quinta-feira, 5 de abril de 2018

Vem aí uma nova Exortação Apostólica, a “Gaudete et Exsultate”


Na próxima segunda-feira, dia 9 de abril, será apresentada a nova Exortação Apostólica do Papa Francisco “Gaudete et Exsultate” sobre o chamamento à Santidade no mundo contemporâneo.
Em conformidade com o aviso de hoje, dia 5, da Sala de Imprensa da Santa Sé, os jornalistas acreditados no Vaticano foram informados de que, na próxima segunda-feira, dia 9 de abril, se realizará a Conferência de Imprensa, na referida Sala de Imprensa, na Via della Conciliazione 54, para a apresentação da Exortação Apostólica do Santo Padre Francisco “Gaudete et Exsultate”, sobre o chamamento à Santidade no mundo contemporâneo.
Intervirão: Mons. Angelo De Donatis, Vigário Geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma; Gianni Valente, jornalista; e Paola Bignardi, da Ação Católica.
A Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” deve considerar-se sob embargo absoluto até às 12 horas de segunda-feira, 9 de abril. Os jornalistas acreditados encontrarão o texto em formato pdf da Exortação Apostólica na área reservada da página web do Boletim da Sala de Imprensa a partir das 8 horas de segunda-feira, 9 de abril, em italiano, francês inglês, tedesco, espanhol, português, polaco e árabe. Além disso, encontrarão sempre na área reservada uma versão breve da mesma Exortação Apostólica. O texto em papel da Exortação (em italiano) estará à disposição dos jornalistas acreditados na Sala de Imprensa a partir das 9 horas de segunda-feira, 9 de abril.
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O Papa Francisco, em suas homilias, mensagens e documentos, vem reforçando a vocação de todos os cristãos à busca duma vida de santidade. Neste sentido, chegou a afirmar:
Todos os cristãos, enquanto batizados, têm igual dignidade diante do Senhor e são unidos na mesma vocação que é a santidade. É um dom que oferece a todos, ninguém se exclui. Por isso, constitui o caráter definitivo de cada cristão. Para ser santo, não se precisa de ser bispo, padre ou religioso, todos somos chamados a ser santos..
É com este sentimento que o Papa deseja apresentar a nova exortação apostólica sobre a santidade no mundo contemporâneo. A apresentação oficial, como foi referido, dar-se-á primeiro aos jornalistas dos 5 continentes credenciados junto da Sala de Imprensa da Santa Sé; e, depois, a todo o mundo.
Convém recordar que Francisco, neste aspeto, vem alinhado com o capítulo V da Lumen Gentium (LG), a Constituição Dogmática sobre a Igreja, intitulado “A vocação de todos à santidade na Igreja”. Pela sua pertinência e atualidade transcreve-se o seu n.º 39, com o subtítulo “Proémio: chamamento universal à santidade”:
A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefetivelmente santa. Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito o único Santo, amou a Igreja como esposa, entregou-Se por ela para a santificar (cf Ef. 5,25-26) e uniu-a a Si como Seu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de Deus. Por isso, todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: ‘esta é a vontade de Deus, a vossa santificação’ (1Ts. 4,3; cf Ef 1,4). Esta santidade da Igreja manifesta-se incessantemente, e deve manifestar-se, nos frutos da graça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daqueles que, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; aparece dum modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática destes conselhos, abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos cristãos, quer privadamente quer nas condições ou estados aprovados pela Igreja, leva e deve levar ao mundo um admirável testemunho e exemplo desta santidade.”.
Depois, o capítulo avança com outros subtítulos: Jesus, mestre e modelo; a santidade nos diversos estados; a caridade, o martírio, os conselhos evangélicos, a santidade no próprio estado. Dá-se uma palavra sobre cada um destes tópicos.
Na verdade, quem nos ensina a fundo a santidade é Jesus, que é o modelo de santidade; os outros já percorreram o caminho à imitação e sob o impulso de Jesus.
