sábado, 12 de janeiro de 2019

Estar numa ilha é uma possibilidade para “olhar mais longe”


É uma asserção de Dom Nuno Brás da Silva Martins, de 55 anos, até agora Bispo titular de Elvas e auxiliar do Patriarcado de Lisboa e hoje eleito Bispo da Diocese do Funchal, a significar a forma algo despreocupada com que respondeu à provocação dos entrevistadores.
Depois de a Diocese do Funchal ter sido pastoreada por um bispo que fora auxiliar do Porto, Dom António José Cavaco Carrilho (presidiu à diocese desde 7 de março de 2007), cabe agora o encargo da sucessão a bispo auxiliar de Lisboa, metrópole de que Funchal é diocese sufragânea.
Numa primeira mensagem à Diocese do Funchal, saúda “as muitas comunidades” do arquipélago madeirense que, “na região ou no estrangeiro, louvam o Senhor e procuram viver o Evangelho”, que ele se propõe pregar com ousadia e coragem. Deixa uma palavra de “especial gratidão” aos dois anteriores responsáveis por aquelas comunidades católicas: Dom António Carrilho, que serve o território desde 2007, e Dom Teodoro de Faria, que ali trabalhou durante 25 anos, entre 1982 e 2007. Confia o seu novo ministério à intercessão de Nossa Senhora do Monte e do Apóstolo São Tiago Menor, padroeiros da Diocese do Funchal, e do Beato Carlos de Áustria. Expressa a sua proximidade “a todos os sacerdotes que servem a diocese, bem como aos membros das famílias religiosas que, na Madeira, dão testemunho de uma total consagração a Jesus” e a “todas as autoridades civis e militares, em particular aqueles que foram eleitos pelos madeirenses como seus legítimos representantes”. E diz:
Agora cabe-nos a nós a missão de sermos testemunhas da vida nova que Jesus oferece sempre e a todos. É dessa vida que o bispo deve ser a primeira testemunha. É dessa vida nova – o Evangelho – que quero dar testemunho, enquanto Deus me der forças e saúde. Sempre e em toda a parte.”.
A entrada solene está marcada para dia 17 de fevereiro a partir das 16 horas, na Sé local.
Por sua vez, Dom António Carrilho, saudou Dom Nuno Brás, seu sucessor à frente da comunidade católica madeirense, e pediu para que ele seja acolhido pelo povo e pelo clero “com alegria e total disponibilidade”.
No termo da sua missão pastoral à frente da Diocese, agradece “a todos os seus colaboradores, sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, aos jovens e a todo o Povo de Deus, a preciosa colaboração que lhe prestaram nos diversos ministérios e serviços eclesiais”. E não esquece “os idosos e doentes, que pela oração e sacrifício, também o ajudaram neste serviço pastoral”.
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Hoje mesmo foi publicada uma entrevista sua à Rádio Renascença e à agência Ecclesia, conduzida por Ângela Roque, da Renascença, e José Carlos Patrício, da Ecclesia, em que o novo Bispo do Funchal diz que a nomeação do Papa “foi e não foi” uma surpresa, refere a realidade social do arquipélago e diz que deseja visitar Porto Santo, que ainda não conhece. 
Disse acolher a nomeação “com temor e com confiança”. Com efeito tem consciência das suas “limitações”, não valendo a pena fingir, mas tem confiança, porque foi o Papa quem o “escolheu”: confia no Papa e, sobretudo, confia no senhor Jesus, certo de que “Ele não vai abandonar aqueles que escolhe”.
A razão por que sustenta que a surpresa não foi total tem a ver com o facto de várias pessoas se terem abeirado dele aventando a possibilidade do Funchal, mas o momento, disse, “acaba sempre por ser depois um momento inesperado”.
Interpelado quanto ao modo como “um bispo jornalista, comunicador” (é também diplomado em Comunicação Social) disse que espera “conquistar os corações das comunidades madeirenses”, reagiu sem papas na língua e com simplicidade: sendo pastor e estando como pastor. E, neste contexto, assume-se como “sucessor dos apóstolos que está, que anuncia o Evangelho e que procura inserir-se naquilo que é uma história de 500 anos”, que respeita, e numa geografia humana em que procura conhecer as pessoas. E, sobre essa história de 500 anos, discorreu:
A diocese do Funchal celebrou há pouco tempo os 500 anos da sua existência, uma longa história de fé, portanto inserindo-me nesta história, respeitando-a certamente, e depois conhecendo as pessoas, estando com elas e anunciando o Evangelho com toda a ousadia e coragem. Quer dizer, se São Paulo estivesse à espera de conhecer Atenas ou Corinto nunca lá teria ido, portanto eu vou assim também com esta ousadia.”.
E apontou um fator que pode capitalizar em seu proveito e das gentes que vai pastorear: o facto de conhecer uma boa parte do presbitério do Funchal. E declarou a este respeito:
Há uma coisa que é importante, que é o facto de eu conhecer uma boa parte do presbitério do Funchal, porque ou foram meus colegas ou foram meus discípulos, a quem ensinei teologia e com quem estive nos tempos de seminário. Penso que isso será importante também para uma maneira de estar e para poder estar com algum à vontade de quem conhece, não a diocese no seu todo, mas grande parte do clero madeirense.”.
Tendo-lhe os entrevistadores apontado as suas crónicas como uma forma de comunicar a que habituou o público nos últimos anos (e recentemente lançou o livro “Cenas de Deus - Retratos e Coisas da Vida”, que reúne algumas) e tendo-o questionado se como Bispo do Funchal também pretende comunicar dessa forma, foi cauteloso, advertindo que escrever crónicas se tornara um vício, sendo que, mesmo em férias, com facilidade pensava em temas, em modos de abordar assuntos. Mas agora ainda não sabe dizer se é para continuar: tudo dependerá da avaliação que fizer do contexto. E confessou:
Terei de fazer uma análise cuidada em relação àquilo que é a realidade da Diocese, em relação aos meios de comunicação de que a diocese dispõe, em relação aos meios de comunicação onde o bispo poderá entrar eventualmente. Quer dizer, não é necessário que estas crónicas sejam no órgão da diocese. Não sei, vamos ver. Mas, sendo um hábito agradável este de escrever, de olhar para a realidade e de escrever sobre ela, talvez sim. Vamos ver o que é que a prudência e o discernimento dizem quando eu lá chegar.
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Na verdade, a questão levantada sobre como encara a particularidade de ir ser um bispo numa ilha e o que isso também significa para ele é provocatória. E a resposta começou por ser categórica, assim quase à laia de Fernando Pessoa: significa que há horizontes… é importante vermos o mar não como uma realidade que separa, mas com uma realidade que une”; que vai de “uma diocese que confina com a diocese do Funchal”. E poderia ter dito que Funchal é sufragânea da metrópole lisbonense. Porém, rejeitando qualquer síndrome de claustrofobia e apontando uma visão global a partir da inserção local e o sentido da transcendência, explanou:
Muitas vezes ao longo de toda a minha vida, daqui da diocese de Lisboa olhei o horizonte naquela direção, agora trata-se de olhar o horizonte para outras direções, também para esta daqui do continente, claro, mas para todas as outras direções. Portanto, neste sentido não me parece que o facto de ser uma ilha seja um sinónimo de claustrofobia, antes pelo contrário, é sinónimo de poder olhar mais longe, e nesse aspeto a Madeira, por aquilo que conheço dela, tem muitas e boas perspetivas, muitos e bons miradouros para se ver o horizonte, e isso marca necessariamente também a vida das pessoas. Portanto, este olhar mais longe, sobretudo olhar mais para Deus.”.
Perante alguns problemas da Madeira, como a entrada dos emigrantes e luso-descendentes vindos da Venezuela, ou a situação de desemprego, o mais elevado no país, disse olhar para “estes desafios sociais”, obviamente “com preocupação”, mas também “com responsabilidade”, pois os cristãos não podem nunca ignorar o que está à nossa volta, pois, não vivem “fora do mundo”, mas, antes, “mergulhados nele”. Por conseguinte e em relação à Venezuela, discorreu a propósito da necessidade do acolhimento e da cooperação com a Cáritas da Venezuela:
De uma forma muito particular a situação da Venezuela necessariamente preocupa. Creio que que será importante, antes de mais nada, acolher aqueles, madeirenses ou não, que vindos da Venezuela estão a viver na Madeira. Portanto, em primeiro lugar, é necessário acolher aqueles que necessitarem da nossa ajuda. Depois, será importante também desenvolver a cooperação com a Cáritas da Venezuela, enquanto instituição credível para apoio às populações madeirenses, e não só, que estão a viver momentos de muita dificuldade. Portanto, eu diria: acolher por um lado, e por outro lado ajudar com aquilo que está disponível, como bens materiais, mas enfim, a todos os níveis.”.
Instado a partilhar experiências que tenha tido na Madeira, referiu a eventual aflição de aterrar no aeroporto do Funchal por causa dos ventos, as várias missas novas, em que acompanhou os neossacerdotes do Funchal como padre do Seminário e o modo como as pessoas (as várias comunidades, as famílias dos sacerdotes, dos seminaristas) o acolhiam, “como uma pessoa de lá”.
