O ano
que terminou é motivo de ação de graças a Deus pela vida que nele se manifestou
e pelos acontecimentos que, satisfatórios, ambivalentes ou dramáticos, podem
constituir lições para a humanidade e ponto de partida para a melhoria de
condições de vida.
É também
ocasião propícia para um balanço em que se faça levantamento de alguns factos
que ocorreram e são capazes de suscitar a reflexão e, nalguns casos, as
consequentes ilações.
***
Assim, a
nível internacional são de destacar os seguintes factos:
- Em
Cuba, Raúl Castro saiu da presidência e quem assumiu esse alto cargo foi um
civil, Miguel Díaz-Canel, eleito com 99,83% dos votos dos deputados à
Assembleia Nacional. Engenheiro e professor universitário, o líder,
que não conheceu Cuba sem a liderança dos Castro, herdou um país
com a economia estagnada, um embargo norte-americano de mais de cinco
décadas e uma população que aguarda pela abertura económica. E a abertura
política não surgirá?
- As eleições italianas
trouxeram uma novidade: os partidos antissistema, o Movimento 5 Estrelas e a
Liga ultrapassaram a barreira dos 50% dos votos. E o Governo da Itália faz um
braço de ferro com Bruxelas em termos orçamentais. Qual a parte que vai torcer?
- Em Espanha, o Governo de Ragoy caiu
nas Cortes e deu lugar ao executivo presidido de Pedro Sanchez. Por seu turno,
o Governo catalão tomou posse mais de 5 meses após as eleições regionais depois
de o novo presidente Quim Torra deixar cair os nomes dos políticos a contas com
a justiça, mas, querendo, conversar com o Primeiro-Ministro Pedro Sanchez, não
abdica do secessionismo.
- No Brasil, Lula da Silva, o
antigo chefe de Estado que aparecia à frente dos seus adversários nas sondagens
de intenção de voto sobre as eleições presidenciais, cumpre a pena de 12 anos e
um mês de prisão pelos crimes de corrupção e branqueamento de capitais, considerado
culpado por ter recebido um apartamento no litoral de São Paulo como luvas da
construtora OAS para a favorecer em contratos com a Petrobrás. Segundo alguns
observadores, a condenação resultou de delação premiada, sem qualquer prova
documental ou prova testemunhal concludente.
- Também no Brasil, Jair Messias Bolsonaro foi eleito 38.º
Presidente com 57.765.131 votos (55,15%), enquanto Fernando Haddad conquistou 46.969.763 votos (44,85%), pelos vistos
em processo similar com o que levou Trump à Casa Branca e em resultado da forte
judicialização da política brasileira, que levou à destituição de Dilma Rouseff
e à prisão de Lula.
- O
Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in e o líder norte-coreano, Kim Jon-un,
encontraram-se e iniciaram conversações para a paz na península, o que levou a
um encontro com Trump em Singapura e ao pedido ao Papa, através do Chefe de
estado sul-coreano, para visitar o país. Pensa-se que a abertura da China à
economia de mercado estará a inspirar Kim Jon-un.
- Em Itália, um troço da ponte
Morandi, na cidade de Génova, com cerca de 100 metros colapsou, arrastando
carros e camiões e esmagando várias dezenas pessoas – o que levou a duvidar da
engenharia da construção e a questionar a longa durabilidade deste tipo de
pontes, bem como a instalação subjacente e adjacente de habitações.
- Em França, a contestação do movimento dos coletes amarelos
pôs em sentido o governo de Macron por motivos mais que aceitáveis, mas através
de métodos nitidamente censuráveis, o que dá para pensar nas consequências de
não se escutar o grito dos cidadãos.
- O Reino Unido obteve acordo satisfatório com a UE no âmbito
do Brexit, mas o Parlamento (mesmo do lado dos
partidários de May), persiste no braço de ferro com a Primeira-Ministra.
- A 21.ª edição do Campeonato Mundial de Futebol, que a
França venceu, foi das melhores da História do Futebol. Gianni
Infantino, presidente da FIFA, disse que a Rússia mudou, se tornou um
verdadeiro país futebolístico, com 98% de ocupação dos estádios e um milhão de
adeptos estrangeiros a acorrer ali; os estádios estiveram cheios; o ambiente
foi positivo; os receios de violência não se confirmaram; e o entusiasmo não
esmorece, estando na agenda a discussão do alargamento para 48 equipas e a
eventual aplicação dessa medida já no Qatar 2022.
- Celebrou-se, a 18 de julho, o centenário do nascimento de
Nelson Mandela.
- O
Vaticano celebrou um Acordo Provisório
com a China sobre a nomeação dos Bispos (a última palavra pertence ao Papa) para contribuir para a vida da Igreja na China, em
benefício dos chineses e da paz no mundo – objetivo pastoral, não político. A Secretaria do
Sínodo dos Bispos publicou o texto do Documento Final (e as votações) da 15.ª assembleia geral do sínodo que foi dedicada ao tema
“os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, que decorreu entre 3 e 28 de
outubro.
- O Papa visitou o Chile e o Peru; fez a peregrinação
ecuménica a Genebra, visitou a Irlanda no âmbito do IX Encontro Mundial
das Famílias; visitou as três repúblicas Bálticas, no centenário das suas
independências; e canonizou, entre outros, Paulo VI e Oscar Romero.
- A 10 de
dezembro, passou o 70.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Altos funcionários das Nações Unidas, governos e sociedade civil
participaram em celebrações que acontecem em todo o mundo. Para assinalar a
data, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que todas as pessoas
têm o dever de “defender os direitos humanos para todos, em todos os lugares”.
Por seu turno, o Papa, no discurso ao Corpo Diplomático, afirmou que muitos
direitos fundamentais são ainda hoje violados: “o primeiro entre todos, o da
vida, da liberdade e da inviolabilidade de todo ser humano”.
- E, a
11 de novembro, reuniram-se mais de
70 Chefes de Estado em Paris, para lembrar os 100 anos do armistício
da 1.ª Guerra Mundial (1914-1918),
conflito que levou à reconfiguração de toda a Europa e impôs uma
série de derrotas aos alemães – que, 21 anos mais tarde, invadiriam a Polónia
e iniciariam o genocídio nazista da 2.ª Guerra Mundial.
***
Em
Portugal, é de destacar:
- A 1 de
janeiro, quebrando a tradição por se encontrar a recuperar da cirurgia a
uma hérnia umbilical, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de
Sousa, proferiu em direto a Mensagem
de Ano Novo a partir de sua casa, em Cascais.
- Em 13
de janeiro, Rui Rio, agora tão criticado, foi eleito
presidente do PSD com 54,37% dos votos, com uma diferença de cerca de 10% para
Pedro Santana Lopes, pelo que o antigo Presidente da Câmara do Porto se
tornou o 18.º presidente do PSD desde o 25 de
Abril de 1974, sucedendo a Pedro Passos Coelho, eleito em 2010.
- A 15
de janeiro, foi sentido em quase todo o país um sismo de magnitude 4.9, que
teve o seu epicentro perto de Arraiolos.
- No dia
1 de fevereiro, o quadro A
Anunciação (c. 1430), do pintor Álvaro Pires de Évora, foi
comprado em leilão pelo Estado português, com destino ao Museu Nacional de
Arte Antiga.
-
De 6 a 10 de fevereiro, uma vaga de frio atingiu o país, tendo a temperatura atingido
os 7 graus negativos em Carrazeda de Ansiães.
-
A 20 de fevereiro, um autocarro turístico bateu contra uma árvore, em Lisboa,
tendo resultado do acidente 12 feridos.
-
A 21 de fevereiro, ficou evidenciado o agravamento da seca, devido à falta de
chuva.
