo contributo é preciso saber desafiar e potenciar.
Dom Amândio Tomás esteve presente, no dia 25, nas Jornadas Diocesanas da Juventude, que decorreram em Mondim de Basto, com a participação de centenas de jovens.
De acordo com o hierarca diocesano de topo, o principal objetivo foi “entusiasmar” e “motivar” os mais novos “a tomarem consciência” da importância da sua presença ativa na missão da Igreja, com “alegria”, “coragem” e “desassombro”. Não só como forma de ter “mais vocações, de ter mais gente”, mas também para a Igreja acompanhar os sinais dos tempos, de “adaptação a um novo paradigma, muito diferente do passado”.
E, reconhecendo a relevância do próximo Sínodo dos Bispos convocado pelo Papa Francisco para debater esta questão, disse que “para realidades novas, temos de encontrar soluções novas”, sendo que “eles [os jovens] como novos que são, têm muitíssima coisa a dizer”. Pelo que o Bispo sublinhou:
Eu creio que o Papa Francisco está a fazer uma belíssima missão, chamando inclusivamente alguns jovens para prepararem em Roma o Sínodo, sendo obreiros do instrumento de trabalho que irá servir de substrato para as discussões sinodais. Fazer isto foi uma medida inteligente, ótima, para tornar os jovens atores do seu futuro e do futuro da Igreja.”.
***
Dom Amândio José Tomás nasceu em Chaves, Cimo de Vila da Castanheira, a 23 de abril de 1943. Filho de João dos Reis Tomás e de Esperança Maria Tomás é o mais velho de uma família de cinco irmãos.
De 1955 a 1967, frequentou e concluiu os estudos de Humanidades, Filosofia e Teologia no Seminário Diocesano de Vila Real e foi ordenado presbítero em 15 de agosto de 1967. Enviado para Roma a fim de prosseguir os estudos teológicos na Universidade Gregoriana, aí obteve, em 1969, a licenciatura em Teologia Dogmática.
De regresso a Portugal, lecionou teologia no Seminário Maior de Lamego (fui seu aluno durante um semestre, não de teologia, mas de Religião), foi Diretor Espiritual do Seminário de Vila Real e professor de Moral no Liceu Camilo Castelo Branco; lecionou teologia no Seminário Maior do Porto e ICHT (Instituto de Ciências Humanas e Teológicas) de 1971 a 1976.
Neste último ano, voltou para Roma para frequentar o Pontifício Instituto Bíblico, tendo-se licenciado em Ciências Bíblicas em 1980. Nesse ano, foi nomeado Vice-Reitor do Pontifício Colégio Português, passando a seu Reitor em 1982, cargo que exerceu até 2001. 
Em Outubro de 2001, foi eleito Bispo Titular de Ferradi Maior e Bispo Auxiliar de Évora e ordenado na festa da Epifania do ano 2002, na Basílica de São Pedro, pelo Papa São João Paulo II. Depois destes anos de trabalho generoso em Évora, foi transferido para Vila Real como Bispo Coadjutor em 8 de janeiro de 2008, por nomeação do Papa Bento XVI, tendo entrado solenemente na diocese a 10 de fevereiro.
Sucedeu a Dom Joaquim Gonçalves no cargo de Bispo diocesano a 17 de maio de 2011, após a sua resignação por limite de idade.
Nas estruturas da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) foi membro da Comissão da Família e dos Leigos, e chegou a ser o Delegado da CEP junto da COMECE (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia), com sede em Bruxelas. Presentemente, é vogal da Comissão da Cultura, Bens culturais e Comunicações Sociais.
***
A 29 de março na Missa Crismal, o Bispo de Vila Real lembrou aos sacerdotes da sua diocese que, no quadro do ser e missão da Igreja, em uníssono com o Evangelho, os pobres são os “prediletos de Cristo”. A este respeito, especificou com o exemplo de Cristo e com os elementos que O significam ou que para Ele remetem:
Os prediletos de Cristo são os pobres, atribulados, prisioneiros, cegos e oprimidos, os famintos e sedentos de Deus.  A vinda do Espírito sobre Jesus e sobre os discípulos e a Igreja, no Pentecostes, é para a salvação das pessoas às quais a missão de Cristo e da Igreja se ordena. O alimento do pão e do vinho, o óleo, a força e poder de Deus, unidos ao poder de Jesus e à unção do Espírito, operam, em nós, os dons inefáveis da salvação e o aumento do Reino de Deus, contraposto à fugacidade dos bens terrenos. A água, o pão, o vinho e o óleo são sinais salvíficos, expressam o poder transcendente operado nas pessoas que os recebem e fazem parte da pedagogia de Deus de se abeirar da pessoa humana. Deus escolheu a cruz, o sofrimento, a morte, o que é comezinho e baixinho, o que é humilde e desprezível aos olhos do mundo, para nos salvar e ensinar a apreciar os valores imperecíveis e eternos. O que é humilde, débil e sem importância aos olhos é que é sinal paradoxal da omnipotência de Deus, que se esvaziou da Sua glória e Se deu, livremente, por amor.”.
Naquela celebração quis o responsável diocesano agradecer aos “padres, religiosos e leigos”, a ajuda dada “ao longo dos anos, na edificação do Reino de Deus, na Diocese de Vila Real”, porque, nas suas palavras:
O Bispo, qualquer que ele seja, nada pode fazer de útil e bom, sem a ajuda de Deus, de Cristo e do Espírito e pouco pode fazer sem os Padres, os Consagrados e sem os Fiéis Leigos, que é chamado a servir, exortando-os e guiando-os, no seio do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja de Deus Pai, e templo do Espírito Santo”.
Nestes termos, exortou:
Lembremos a alegoria da videira, em que Jesus diz: sem mim nada podeis fazer. Esta alegoria sublinha a união com Deus Uno e Trino e a eclesial dos ramos entre si e com o tronco, mediante a seiva que neles corre, para florescer e dar frutos de boas obras.”.
Por fim, afirmou a necessidade de “aderir ao amor misericordioso, prévio e transcendente” do “Redentor”.
Uma mensagem pré-final a ter em conta na meditação e na ação.
2018.04.26 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário