terça-feira, 22 de janeiro de 2019

CGD deve tomar medidas consequentes com a auditoria forense


O relatório de auditoria da EY a atos de gestão da CGD (Caixa Geral de Depósitos) entre 2000 e 2015 – uma versão preliminar do relatório com data de novembro de 2017 – releva a perda de 1.200 milhões em crédito de risco, já que foram concedidos empréstimos sem respeitar regras de concessão de crédito. Não foi por acaso que, em 2017, o banco do Estado teve necessidade de ser recapitalizado em quase 4.000 milhões de euros.
Na verdade, como revelou, no domingo à noite, a comentadora da CMTV Joana Amaral Dias, o banco público perdeu 1200 milhões de euros em crédito de risco, dos quais 555 milhões num só negócio com o BCP, e, entre 2007 e 2012, 7% das operações de crédito analisadas em sede de auditoria foram aprovadas contra os pareceres desfavoráveis da Direção Global de Risco, sem que existam justificações para tais decisões.
Por conseguinte, o Governo pediu à administração da CGD a adoção de todas as medidas necessárias ao apuramento das responsabilidades resultantes do relatório da auditoria sobre os atos de gestão do banco público entre 2000 e 2015. Além disso, Macedo foi instruído no sentido de enviar o relatório às autoridades competentes e proteger a situação patrimonial da Caixa.
Com efeito, uma nota do Ministério das Finanças, que foi enviada para a TSF que está a dedicar o Fórum ao tema da auditoria à Caixa refere:
O Governo solicitou à Administração da CGD que fossem efetuadas todas as diligências necessárias para apurar quaisquer responsabilidades que possam advir da informação constante do relatório.
Este pedido dirigido a Paulo Macedo foi feito apesar de o Governo sustentar que, dado o relatório de auditoria conter informação sujeita a sigilo bancário, “não é suscetível de disponibilização ao acionista”. E a nota em causa pormenoriza:
O Governo solicitou a realização de uma auditoria independente a atos de gestão da CGD entre 2000 e 2015 e, no âmbito do exercício da sua função acionista, deu instruções à CGD para que relatório fosse remetido ao Banco de Portugal e ao Mecanismo Único de Supervisão do Banco Central Europeu, bem como a outras autoridades judiciais, de inspeção, de supervisão ou em matéria tributária, caso os elementos do relatório se afigurassem relevantes para o exercício das suas atribuições”.
A nota não refere qual o momento exato em que o Governo fez este pedido à administração do banco público e se o apuramento de responsabilidades que pede a Paulo Macedo pode ser também interno. Porém, fonte oficial do Ministério das Finanças salienta que o pedido terá sido feito no momento em que foi pedida a auditoria, ainda em 2016.
E, segundo o Ministério das Finanças, “o Governo continuará a acompanhar este tema, tendo transmitido ao Conselho de Administração da CGD a necessidade de tomar as medidas adequadas para a defesa da situação patrimonial da CGD”.
Porém, nem o Ministério das Finanças nem a administração da CGD aceitaram o convite para participar no debate que a TSF, a rádio do grupo Global Notícias, está a fazer.
No entanto, o Governo, segundo a mencionada nota, “está focado no presente e no futuro da CGD, através da implementação do seu plano estratégico, para garantir que a Caixa está em condições de exercer a sua função ao serviço da economia portuguesa”.
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Ao longo daqueles anos a que se reporta o relatório, as sucessivas administrações do banco público ignoraram os pareceres dos órgãos competentes ou aprovaram operações que não apresentavam garantias suficientes, concretizando negócios que, afinal, se revelaram de risco “considerado elevado ou grave”. E o ECO publicou, a 21 de janeiro, pela pena de Rafaela Burd Relvas, uma lista de grandes devedores e teceu considerações do teor seguinte.
A consultora identificou 4 tipos de operações caraterizadas como “exceções face ao normativo e ao enquadramento regulamentar aplicável”, ou seja, sem o cumprimento das regras que tinham sido estabelecidas. São os seguintes os preditos tipos de operações:
- Operações aprovadas com parecer de análise de risco desfavorável ou condicionado, sem que estejam documentadas as justificações para a tomada de risco contrária ao parecer da Direção Global de Risco;
- Operações para as quais não foi apresentado parecer técnico da Direção Global de Risco, nem justificação para tal situação;
- Operações onde não existe evidência de que tenha sido obtida toda a informação exigível para fundamento da sua aprovação (estudo de viabilidade, licenças associadas ao projeto);
- Operações em que as garantias assinadas em contrato não são suficientes para cobrir o rácio de cobertura de 120% conforme exposto no normativo.
