Eu também faria isso e com um desconto,
mas tenho pouca sorte, pois a mim não me convidam. Não sei se pensam que não
sei falar sobre alterações climáticas ou que não sei receber nem gastar meio
milhão de euros.
Confesso
que não criei nenhum programa sobre o clima na modalidade de aquecimento global
ou na genérica de alterações climáticas. No entanto, não ignoro o facto, as
suas causas e as medidas essenciais para a minoração do problema. Quanto a não
saber aceitar e gastar o meio milhão, também não sei se sei, dado que não tenho
experiência nem formação financeira bastante, embora garanta que não faria a
figura de um ex-ministro da Economia que ora enche as bocas do mundo, primeiro,
porque não era capaz, segundo, porque não disporia de nenhum “salgado” financiamento
e terceiro, porque não sei onde fica a Universidade de Columbia.
***
Segundo
o que avançam alguns órgãos de comunicação social, a Advanced
Leadership Foundation, fundação norte-americana que visa promover a criação
de uma rede global de futuros líderes mundiais, está a organizar, para o dia 6
de julho, no Coliseu do Porto, a conferência “Climate Change Leadership Porto 2018 Summit”, dedicada ao tema das alterações climáticas. E configura
um evento importante, mas aberto à participação, apenas por convite, de
parceiros da iniciativa. Sabe-se que uma das intenções da organização é, durante a cimeira, lançar o “Porto Protocol”,
A
fundação em referência é uma organização sem fins lucrativos com escritórios em Washington (EUA), Madrid (Espanha) e uma representação no Porto (Portugal), presidida por Adrian Bridge. E tem
desenvolvido ações no âmbito da economia verde e lançado vários projetos destinados
a novas gerações.
A
Conferência ou Cimeira tem como objetivo central encontrar soluções práticas e
testadas, umas a curto, outras a longo prazo, destinadas a contribuir para
que o setor agrícola consiga encontrar defesas para as consequências das
mudanças climáticas. É, pois, um objetivo muito centrado nas alterações
climatéricas, até pelo seu impacto na evolução das sociedades.
Os
organizadores consideram indispensável lançar esta discussão, desde logo pelas
consequências para a economia e as estruturas de produção, com particular
incidência na agricultura. Há efetivamente, neste momento, uma grande preocupação no setor
agrícola, desde logo porque as mudanças de clima estão a desencadear alterações
significativas nas temperaturas médias, na precipitação ou
a provocar episódios cada vez mais
recorrentes de extremos climáticos.
O Expresso apurou que a organização
da Cimeira vai custar cerca de um milhão de euros, sendo que metade do
orçamento será para pagar a Barack
Obama, que estará no Porto apenas durante algumas horas, para participar
na Conferência, não devendo dar entrevistas.
Na
verdade, o ex-Presidente norte-americano é o convidado como principal orador ou
será, como querem alguns, a estrela desta cimeira sobre o clima e já tem a
presença confirmada. Porém, Barack Obama não será o único laureado com
o Prémio Nobel da Paz do painel. A Mohan Munasinghe vai também marcar
presença na cimeira para alertar para o impacto que as alterações
climatéricas podem ter na evolução das nossas sociedades. E está ainda prevista
a presença e a participação da política
búlgara Irina Bokova, antiga diretora-geral da UNESCO, e do presidente da
Advanced Leadership Foundation, Juan Verde.
As
alterações do clima foram, durante a presidência de Obama, um dos temas
que decidiu combater, tendo mesmo declarado, durante a U.N. Climate Change Summit,
que “há uma questão que
definirá os contornos deste século de forma mais dramática do que qualquer
outra, e essa é a ameaça urgente e crescente de um clima em mudança”.
Nos Estados Unidos e mediaticamente no resto do mundo, Barack
Obama ficou conhecido pelos seus esforços na área das alterações climáticas.
Apesar de nem tudo ter sido positivo, assinou o acordo político histórico de 2015,
que a Administração de Trump contestou pouco depois de ter
iniciado funções. Já em 2017, antes de sair da Casa Branca, Obama anunciou a
transferência de uns segundos 500 milhões de dólares para o Fundo Climático Verde, criado
pela ONU para apoiar os países mais vulneráveis às mudanças no clima. Os
EUA comprometeram-se a transferir um total de três mil milhões, estando agora
as restantes parcelas nas mãos de Trump.
