quarta-feira, 25 de abril de 2018

Aspetos curiosos e interessantes deste 25 de abril de 2018


A este respeito, recordo coisas curiosas como a daquela vez em que Jorge Coelho, quando em 1999 lhe fizeram saber que alguns festejavam o facto de o PS não ter conquistado a maioria absoluta no Parlamento – conseguiu apenas metade do número total dos assentos em São Bento –, respondeu: “Cada um festeja aquilo que pode”. Outros festejam a eleição dum deputado ou dum vereador ou o empate dum jogo ou o facto de o seu clube não descer de divisão. E um político, bem conhecido da cena pública, e altamente elogiado por um antigo Primeiro-Ministro como empresário de sucesso, uma ocasião quis dar uma novidade ao pai e fê-lo nos termos seguintes: “Pai, já sou ministro!”.
Neste 25 de abril, tanto Ferro Rodrigues como António Costa, longe dos festejos triviais, assinalaram que a Constituição da República Portuguesa, de 1976, já tem uma vigência mais longeva que a famigerada Constituição Política da República Portuguesa de 1933 (11 de abril).
A este respeito, o Presidente da Assembleia da República disse logo no início do seu discurso, na sessão solene evocativa de Revolução Abrilina:
A Sessão Solene do dia 25 de Abril é sempre especial para a democracia portuguesa. Mas este ano é ainda mais especial. Porque, este ano, a Constituição da República, aprovada em 1976, ultrapassa em longevidade a Constituição de má memória de 1933. Uma prova da maturidade do nosso regime democrático, consolidado pela luta do nosso povo e nascido da coragem liderante dos Capitães do Movimento das Forças Armadas. Aqui deixo pois uma merecida saudação aos Capitães de Abril e à Associação 25 de Abril, na pessoa do Coronel Vasco Lourenço, cuja presença muito nos honra! Éramos todos muito jovens. E ainda aqui estamos 44 anos depois, sempre prontos para os combates da democracia.”.
Por seu turno, o Primeiro-Ministro, ao ser questionado, no início da festa do 25 de Abril nos jardins de São Bento, sobre a forma como recebeu o discurso proferido por Marcelo Rebelo de Sousa na Assembleia da República, entre as várias respostas que deu aos jornalistas, avançou com uma citação do Presidente da Assembleia da Republica sobre a vigência da Constituição da República Portuguesa (42 anos contra os 41 da antecessora), referindo:
Como disse o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, este ano celebramos pela primeira vez o facto de a Constituição de 1976 já ter vigorado mais tempo do que a antiga Constituição de 1933 do Estado Novo. Este é um bom sinal sobre a vitalidade da democracia, mas temos de continuar a trabalhar para que este nosso regime esteja cada vez mais forte.”.
Obviamente, Costa fez este remoque num contexto mais alargado e com algum cinismo dada a moldura em que surgiu a interpelação jornalística. A forma como terá recebido o discurso do Presidente da República estava a ser extorquida capciosamente. Mas o Primeiro-Ministro não deixou por mãos alheias os seus créditos políticos.    
Em sintonia com as preocupações transmitidas pelo Presidente sobre a democracia no discurso da sessão solene, Costa considerou que só o Chefe de Estado pode esclarecer o que pretendeu dizer sobre “messianismo” e “endeusamento” dos políticos. Com efeito, interpelado, no início da festa nos jardins de São Bento, sobre a forma como recebeu o discurso proferido por Marcelo no Parlamento, Costa alegou que só Marcelo pode esclarecer quem são os alvos: “Essa é uma pergunta que seguramente tem de ser dirigida a ele”. E acrescentou:
Para já, creio que não estava a falar de si próprio, porque é o único em que nas sondagens surge com níveis de popularidade absolutamente estratosféricos. Não sei [a quem se estava a referir].”.
O líder do Executivo advertiu que “é muito difícil interpretar a arte moderna e nem sempre é possível interpretar os discursos modernos”. Todavia, frisou que “o Presidente da República ficará encantado em poder esclarecer sobre aquilo que lhe ia no espírito nesse momento”.
António Costa esclareceu, em seguida, que estava por dentro das preocupações manifestadas pelo Chefe de Estado, já que o acompanhou na visita a França por ocasião das comemorações do centenário da batalha de La Lys, na I Guerra Mundial. E vincou:
Percebi bem então a ligação que o Chefe de Estado quis fazer entre a tragédia da Europa há cem anos e aquilo que nós consideramos como um adquirido: A paz, a liberdade e a democracia. Mas a paz, a liberdade e a democracia não são um adquirido.”.
Para Costa, embora Portugal tenha já 44 anos de liberdade pós-25 de Abril, “importa continuar a trabalhar para que essa liberdade seja eterna”.
E, sobre os fenómenos do populismo, o Primeiro-Ministro também admitiu que a democracia corre riscos de adoecer, mas sustentou que Portugal “tem encontrado bons antídotos”.
Neste ponto, o Chefe do Governo voltou a defender a importância de existirem sempre alternativas políticas em democracia, assim como o caráter fundamental de as promessas serem cumpridas. Disse ele:
É importante que os cidadãos saibam que, quando estiverem cansados de uma solução política, têm outra alternativa para escolher. Mas também é importante que as pessoas sintam que o poder político as respeita e que os compromissos assumidos são respeitados. A ideia que se respeita os compromissos é essencial para dar força à democracia e confiança aos cidadãos – e a confiança é o melhor antídoto contra os populismos.”.
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Mas o 25 de abril deste ano traz mais novidades.
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Ferro Rodrigues anunciou o Centro Interpretativo como homenagem ao constitucionalismo e à democracia. Disse o Presidente da Assembleia da República num passo do seu discurso:
