Há uns
tempos a esta parte, entrei numa livraria católica cá do burgo e quis adquirir
o livro “Nossa verdadeira irmã – Teologia
de Maria na comunhão dos santos”, de Elisabeth A. Johnson, das Edições
Loyola, São Paulo, já do ano de 2006.
Nele se examina o entendimento intelectual, prático e espiritual
que resulta quando se põe Maria de Nazaré na companhia dos bem-aventurados. É
obra de teologia construtiva, que não pensa em Maria como um alto símbolo
religioso, mas procura entender o seu significado como pessoa especial que tem
de constituir a sua própria vida. É uma proposta em que se convida
Maria a descer do pedestal onde tem sido homenageada durante séculos e a juntar-se
a nós na comunidade da graça e luta na história, a bater em uníssono com as
alegrias e dramas de tantas mulheres de todos os lugares, tempos e etnias.
Longe de constituir uma postura depreciativa, esta ligação respeita-a e a toda
a comunhão dos santos de uma forma libertadora apropriada ao nosso tempo e aos nossos
lugares.
Tendo como ponto
de partida as muitas e múltiplas vozes de mulheres que oferecem interpretações teológicas
crítico-criativas da tradição mariana, Elizabeth analisa dois tipos de teologia
mariana androcêntrica que formam a principal alternativa ao enfoque libertador
das mulheres e julga-os caminhos a evitar. Por isso, a proposta deste livro e os
precedentes a ela, na teologia antiga e recente e no ensinamento da Igreja,
descreve o mundo em que Maria vivia, interpreta 13 passagens bíblicas em que
Ela se apresenta e situa “na nuvem de testemunhas que acompanham a Igreja” nas pegadas
de Jesus. Trata-se, pois, duma teologia mariana enraizada e alimentada na
Escritura, lida com olhos de mulher e por métodos hermenêuticos feministas.
***
Até aqui nada
demais. Porém, quando ia a pagar o livro, a senhora atendente, olhando para o anel
no dedo, bisbilhotou para um outro cliente que padre eu não era porque tinha
aliança, mas porque seria que me interessava por teologia. Depois, pensou que
seria diácono permanente, pois estes podem ser casados. Não pareceu que lhe
tivesse passado pela matraca tratar-se de tipo que tenha deixado as ordens ou
antigo seminarista. E eu, em vez de a questionar se não era para vender livor a
quem quer que fosse para que estavam eles expostos ao público, ao pagar,
informei que, em termos democráticos, todos têm acesso à teologia, mas que
estivesse descansada, pois eu, em tempos, tinha completado o curso de teologia,
sabia de muitos homens e mulheres que o tinham completado e não vinha mal ao mundo
por isso. Ademais, o saber não ocupa lugar. E (cá para nós, que a senhora não está
a ouvir) a investigação é livre em
Portugal, é livre e democrático o acesso à cultura (vd CRP,
art.º 73.º) e um curso de teologia proporciona
uma cosmovisão interessante.
***
Assim, gostei que a FT-UCP (Faculdade de
Teologia da Universidade Católica) tenha
promovido, ainda que pela primeira vez, a 17 de abril, um OpenDay ‘Teologia
para Todos’, dia aberto de teologia para todos os interessados e
alunos do Ensino Secundário, do 10.º ao 12.º ano. Este
evento, que recebeu perto de 60 alunos do ensino secundário para propor mais
opções no horizonte do ensino superior, foi preparado pela Associação de Estudantes
da FT-UCP, em Lisboa, em articulação com a direção da Faculdade.
Assim, os alunos, de escolas públicas no
território do Patriarcado de Lisboa, foram desafiados e acompanhados por docentes
da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.
O Dia Aberto teve início pelas 14,30 horas,
com o Acolhimento. Pelas 15 horas, o
Diretor da FT, Professor João Lourenço, e o Professor Juan Ambrosio deram as
boas vindas a todos e deram a conhecer a FT e os seus Cursos aos estudantes.
Seguiu-se, pelas 15,30 horas, uma Aula
Aberta que contou com a presença e a prestação dos Professores Juan
Ambrosio, já referido, Alexandre Palma e Inês Bolinhas. O Encerramento ocorreu pelas 17 horas com um lanche e uma visita ao Campus da Universidade.
Em declarações à agência Ecclesia, Henrique Filipe, da Escola
Secundária de Peniche, revelou que está no pré-seminário (Lisboa) e, como a Faculdade de
Teologia pode ser o futuro, pensou que “seria importante vir ao ‘open day’ e ver o que um futuro próximo
poderia reservar”. E acrescentou:
“Receberam-nos muito bem, gostei da
visita pela Universidade, do clima, de como se dão, gostei muito também da
forma como os professores falavam e interagiam com os alunos”.
Da mesma escola, Margarida Hugoblado
explica que “foi muito pela descoberta” que aceitou o convite para o ‘Dia aberto’, até porque, “se calhar,
podiam responder a certas questões que são muito repetitivas na vida”. E discorreu:
“Este curso iria abrir mais
horizontes, principalmente, em relação à nossa vida como nos foi dito. Pode não
ter grandes futuros mas em relação a nós e a abertura de horizontes acho que é
muito importante.”.
A professora Luísa Carvalho, da Escola
Secundária Fernando Lopes Graça, na Parede, frisou que os estudantes “estão
nesta fase de escolher o futuro, de perceber o que é que vai ser a sua vida” e
há cursos de que “nunca ouviram falar e que podem ser uma porta aberta, dar um
sentido mais firme ao que pensam da sua vida”.
A este respeito, o aluno Henrique Sousa,
da mesma Escola Secundária, confessou:
“É importante porque, primeiro,
vimos a saber mais e saímos com outras perguntas e dúvidas e é sempre
interessante; depois, mesmo que não venha a ser a escolha que eu faça, acho que
é importante conhecermos e aprendermos mais.”.
A presidente da Associação de Estudantes
da Faculdade de Teologia assinalou que a instituição “é um pouco mistério para os estudantes do ensino secundário e mesmo para
a sociedade”.
Depois, acrescentou:
“Um pouco pela ideia que se cria de
que a Teologia é apenas para padres, e Ciências Religiosas nem sequer existe,
não é um curso que as pessoas conheçam”.
Em declarações à Agência Ecclesia, Rita Santos explicou que da
articulação entre a Associação e a direção da Faculdade surgiu a ideia do
primeiro ‘dia aberto’ para levar os
alunos do ensino secundário ao espaço onde estudam, aos professores e
conhecerem o seu dia-a-dia.
O diretor da Faculdade de Teologia
assinalou a colaboração “mútua muito intensa” e que os estudantes têm a
possibilidade de “explorar canais que às vezes na parte institucional não é tão
fácil”. Para o Padre João Lourenço estas iniciativas “têm sempre duas vertentes”:
primeiro, mostrar que “a faculdade faz parte deste habitat cultural científico,
não é um gueto isolado na área dos saberes”; e, segundo, vincar que “é um saber
científico”.
E, justificando a iniciativa, explicou:
“Poderíamos ir às escolas, mas
preferimos que as escolas venham até nós porque é sempre muito importante,
diria quase como diz o Evangelho de São João no início – ‘Onde moras? Vinde e
vede!’. Eles vêm e veem. Isto é um aspeto que para nós é muito importante.”.
Sobre as saídas profissionais das áreas de
estudo – Teologia e Ciências Religiosas – observou que “está, naturalmente, a
docência de EMRC”, mas pode haver, e há, áreas de serviços na sociedade em que
“a presença de um saber teológico pode ser extremamente importante” como, por
exemplo, a comunicação social. Com efeito, a meu ver, é confrangedor o panorama
de desconhecimento básico de tantas matérias por parte dos profissionais destes
diversos domínios. Sabem fazer uma abordagem a todos os assuntos, com exceção
dos temas religiosos…
Por vídeo ou presencialmente alguns
professores falaram das suas disciplinas e da Faculdade de Teologia, antes de os
alunos do secundário conhecerem o campus universitário.
***
A FT iniciou atividade no ano letivo de
1968/69 (foi inaugurada a 4 de novembro de
1968), na sede
da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa; foi reconhecida pelo Estado Português
a 15 de julho de 1971 e obteve aprovação canónica no dia 1 de outubro do mesmo
ano; e, em 1987, estendeu-se a Braga e ao Porto, integrada nos
respetivos polos da UCP.
Os primeiros
anos da FT revelaram que o Curso de Teologia não esgotava a missão de serviço
eclesial e cultural da Faculdade no domínio do ensino e da investigação
teológica. Da convergência duma série de fatores nasceu o propósito de alargar
o âmbito académico da Faculdade a um currículo universitário de matérias
teológicas a lecionar em horário pós-laboral. Tal currículo, que recebeu a
designação de Curso de Ciências Religiosas (CCR), foi programado para o bacharelato em 3 anos, em vez dos 5 requeridos
pelas Normae Quaedam para atribuição do mesmo grau em
Teologia. Era o ano de 1973. Após algumas reformulações, a Santa Sé aprovava
este curso a 11 de agosto de 1975. A inauguração do novo Curso coincidiu com a
abertura do ano letivo 1975-76.
Em 1986, com
data de 30 de março, a Santa Sé erigia canonicamente o Instituto Universitário
de Ciências Religiosas que ministra e orienta a Licenciatura em Ciências
Religiosas e outros cursos. A Licenciatura em Ciências Religiosas (LCR), como 1.º ciclo de estudos do Curso de Ciências
Religiosas adequado ao novo regime jurídico do ensino superior, foi já objeto
do Despacho n.º 14 722/2006, de 11 de julho, do Diretor-Geral do Ensino Superior,
e entrou em vigor em 2006/07. A Licenciatura em Ciências Religiosas tem a
duração de 3 anos.
O curso
recorrerá às metodologias de b-learning, permitindo a concentração
das atividades letivas presenciais em dois dias da semana, em horário
pós-laboral.
Por longa
tradição, recentemente reforçada pela Santa Sé, o estudo da Teologia começa por
um ciclo de 10 semestres. Na adequação do mesmo à lei portuguesa, o ciclo
considera-se um Ciclo de Estudos Integrados conducente ao grau de Mestre. O
MIT (Mestrado
Integrado em Teologia) dura 5
anos e corresponde a 300 ECTS, sendo lecionado em horário diurno (das 8,30 às
13 horas).
No espírito
da atual legislação (DL n.º 74/2006, de 24 de março, art.º 19.º), a FT confere a quem o requeira, desde que tenha
frequentado com aproveitamento 180 ECTS de unidades curriculares previamente
definidas do MIT, o grau de Licenciado em Ciências Religiosas.
Ademais, a FT oferece: Pós-Graduação em Ensino de Educação Moral e Religiosa Católica no 1,º
ciclo; Mestrado em Ciências
Religiosas, com especialização nas áreas de Educação Moral e Religiosa Católica e de Animação
Sócio-Religiosa; Mestrado em Estudos da Religião, com especialização em Estudos de História do Cristianismo, Estudos Bíblicos, Ética Teológica, História e
Teologia das Religiões; e Curso
de Doutoramento em Teologia, com especialidades em Teologia Bíblica, Teologia Fundamental, Teologia Sistemática, Teologia Moral, Teologia Histórica, Teologia
Litúrgica, Teologia Prática e Teologia da Espiritualidade.
***
É a Teologia aberta a todos e expressa em várias modalidades…
***
É a Teologia aberta a todos e expressa em várias modalidades…
2018.04.23 – Louro de
carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário