terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Dos acontecimentos de 2018 às previsões e votos para 2019


O ano que terminou é motivo de ação de graças a Deus pela vida que nele se manifestou e pelos acontecimentos que, satisfatórios, ambivalentes ou dramáticos, podem constituir lições para a humanidade e ponto de partida para a melhoria de condições de vida.
É também ocasião propícia para um balanço em que se faça levantamento de alguns factos que ocorreram e são capazes de suscitar a reflexão e, nalguns casos, as consequentes ilações.
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Assim, a nível internacional são de destacar os seguintes factos:
- Em Cuba, Raúl Castro saiu da presidência e quem assumiu esse alto cargo foi um civil, Miguel Díaz-Canel, eleito com 99,83% dos votos dos deputados à Assembleia Nacional. Engenheiro e professor universitário, o líder, que não conheceu Cuba sem a liderança dos Castro, herdou um país com a economia estagnada, um embargo norte-americano de mais de cinco décadas e uma população que aguarda pela abertura económica. E a abertura política não surgirá?
- As eleições italianas trouxeram uma novidade: os partidos antissistema, o Movimento 5 Estrelas e a Liga ultrapassaram a barreira dos 50% dos votos. E o Governo da Itália faz um braço de ferro com Bruxelas em termos orçamentais. Qual a parte que vai torcer?
- Em Espanha, o Governo de Ragoy caiu nas Cortes e deu lugar ao executivo presidido de Pedro Sanchez. Por seu turno, o Governo catalão tomou posse mais de 5 meses após as eleições regionais depois de o novo presidente Quim Torra deixar cair os nomes dos políticos a contas com a justiça, mas, querendo, conversar com o Primeiro-Ministro Pedro Sanchez, não abdica do secessionismo.
- No Brasil, Lula da Silva, o antigo chefe de Estado que aparecia à frente dos seus adversários nas sondagens de intenção de voto sobre as eleições presidenciais, cumpre a pena de 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e branqueamento de capitais, considerado culpado por ter recebido um apartamento no litoral de São Paulo como luvas da construtora OAS para a favorecer em contratos com a Petrobrás. Segundo alguns observadores, a condenação resultou de delação premiada, sem qualquer prova documental ou prova testemunhal concludente.
- Também no Brasil, Jair Messias Bolsonaro foi eleito 38.º Presidente com 57.765.131 votos (55,15%), enquanto Fernando Haddad conquistou 46.969.763 votos (44,85%), pelos vistos em processo similar com o que levou Trump à Casa Branca e em resultado da forte judicialização da política brasileira, que levou à destituição de Dilma Rouseff e à prisão de Lula.
- O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in e o líder norte-coreano, Kim Jon-un, encontraram-se e iniciaram conversações para a paz na península, o que levou a um encontro com Trump em Singapura e ao pedido ao Papa, através do Chefe de estado sul-coreano, para visitar o país. Pensa-se que a abertura da China à economia de mercado estará a inspirar Kim Jon-un.
- Em Itália, um troço da ponte Morandi, na cidade de Génova, com cerca de 100 metros colapsou, arrastando carros e camiões e esmagando várias dezenas pessoas – o que levou a duvidar da engenharia da construção e a questionar a longa durabilidade deste tipo de pontes, bem como a instalação subjacente e adjacente de habitações.
- Em França, a contestação do movimento dos coletes amarelos pôs em sentido o governo de Macron por motivos mais que aceitáveis, mas através de métodos nitidamente censuráveis, o que dá para pensar nas consequências de não se escutar o grito dos cidadãos.
- O Reino Unido obteve acordo satisfatório com a UE no âmbito do Brexit, mas o Parlamento (mesmo do lado dos partidários de May), persiste no braço de ferro com a Primeira-Ministra.
- A 21.ª edição do Campeonato Mundial de Futebol, que a França venceu, foi das melhores da História do Futebol. Gianni Infantino, presidente da FIFA, disse que a Rússia mudou, se tornou um verdadeiro país futebolístico, com 98% de ocupação dos estádios e um milhão de adeptos estrangeiros a acorrer ali; os estádios estiveram cheios; o ambiente foi positivo; os receios de violência não se confirmaram; e o entusiasmo não esmorece, estando na agenda a discussão do alargamento para 48 equipas e a eventual aplicação dessa medida já no Qatar 2022. 
- Celebrou-se, a 18 de julho, o centenário do nascimento de Nelson Mandela.
- O Vaticano celebrou um Acordo Provisório com a China sobre a nomeação dos Bispos (a última palavra pertence ao Papa) para contribuir para a vida da Igreja na China, em benefício dos chineses e da paz no mundo – objetivo pastoral, não político. A Secretaria do Sínodo dos Bispos publicou o texto do Documento Final (e as votações) da 15.ª assembleia geral do sínodo que foi dedicada ao tema “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que decorreu entre 3 e 28 de outubro.
- O Papa visitou o Chile e o Peru; fez a peregrinação ecuménica a Genebra, visitou a Irlanda no âmbito do IX  Encontro Mundial das Famílias; visitou as três repúblicas Bálticas, no centenário das suas independências; e canonizou, entre outros, Paulo VI e Oscar Romero.  
- A 10 de dezembro, passou o 70.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Altos funcionários das Nações Unidas, governos e sociedade civil participaram em celebrações que acontecem em todo o mundo. Para assinalar a data, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que todas as pessoas têm o dever de “defender os direitos humanos para todos, em todos os lugares”. Por seu turno, o Papa, no discurso ao Corpo Diplomático, afirmou que muitos direitos fundamentais são ainda hoje violados: “o primeiro entre todos, o da vida, da liberdade e da inviolabilidade de todo ser humano”.
- E, a 11 de novembro, reuniram-se mais de 70 Chefes de Estado em Paris, para lembrar os 100 anos do  armistício da 1.ª Guerra Mundial (1914-1918), conflito que levou à reconfiguração de toda a Europa e impôs uma série de derrotas aos alemães – que, 21 anos mais tarde, invadiriam a Polónia e iniciariam o genocídio nazista da 2.ª Guerra Mundial.
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Em Portugal, é de destacar:
- A 1 de janeiro, quebrando a tradição por se encontrar a recuperar da cirurgia a uma hérnia umbilical, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, proferiu em direto a Mensagem de Ano Novo a partir de sua casa, em Cascais.
- Em 13 de janeiro, Rui Rio, agora tão criticado, foi eleito presidente do PSD com 54,37% dos votos, com uma diferença de cerca de 10% para Pedro Santana Lopes, pelo que o antigo Presidente da Câmara do Porto se tornou o 18.º presidente do PSD desde o 25 de Abril de 1974, sucedendo a Pedro Passos Coelho, eleito em 2010.
- A 15 de janeiro, foi sentido em quase todo o país um sismo de magnitude 4.9, que teve o seu epicentro perto de Arraiolos.
- No dia 1 de fevereiro, o quadro A Anunciação (c. 1430), do pintor Álvaro Pires de Évora, foi comprado em leilão pelo Estado português, com destino ao Museu Nacional de Arte Antiga.
- De 6 a 10 de fevereiro, uma vaga de frio atingiu o país, tendo a temperatura atingido os 7 graus negativos em Carrazeda de Ansiães.
- A 20 de fevereiro, um autocarro turístico bateu contra uma árvore, em Lisboa, tendo resultado do acidente 12 feridos.
- A 21 de fevereiro, ficou evidenciado o agravamento da seca, devido à falta de chuva.
- De 8 a 12 de maio, realizou-se, no Altice Arena, em Lisboa, o Festival Eurovisão da Canção 2018, que Israel venceu pela voz de Netta Barzilai, com a canção “Toy”.
- A 15 de maio, a Academia do Sporting Clube de Portugal, em Alcochete,  foi alegadamente atacada por alguns adeptos, tendo sido brutalmente atacados e agredidos alguns jogadores do clube como Bas Dost e Jorge Jesus, o treinador da época. Como consequência, 40 pessoas foram detidas, o presidente da altura foi destituído numa Assembleia Geral no Altice Arena e diversos jogadores do clube e os treinadores denunciaram os contratos.
- No dia 28 de junho, no decurso da notícia dada no dia de Pentecostes (20 de maio), Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, foi criado cardeal com o título de Santa Maria sobre Minerva, com mais 13 bispos, pelo Papa Francisco numa cerimónia realizada no Vaticano.
- De 3 a 10 de agosto, esteve ativo o incêndio de Monchique, o maior fogo do ano na Europa.
- A 13 de outubro, o furacão Leslie fez o landfall  (é quando um ciclone tropical ou uma tromba de água se move sobre terra depois de estar sobre água) pelas 22 horas na zona centro sendo a terceira vez que um furacão atingiu o território continental português, sendo este o mais forte desde 1842.
- No dia 19 de novembro, houve uma derrocada na Estrada municipal n.º 255, que liga Borba a Vila Viçosa, com arrastamento de trabalhadores e passageiros para dentro de uma pedreira”, acidente de que resultaram 4 vítimas mortais, mercê de irresponsabilidades várias.
- A 11 de dezembro, quando ainda faltavam cerca de três semanas para o final de 2018, foi batido o recorde de mortes em Portugal, tornando-se o ano com mais mortes de sempre (108 000) ou seja, desde que há registo.
- A 14 de dezembro, um helicóptero do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) despenhou-se em Valongo, na Serra de Santa Justa e de Pias. Morreram os 4 ocupantes da aeronave que regressavam dum transporte de emergência entre Macedo de Cavaleiros e o Hospital de Santo António, no Porto.
- A 23 de dezembro, Marvi (Maria Vitória de seu nome), que veio de Timor-Leste com o sonho de cantar em Portugal, saiu vencedora da 6.ª temporada do The Voice Portugal, depois de “medir forças” com Diana Castro, a outra finalista da mentora Marisa Liz. De facto, o público preferiu Marvi, com o seu olhar doce, o seu inesgotável gosto pela música e a suas capacidades vocais de timbre, caixa-de-ressonância, modulação de voz e capacidade de domínio na extensão de intervalo de graus da melodia. Foi um significativo abraço entre Portugal e Timor-Leste – dum ao outro extremo do mundo.