Revelou nunca ter ido ao Porto Santo, sendo, portanto, que, numa destas primeiras semanas irá certamente visitar aquela comunidade. Depois realçou o mar, a comida, as famílias e, sobretudo “o acolhimento e a fé das comunidades madeirenses”. E encarece o facto de as famílias cristãs cuidarem dos filhos, “eventualmente até numa situação de maior pobreza que aquilo que é costume”, e de transmitirem a fé aos filhos – “uma realidade muito bonita, uma riqueza que não podemos desperdiça”.
E, no momento em que é conhecida a sua nomeação para o Funchal, porfia que a Diocese de Lisboa será a sua diocese do coração. Agora que é madeirense, mas não deixa “de olhar para a Diocese de Lisboa com muita gratidão”, a mãe que o gerou “para a fé, para o sacerdócio e depois também para o episcopado”. E, “quando tiver saudades” ouvirá “um fado da Amália Rodrigues” e há de vir cá, de vez em quando, com a certeza de que se sentirá sempre em casa, embora o coração já o tenha levado a fazer parte da Madeira.
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Dom Nuno Brás da Silva Martins nasceu em 12 de maio de 1963 em Vimeiro, no concelho da Lourinhã, no Patriarcado de Lisboa. Completou seus estudos primários e secundários no externato de Penafirme. Mais tarde, frequentou com sucesso os estudos filosóficos e teológicos nos seminários do Patriarcado (Almada e Olivais) entre os anos 1980 e 1987, e foi ordenado sacerdote pelo Cardeal-Patriarca Dom António Ribeiro, a 4 de julho de 1987.
Licenciou-se em Teologia pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, em 1985. Concluiu o doutoramento em Teologia Fundamental, em 1999, pela Pontifícia Universidade Gregoriana, com a tese “Cristo comunicador perfeito. Leitura teológica para uma investigação interdisciplinar sobre o fenómeno comunicativo, orientado por Mons. Rino Fisichella.
Durante o ministério ocupou os seguintes cargos: vigário paroquial de Nossa Senhora dos Anjos, em Lisboa (1987-1990); membro da equipa de formação do Seminário Maior (1993-2002); redator diretor e diretor do semanário diocesano Voz da Verdade (diretor de 1993 a 2003); professor na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa; coordenador da Comissão diocesana para o Diaconado Permanente (1999-2002); reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma (2002-2005); professor e, depois, reitor do Seminário Maior de Cristo Rei; diretor do Departamento de Informação do Patriarcado; e, em Roma foi correspondente da Rádio Renascença.
É autor de várias publicações teológicas e livros sobre assuntos teológicos e pastorais de que se destacam: “A vida cristã como extensão da encarnação. Teologia da existência cristã nas Obras Pastorais do Cardeal Cerejeira, Lisboa, Rei dos Livros – UCP, 1992; Cristo o comunicador perfeito. Delineamento de uma teologia da comunicação à luz da Instrução Pastoral Communio et progressio, Lisboa, Didaskalia, 2000; e “Introdução à Teologia, Lisboa, UCP, 2003.
Era Bispo-titular de Elvas e Auxiliar de Lisboa a partir de 20 de novembro de 2011, por nomeação do Papa Bento XVI, de 10 de outubro.
Foi ordenado bispo pelo então Cardeal-Patriarca Dom José da Cruz Policarpo no Mosteiro dos Jerónimos tendo como coordenantes o arcebispo Dom Salvatore Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, e Dom Manuel José Macário do Nascimento Clemente, então Bispo do Porto e atual Cardeal-Patriarca de Lisboa.
Aquando da nomeação episcopal, tomara como lema episcopal “In verbo tuo”, salientando ao “Voz da Verdade”, a 10 de outubro de 2011:
É a palavra de Deus que Se faz carne e orienta toda a nossa vida de cristãos. É a palavra de Deus que os chama e nos dá força.”.
E, no dia da ordenação episcopal, rogava aos presentes:
Pedi a Deus que também agora e pelo resto da minha vida, ajudado pela Graça divina e pela amizade, oração, encorajamento e colaboração fraterna de todos, eu seja capaz de responder como S. Pedro: ‘in verbo tuo laxabo rete’ (Lc 5,5) – na Tua Palavra, por causa dela, e apesar de todas as minhas dificuldades e incapacidades; na Tua Palavra, com a ousadia da fé que só ela é capaz de suscitar; na Tua Palavra lançarei as redes.
Integra a Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais da Igreja Católica em Portugal, e mais recentemente, a 13 de julho de 2016, foi nomeado membro da Secretaria para a Comunicação da Santa Sé. Desde março do ano passado que Dom Nuno Brás coordena a secção das Comunicações Sociais da Comissão para Evangelização e Cultura, organismo do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE).
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Deus queira que a sua ação pastoral se revista da eficácia exigida para a dilatação do Reino de Deus no arquipélago e sem deixar a solicitude por todas as Igrejas no alinhamento com a necessidade duma Ecclesia semper reformanda.
2019.01.12 – Louro de Carvalho

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