Dom
Amândio José Tomás, Bispo de Vila Real, completou 75 anos de idade no passado
dia 23, momento em que apresentou formalmente à Santa Sé o seu pedido de
resignação, nos termos do Cân.
401, § 1 do Código de Direito Canónico, para que, segundo a norma, o Sumo Pontífice providencie “depois
de examinadas todas as circunstâncias”. Assim, o Bispo diocesano mostra-se
disponível para qualquer decisão da Santa Sé sobre o futuro e alerta para o
impacto da desertificação.
Em declarações à agência Ecclesia sobre o facto, Dom Amândio Tomás disse que “irá
sujeitar-se às intenções do Santo Padre”, que “decidirá sobre a sua
continuidade ou não continuidade” à frente da diocese “e por quanto tempo”. E
frisou:
“Até lá vou trabalhando normalmente e, mesmo
como Bispo emérito, não deixo de amar a Cristo e a Igreja”.
A par destas declarações, o prelado destacou os muitos
desafios que ainda existem para abordar no território, a começar pelo problema
do despovoamento do interior. E adiantou:
“Ainda hoje [dia 26], estive no Conselho Presbiteral
onde um dos assuntos foi se não deveríamos fazer uma redução nas paróquias e
como servi-las, sendo comunidades tão pequeninas”.
***
Com efeito, a Diocese de Vila Real tem mais de 4 mil
quilómetros de extensão e cerca de 264 paróquias, mas, em termos de população
global conta com pouco mais de 200 mil pessoas. Comparando as caraterísticas da
sua diocese com as de outras, como, por exemplo, a de Lisboa, disse:
“Por exemplo, a Diocese de Lisboa tem
paróquias que têm quase a população toda da nossa diocese. Hoje o interior está
esvaziado de gente, só tem pessoas mais idosas, há uma hemorragia para o
litoral e para o estrangeiro, raramente cá ficam, emigram todas. E é com esta
realidade que temos de trabalhar.”.
Sobre o futuro, em cima da mesa poderá estar mesmo a
reconfiguração da Diocese de Vila Real em unidades pastorais, modelo que já foi
adotado por outras circunscrições eclesiásticas em Portugal. Pelo que alertou o
Bispo natural de Cimo de Vila da Castanheira, em Chaves:
“Mas primeiro temos de criar mentalidade nas
pessoas, temos de educar as pessoas e educar-nos a nós próprios para servir de
outra maneira. Realizar comunhão.”.
E vai mais longe na abordagem ao atual contexto da sua
diocese, estribado em importante dado doutrinal, a que se contrapõe o dado sociológico:
“A Igreja é um mistério de comunhão
fundamentalmente, e atualmente este espírito pouco existe porque há muito
bairrismo, há muitas aldeias pequeninas, todas querem ser grandes. E
reconfigurar isto, criando unidades pastorais, comunhão, faria com que as pessoas
se sentissem como parte de um todo. Mas isso leva tempo.”.
Outro desafio, ligado à questão demográfica, é o dos
“jovens”, que o prelado definiu como “o amanhã da Igreja e da sociedade”, e
cujo contributo é preciso saber desafiar e potenciar.
Dom Amândio Tomás esteve
presente, no dia 25, nas Jornadas Diocesanas da Juventude, que decorreram em
Mondim de Basto, com a participação de centenas de jovens.
De acordo com o hierarca diocesano de topo, o
principal objetivo foi “entusiasmar” e “motivar” os mais novos “a tomarem
consciência” da importância da sua presença ativa na missão da Igreja, com
“alegria”, “coragem” e “desassombro”. Não só como forma de ter “mais vocações, de ter mais gente”, mas
também para a Igreja acompanhar os sinais dos tempos, de “adaptação a um novo
paradigma, muito diferente do passado”.
E, reconhecendo a relevância do próximo Sínodo dos
Bispos convocado pelo Papa Francisco para debater esta questão, disse que “para
realidades novas, temos de encontrar soluções novas”, sendo que “eles [os
jovens] como novos que são, têm muitíssima coisa
a dizer”. Pelo que o Bispo sublinhou:
“Eu creio que o Papa Francisco está a fazer
uma belíssima missão, chamando inclusivamente alguns jovens para prepararem em
Roma o Sínodo, sendo obreiros do instrumento de trabalho que irá servir de
substrato para as discussões sinodais. Fazer isto foi uma medida inteligente,
ótima, para tornar os jovens atores do seu futuro e do futuro da Igreja.”.
***
Dom Amândio José Tomás nasceu em
Chaves, Cimo de Vila da Castanheira, a 23 de abril de 1943. Filho de João dos
Reis Tomás e de Esperança Maria Tomás é o mais velho de uma família de cinco
irmãos.
