Um pequeno
país da América Central, com pouco mais de quatro milhões de habitantes, dos
quais 88% se declaram católicos, preparou-se para receber o Papa e milhares de
jovens de várias partes do mundo. Há bandeiras da XXXIV JMJ (Jornada
Mundial da Juventude – a 4.ª presidida por Francisco), do Panamá e do Vaticano espalhadas pela cidade, bem
como obras ainda em andamento. O evento, que domina os noticiários, conta com
total apoio do governo panamenho.
Trata-se da
26.ª viagem apostólica de Francisco, o segundo papa a ir ao Panamá, pois o
primeiro foi São João Paulo II, que visitou o país em 5 de março de 1983.
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O Santo Padre
partirá, nesta quarta-feira, dia 23 de janeiro, do aeroporto romano de
Fiumicino, às 9,35 horas (hora de Roma), rumo ao
Panamá, onde chegará por volta das 16,30 horas (hora panamenha), ao aeroporto internacional de Tocumen, na cidade do
Panamá.
No Angelus do domingo passado, dia 20, recordou
o seu compromisso no Panamá, “evento belo
e importante no caminho da Igreja”, junto com os jovens do mundo inteiro.
E, segundo notícia divulgada num tuite pelo diretor interino da Sala de
Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti, na manhã de hoje, dia 21, foi à
Basílica de Santa Maria Maior para rezar diante do ícone de Nossa Senhora Salus
Populi Romani nas vésperas da sua viagem apostólica ao Panamá para a 34.ª
Jornada Mundial da Juventude, como é usual antes das viagens apostólicas fora
de Itália.
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As atenções,
especialmente do mundo católico, voltam-se nestes dias para o Panamá,
pequeno país que liga a América do Sul à América Central, escolhido pelo Papa
em 2016 para sediar esta XXXIV Jornada Mundial de Juventude. Assim, Francisco
retorna ao continente americano para encontrar novamente a juventude de todo o
mundo depois de 2013 no Brasil, naquela que foi sua primeira JMJ.
As ruas da
Cidade do Panamá estão tomadas por grupos de jovens de várias partes do mundo,
com as suas bandeiras e muita alegria: esta
é a Jornada Mundial da Juventude 2019!
O clima é,
de facto, de alegria e expectativa, com grupos de jovens envergando a camiseta
da JMJ e bandeiras dos respetivos países e muitos com instrumentos musicais.
Muitos vieram da Costa Rica onde participaram da Semana Missionária. A escolha do Papa permitiu que um maior
número de centro-americanos e do norte da América do Sul participassem nesta
Jornada, aspeto percetível pela quantidade de grupos vindos de El Salvador,
Nicarágua, Costa Rica, Venezuela e Colômbia. Se facilitou a participação dos
americanos por janeiro ser período de férias, dificultou um pouco a dos
europeus, que estão em pleno período de aulas. Os polacos são o grupo mais
numeroso da Europa, com 7.500 jovens, seguidos pelos italianos, com 1.500.
Na capital vivem
quase 1 milhão e oitocentos mil habitantes. O trânsito está caótico, facto
agravado pelos bloqueios nas áreas por onde Francisco passará e que acolherão
os grandes eventos. Altos prédios com arquitetura moderna e arrojada
dominam a paisagem. Mas uma das atrações é o Casco Antiguo,
ou Panamá Viejo, onde está o centro histórico tomado como Património
da Humanidade pela UNESCO. Nesta “segunda cidade do Panamá” estão igrejas e
monumentos históricos que remontam à época colonial. No dia 21, um dos programas
dos jovens foi explorar este espaço.
Mas também
se dirigiram em grande número para outra atração e principal fonte da economia
do país – ao lado das atividades internacionais bancárias: o Canal do Panamá, que liga o Oceano
Atlântico ao Pacifico, sendo a rota por excelência da navegação
comercial.
Para fazer
uma ideia da importância estratégica da localização geográfica do Panamá, basta
anotar que foi fundado em 1519 como base para as expedições ao Império Inca,
constituindo a rota de passagem do ouro e da prata que os espanhóis extraíam da
América do Sul. No ano de 1671, a cidade foi incendiada por piratas, ficando
completamente destruída. E foi reconstruída 8 km mais longe da cidade original.
Em 1821, o
Panamá ficou independente da Espanha unindo-se à República da Colômbia, de que
se declarou independente em 13 de novembro de 1903, ano em que assinou com os
Estados Unidos o tratado para a construção dum canal para a navegação
transoceânica, que ficou pronto em 1914. Em 1977, foi assinado um novo tratado
que previa a retirada dos estadunidenses da administração do canal até ao ano
2000. Se, por um lado, perdeu 300 milhões de dólares de financiamento anual,
por outro, com esta transferência, o Panamá pôde ficar com os recursos cobrados
pelas travessias dos navios.