Jesus pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos discípulos, de qualquer condição, apelando: ‘sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito’ (Mt 5,48). Enviou a todos o Espírito Santo, que nos move interiormente a amarmos a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o espírito e com todas as forças (cf Mc 12,30) e a amarmo-nos uns aos outros como Cristo nos amou (cf Jo 13,34; 15,12). Assim, os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados no Senhor Jesus, não por mérito próprio, mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, pois, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam. (cf LG 40).
“Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada pelos que são conduzidos pelo Espírito de Deus e, obedientes à voz do Pai, adorando em espírito e verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde, e levando a cruz, a fim de merecerem ser participantes da Sua glória. Cada um, segundo os próprios dons e funções, deve progredir sem desfalecimento pelo caminho da fé viva, que estimula a esperança e atua pela caridade.” (LG 41).
Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele (1 Jo 4,16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por meio do Espírito Santo, que nos foi dado (cf Rm 5,5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, com que amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d’Ele. [] O martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre, que livremente aceitou a morte para salvação do mundo, e a Ele se conforma no derramamento do sangue, é considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor. [] A santidade da Igreja é também especialmente favorecida pelos múltiplos conselhos que o Senhor propõe no Evangelho aos Seus discípulos. [] Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do próprio estado. Procurem, por isso, ordenar retamente os próprios afetos, para não serem impedidos de avançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e pelo apego às riquezas, em oposição ao espírito da pobreza evangélica, segundo o conselho do Apóstolo: os que usam o mundo façam-no como se dele não usassem, pois é transitório o cenário deste mundo (1Cor 7,31). (LG 42).
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Com o anúncio da publicação da Exortação do Papa “Gaudete et Exsultate” sobre o chamamento à santidade no mundo de hoje, o Vatican News propõe alguns pronunciamentos significativos do Pontífice sobre a santidade. E Alessandro Gisotti, fazendo um apanhado dos principais momentos discursivos de Francisco sobre a Santidade, sustenta que a Igreja precisa de Santos, não de super-heróis. E refere que o Pontífice, desde a eleição à Cátedra de Pedro deu grande importância à santidade na Igreja e, em várias ocasiões, falou sobre o que define o ser Santo, tal como indicou o que não é ser Santo. A 2 de outubro de 2013, numa das audiências gerais do seu 1.º ano de Pontificado, afirmou que a Igreja “oferece a todos a possibilidade de percorrer o caminho da santidade, que é o caminho do cristão”, para o encontro com Jesus. A Igreja “não rejeita os pecadores”, acolhe-os e convida-os a que se deixem “contagiar pela santidade de Deus”. No final dessa catequese, o Papa citou o escritor francês Léon Bloy que nos últimos momentos da sua vida, dizia: “só existe uma tristeza na vida, a de não ser santo”.
Os Santos não são super-heróis, mas amigos de Deus. De facto, a 1 de novembro de 2013, na 1.ª Solenidade de Todos os Santos como Papa, Francisco frisou que os Santos são “os amigos de Deus”, porque nas suas vidas, “viveram em comunhão profunda com Deus”. Portanto, o Santo Padre traça um perfil dos Santos, explicando que “não são super-heróis, nem nasceram perfeitos”. Para o Papa, os Santos “são como nós, como cada um de nós”, “viveram uma vida normal”, mas “conheceram o amor de Deus” e o “seguiram com todo o coração, sem condições e hipocrisias”. A santidade reconhece-se por este sinal: “os Santos são homens e mulheres que têm a alegria no coração e a transmitem aos outros”. A alegria é, pois, o que distingue os Santos, ao passo que a “cara de funeral” é caraterística dos que não vivem bem a sua fé. Outra caraterística dos Santos é a humildade. Na homilia em Santa Marta, a 9 de maio de 2014, Francisco observou que São João Paulo II, “o grande atleta de Deus”, acabou aniquilado pela doença, humilhado como Jesus”. O seu testemunho mostra que a regra da santidade “é diminuir a fim de que o Senhor cresça” e por isso é precisa “a nossa humilhação”. Portanto, bem longe da imagem de pessoas com “superpoderes”. “A diferença entre os heróis e os Santos – explicou nessa homilia – é o testemunho, a imitação de Jesus Cristo: percorrer o caminho de Jesus”.
Todos os cristãos são chamados à santidade, sem excluir ninguém. Para o Pontífice, alinhado com o cap. V da Lumen Gentim, há também outro tema muito importante, “a vocação universal à santidade” sobre o que falou na audiência geral de 19 de novembro de 2014. “Todos os cristãos, enquanto batizados – sublinhou – têm igual dignidade diante do Senhor e são irmanados pela mesma vocação que é a santidade”. “A santidade é um dom – continuou – oferecido a todos, sem excluir ninguém, por isso constitui o cunho distintivo de cada cristão”. E acrescentou: “para ser Santo, não é preciso ser bispo, sacerdote ou religioso”, “não, todos somos chamados a ser Santos”.
Os Santos também têm os seus pecados, mas sabem arrepender-se e pedir perdão. Neste sentido, o Pontífice alerta para a ideia dos Santos com “cara de santinho”. É algo muito mais profundo e alimentado por gestos, “muitos pequenos passos”, que cada um pode cumprir no lugar onde vive e trabalha. Segundo as suas palavras, “cada condição de vida leva à santidade, sempre!”. A 1 de novembro de 2015, na Missa celebrada no Cemitério de Verano, elegeu a santidade como “o caminho para chegar à verdadeira felicidade”. E observou que os santos são mansos e pacientes. É o caminho da mansidão e paciência, que foi percorrido por Jesus. Em 2016, voltou a falar sobre o tema nas missas em Santa Marta. A 19 de janeiro, falando de David, referiu que também na vida dos santos há tentações e pecados. A vida do rei de Israel é eloquente sobre isso: santo e pecador. Tinha pecados, “foi até um assassino”, mas, no fim, reconheceu-os e pediu perdão. Para Francisco “não existe algum santo sem passado, mas nem pecador sem futuro”. Na missa de 24 de maio, advertiu que “a santidade não se pode comprar e nem vender”. É um dom a acolher, um dom e um caminho. “A santidade – sublinhou Francisco – é um caminho na presença de Deus” e “não pode ser feita por alguém em meu nome”, “um caminho a percorrer com coragem, esperança e com a disponibilidade de receber esta graça”.
No Twitter, o Papa exorta a que não tenhamos o medo de ser Santos. Com efeito, os Santos são “testemunhas e companheiros de esperança”. São palavras papais na audiência geral de 21 de junho de 2017. Na ocasião, disse que para ser santo “não precisa de rezar o dia todo”. A santidade está também “na doença e no sofrimento”, no trabalho e na “proteção dos filhos”. “Que o Senhor nos dê a esperança de ser Santos – foi a sua invocação – e não pensemos que é algo difícil. Podemos ser Santos porque o Senhor nos ajuda”. O Papa falou de santidade também pelas redes sociais. No Twitter, a 1 de novembro de 2017 evidenciou que “o mundo precisa de santos e todos nós, sem exceção, somos chamados à santidade”. E não devemos “ter medo” de caminhar no caminho da santidade, que é dos humildes e não dos arrogantes.
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Por fim, é referir o Motu proprio sobre a oferta da vida, caminho de santidade, uma novidade de Francisco a acrescentar às clássicas vias de acesso à Santidade canonizada: o martírio e a heroicidade de virtude.
O documento constitui uma chamada de atenção e uma exortação que ressoou também nas 15 cerimónias de canonizações celebradas por Francisco, a partir de Madre Teresa, João XXIII e João Paulo II. Também na beatificação de Paulo VI, quando Francisco chamou a atenção principalmente para a sua humildade, virtude própria das testemunhas e não dos “super-homens”. De modo significativo Francisco abriu o caminho da beatificação, também aos que, levados pela caridade, ofereceram a própria vida pelo próximo. É a temática do Motu proprio intitulado Maiorem hac dilectionem, publicado em julho de 2017, que se inicia com as palavras de Jesus tiradas do Evangelho de João: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (Jo 15,13).
Em suma, a visão de Francisco sobre a Santidade sintetiza-se no seguinte: ser amigos de Deus e do próximo até a dom da vida.
Aguardemos pela Exortação Apostólica para leitura e meditação.
2018.04.05 – Louro de Carvalho

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