Promover “uma economia
inclusiva, sustentável e participativa” é a receita do arcebispo de Dublin,
na Irlanda, Dom Diarmuid Martin, para corrigir a rota do atual modelo
económico, que produz desigualdades e novas pobrezas. E foi expressa durante a
apresentação – no dia 18 de abril, na Sala de Imprensa da Santa Sé – da
atividade da Fundação “Centesimus Annus –
Pro Pontifice”, por ocasião de seu 25.º aniversário, e do Simpósio
internacional “Novas políticas e estilo
de vida na era digital”, programado para se realizar em Roma nos dias 24 a
26 de maio próximo no Palácio da Chancelaria.
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A Fundação “Centesimus Annus – Pro Pontifice” tem
origem e nome na Carta Encíclica “Centesimus
Annus”, de São João Paulo II, de 1 de maio de 1991. Tal referência indica a
inspiração e o objetivo da instituição: uma particular adesão ao ensinamento
pontifício no campo social e um conveniente sustentáculo das numerosas
iniciativas sócio-caritativas do Santo Padre. A qualificação de “Pro Pontifice” responde aos sentimentos
de admiração e reconhecimento pela ação do Papa como Mestre e Pastor Universal.
Esta
instituição de religião e culto, constituída por quirógrafo do Papa São João
Paulo II em 5 de junho de 1993, está sediada no Estado da Cidade do Vaticano e
rege-se pelas leis canónicas em vigor na Igreja e pela lei civil em vigor na
Cidade do Vaticano, bem como nos estatutos de que foi dotada.
Sem fins
lucrativos, a Fundação – de direito Vaticano, mas aberta a todo o mundo –
persegue fins de religião e beneficência, propondo-se especificamente colaborar
no estudo e na difusão da doutrina social cristã, como vem exposta em
particular na predita Encíclica. Nestes termos, a Função Pontifícia, para
perseguir os fins indicados: promove, entre pessoas qualificadas pelo seu
empenho empreendedorista e profissional na sociedade, o conhecimento da
doutrina social cristã e a informação acerca das atividades da Santa Sé;
favorece iniciativas para desenvolver a presença e as obras da Igreja Católica
nos vários âmbitos da sociedade; e promove a recolha de fundos para o sustento
da atividade da Sé Apostólica.
Segundo o
art.º 17.º do Estatuto, “os aderentes são as pessoas físicas e jurídicas que
compartilham a finalidade da Fundação, declaram a vontade de colaborar na
prossecução da mesma, como referido acima, e se empenham através do pagamento
dum contributo anual.
São
convidados a aderir à Fundação essencialmente os empresários e profissionais
que, reconhecendo-se nos princípios expressos na doutrina social da Igreja e no
magistério Papal, desejem contribuir ativamente para a criação duma nova
cultura económica e social segundo as indicações das encíclicas “Centesimus Annus” (de 1 de maio de 1991) e “Caritas in Veritate” (de 29 de junho de 2009) e agora da “Laudato
Si’” (de 24 de maio
de 2015), bem como as
indicações da Exortação Apostólica Evangelii
Guadium (de 24 de
novembro de 2013).
Colaborando
na obra de evangelização, o empresário/profissional pode dar ao próprio
trabalho um novo espírito e novos estímulos à sua atividade. Assim, é de ter em
conta que é caraterística própria desta Fundação Pontifícia a animação
espiritual dos sócios através dos assistentes espirituais recrutados pelo
Conselho de Administração e designados pelas Conferências Episcopais dos
respetivos países. Esta animação é orientada para consecução dos fins acima
referidos e realiza-se mediante iniciativas particulares e encontros periódicos
e ocasionais.
Por isso,
tem-se trabalhado para que empresários e profissionais – europeus e não
europeus – que se reconheçam neste ideal adiram a esta instituição a fim de
contribuírem para a criação, num mundo globalizado, de uma nova cultura do agir
social. Porém, é desejável que os novos membros tenham já frequentado ou se
empenhem em frequentar um curso de formação em Doutrina Social da Igreja. Para
tanto, a Fundação organiza anualmente, desde 2000, cursos ad hoc em colaboração com a Pontifícia Universidade Lateranense e mantém
contactos com instituições que organizam análogos cursos de Doutrina Social da
Igreja noutros países. Está programado o lançamento de um curso on line em
italiano, inglês e espanhol (cf sezione “Attività centrali / Corsi di formalzione / Modalità a
distanza”).
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A Fundação, criada como oportunidade de refletir sobre
as transformações e desafios sociais decorrentes da atual economia global,
organiza periodicamente encontros de discussão sobre temas respeitantes à
Economia e Bem Comum e/ou Finança e Bem Comum, com o objetivo de produzir
material atinente à aplicação dos ensinamentos sociais da Igreja Católica.