É o país mais meridional da América Central.
Situado no istmo que liga as Américas do Norte e do Sul,
faz fronteira com a Costa Rica, a oeste, a Colômbia, a sudeste; o Caribe,
a norte, e com o Oceano Pacífico, a sul. A capital é a cidade do
Panamá.
A Diocese de
Santa Maria de Antigua, fundada em 9 de setembro de 1513, pela Bula “Pastoralis Officii Debitum”, do Papa
Leão X, foi a primeira na área do continente, tendo como primeiro bispo Dom
Juan de Quevedo, OFM. Atualmente, conta 1.727.000 católicos distribuídos em 94 paróquias.
O Arcebispo do Panamá é Dom José Domingo Ulloa Mendieta.
Para um bispo
americano, nada mais prestigiante do que levar o nome da primeira diocese
estabelecida em terra firme do continente americano. E esta diocese é
justamente a de Santa Maria La Antigua del Darién, no Panamá,
criada em 1513.
Porém, a
partir de 1987, vários bispos da América e até da Europa pediram para ser
titulares dessa diocese, pois alegam que a diocese desapareceu quando a
população da cidade de Santa Maria del Darién se mudou, em
1519, para a atual cidade do Panamá, o que é contestado com vigor pela arquidiocese
do Panamá, que sustenta ser ela a continuadora desse bispado. Portanto, segundo
essa tese, não se trataria duma diocese atualmente inexistente, mas de uma
diocese viva em nossos dias. E, sendo assim, não deveria ser regida por um
bispo titular, mas sim por um bispo diocesano, no caso, o mesmo bispo da Cidade
do Panamá. E, no Anuário Pontifício aparece a arquidiocese do Panamá como
continuadora da diocese de Santa Maria la Antigua.
É de
recordar que o Panamá foi visitado, em março de 1983, por São João Paulo II, o
Papa Wojtyla que é um dos padroeiros desta JMJ, ao lado de Santa Rosa de Lima,
Santo Oscar Romero, São João Bosco, São José Sanchez del Río, beata María
Romero Meneses, São Juan Diego e São Martin de Porres.
Com apenas
813 mil habitantes, a cidade do Panamá deverá receber cerca de 200 mil jovens,
provenientes de 155 países, para o evento. Ao todo, o país tem cerca de 4
milhões de habitantes e perto de metade da população vive na Área Metropolitana
da capital.
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Segundo Inês Rocha, da Rádio Renascença (RR) Portugueses
no Panamá descrevem ambiente “de grande entusiasmo” com as JMJ. “Não se fala de outra coisa desde o Mundial de
futebol”, como assinala um português a trabalhar no Panamá.
José
Carvalho, emigrante português no Panamá (diretor comercial da filial latino-americana
do Grupo IP, empresa internacional de venda de equipamentos industriais), ali a viver há três anos, vinca:
“É algo importante para o Panamá. Ao
contrário de Portugal, que já se vem habituando a grandes eventos ultimamente,
desde desportivos a culturais, o Panamá não está tão habituado a isso.”.
Também José
Pedro Rocha, engenheiro português a trabalhar numa empresa norte-americana na
cidade do Panamá, na indústria do petróleo e gás, que vive há 10 meses no
Panamá, vê o país entusiasmado com os preparativos para a JMJ e para a visita
do Papa Francisco. E adianta:
“Diria que, depois do Mundial, que foi um
grande acontecimento, o próximo acontecimento era a vinda do Papa ao Panamá em
janeiro, para as JMJ. Não se fala de outra coisa desde essa altura.”.
Na última
semana, este português viu o entusiasmo a crescer ainda mais, com a população
mobilizada para a “pré-jornada” – a fase anterior ao evento oficial, em que os
voluntários ajudam na montagem dos palcos e na limpeza das áreas onde vão
decorrer os eventos. “À escala da infraestrutura local tem um impacto enorme”,
observa José Pedro Rocha.
Esta semana,
o governo local deu tolerância de ponto à função pública, para quinta e
sexta-feira, mas oficialmente o país não irá parar. No entanto, tanto José
Carvalho como José Pedro Rocha veem muitas empresas – mesmo as multinacionais –
a dar “flexibilidade” aos trabalhadores, por ser previsível que o sistema de transportes
“colapse” e ser difícil as pessoas movimentarem-se na cidade. E José Carvalho
diz que “a maior parte das multinacionais decretou trabalho em ‘home office’ (trabalho em
casa) aos diretores, durante esta
semana, para não verem as suas atividades afetadas”.
