quarta-feira, 25 de abril de 2018

Cimeira entre as Coreias e entre a Coreia do Norte e os EUA


Algo parece estar a mudar na Coreia do Norte e nas relações entre este país e a Coreia do Sul. Tanto assim é que está agendada uma cimeira intercoreana, na fronteira militarizada entre os dois países, para o próximo dia 27 de abril – a primeira entre líderes coreanos em 11 anos
Kang Kyung-wha, Ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana, afirmou hoje, dia 25, que a cimeira entre Seul e Pyongyang servirá para verificar “o compromisso da Coreia do Norte relativamente à desnuclearização”.
Apesar de Seul e Pyongyang não terem anunciado uma agenda oficial para a cimeira do Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e do líder norte-coreano, Kim Jong-un, o destaque parece ir para o tema da desnuclearização e o do Sul terá referido apresentar uma fórmula que ponha fim ao estado de guerra técnica.
Tanto assim é que o Presidente da Coreia do Sul defendeu, no dia 19, um tratado de paz para encerrar oficialmente a Guerra da Coreia, numa altura em que se aproxima o encontro agendado com o líder norte-coreano Kim Jong Un. E Moon Jae-in disse aos jornalistas que o armistício que se arrasta há 65 anos deve acabar, acrescentando: “devemos procurar a assinatura de um tratado de paz depois da declaração do fim da guerra”.
Recorde-se que a Guerra da Coreia foi um conflito armado entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, ocorrido entre os anos 1950 e 1953, que teve como pano de fundo a disputa geopolítica entre os Estados Unidos (capitalismo) e a União Soviética (socialismo).
Dois dias antes do histórico encontro, como indicou a agência de notícias sul-coreana Yonhap, a Ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana espera que a cimeira Sul-Norte seja um fórum de discussão franca do tema da desnuclearização em que se verifique o compromisso da Coreia do Norte relativamente à desnuclearização. A propósito, frisou que os principais temas a tratar serão a desnuclearização da península, a melhoria dos laços intercoreanos e a paz entre os dois países, que se mantêm tecnicamente em guerra desde o final da Guerra da Coreia (1950-53).
Kang considerou que, pela criação de um “regime de paz” (termo usado por Seul para se referir a um hipotético tratado que substitua o atual armistício), será possível restabelecer a cooperação económica entre os dois países, tema que poderá estar presente na cimeira. E explicou:
Um regime de paz tornará possível a prevenção de potenciais conflitos militares e permitirá uma cooperação económica próspera”.
O último projeto de cooperação económica intercoreana foi suspenso por Seul, em 2016, como resposta aos ensaios atómicos do regime norte-coreano e, embora o atual governo do liberal Moon Jae-in tenha retomado a ajuda humanitária ao Norte, os níveis atuais de cooperação bilateral continuam a ser muito reduzidos relativamente a épocas anteriores.
Kang considerou, por isso, que, além de servir como “base para a futura desnuclearização da península”, o êxito da cimeira será um roteiro para a futura reunião entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, a primeira entre líderes destes dois Estados.
Porém, a cimeira entre Kim Jong-un e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ainda não tem uma data, mas deverá realizar-se entre final de maio e início de junho.
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Segundo a agência sul-coreana Yonhap,, as duas Coreias abriram, no passado dia 20, uma linha privilegiada de comunicações entre os seus líderes, uma espécie de ‘telefone vermelho’, tendo sido já realizada uma chamada de teste bem-sucedida na linha direta entre a presidencial Blue House de Seul e a poderosa Comissão de Assuntos de Estado de Pyongyang,  segundo o que revelou o gabinete da Presidência da Coreia do Sul.
A abertura desta via de comunicação acontece a uma semana da anunciada cimeira entre o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e o líder norte-coreano Kim Jong Un, na zona desmilitarizada que divide a península.