Agora, o 44.º Presidente dos EUA deverá alertar para os
impactos e desafios suscitados pelas mudanças climáticas
na agricultura, poiso evento tem um objetivo centrado no problema agrícola.
***
Entretanto,
em Setembro de 2017, Obama foi alvo de muitas críticas depois de se ter tornado
público que receberia 1,2 milhões de
dólares (quase 990 mil euros) por três discursos para grandes empresas cotadas na
bolsa norte-americana.
Também os
ganhos de Bill Clinton,
outro ex-Presidente dos EUA, com conferências já deram que falar. O antigo Chefe
de Estado americano terá amealhado cerca de 100 milhões de dólares (mais de 82
milhões de euros) com a
participação em conferências entre 2001 e 2014, de acordo com dados divulgados
pela revista “Forbes” em
Outubro de 2015.
Em 2001,
Clinton terá cobrado 125 mil dólares (cerca de 103 mil euros) pela primeira palestra que deu, após ter deixado a
Casa Branca, num evento organizado pela Morgan Stanley em Nova Iorque. Mas esse
valor depressa disparou para os 225 mil dólares (cerca de 185 mil euros). O ex-Presidente chegou a cobrar 500 mil dólares (mais de 400
mil euros) por conferência.
Segundo alguns
observadores, o cheque que Barack Obama vai receber pela conferência no Porto
até se pode considerar uma
“pechincha”, à luz da atualização da inflação. Será de perguntar se a inflação
atualizada também atingiu quem paga ou se quem paga são pessoas da classe média
que os programas governativos neoliberais quiseram arruinar.
***
Anote-se que Portugal
financiou, no ano passado, projetos para enfrentar as alterações climáticas nos
países de língua portuguesa avaliados em 1,5 milhões de euros, devendo
direcionar mais 500 mil euros até final do ano, segundo referiu o Ministério do
Ambiente.
Moçambique é o país com o
valor mais elevado, pouco mais de um milhão de euros, seguindo-se-lhe São Tomé
e Príncipe, com 318,4 mil euros, montante semelhante ao atribuído a Cabo Verde,
316,3 mil euros, como especificou o Ministério liderado por João Matos
Fernandes.
Para Timor foram
direcionados 223,1 mil euros, para a Guiné cerca de 100 mil euros e para Angola
64,6 mil euros. Em resposta a questões da agência Lusa, o Ministério apontou que, “em 2017, já foram executados cerca
de 1,5 milhões de euros e prevê-se que ainda se apliquem mais 500 mil euros até
final do ano”.
Os projetos financiados são principalmente das áreas da água, biodiversidade,
mobilidade urbana e resíduos. Os países desenvolvidos comprometeram-se a ajudar
os menos desenvolvidos a concretizar projetos com vista a reduzir as emissões
de gases com efeito de estufa e à adaptação aos efeitos das alterações
climáticas, tanto através de financiamento como de transferência de tecnologias.
No caso de Portugal, o
compromisso é alocar 10 milhões de euros até 2020 para os países de língua
portuguesa, com exceção do Brasil, ou seja, os africanos Angola, Cabo Verde,
Guiné, Moçambique e São Tomé, assim como Timor. Aquele montante é atribuído
através do Fundo Ambiental e
divide-se em cerca de 2,5 milhões de euros por ano.
Tendo em conta as metas
definidas no Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de
estufa, firmado em dezembro de 2015 e que entrou em vigor em novembro de 2016,
e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, o pilar da política de cooperação portuguesa em matéria de
ambiente são as alterações climáticas, como explicou o Ministério do Ambiente.
***
São beneméritos, democratas, experientes, mas cobram a preço de
ouro os atos de democracia, benemerência e experienciais que praticam ou de que
dão testemunho. E ainda nos querem enganar dizendo que um cheque de cerca de meio
milhão pode ser considerado uma pechincha, dada a atualização da inflação.
Por mim, não me queixo. A inflação não se atualizou e o meu
ordenado ou pensão não é uma pechincha. Vale bem mais, porque preciso dele e
parece que não sei gastar 500 mil euros. Mas, se Obama quiser discutir comigo
questões climáticas, até estarei disponível e não invejo a sua remuneração. Graças
a Deus, nenhum português me deu um cão nem me elegeu Presidente da América. É que
para tratar do cão ou para ser Presidente da América não estou disponível: poderia
a inflação atualizar-se… E, já agora, não quero ser futuro líder mundial!
2018.04.30 –
Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário