quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Que realizemos ao menos uma parte dos nossos sonhos e anseios


É isto – e, de facto, não é muito – o que o Presidente de todos os portugueses deseja, para 2019, a cada um dos portugueses e famílias, quer vivam “dentro das nossas fronteiras físicas”, quer estejam a construir Portugal fora delas, ou a garantir, “ao serviço da Pátria, paz, segurança e direitos humanos pelos cinco continentes”. E a todos agradece “mais um ano de trabalho, de dedicação, de orgulho de ser Português”.
Depois, lança um olhar crítico sobre o mundo, a Europa e o país. No mundo do direito, ética, paz, diálogo, justiça e certeza, sobra a força, o conflito, a desigualdade e a incerteza; a Europa “fica mais pobre com a saída do Reino Unido”, tem a economia a desacelerar e alberga “promessas sem democracia e sem pleno respeito da dignidade das pessoas”; e Portugal, saído da crise, embora tenha reganhado esperança, “precisa de olhar para mais longe e mais fundo”.
Propõe como “resposta a estes tempos muito difíceis” a dos valores, princípios e aprendizagem com a nossa História multissecular – resposta que se concretiza no respeito pela dignidade de todas (e cada uma das) as pessoas, começando “nas mais frágeis, excluídas e ignoradas”; na liberdade, a postular o culto da diferença, pluralismo e direito; e na justiça social, que implica o “combate à pobreza” e a “correção das desigualdades”. Em contraponto, refere que “não há ditadura, mesmo a mais sedutora, que substitua a democracia, mesmo a mais imperfeita”, nem “democracia que dure onde apenas alguns, poucos, concentrem tanto quanto todos os demais”.
Acusando o toque do eleitoralismo iniciado em 2018, entende o Chefe de Estado que os “valores, princípios, saber de experiência feito” valem “para o ano eleitoral que nos espera. E, à luz deles, assegura que as nossas escolhas decidirão “o nosso destino durante 4 anos”, quer nas eleições para a Assembleia da República, quer para a Assembleia Legislativa Regional da Madeira e, para 5 anos, “muito da nossa presença na Europa, pelas eleições para o PE.
E pede que votemos, que não nos demitamos dum direito que é nosso, “dando mais poder a outros do que aquele que devem ter”, que olhemos “para amanhã e depois de amanhã e não só para hoje” e que tudo se o debata “com liberdade”, mas sem criar “feridas desnecessárias e complicadas de sarar”.
Exorta a que chamemos a atenção dos candidatos para os nossos direitos e escolhas políticas, “pela opinião, pela manifestação, pela greve”, mas respeitando sempre os outros”, os que discordam e “os que podem sofrer as consequências” dos nossos meios de luta.
Aos que quiserem ser candidatos recomenda que “analisem, com cuidado”, o seu “percurso passado” e “assumam o compromisso de não desiludir” os seus eleitores.
Adverte para a dificuldade em “pôr de pé uma democracia” e para a facilidade com ela pode ser destruída: “com arrogâncias intoleráveis, com promessas impossíveis, com apelos sem realismo, com radicalismos temerários, com riscos indesejáveis”.
E declara como fundamental o bom senso, que “não é incompatível com ambição”.
Com efeito, “podemos e devemos ter a ambição de continuar e de reforçar a nossa vocação de plataforma entre povos, culturas e civilizações”; a ambição de “assegurar que a nossa economia não só se prepare para enfrentar qualquer crise que nos chegue, como queira aproximar-se das mais avançadas e dinâmicas da Europa, prosseguindo um caminho de convergência agora retomado”; a ambição de ultrapassar a condenação de um de cada 5 portugueses à pobreza e a fatalidade de termos ‘Portugais’ a ritmos diferentes, com horizontes muito desiguais”; e “a ambição de dar mais credibilidade, mais transparência, mais verdade às nossas instituições políticas. Tudo isto, “para que a confiança tenha razões acrescidas para se afirmar”. Para tanto, teremos de ser “ponto de encontro entre povos”, ter uma “economia mais forte”, tornarmo-nos uma “sociedade mais justa” e dispor de “política e políticos mais confiáveis”. E, garantindo que não é “pedir muito a todos nós, neste ano de 2019”, justifica:
Quem venceu crises e delas saiu, com coragem e visão, é, certamente, capaz de converter esse esforço de uma década num caminho mobilizador e consistente de futuro”.
