É uma asserção de Dom Nuno Brás da Silva Martins, de 55
anos, até agora Bispo titular de Elvas e auxiliar do Patriarcado de Lisboa e
hoje eleito Bispo da Diocese do Funchal, a significar a forma algo
despreocupada com que respondeu à provocação dos entrevistadores.
Depois de a Diocese do Funchal ter sido pastoreada por
um bispo que fora auxiliar do Porto, Dom António José Cavaco Carrilho (presidiu
à diocese desde 7 de março de 2007), cabe agora o encargo da sucessão a bispo auxiliar
de Lisboa, metrópole de que Funchal é diocese sufragânea.
Numa
primeira mensagem à Diocese do Funchal, saúda “as muitas comunidades” do
arquipélago madeirense que, “na região ou no estrangeiro, louvam o Senhor
e procuram viver o Evangelho”, que ele se propõe pregar com ousadia e coragem. Deixa uma palavra de “especial gratidão” aos dois
anteriores responsáveis por aquelas comunidades católicas: Dom António
Carrilho, que serve o território desde 2007, e Dom Teodoro de Faria, que ali
trabalhou durante 25 anos, entre 1982 e 2007. Confia
o seu novo ministério à intercessão de Nossa Senhora do Monte e do
Apóstolo São Tiago Menor, padroeiros da Diocese do Funchal, e do Beato Carlos
de Áustria. Expressa a sua proximidade “a todos os sacerdotes
que servem a diocese, bem como aos membros das famílias religiosas que, na
Madeira, dão testemunho de uma total consagração a Jesus” e a “todas as
autoridades civis e militares, em particular aqueles que foram eleitos pelos
madeirenses como seus legítimos representantes”. E diz:
“Agora
cabe-nos a nós a missão de sermos testemunhas da vida nova que Jesus oferece
sempre e a todos. É dessa vida que o bispo deve ser a primeira testemunha. É
dessa vida nova – o Evangelho – que quero dar testemunho, enquanto Deus me der
forças e saúde. Sempre e em toda a parte.”.
A entrada
solene está marcada para dia 17 de fevereiro a partir das 16 horas, na Sé local.
Por sua vez, Dom António
Carrilho, saudou Dom Nuno Brás, seu sucessor à frente da comunidade católica
madeirense, e pediu para que ele seja acolhido pelo povo e pelo clero “com
alegria e total disponibilidade”.
No termo da sua missão pastoral à frente da Diocese, agradece “a
todos os seus colaboradores, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, aos
jovens e a todo o Povo de Deus, a preciosa colaboração que lhe prestaram nos
diversos ministérios e serviços eclesiais”. E não esquece “os idosos e doentes,
que pela oração e sacrifício, também o ajudaram neste serviço pastoral”.
***
Hoje mesmo foi publicada uma entrevista sua à Rádio Renascença e à agência Ecclesia, conduzida
por Ângela Roque, da Renascença, e José Carlos Patrício, da Ecclesia, em que o novo Bispo do Funchal
diz que a nomeação do Papa “foi e não foi” uma surpresa, refere a realidade
social do arquipélago e diz que deseja visitar Porto Santo, que ainda não
conhece.
Disse acolher a nomeação “com temor e com confiança”. Com efeito tem
consciência das suas “limitações”, não valendo a pena fingir, mas tem
confiança, porque foi o Papa quem o “escolheu”: confia no Papa e, sobretudo,
confia no senhor Jesus, certo de que “Ele não vai abandonar aqueles que escolhe”.
A razão por que sustenta que
a surpresa não foi total tem a ver com o facto de várias pessoas se terem
abeirado dele aventando a
possibilidade do Funchal, mas o momento, disse, “acaba sempre por ser depois um
momento inesperado”.
Interpelado quanto ao modo como
“um bispo jornalista, comunicador” (é também diplomado em Comunicação Social) disse que espera “conquistar
os corações das comunidades madeirenses”, reagiu sem papas na língua e com
simplicidade: sendo pastor e estando como pastor. E, neste contexto, assume-se como “sucessor dos
apóstolos que está, que anuncia o Evangelho e que procura inserir-se naquilo
que é uma história de 500 anos”, que respeita, e numa geografia humana em que procura
conhecer as pessoas. E, sobre essa história de 500 anos, discorreu:
“A diocese do Funchal celebrou há pouco
tempo os 500 anos da sua existência, uma longa história de fé, portanto
inserindo-me nesta história, respeitando-a certamente, e depois conhecendo as
pessoas, estando com elas e anunciando o Evangelho com toda a ousadia e
coragem. Quer dizer, se São Paulo estivesse à espera de conhecer Atenas ou
Corinto nunca lá teria ido, portanto eu vou assim também com esta ousadia.”.