De 1955 a 1967, frequentou e concluiu
os estudos de Humanidades, Filosofia e Teologia no Seminário Diocesano de Vila
Real e foi ordenado presbítero em 15 de agosto de 1967. Enviado para Roma a fim
de prosseguir os estudos teológicos na Universidade Gregoriana, aí obteve, em
1969, a licenciatura em Teologia Dogmática.
De regresso a Portugal, lecionou
teologia no Seminário Maior de Lamego (fui seu aluno durante um semestre, não de teologia, mas de
Religião), foi Diretor
Espiritual do Seminário de Vila Real e professor de Moral no Liceu Camilo
Castelo Branco; lecionou teologia no Seminário Maior do Porto e ICHT (Instituto de Ciências Humanas e
Teológicas) de 1971 a
1976.
Neste último ano, voltou para Roma
para frequentar o Pontifício Instituto Bíblico, tendo-se licenciado em Ciências
Bíblicas em 1980. Nesse ano, foi nomeado Vice-Reitor do Pontifício Colégio
Português, passando a seu Reitor em 1982, cargo que exerceu até 2001.
Em Outubro de 2001, foi eleito Bispo
Titular de Ferradi Maior e Bispo Auxiliar de Évora e ordenado na festa da
Epifania do ano 2002, na Basílica de São Pedro, pelo Papa São João Paulo II.
Depois destes anos de trabalho generoso em Évora, foi transferido para Vila
Real como Bispo Coadjutor em 8 de janeiro de 2008, por nomeação do Papa Bento
XVI, tendo entrado solenemente na diocese a 10 de fevereiro.
Sucedeu a Dom
Joaquim Gonçalves no cargo de Bispo diocesano a 17 de maio de 2011, após a sua resignação
por limite de idade.
Nas estruturas da CEP (Conferência Episcopal Portuguesa) foi membro da Comissão da Família e
dos Leigos, e chegou a ser o Delegado da CEP junto da COMECE (Comissão dos Episcopados da Comunidade
Europeia), com sede em
Bruxelas. Presentemente, é vogal da Comissão da Cultura, Bens culturais e
Comunicações Sociais.
***
A 29 de março na Missa Crismal, o Bispo de Vila Real lembrou
aos sacerdotes da sua diocese que, no quadro do ser e missão da Igreja, em uníssono
com o Evangelho, os pobres são os “prediletos
de Cristo”. A este respeito, especificou com o exemplo de Cristo e com os
elementos que O significam ou que para Ele remetem:
“Os prediletos de Cristo são os pobres,
atribulados, prisioneiros, cegos e oprimidos, os famintos e sedentos de Deus. A vinda do Espírito sobre Jesus e sobre os
discípulos e a Igreja, no Pentecostes, é para a salvação das pessoas às quais a
missão de Cristo e da Igreja se ordena. O alimento do pão e do vinho, o óleo, a
força e poder de Deus, unidos ao poder de Jesus e à unção do Espírito, operam,
em nós, os dons inefáveis da salvação e o aumento do Reino de Deus, contraposto
à fugacidade dos bens terrenos. A água, o pão, o vinho e o óleo são sinais
salvíficos, expressam o poder transcendente operado nas pessoas que os recebem
e fazem parte da pedagogia de Deus de se abeirar da pessoa humana. Deus
escolheu a cruz, o sofrimento, a morte, o que é comezinho e baixinho, o que é humilde
e desprezível aos olhos do mundo, para nos salvar e ensinar a apreciar os
valores imperecíveis e eternos. O que é humilde, débil e sem importância aos
olhos é que é sinal paradoxal da omnipotência de Deus, que se esvaziou da Sua
glória e Se deu, livremente, por amor.”.
Naquela celebração quis o responsável diocesano agradecer aos
“padres, religiosos e leigos”, a ajuda dada “ao longo dos anos, na edificação
do Reino de Deus, na Diocese de Vila Real”, porque, nas suas palavras:
“O Bispo, qualquer que ele seja, nada pode
fazer de útil e bom, sem a ajuda de Deus, de Cristo e do Espírito e pouco pode
fazer sem os Padres, os Consagrados e sem os Fiéis Leigos, que é chamado a
servir, exortando-os e guiando-os, no seio do Corpo Místico de Cristo, que é a
Igreja de Deus Pai, e templo do Espírito Santo”.
Nestes termos, exortou:
“Lembremos a alegoria
da videira, em que Jesus diz: sem mim nada podeis fazer.
Esta alegoria sublinha a união com Deus Uno e Trino e a eclesial dos ramos
entre si e com o tronco, mediante a seiva que neles corre, para florescer e dar
frutos de boas obras.”.
Por fim, afirmou a necessidade de “aderir ao amor
misericordioso, prévio e transcendente” do “Redentor”.
Uma mensagem pré-final a ter em conta na meditação e na ação.
2018.04.26 –
Louro de Carvalho
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