Por isso, conta com “os portugueses, neste ano de tantas decisões, para [este] desafio comum” e diz que podemos contar com elepara procurar” que nenhum dos nossos contributos “seja desperdiçado, nenhuma das vossas vozes seja ignorada, nenhum dos nossos gestos seja perdido”, já que o país “precisa de todos nós”.
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Os partidos reagiram, com PS, PSD e CDS a partilhar as preocupações do Presidente, BE a criticar o encorajamento de Marcelo à “integração europeia” e o PCP a frisar a necessidade de “melhores salários”. O PSD procurou “colar” as exigências e alertas presidenciais ao discurso dos sociais-democratas. E o CDS atacou de frente o governo afirmando-se como “alternativa credível e ambiciosa” para governar o país. O PS diz partilhar as “preocupações” do presidente e alerta contra “extremismos e radicalismos” que levem “a populismos”. Mas o BE lamenta a existência de Bolsonaros e lembra que as políticas da UE “têm vindo a agravar todas as desigualdades e a incapacitar o país”; e o PCP diz que “não haverá justiça social sem melhor distribuição da riqueza, melhores salários e reformas”.
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Ana Catarina Mendes, secretária-geral-adjunta do PS, afirmando, em declarações à Lusa, partilhar “todas as preocupações” referidas pelo Presidente, considerou que os próximos tempos exigem “bom senso” na governação; salientou a atenção de Marcelo aos tempos difíceis da Europa e do mundo, o apelo à participação dos eleitores para o reforço da democracia nos próximos atos eleitorais, “sem fraturas e com compromissos” e pedido de que “não existam reivindicações excessivas que levem a populismos ou radicalismos”; e disse:
Todos os dias é preciso reforçar a nossa democracia e seguir um caminho mobilizador para um futuro melhor. Essa ambição o PS partilha-a: governar para melhorar a vida das pessoas, combatendo as desigualdades, fazendo crescer a economia e o emprego, e reforçando todos os dias a credibilidade das nossas instituições democráticas.”.
“O Presidente da República fez um apelo fortíssimo que o PS também tem vindo a fazer ao longo dos tempos” – referiu Ana Catarina Mendes, que sublinhou:
A exigência de reforçar a democracia significa dar credibilidade a quem todos os dias tem de executar as políticas, dar respostas concretas às pessoas e não nos deixarmos cair em extremismos e radicalismos que atingem outros países europeus. Só com uma democracia robusta podemos combater os fenómenos populistas.”.
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A deputada do PEV Heloísa Apolónia apontou, em declarações à Lusa, que o Governo tem revelado “alguma incapacidade de diálogo”, refletida nas greves em vários setores. Frisou que o Governo tem de “inverter a incapacidade de diálogo que tem revelado”, pois é fundamental gerar capacidade de diálogo e respeitar os direitos dos trabalhadores”. E, referindo-se à conjuntura de contestação social, salienta que Marcelo disse, a este respeito:
Chamem a atenção dos que querem ver eleitos para os vossos direitos e as vossas escolhas políticas, pela opinião, pela manifestação, pela greve, mas respeitem sempre os outros, os que de vós discordam e os que podem sofrer as consequências dos vossos meios de luta”.
Destacou ainda, do discurso o “apelo muito importante” relativamente ao ciclo eleitoral “para que as pessoas votem e que não deixem nas mãos dos outros as escolhas que vão fazer”. E salientou outros aspetos como o apelo à “ética política”, que “Os Verdes” dizem exercer “com seriedade e lealdade para com os seus eleitores”, bem como os “avanços importantes” nesta legislatura, “mas que poderiam ter ido mais longe”.
