Algo parece
estar a mudar na Coreia do Norte e nas relações entre este país e a Coreia do
Sul. Tanto assim é que está agendada uma cimeira intercoreana, na fronteira
militarizada entre os dois países, para o próximo dia 27 de abril – a primeira
entre líderes coreanos em 11 anos
Kang
Kyung-wha, Ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana, afirmou hoje, dia
25, que a cimeira entre Seul e Pyongyang servirá para verificar “o compromisso
da Coreia do Norte relativamente à desnuclearização”.
Apesar de
Seul e Pyongyang não terem anunciado uma agenda oficial para a cimeira do
Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e do líder norte-coreano, Kim Jong-un, o
destaque parece ir para o tema da desnuclearização e o do Sul terá referido
apresentar uma fórmula que ponha fim ao estado de guerra técnica.
Tanto assim
é que o Presidente da Coreia do Sul defendeu, no dia 19, um tratado de paz
para encerrar oficialmente a Guerra da Coreia, numa altura em que se aproxima o
encontro agendado com o líder norte-coreano Kim Jong Un. E Moon Jae-in disse aos
jornalistas que o armistício que se arrasta há 65 anos deve acabar,
acrescentando: “devemos procurar a
assinatura de um tratado de paz depois da declaração do fim da guerra”.
Recorde-se
que a Guerra da Coreia foi um conflito armado entre Coreia do Sul e Coreia do
Norte, ocorrido entre os anos 1950 e 1953, que teve como pano de fundo a
disputa geopolítica entre os Estados Unidos (capitalismo) e a União Soviética (socialismo).
Dois dias
antes do histórico encontro, como indicou a agência de notícias sul-coreana
Yonhap, a Ministra dos Negócios Estrangeiros sul-coreana espera que a cimeira
Sul-Norte seja um fórum de discussão franca do tema da desnuclearização em que
se verifique o compromisso da Coreia do Norte relativamente à desnuclearização.
A propósito, frisou que os principais temas a tratar serão a desnuclearização
da península, a melhoria dos laços intercoreanos e a paz entre os dois países,
que se mantêm tecnicamente em guerra desde o final da Guerra da Coreia (1950-53).
Kang
considerou que, pela criação de um “regime de paz” (termo usado
por Seul para se referir a um hipotético tratado que substitua o atual
armistício), será possível restabelecer a
cooperação económica entre os dois países, tema que poderá estar presente na
cimeira. E explicou:
“Um regime de paz tornará possível a
prevenção de potenciais conflitos militares e permitirá uma cooperação
económica próspera”.
O último
projeto de cooperação económica intercoreana foi suspenso por Seul, em 2016,
como resposta aos ensaios atómicos do regime norte-coreano e, embora o atual
governo do liberal Moon Jae-in tenha retomado a ajuda humanitária ao Norte, os
níveis atuais de cooperação bilateral continuam a ser muito reduzidos
relativamente a épocas anteriores.
Kang
considerou, por isso, que, além de servir como “base para a futura
desnuclearização da península”, o êxito da cimeira será um roteiro para a
futura reunião entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, a primeira entre
líderes destes dois Estados.
Porém, a
cimeira entre Kim Jong-un e o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump,
ainda não tem uma data, mas deverá realizar-se entre final de maio e início de
junho.
***
Segundo a
agência sul-coreana Yonhap,,
as duas Coreias abriram, no passado
dia 20, uma linha privilegiada de comunicações entre os seus líderes, uma
espécie de ‘telefone vermelho’, tendo sido já realizada uma chamada de teste
bem-sucedida na linha direta entre a presidencial Blue House de Seul e a
poderosa Comissão de Assuntos de Estado de Pyongyang, segundo o que revelou o gabinete da
Presidência da Coreia do Sul.
A abertura
desta via de comunicação acontece a uma semana da anunciada cimeira entre o Presidente
sul-coreano, Moon Jae-in, e o líder norte-coreano Kim Jong Un, na zona
desmilitarizada que divide a península.
***
Donald Trump
revelou, no dia 23, que teve “uma conversa muito boa” com o líder norte-coreano
e que “ele foi realmente muito aberto e teve, penso, uma atitude muito
respeitável”.
O Presidente
dos EUA, que falava perante a imprensa durante o encontro com o Presidente
francês, Emmanuel Macron, disse que Pyongyang quer que a cimeira com Trump se
realize “assim que for possível”. E sublinhou:
“Tivemos
uma conversa muito boa. Ele foi realmente muito aberto e teve, penso, uma
atitude muito respeitável, depois de tudo o que vimos.”.