A empresa
onde José trabalha deu mesmo “férias coletivas” aos colaboradores durante esta
semana. E, se muitos optam por “fugir à confusão” e viajar para países
vizinhos, muitos outros aproveitam para participar nas JMJ (de 22 a 27). E o português explica:
“As empresas que têm muitos trabalhadores
locais veem que eles estão entusiasmados com o evento e querem dar alguma
possibilidade de os seus funcionários poderem participar nos eventos, porque
alguns deles vão ser durante a semana”.
Os dois
portugueses descrevem o Panamá como um país “tranquilo”, a contrastar com as
experiências que viveram antes de se mudarem para aquele país da América
Central.
José Pedro
Rocha chegou à Cidade do Panamá após vários anos a viver na África subsariana;
José Carvalho mudou-se de São Paulo, no Brasil, para aquele destino, há três
anos.
“Segurança não é coisa que nos preocupe”,
opina José Carvalho, que diz, comparando com São Paulo, “o Panamá é um paraíso”,
embora admita que “a afluência de tanta gente traz sempre alguma preocupação,
mas a segurança foi reforçada, há muita polícia e segurança na rua”.
José vai
tentar participar “em algum evento das JMJ” com a família, mas teme encontrar
alguma confusão em termos de acessos. Apesar de seguro, “o Panamá não é dos
melhores na organização de grandes eventos”, considera. “É sempre muito
complicado”.
Porém, José
Pedro Rocha acredita que as coisas estão bem preparadas, dentro das limitações
das infraestruturas locais, para receber os peregrinos da JMJ. “As pessoas
estão muito contentes e o país vai certamente sentir-se orgulhoso, porque acho
que vai correr tudo bem”, remata.
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O Padre Filipe Diniz, diretor do Departamento Nacional da
Pastoral Juvenil (DNPJ) disse à agência Ecclesia que os grupos de Portugal
participantes na JMJ tiveram um acolhimento “muito bom” nas paróquias e estão
“prontos para viver esta JMJ”. E especificou:
“Chegamos muito bem. O acolhimento na
paróquia foi muito bom. Embora o cansaço do grupo esteja bem visível nos seus
rostos, estamos prontos para viver esta JMJ cheios de alegria.”.
O Panamá recebe 300 portugueses de 12 dioceses e quatro
movimentos, acompanhados por seis bispos e 30 voluntários, para participar na
Jornada Mundial da Juventude 2019, que se inicia a 22 de janeiro.
Em comunicado, onde refere o número de inscritos através da
plataforma da Conferência Episcopal Portuguesa, o DNPJ informa que o programa
dos participantes portugueses inclui um encontro, na manhã de 25 de janeiro, na
Igreja de Nossa Senhora de Lourdes.
Para este sacerdote, a Jornada Mundial da Juventude
proporciona aos participantes uma experiência de fé em “multidão”, que deve
depois ser traduzida na vida concreta, após o regresso aos países de origem.
Disse o Padre Filipe:
“É importante esta capacidade do jovem,
quando faz esta experiência, ser testemunha daquilo que viveu, mas também a
oportunidade de, nas suas comunidades paroquiais, nos seus movimentos,
transmitir a sua fé”.
O diretor do DNPJ assinala que os encontros mundiais são um
momento “importante” que não se esgota em si próprio, pois é preciso que a fé
“se transmita em cada momento, circunstância”, onde o jovem vive e está
inserido. E acrescentou:
“É aqui que devemos provocar, no bom
sentido, este caminho dos jovens. É importante que exista um trabalho de
continuidade, que os jovens tenham oportunidade de criar momentos de jornadas,
de encontro, de partilha, de sentir o desafio desde Deus.”.
A Jornada Mundial da Juventude no Panamá inicia-se com a
Missa de inauguração no dia 22 de janeiro, um dia antes da chegada do Papa
Francisco ao Panamá. Durante a semana, decorre uma Feira da Juventude e
Vocacional, que complementa as várias atividades da noite, entre elas o
acolhimento ao Papa, a 24 de janeiro, e a tradicional vigília de oração, dois
dias depois, no campo São João Paulo II. E a JMJ 2019 conclui-se a 27 de
janeiro, com a Missa do envio e o encontro de Francisco com os voluntários.
2019.01.22
– Louro de Carvalho
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