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O comunista Dias Coelho, frisando que o Chefe de Estado referiu a justiça social, disse que ela só pode existir se houver “uma melhor distribuição da riqueza, melhores salários e reformas”; no atinente ao apelo à participação nas batalhas eleitorais, disse encarar com confiança os próximos atos eleitorais; e acentuou que, ao longo de 2018, o seu partido teve “um papel decisivo na reposição e na conquista de diretos”, afirmando e especificando:
Queremos salientar que no processo de reposição e de reconquista de direitos, ao longo de 2018, se alargou a atribuição gratuita de manuais escolares, se repôs novamente o pagamento integral do subsídio de Natal aos reformados, assim como direitos em áreas como a da saúde. Salientamos, ainda, que no ano que agora terminou se demonstrou que o caminho verdadeiramente alternativo que está colocado ao povo português reside na política patriótica de esquerda capaz de libertar recursos e meios para que haja desenvolvimento e melhor distribuição da riqueza.”.
Já em relação à parte da mensagem em que foi deixado um apelo à participação dos portugueses nas eleições europeias, regionais da Madeira e legislativas, o dirigente comunista referiu-se a essas “importantes batalhas eleitorais”, dizendo que “reside na vontade, na força, na luta e também no voto do povo a resposta aos problemas que lhe estão colocados”. E acrescentou que é “uma resposta que o PCP encara com confiança, porque confia nos trabalhadores e no povo, na sua sabedoria e capacidade de transformar e modificar”.
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O Bloco de Esquerda elogiou a oportunidade dos avisos deixados pelo Presidente sobre os perigos da extrema-direita, mas demarcou-se das soluções preconizadas, considerando que as políticas europeias diminuem o país – posições transmitidas à Lusa pelo fundador e dirigente do BE Luís Fazenda, em reação à mensagem de Ano Novo do Chefe de Estado. E salientou:
O Presidente da República chamou a atenção para a necessidade de um combate largo contra a extrema-direita, que pretende destruir o regime democrático. Fazer esse combate largo fundado no Estado de Direito, no pluralismo político, na cidadania é um ponto importantíssimo nos dias de hoje – afinal de contas é o espelho dos Bolsonaros [uma referência ao novo Presidente do Barsil] que se verte sobre esse mundo de conflitos.”.
O BE também “sublinha que a mensagem do Presidente da República tenha contido referências muito expressivas sobre as desigualdades, a pobreza e a indignidade”. Mas contrapõe:
Assinalamos a contradição entre a vontade de querer mudar essas situações negativas no país e depois encorajar e recomendar vivamente uma maior integração europeia. As políticas da União Europeia têm vindo a agravar todas as desigualdades e a incapacitar o país na senda do desenvolvimento, diminuindo-o.”.
Ou seja, na perspetiva de Luís Fazenda, na mensagem do Presidente, “a solução não coincide com o diagnóstico”. Nesse sentido, o Bloco irá confrontar-se abertamente com todas as outras opiniões nas próximas eleições europeias e para a Assembleia da República. Aliás, “o Presidente intima a que todos os partidos o façam. Nós fá-lo-emos”, indicou.
Luís Fazenda afirmou, nesse contexto, que as bandeiras do BE passarão por “retomar os direitos do trabalho, reforçar os serviços públicos e salvar o Serviço Nacional de Saúde”. Disse ele:
Não deixaremos de combater por estes objetivos em todas as eleições com grande grau de exigência e clareza na formulação das propostas políticas”.
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O vice-presidente do CDS-PP Nuno Melo afirmou que o partido será uma “alternativa credível e ambiciosa” ao atual Governo “muito mau”, num comentário à mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Em declarações à Lusa, o dirigente centrista reagiu às palavras proferidas, “com razão”, pelo Presidente, em particular sobre o ciclo eleitoral em agenda este ano, que inclui as eleições europeias, legislativas em Portugal e regionais da Madeira, dizendo que, em relação às “escolhas exigentes”, o CDS tem provas dadas pela positiva”. E sustenta que as escolhas que os portugueses vão fazer “implicam também que se avalie o que temos”. A seu ver, “o que temos” é um governo muito mau, pois, face a condições tão favoráveis, dificilmente “se conseguiria pior”, pelo que “deve ser fortemente sancionado em cada uma das eleições”.