E acrescentou
que “a Coreia do Norte fez muitas promessas ao longo dos anos, mas eles nunca
estiveram nesta posição”.
O elogio de
Trump a Kim contrasta com comentários que fez no passado, como quando lhe
chamou “Little Rocket Man”, numa
alusão à pequena estatura do líder norte-coreano e aos ensaios de lançamento de
mísseis do seu regime.
Trump e Kim
deverão reunir-se em maio ou junho, provavelmente na Suíça ou na Suécia.
De acordo
com o que passou para a Comunicação Social a 18 de abril, a Suíça, país
neutral, e a Suécia, que integra a União Europeia, estão entre os possíveis
cenários para a cimeira inédita que foi anunciada para maio entre o Presidente
americano e o líder da Coreia do Norte. Fonte conhecedora do assunto, citada
pela Bloomberg, diz que os dois países europeus estão a ser equacionados pela
Casa Branca, tal como outros países da Ásia. E adianta que o Presidente norte-americano
não está a incluir nos potenciais locais, Pequim (capital da
China), as capitais das duas Coreias, nem
o local onde foi assinado o armistício em 1953.
Para Suzanne
DiMaggio, diretora na New America em Nova Iorque, que ajudou a realizar as
negociações que decorreram em Oslo e que permitiram a libertação do cidadão
americano, Otto Warmbier, os locais que estão a ser ponderados tornam mais
provável a realização desta cimeira. “É tranquilizador ver que a administração
Trump está a dar passos sérios para preparar esta interação histórica”, afirmou
à Bloomberg.
Donald Trump
confirmou, nesse dia 18 de abril, que enviara à capital da Coreia do Norte como
seu representante o presidente da CIA, a agência de serviços de informação,
para um encontro preparatório ao mais alto nível com Kim Jong-Un.
A conversa
entre Marco Pompeu e o líder norte-coreano correu sobre rodas e foi criada uma
“boa relação” entre os dois, adiantou o presidente americano no Twitter,
acrescentando que os detalhes do encontro ainda estavam a ser preparados.
Por outro
lado, Trump disse, no dia 19 de abril, haver “boa possibilidade” de libertar
três norte-americanos presos na Coreia do Norte e adiantava poder cancelar o
encontro com o líder norte-coreano se achasse que não seria produtivo –
hipótese ultrapassada no dia 23, como se disse.
Em conferência
de imprensa ao lado do Primeiro-Ministro japonês, Shinzo Abe, no seu resort
privado Mar-a-Lago, na Florida, Donald Trump disse que tem mantido “um bom
diálogo” com os norte-coreanos sobre a matéria, mas não respondeu, quando
questionado, se manteria o encontro com o líder da Coreia do Norte, Kim
Jung-un, que pode vir a acontecer no início de junho ou até mesmo antes, se
nessa altura os três norte-americanos ainda estiverem presos naquele país. Mas
disse:
“Estamos agora a negociar. É um tratamento
muito duro aquele a que estão submetidos os norte-americanos na Coreia do Norte.”.
Disse, ainda,
que esperava que o encontro seja “um êxito mundial”, mas que estava disposto a
cancelá-lo se não se revelasse bem-sucedido e a “abandonar respeitosamente” o
encontro se não fosse produtivo. Trump disse, ainda, que espera “ver o dia
em que toda a península possa viver unida, com segurança e em paz”.
***
A este
respeito, o Papa Francisco deixou hoje um apelo à paz na Península Coreana,
numa mensagem dirigida aos responsáveis do Norte e do Sul que se vão reunir no
próximo dia 27, pela primeira vez, em mais de uma década, declarando, no final
da audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro:
“A todos os que têm responsabilidades
políticas diretas, peço que tenham a coragem da esperança, tornando-se
artífices da paz, e exorto-os a prosseguir com confiança o caminho empreendido
pelo bem de todos”.
O Papa declarou que o encontro será “uma ocasião
propícia para iniciar um diálogo transparente e um percurso concreto de
reconciliação e de fraternidade, a fim de garantir a paz na Península Coreana e
no mundo inteiro”.
Garantindo rezar por todo o povo coreano, a quem
assegurou a proximidade de toda a Igreja, disse que “a Santa Sé acompanha,
apoia e encoraja qualquer iniciativa útil e sincera para construir um futuro
melhor, marcado pelo encontro e a amizade entre os povos”.
Depois deste apelo, Francisco convidou os fiéis na
Praça de São Pedro a rezar com ele um Pai-Nosso
pela paz.
***
Esperemos pelo êxito destes encontros, que já não é
sem tempo. As pessoas têm direito à liberdade e os povos têm necessidade de
paz.
2018.04.25 – Louro de Carvalho
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