- São ainda de realçar as polémicas alterações legislativas ao Código do Trabalho e a bem ambígua legislação sobre a descentralização; a morte dos políticos Rui Pena, Edmundo Pedro, Varela Gomes, Calvão da Silva, António Arnaut, João Semedo (estes dois autores dum opúsculo com uma proposta de Lei de Bases da Saúde), José Manuel Tengarrinha, entre outros; as mortes do Padre Dâmaso Lambers e do Bispo Dom António José Rafael; a provisão de bispos para as dioceses do Porto, de Évora, de Viseu e das Forças Armadas e de Segurança; e, no Santuário de Fátima, a sua abertura à Ásia e o início da formação sobre o aprofundamento do Rosário.
Destes factos, uns são motivo de ação de graça e outros dão que pensar na área do bem comum.
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No atinente ao ano de 2019, ora iniciado, limito-me a uma pequena previsão com votos de êxito, nalguns casos, e reversão, noutros, e esperando sempre as bênçãos e a misericórdia de Deus.
Putin continuará a estratégia de dividir para reinar; as eleições europeias (de 23 a 26 de maio) levarão mais antieuropeístas e eurocéticos ao Parlamento Europeu, sob os efeitos do Brexit (supondo que não haverá novo referendo); a China seguirá caminho de afirmação no mundo e Trump continuará a ser Trump, se sobreviver aos tumultos judiciais que o envolvem.
Este ano, passarão os 525 anos da primeira missa celebrada na América; decorre o V centenário do início da viagem de Fernão de Magalhães e o V centenário da morte de Leonardo da Vinci; os 250 anos do nascimento de Napoleão; os 150 de Mahatma Gandhi e de Calouste Gulbenkian; os 100 de Sophia; o meio século do primeiro homem na Lua, do Festival de Woostock e da Crise Académica de Coimbra; os 20 anos da morte de Amália, da entrega de Macau e do euro. 
Há 30 anos, celebrou-se o primeiro casamento entre homossexuais, na Dinamarca; Tim Berners-Lee inventou a internet num laboratório do CERN, na Suíça; The Simpsons estreavam-se na televisão; e caía o muro de Berlim. 
Resta saber o que se espera do 1.º ano de mandato de Bolsonaro, que hoje toma posse como Presidente do Brasil; se efetivamente o ano judicial levará a julgamento arguidos como Sócrates e Salgado; que Brexit teremos (se é que o teremos), com ou sem acordo com a UE; se as eleições europeias, de 26 de maio, darão um trunfo ao Aliança, de Santana Lopes, preservarão o projeto europeu e se aproximarão a UE dos cidadãos; se as eleições para os órgãos da Região Autónoma da Madeira, a 22 de setembro, manterão a atual correlação de forças ou se delas resultarão mudanças significativas; e se as legislativas de 6 de outubro darão a algum partido uma maioria clara ou se o futuro chefe do Governo terá de encontrar uma solução semelhante à atual (à esquerda ou à direita). Tudo o que se deseja é que o bem-estar dos países, a dignidade e a cidadania das pessoas sejam respeitados, incrementados e se tornem a prioridade de todos, mormente de quem governa. Por isso, impõe-se a clarificação de todas as dúvidas que pairam no horizonte.
Seja como for, importa que a abstenção seja reduzida o mais possível e, como diz o Cardeal-Patriarca de Lisboa, “que as pessoas participem mesmo, que tenham consciência que o projeto europeu” e que haja “informação, participação, discernimento, campanhas eleitorais bem feitas, programas claros, melhor ligação entre deputados e a população”, de modo que tudo “resulte numa votação com mais consciência e mais determinada, não só à volta deste ou daquele político que possa aparecer, mas do que realmente se dispõe a fazer e [com que] se compromete”.
Quereria mão pesada do poder judicial para a violência doméstica e do namoro, para o crime organizado e para o crime violento, para a corrupção e crimes conexos, para a batota de deputados, governantes, magistrados e empresários, para a mascaração de muita das declarações de rendimentos – tal como desejava que as leis deixassem de ser ambíguas dando para o que os interessados quiserem, sejam as de limitação de mandatos, sejam as de perda de mandato ou de exigência de demissão, sejam as leis processuais (com excesso de garantia e até denegação de provas).
Porém, há prenúncios de que algo irá bem. Saliento o 41.º Encontro Europeu de Jovens em Madrid, que hoje terminou, iniciativa da Comunidade ecuménica de Taizé, sob o tema “Não esqueçamos a hospitalidade!”, bem como a próxima Jornada Mundial da Juventude no Panamá e o Ano Missionário promovido pela nossa Conferência Episcopal, que vai até outubro, bem como toda a programação do Santuário de Fátima e das dioceses e institutos religiosos.
2019.01.01 – Louro de Carvalho

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