E apontou um fator que pode capitalizar em seu
proveito e das gentes que vai pastorear: o
facto de conhecer uma boa parte do presbitério do Funchal. E declarou a
este respeito:
“Há uma coisa que é importante, que é o
facto de eu conhecer uma boa parte do presbitério do Funchal, porque ou foram
meus colegas ou foram meus discípulos, a quem ensinei teologia e com quem
estive nos tempos de seminário. Penso que isso será importante também para uma
maneira de estar e para poder estar com algum à vontade de quem conhece, não a
diocese no seu todo, mas grande parte do clero madeirense.”.
Tendo-lhe os entrevistadores
apontado as suas crónicas como uma forma de comunicar a que habituou o público nos
últimos anos (e recentemente lançou o
livro “Cenas de Deus - Retratos e Coisas da Vida”, que reúne algumas) e tendo-o questionado se
como Bispo do Funchal também pretende comunicar dessa forma, foi cauteloso, advertindo
que escrever crónicas se tornara um
vício, sendo que, mesmo em férias, com facilidade pensava em temas, em modos de
abordar assuntos. Mas agora ainda não sabe dizer se é para continuar: tudo
dependerá da avaliação que fizer do contexto. E confessou:
“Terei de fazer uma análise cuidada em
relação àquilo que é a realidade da Diocese, em relação aos meios de
comunicação de que a diocese dispõe, em relação aos meios de comunicação onde o
bispo poderá entrar eventualmente. Quer dizer, não é necessário que estas
crónicas sejam no órgão da diocese. Não sei, vamos ver. Mas, sendo um hábito
agradável este de escrever, de olhar para a realidade e de escrever sobre ela,
talvez sim. Vamos ver o que é que a prudência e o discernimento dizem quando eu
lá chegar.”
***
Na verdade, a questão levantada
sobre como encara a particularidade de ir ser um bispo numa ilha e o que isso
também significa para ele é provocatória. E a resposta começou por ser
categórica, assim quase à laia de Fernando Pessoa: significa que há horizontes… é importante vermos o mar “não como uma realidade
que separa, mas com uma realidade que une”; que vai de “uma diocese que
confina com a diocese do Funchal”. E poderia ter dito que Funchal é sufragânea da
metrópole lisbonense. Porém, rejeitando qualquer síndrome de claustrofobia e
apontando uma visão global a partir da inserção local e o sentido da transcendência,
explanou:
“Muitas vezes ao longo de toda a minha vida,
daqui da diocese de Lisboa olhei o horizonte naquela direção, agora trata-se de
olhar o horizonte para outras direções, também para esta daqui do continente,
claro, mas para todas as outras direções. Portanto, neste sentido não me parece
que o facto de ser uma ilha seja um sinónimo de claustrofobia, antes pelo
contrário, é sinónimo de poder olhar mais longe, e nesse aspeto a Madeira, por
aquilo que conheço dela, tem muitas e boas perspetivas, muitos e bons
miradouros para se ver o horizonte, e isso marca necessariamente também a vida
das pessoas. Portanto, este olhar mais longe, sobretudo olhar mais para Deus.”.
Perante alguns problemas da
Madeira, como a entrada dos emigrantes e luso-descendentes vindos da Venezuela,
ou a situação de desemprego, o mais elevado no país, disse olhar para “estes
desafios sociais”, obviamente “com preocupação”,
mas também “com responsabilidade”, pois os cristãos não podem nunca ignorar o que
está à nossa volta, pois, não vivem “fora do mundo”, mas, antes, “mergulhados
nele”. Por conseguinte e em relação à Venezuela, discorreu a propósito da
necessidade do acolhimento e da cooperação com a Cáritas da Venezuela:
“De uma forma muito particular a situação da
Venezuela necessariamente preocupa. Creio que que será importante, antes de
mais nada, acolher aqueles, madeirenses ou não, que vindos da Venezuela estão a
viver na Madeira. Portanto, em primeiro lugar, é necessário acolher aqueles que
necessitarem da nossa ajuda. Depois, será importante também desenvolver a
cooperação com a Cáritas da Venezuela, enquanto instituição credível para apoio
às populações madeirenses, e não só, que estão a viver momentos de muita
dificuldade. Portanto, eu diria: acolher por um lado, e por outro lado ajudar
com aquilo que está disponível, como bens materiais, mas enfim, a todos os
níveis.”.
Instado a partilhar experiências
que tenha tido na Madeira, referiu a eventual aflição de aterrar no aeroporto do Funchal por causa dos ventos, as várias
missas novas, em que acompanhou os neossacerdotes do Funchal como padre do Seminário
e o modo como as pessoas (as várias comunidades, as famílias dos sacerdotes, dos
seminaristas) o acolhiam,
“como uma pessoa de lá”.
Revelou nunca ter ido ao Porto Santo, sendo, portanto,
que, numa destas primeiras semanas irá certamente visitar aquela comunidade. Depois
realçou o mar, a comida, as famílias e, sobretudo “o acolhimento e a fé das comunidades
madeirenses”. E encarece o facto de as famílias cristãs cuidarem dos filhos, “eventualmente
até numa situação de maior pobreza que aquilo que é costume”, e de transmitirem
a fé aos filhos – “uma realidade muito bonita, uma riqueza que não podemos
desperdiça”.