-
De 8 a 12 de maio, realizou-se, no Altice Arena, em Lisboa, o Festival Eurovisão da Canção 2018, que Israel
venceu pela voz de Netta Barzilai,
com a canção “Toy”.
-
A 15 de maio, a Academia do Sporting Clube de Portugal, em Alcochete, foi
alegadamente atacada por alguns adeptos, tendo sido brutalmente atacados e
agredidos alguns jogadores do clube como Bas Dost e Jorge Jesus, o treinador
da época. Como consequência, 40 pessoas foram detidas, o presidente da altura
foi destituído numa Assembleia Geral no Altice Arena e diversos jogadores do
clube e os treinadores denunciaram os contratos.
-
No dia 28 de junho, no decurso
da notícia dada no dia de Pentecostes (20 de maio), Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, foi criado
cardeal com o título de Santa Maria sobre Minerva, com mais 13 bispos, pelo
Papa Francisco numa cerimónia realizada no Vaticano.
- De 3 a 10
de agosto, esteve ativo o incêndio de Monchique, o maior fogo do ano na Europa.
-
A 13 de outubro, o furacão Leslie fez
o landfall (é quando um ciclone tropical ou uma tromba de água se move
sobre terra depois de estar sobre água) pelas 22 horas na zona centro sendo a terceira vez
que um furacão atingiu o território continental português, sendo este o mais
forte desde 1842.
-
No dia 19 de novembro, houve uma derrocada na Estrada municipal n.º 255, que
liga Borba a Vila Viçosa, com arrastamento
de trabalhadores e passageiros para dentro de uma pedreira”, acidente de que resultaram
4 vítimas mortais, mercê de irresponsabilidades várias.
-
A 11 de dezembro, quando ainda faltavam cerca de três semanas para o final
de 2018, foi batido o recorde de mortes em Portugal, tornando-se o
ano com mais mortes de sempre (108 000) ou seja, desde que há registo.
-
A 14 de dezembro, um helicóptero do INEM (Instituto
Nacional de Emergência Médica)
despenhou-se em Valongo, na Serra de Santa Justa e de Pias. Morreram os 4
ocupantes da aeronave que regressavam dum transporte de emergência entre Macedo de
Cavaleiros e o Hospital de Santo António, no Porto.
-
A 23 de dezembro, Marvi (Maria Vitória de seu nome), que veio de Timor-Leste com o
sonho de cantar em Portugal, saiu vencedora da 6.ª temporada do The
Voice Portugal, depois de “medir forças” com Diana Castro, a outra
finalista da mentora Marisa Liz. De facto, o público preferiu Marvi, com o seu
olhar doce, o seu inesgotável gosto pela música e a suas capacidades vocais de
timbre, caixa-de-ressonância, modulação de voz e capacidade de domínio na
extensão de intervalo de graus da melodia. Foi um significativo abraço entre
Portugal e Timor-Leste – dum ao outro extremo do mundo.
- São ainda
de realçar as polémicas alterações legislativas ao Código do Trabalho e a bem
ambígua legislação sobre a descentralização; a morte dos políticos Rui Pena,
Edmundo Pedro, Varela Gomes, Calvão da Silva, António Arnaut, João Semedo (estes dois autores dum opúsculo com
uma proposta de Lei de Bases da Saúde), José Manuel Tengarrinha, entre outros; as mortes do Padre
Dâmaso Lambers e do Bispo Dom António José Rafael; a provisão de bispos para as
dioceses do Porto, de Évora, de Viseu e das Forças Armadas e de Segurança; e,
no Santuário de Fátima, a sua abertura à Ásia e o início da formação sobre o aprofundamento
do Rosário.
Destes factos,
uns são motivo de ação de graça e outros dão que pensar na área do bem comum.
***
No atinente
ao ano de 2019, ora iniciado, limito-me a uma pequena previsão com votos de êxito,
nalguns casos, e reversão, noutros, e esperando sempre as bênçãos e a misericórdia
de Deus.