É a pensar no futuro da democracia e nas novas gerações que estamos a desenvolver aqui em frente, na Casa Amarela da Assembleia da República, o projeto do Centro Interpretativo, uma homenagem ao constitucionalismo e à democracia, que esperamos inaugurar em 2019, assinalando assim da melhor maneira os 45 anos do 25 de abril”.
No 44.º aniversário da Revolução dos Cravos, teve lugar de destaque nas comemorações do 25 de abril, na residência oficial do Primeiro-Ministro – estacionada nos jardins de São Bento ao lado dum conjunto de fotografias que atestam alguns dos momentos mais marcantes daquele dia –, a chaimite Bula, viatura militar que integrou a coluna de Salgueiro Maia de Santarém para Lisboa e que transportou o ex-Presidente do Conselho, Marcello Caetano, quando saiu do Quartel do Carmo após rendição.
O Fado, os processos de manufatura da olaria preta de Bisalhães, de chocalhos e das figuras em barro de Estremoz, como representantes nacionais do Património Cultural Imaterial da Humanidade tiveram, por iniciativa de António Costa, papel de relevo nas comemorações deste ano, na Residência de São Bento. As atuações de Aldina Duarte, Ricardo Ribeiro e Filipe Raposo – com um espetáculo de tributo a Zeca Afonso, da orquestra de alunos do Hot Clube de Portugal (que este ano celebra 70 anos) e do projeto Enxada – foram os destaques das participações musicais. Os gigantones, cabeçudos e bombos de Viana do Castelo deram as boas vindas a todos os visitantes e, para os mais novos, decorreram vários espetáculos de marionetas.
A gastronomia portuguesa esteve representada com uma mostra e venda de produtos regionais. 
No âmbito da participação cívica, os visitantes puderam contribuir com propostas para a edição de 2018 do Orçamento Participativo Portugal.
Com efeito, neste dia 25 de abril, a residência oficial do Primeiro-Ministro esteve de portas abertas entre as 14,30 horas e as 19 horas. A este respeito, Costa referiu que a abertura da Residência Oficial do Primeiro-Ministro aos cidadãos “é uma forma de se festejar o 25 de Abril com esta casa aberta, porque é assim o poder em democracia”. Também os jardins da Assembleia da República, contíguos aos da Residência Oficial, estiveram abertos aos cidadãos, tendo milhares de pessoas neles comemorado o 25 de Abril, e o Primeiro-Ministro e o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, participado conjuntamente em iniciativas na Residência Oficial.
O Primeiro-Ministro referiu igualmente a importância que as comemorações do 25 de Abril nos jardins da Residência Oficial dão este ano, novamente, ao património imaterial português reconhecido de importância mundial pela UNESCO, “desde o fado, o cante alentejano, os chocalhos, até aos bonecos de Estremoz”. Disse Costa que “temos aqui hoje muita coisa, desde música, aos produtos regionais, teatro, artes circenses, além da mostra do património imaterial, esclarecendo que “houve a intenção de manifestar a nossa preocupação com as regiões do interior, disponibilizando espaços para a valorização dos seus produtos locais”.
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Outro facto marcante deste 44.º aniversário da Revolução dos Cravos foi a inauguração do Jardim Mário Soares na antiga parte sul do jardim do Campo Grande, em Lisboa, agora reabilitada, com a presença do Presidente e da Vereação da Câmara Municipal de Lisboa.
O Primeiro-Ministro afirmou:
Temos a enorme responsabilidade de continuar a manter vivas as árvores que Mário Soares plantou, sobretudo essa grande árvore da democracia que ele semeou, que ajudou a fazer crescer e tratou durante todos os anos da sua vida”.
Sustentou que “nunca será de mais prestarmos homenagem àquele que foi tantas vezes a voz e o rosto da nossa liberdade” e que a homenagem “é prestada num dia em que Mário Soares, se aqui estivesse, apreciaria que nos lembrássemos dele”, “porque, se devemos o 25 de Abril aos militares, também o devemos àqueles que durante 48 anos fizeram a sementeira que permitiu essa ação libertadora; e, entre eles, está Mário Soares”. A homenagem “ocorre num local que era particularmente importante para Mário Soares”, pois “este era o seu jardim”, onde esteve em criança com o pai e, depois, com os filhos e os netos, tendo vivido toda a vida num prédio junto ao jardim. E Costa afirmou que “este jardim tem duas simbologias: a primeira “encerra um roteiro, que começa nos Restauradores, sobe com a Liberdade, prossegue com a República e só podia terminar com Mário Soares; a segunda é que Soares amava profundamente as árvores. E António Costa referiu os jardins que o homenageado plantou na casa de Nafarros, no Palácio de Belém e no cimo do prédio onde morava – acrescentando que “a razão profunda para o seu amor aos jardins e às árvores tinha a ver com o seu amor à vida”, tendo Soares, que não era crente, “encontrado na natureza uma forma de a vida poder ser eterna, renascendo eternamente”.
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Outra novidade é a ida provisória do Primeiro-Ministro e membros do seu gabinete para o Terreiro do Paço/Praça do Comércio (instalações antes ocupadas pelo Ministério do Mar) por motivo de obras, recomendadas pelo LNEC, no seu palacete de São Bento – por questões de segurança, sistema de climatização, instalação elétrica e proteção contra incêndios – que deverão estar concluídas antes do 5 de outubro. Ou seja, por razões circunstanciais, o Chefe do Governo – rei de junho a outubro – ocupará temporariamente o Terreiro do Paço, o tradicional símbolo do Poder e das suas vicissitudes, aliás onde está o todo-poderoso Ministério das Finanças!
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25 de Abril sempre, mas com poder democrático!
2018.04.25 – Louro de Carvalho

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