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Donald Trump revelou, no dia 23, que teve “uma conversa muito boa” com o líder norte-coreano e que “ele foi realmente muito aberto e teve, penso, uma atitude muito respeitável”.
O Presidente dos EUA, que falava perante a imprensa durante o encontro com o Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que Pyongyang quer que a cimeira com Trump se realize “assim que for possível”. E sublinhou:
Tivemos uma conversa muito boa. Ele foi realmente muito aberto e teve, penso, uma atitude muito respeitável, depois de tudo o que vimos.”.
E acrescentou que “a Coreia do Norte fez muitas promessas ao longo dos anos, mas eles nunca estiveram nesta posição”.
O elogio de Trump a Kim contrasta com comentários que fez no passado, como quando lhe chamou “Little Rocket Man”, numa alusão à pequena estatura do líder norte-coreano e aos ensaios de lançamento de mísseis do seu regime. 
Trump e Kim deverão reunir-se em maio ou junho, provavelmente na Suíça ou na Suécia.
De acordo com o que passou para a Comunicação Social a 18 de abril, a Suíça, país neutral, e a Suécia, que integra a União Europeia, estão entre os possíveis cenários para a cimeira inédita que foi anunciada para maio entre o Presidente americano e o líder da Coreia do Norte. Fonte conhecedora do assunto, citada pela Bloomberg, diz que os dois países europeus estão a ser equacionados pela Casa Branca, tal como outros países da Ásia. E adianta que o Presidente norte-americano não está a incluir nos potenciais locais, Pequim (capital da China), as capitais das duas Coreias, nem o local onde foi assinado o armistício em 1953.
Para Suzanne DiMaggio, diretora na New America em Nova Iorque, que ajudou a realizar as negociações que decorreram em Oslo e que permitiram a libertação do cidadão americano, Otto Warmbier, os locais que estão a ser ponderados tornam mais provável a realização desta cimeira. “É tranquilizador ver que a administração Trump está a dar passos sérios para preparar esta interação histórica”, afirmou à Bloomberg.
Donald Trump confirmou, nesse dia 18 de abril, que enviara à capital da Coreia do Norte como seu representante o presidente da CIA, a agência de serviços de informação, para um encontro preparatório ao mais alto nível com Kim Jong-Un.
A conversa entre Marco Pompeu e o líder norte-coreano correu sobre rodas e foi criada uma “boa relação” entre os dois, adiantou o presidente americano no Twitter, acrescentando que os detalhes do encontro ainda estavam a ser preparados.
Por outro lado, Trump disse, no dia 19 de abril, haver “boa possibilidade” de libertar três norte-americanos presos na Coreia do Norte e adiantava poder cancelar o encontro com o líder norte-coreano se achasse que não seria produtivo – hipótese ultrapassada no dia 23, como se disse.
Em conferência de imprensa ao lado do Primeiro-Ministro japonês, Shinzo Abe, no seu resort privado Mar-a-Lago, na Florida, Donald Trump disse que tem mantido “um bom diálogo” com os norte-coreanos sobre a matéria, mas não respondeu, quando questionado, se manteria o encontro com o líder da Coreia do Norte, Kim Jung-un, que pode vir a acontecer no início de junho ou até mesmo antes, se nessa altura os três norte-americanos ainda estiverem presos naquele país. Mas disse:
Estamos agora a negociar. É um tratamento muito duro aquele a que estão submetidos os norte-americanos na Coreia do Norte.”.
Disse, ainda, que esperava que o encontro seja “um êxito mundial”, mas que estava disposto a cancelá-lo se não se revelasse bem-sucedido e a “abandonar respeitosamente” o encontro se não fosse produtivo. Trump disse, ainda, que espera “ver o dia em que toda a península possa viver unida, com segurança e em paz”.
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A este respeito, o Papa Francisco deixou hoje um apelo à paz na Península Coreana, numa mensagem dirigida aos responsáveis do Norte e do Sul que se vão reunir no próximo dia 27, pela primeira vez, em mais de uma década, declarando, no final da audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro:
A todos os que têm responsabilidades políticas diretas, peço que tenham a coragem da esperança, tornando-se artífices da paz, e exorto-os a prosseguir com confiança o caminho empreendido pelo bem de todos”.
O Papa declarou que o encontro será “uma ocasião propícia para iniciar um diálogo transparente e um percurso concreto de reconciliação e de fraternidade, a fim de garantir a paz na Península Coreana e no mundo inteiro”.
Garantindo rezar por todo o povo coreano, a quem assegurou a proximidade de toda a Igreja, disse que “a Santa Sé acompanha, apoia e encoraja qualquer iniciativa útil e sincera para construir um futuro melhor, marcado pelo encontro e a amizade entre os povos”.
Depois deste apelo, Francisco convidou os fiéis na Praça de São Pedro a rezar com ele um Pai-Nosso pela paz.
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Esperemos pelo êxito destes encontros, que já não é sem tempo. As pessoas têm direito à liberdade e os povos têm necessidade de paz.
2018.04.25 – Louro de Carvalho

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