Putin continuará a
estratégia de dividir para reinar; as eleições europeias (de 23 a 26 de maio) levarão mais
antieuropeístas e eurocéticos ao Parlamento Europeu, sob os efeitos do Brexit (supondo que não haverá
novo referendo);
a China seguirá caminho de afirmação no mundo e Trump continuará a
ser Trump, se sobreviver aos tumultos judiciais que o
envolvem.
Este ano, passarão os
525 anos da primeira missa celebrada na América; decorre o V centenário do início da
viagem de Fernão de Magalhães e o V centenário da morte de Leonardo
da Vinci; os 250 anos do nascimento de Napoleão; os 150 de Mahatma Gandhi e de Calouste
Gulbenkian; os 100 de Sophia; o meio século do primeiro homem na Lua, do Festival de Woostock e da Crise Académica de
Coimbra; os 20 anos da morte de Amália, da entrega de Macau e do euro.
Há 30 anos, celebrou-se o primeiro casamento entre
homossexuais, na Dinamarca; Tim Berners-Lee inventou a internet num laboratório do CERN, na Suíça; The Simpsons estreavam-se na
televisão; e caía o muro de Berlim.
Resta saber o que se espera do 1.º ano de mandato de Bolsonaro, que hoje toma posse como
Presidente do Brasil; se efetivamente o ano judicial levará a julgamento arguidos
como Sócrates e Salgado; que Brexit teremos (se é que o teremos), com ou sem acordo com
a UE; se as eleições europeias, de 26 de maio, darão um trunfo ao Aliança, de Santana Lopes, preservarão o
projeto europeu e se aproximarão a UE dos cidadãos; se as eleições para os órgãos
da Região Autónoma da Madeira, a 22 de setembro, manterão a atual correlação de
forças ou se delas resultarão mudanças significativas; e se as legislativas de
6 de outubro darão a algum partido uma maioria clara ou se o futuro chefe do Governo
terá de encontrar uma solução semelhante à atual (à esquerda ou à direita). Tudo o que se deseja é
que o bem-estar dos países, a dignidade e a cidadania das pessoas sejam
respeitados, incrementados e se tornem a prioridade de todos, mormente de quem
governa. Por isso, impõe-se a clarificação de todas as dúvidas que pairam no
horizonte.
Seja como for, importa que a abstenção seja reduzida o mais possível
e, como diz o Cardeal-Patriarca de Lisboa, “que
as pessoas participem mesmo, que tenham consciência que o projeto europeu”
e que haja “informação, participação,
discernimento, campanhas eleitorais bem feitas, programas claros, melhor
ligação entre deputados e a população”, de modo que tudo “resulte numa votação com
mais consciência e mais determinada, não só à volta deste ou daquele político
que possa aparecer, mas do que realmente se dispõe a fazer e [com que] se
compromete”.
Quereria mão pesada do poder judicial para a violência doméstica e
do namoro, para o crime organizado e para o crime violento, para a corrupção e
crimes conexos, para a batota de deputados, governantes, magistrados e
empresários, para a mascaração de muita das declarações de rendimentos – tal como
desejava que as leis deixassem de ser ambíguas dando para o que os interessados
quiserem, sejam as de limitação de mandatos, sejam as de perda de mandato ou de
exigência de demissão, sejam as leis processuais (com excesso de garantia e até
denegação de provas).
Porém, há prenúncios de que algo irá bem. Saliento o 41.º Encontro Europeu de Jovens em
Madrid, que hoje terminou, iniciativa da Comunidade ecuménica de Taizé, sob o
tema “Não esqueçamos a hospitalidade!”,
bem como a próxima Jornada Mundial da Juventude
no Panamá e o Ano Missionário promovido pela nossa Conferência Episcopal, que vai
até outubro, bem como toda a programação do Santuário de Fátima e das dioceses
e institutos religiosos.
2019.01.01 –
Louro de Carvalho
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