Estes
encontros também se designam por “Processo
de Dublin” em referência ao primeiro e ao segundo encontro que decorreram
respetivamente na Cidade do Vaticano, em 2013, e em Dublin, em 2014. Em ambos
os casos, os trabalhos foram abertos por um relatório inicial de Mons. Diarmuid
Martin, Arcebispo de Dublin.
Dom Diarmuid Martin destacou problemas que
emergiram desde o lançamento da Encíclica “Centesimus
Annus” e da Fundação, como “o crescimento das desigualdades económicas e
dos níveis de corrupção”.
O Arcebispo referiu que, depois da queda
dos regimes comunistas, no final da Guerra Fria, as expectativas “foram
demasiado altas no tocante ao “desenvolvimento económico” desses países.
Pelo contrário, como apontou, “muitos dos
atuais problemas de corrupção começaram a surgir a partir desta altura, com o
comércio de armas e o tráfico de droga e de seres humanos”.
Neste contexto, Dom Diarmuid Martin sublinhou a
necessidade de uma “reflexão cuidada”, envolvendo as ciências sociais e a
Doutrina Social da Igreja, também as universidades, na busca de novos
“caminhos” de “aplicação” dos princípios humanistas defendidos pela encíclica
‘Centesimus Annus’, princípios que foram reforçados há bem pouco tempo pela
encíclica ‘Laudato si' – Cuidado pela Casa Comum’, do Papa Francisco.
E, na
apresentação das atividades da Fundação Pontifícia e do próximo simpósio
internacional, o Arcebispo de Dublin, recorda que é preciso “corrigir” o mundo
da economia, para o que é urgente olhar com atenção as causas da exclusão dos
mais pobres.
Com efeito, “construir
pontes” entre os princípios éticos que caraterizam a doutrina social da Igreja
e os desafios que os políticos e os governos estão enfrentando na situação
financeira atual é um dos compromissos desta Fundação, na esteira das
solicitações do Papa Francisco, que encoraja a “corrigir” o mundo económico
olhando para as causas da exclusão dos mais pobres.
Por isso,
como afirmou Dom Martin, “é dever dos economistas e dos políticos desenvolver e
experimentar novos modelos de economia que gerem equidade”; e reconheceu que outra
chaga a ser enfrentada é a corrupção, “difundida no mundo inteiro a nível
económico”.
E, pensando no próximo encontro mundial das famílias e tendo em conta os
grandes problemas que assolam os diversos países, o Arcebispo recordou, de
forma atualizada, as três grandes questões que
atualmente caraterizam a atividade da Fundação Centesimus Annus,
instituída por São João Paulo II, em 1993, como “um lugar aberto de debate para
promover o estudo e a difusão da doutrina social da Igreja”: o trabalho, com o
desemprego juvenil que já se tornou “uma caraterística das economias
ocidentais”; a família, objeto do próximo encontro mundial de agosto em Dublin
com o Papa; e as migrações, com seus efeitos também sobre as economias
mundiais.
Por seu
turno, Anna Maria Tarantola, membro do Conselho de administração desta Fundação
Pontifícia, disse naquela sessão de apresentação do simpósio:
“Um crescimento não inclusivo aumenta as
desigualdades, a pobreza relativa e o fluxo migratório”.
Também ficou a saber-se que o Simpósio da
Fundação se concluirá com um discurso sobre “uma agenda comum cristã para o bem comum” a ser proferido pelo
Patriarca ecuménico de Constantinopla Bartolomeu I, numa sessão presidida pelo
secretário de Estado vaticano, Cardeal Pietro Parolin. Depois, haverá uma
audiência privada com o Papa Francisco.
Entre os
oradores encontram-se expoentes da Pontifícia Academia para a Vida, da Fundação
Vaticana Gravissimum Educationis, da FAO, da Confederação europeia dos
sindicatos, além de economistas envolvidos no trabalho académico e dirigentes
empresariais.
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Além de ser urgente esbater as desigualdades sociais
e económicas, anulando ou ao menos minorando o fosso entre os poucos muitos ricos
e os muitíssimos muito pobres, e prover a que todos obtenham o necessário para
viverem com dignidade, é preciso criar condições para que a economia seja
concebida, trabalhada, avaliada, corrigida e beneficiada de forma participativa.
Só assim ela será inclusiva e sustentável e a melhoria de condições dos pobres será
consolidada. E, sendo inclusiva, sustentável, trabalhada e avaliada por todos,
será democrática e deixará de ser arma de morte.
Na verdade,
os pobres não podem esperar! – dizia Dom António Francisco dos santos.
Quase três décadas depois da publicação da Encíclica
‘Centesimus Annus’, do Papa João
Paulo II, as interpelações da Igreja Católica em áreas como a economia e o bem comum
ainda estão longe, parece que cada vez mais longe de encontrar eco no mundo.
E porquê?
2018.04.19 –
Louro de Carvalho
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