E, no momento em que é
conhecida a sua nomeação para o Funchal, porfia que a Diocese de Lisboa será a sua diocese do coração. Agora
que é madeirense, mas não deixa “de olhar para a Diocese de Lisboa com muita
gratidão”, a mãe que o gerou “para a fé, para o sacerdócio e depois também para
o episcopado”. E, “quando tiver saudades” ouvirá “um fado da Amália Rodrigues”
e há de vir cá, de vez em quando, com a certeza de que se sentirá sempre em
casa, embora o coração já o tenha levado a fazer parte da Madeira.
***
Dom Nuno Brás da Silva Martins nasceu
em 12 de maio de 1963 em Vimeiro, no concelho da Lourinhã, no Patriarcado de
Lisboa. Completou seus estudos primários e secundários no externato de Penafirme. Mais
tarde, frequentou com sucesso os estudos filosóficos e teológicos nos
seminários do Patriarcado (Almada e Olivais) entre
os anos 1980 e 1987, e foi ordenado sacerdote pelo Cardeal-Patriarca Dom António
Ribeiro, a 4 de julho de 1987.
Licenciou-se em
Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa,
em 1985. Concluiu o doutoramento em Teologia Fundamental, em 1999, pela Pontifícia Universidade
Gregoriana, com a tese “Cristo comunicador
perfeito. Leitura teológica para uma investigação interdisciplinar sobre o
fenómeno comunicativo”, orientado por Mons.
Rino Fisichella.
Durante o
ministério ocupou os seguintes cargos: vigário paroquial de Nossa
Senhora dos Anjos, em Lisboa (1987-1990); membro da equipa de formação do Seminário
Maior (1993-2002); redator diretor e diretor do semanário
diocesano Voz da Verdade (diretor de 1993 a 2003); professor na Faculdade de Teologia da Universidade
Católica Portuguesa; coordenador da Comissão diocesana para o Diaconado
Permanente (1999-2002); reitor
do Pontifício Colégio Português, em Roma (2002-2005); professor e, depois, reitor do Seminário Maior
de Cristo Rei; diretor do Departamento de Informação do
Patriarcado; e, em Roma foi correspondente da Rádio Renascença.
É autor de
várias publicações teológicas e livros sobre assuntos teológicos e pastorais de
que se destacam: “A vida cristã como extensão da encarnação. Teologia da
existência cristã nas Obras Pastorais do Cardeal Cerejeira”, Lisboa, Rei dos Livros – UCP, 1992; “Cristo o
comunicador perfeito. Delineamento de uma teologia da comunicação à luz da
Instrução Pastoral Communio et progressio”, Lisboa,
Didaskalia, 2000; e “Introdução à Teologia”, Lisboa, UCP, 2003.
Era Bispo-titular
de Elvas e Auxiliar de Lisboa a partir de 20 de novembro de 2011, por nomeação do
Papa Bento XVI, de 10 de outubro.
Foi ordenado bispo pelo então Cardeal-Patriarca Dom José da Cruz Policarpo no
Mosteiro dos Jerónimos tendo como coordenantes o arcebispo Dom Salvatore Rino
Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização,
e Dom Manuel José Macário do Nascimento Clemente, então Bispo do
Porto e atual Cardeal-Patriarca de Lisboa.
Aquando da
nomeação episcopal, tomara como lema episcopal “In verbo tuo”, salientando ao “Voz
da Verdade”, a 10 de outubro de 2011:
“É a palavra de Deus que Se faz carne e
orienta toda a nossa vida de cristãos. É a palavra de Deus que os chama e nos
dá força.”.
E, no dia da
ordenação episcopal, rogava aos presentes:
“Pedi a
Deus que também agora e pelo resto da minha vida, ajudado pela Graça divina e
pela amizade, oração, encorajamento e colaboração fraterna de todos, eu seja
capaz de responder como S. Pedro: ‘in
verbo tuo laxabo rete’ (Lc 5,5) – na Tua Palavra, por causa dela, e apesar
de todas as minhas dificuldades e incapacidades; na Tua Palavra, com a ousadia
da fé que só ela é capaz de suscitar; na Tua Palavra lançarei as redes”.
Integra a Comissão Episcopal da
Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja Católica em Portugal,
e mais recentemente, a 13 de julho de 2016, foi
nomeado membro da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé. Desde março do ano passado que Dom Nuno Brás coordena a secção das
Comunicações Sociais da Comissão para Evangelização e Cultura, organismo do
Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).
***
Deus
queira que a sua ação pastoral se revista da eficácia exigida para a dilatação do
Reino de Deus no arquipélago e sem deixar a solicitude por todas as Igrejas no
alinhamento com a necessidade duma Ecclesia
semper reformanda.
2019.01.12 –
Louro de Carvalho
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