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Os sociais-democratas foram os últimos a reagir, comentando no final da manhã de hoje, dia 2, a partir do Porto, a mensagem do Presidente. Pela voz de André Coelho Lima, vogal da comissão política nacional do PSD, o partido lembrou que os alertas e exigências de Marcelo reforçam o que há muito tem sido defendido pelo seu líder: “uma economia forte e robustecida” e “a ambição de se aproximar das melhores e mais avançadas economias da Europa” – passo que dizem fundamental para melhorar a qualidade de vida dos portugueses numa altura em que o país ainda “tem 1/5 da população condenada à pobreza” (dois milhões de portugueses).
Ora, para o PSD, o ataque à pobreza tem de ser uma situação nuclear da política. O Estado está a falhar enquanto isso estiver a acontecer. Uma economia forte e robustecida é que faz com que a qualidade de vida melhore e ajuda a combater os índices de pobreza”, defendeu Coelho Lima.
A economia foi, pois, um dos pretextos para as críticas ao executivo de Costa. E, lembrando que Portugal teve um dos piores crescimentos da Europa, Coelho Lima insistiu:
O governo tem governado a olhar apenas para o presente, sem preparar a economia para o futuro e para as crises que são cíclicas. Tem ignorado que as políticas de hoje serão herdadas pelos nossos filhos e netos.”.
Ainda assim, e apesar das críticas, Coelho Lima garantiu que o partido foi sensível aos apelos de Marcelo a uma maior tolerância política e à importância de “nunca deixar de debater, mas sem criar feridas desnecessárias, protegendo a democracia e sem radicalizar o discurso político” – discurso que, segundo diz, “acaba por vir ao encontro das questões que o PSD tem defendido e do que tem sido o próprio discurso político de Rui Rio”. De facto, esta postura é muito a marca do Dr. Rui Rio, o que o tem exposto a muitas críticas, mas o partido vai resistir, já que “tem resistido a prometer tudo e a fazer um discurso fácil e populista.”
Para Coelho Lima, “o PSD tem sabido ser uma oposição séria e responsável, tem mantido a postura que os portugueses esperam de um partido da oposição, mas tem estado disponível para dialogar e assim permitir as reformas necessárias”.
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A posição do PS tinha de ser de alinhamento com o Presidente; a do CDS, percebo que seja a de quem, do fundo da sua renovada pequenez, aspira ao poder afirmando-se como alternativa, por ser feio propor-se como muleta; e as posições do PCP, do PEV e do BE estão entre as suas linhas típicas de discursos e o relativo alinhamento com a atual governação. Quanto ao PSD, não percebo se o PSD não quer o líder Rui Rio, dado o montão de críticas que recorrentemente lhe dirige ou se não quer o discurso de Marcelo. E Rui Rio e o PSD têm de definir-se e agir.
Quanto ao Presidente, digo que o discurso oral não me encantou pelo ritmado do gesto de mãos e pela não concordância gramatical (vg: Não se demitam de um direito que é “vosso” – em vez de “seu”; ou “não vos demitais dum direito que é vosso”). Porém, a sua leitura mostra a pertinência das ideias, talvez com exceção da exigência de um candidato ter de olhar para o seu passado. Teríamos políticos?
Lembro que o Cardeal Angelo Sodano, ao ser questionado sobre o que pensava o Vaticano sobre o facto de o Presidente Mário Soares, agnóstico, republicano e socialista, querer acompanhar o Papa em todas as suas diligências em Portugal, disse que o Vaticano não comentaria o Chefe de Estado, mas lembrou que o Vaticano não está interessado em saber donde vem uma pessoa, mas para onde é que ela vai. Parece-me que há excessiva preocupação em retrobiografar os políticos quando deveríamos escrutinar o seu presente e os seus projetos!
2019.01.02 – Louro de Carvalho

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