Entre os 200 devedores que foram identificados pela EY como tendo gerado as maiores perdas para o banco público, há 64 casos em que ocorreu pelo menos uma das situações descritas. A 31 de dezembro de 2015, a CGD ainda tinha exposição a 46 desses clientes, num montante total de 2,96 mil milhões de euros em dívida. Quase metade desse montante fora dado como perdido no final de 2015: as perdas por imparidades com estes créditos totalizavam, por essa altura, 1.198.082.600 euros.
O montante perdido com cada cliente é muito variável. A Artlant representa a maior perda, num total que ultrapassa os 211 milhões de euros. Segue-se a Investifino (detida pelo empresário Manuel Fino), com perdas superiores a 138 milhões, a Fundação Berardo, com mais de 124 milhões, e a AE Douro Litoral, com 122,6 milhões.
Cada um destes créditos foi concedido entre 2000 e 2015, mas a EY não revela a data exata da concessão, nem o montante inicial de cada crédito.
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A auditoria da EY questiona decisões da administração do banco público em 2008, quando aprovou a gestão do BCP que incluía um ex-presidente e ex-membros da CGD.
O investimento da  CGD no BCP entre 2000 e 2013 gerou uma perda efetiva de 595 milhões de euros para o banco público, prejuízo apenas ligeiramente compensado pelo recebimento de 40 milhões de euros em dividendos neste período – o negócio mais ruinoso entre as operações de aquisição e alienação de ativos que constam da auditoria.
A CGD entrou no BCP em março de 2000, quando os dois bancos, o público e o privado, anunciaram um acordo segundo o qual a seguradora Mundial Confiança vendera ao BCP a sua posição maioritária de 53% no Banco Pinto Sotto Maior. Em troca, a seguradora ficou com 8,5% do capital do BCP (950 milhões de euros, tendo cada ação sido vendida por 5,28 euros).
Em 2001, a Mundial Confiança, “sob orientações do conselho de administração da CGD”, exerceu os direitos de subscrição no âmbito dum aumento de capital, elevando o investimento para 1.009,5 milhões de euros. A totalidade das ações foi, depois, vendida pela seguradora ao banco estatal, em 2001 e 2002, ao preço que haviam custado. Porém, em 2002 e 2003, as ações do BCP registaram uma desvalorização acentuada no mercado (-67% em relação à cotação inicial na data da transação). A CGD não acompanhou o aumento de capital do BCP no ano de 2003, obtendo um ganho de 22 milhões de euros pela venda dos direitos de subscrição. E, foi entre 2004 e 2006, quando decidiu alienar 4,19% do capital do BCP, que o banco público veio a efetivar as primeiras perdas com o investimento: -366 milhões de euros. E, entre 2007 e 2009, o BCP voltou a perder valor no mercado (-70%).
E a EY expõe dúvidas sobre decisões tomadas pelo conselho de administração da CGD, nomeadamente quanto ao facto de ter aprovado a gestão do banco rival que incluía um seu ex-presidente (Carlos Santos Ferreira) e alguns ex-membros (Armando Vara) sem discutir “eventuais conflitos de interesse” e de ter reforçado o investimento no BCP mesmo com o parecer contrário da direção de risco. Mesmo assim, a auditoria diz que, de 2007 e 2009, a CGD seguiu uma “estratégia de aquisição e alienação de ações de forma a diluir o custo de aquisição, registando perdas nesse período perdas de 142 milhões de euros, correspondentes a 43% do valor do investimento no final de 2006″.
Posteriormente, entre 2010 e 2013, manteve-se a queda do valor das ações do BCP (-89%): “Com o desinvestimento final das ações, a CGD registou 109 milhões de euros de perdas adicionais“, como calcularam os auditores da EY. E a EY lembra que todas as operações relativas a esta participação foram aprovadas pelo conselho de administração da CGD em cada momento e com base no preço de mercado, “exceto a transferência da posição da Mundial Confiança para a CGD em 2001 e 2002, que foi realizada ao custo de aquisição, transferindo as menos valias potenciais para a CGD”.
Em termos gerais, em relação a este investimento no BCP, a EY conclui: a tomada de posição inicial inseriu-se no processo de consolidação do setor bancário em Portugal com intervenção do Estado português (racional de investimento); a evolução da cotação das ações do BCP no mercado no período em análise foi muito desfavorável (valor por ação passou de 5,28 euros em 4 de abril de 2000 para 0,09 euros em 4 de julho de 2013 – desvalorização de 98%) (influência de fatores externos); e as decisões de gestão subsequente da participação com aquisições e alienações adicionais permitiram reduzir as perdas associadas de 98% para 63% do valor total investido (por diluição do custo unitário), de que resultaram perdas efetivas nesta posição no montante de 595 milhões de euros (resultado final).
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Além de tudo isto, os administradores da CGD receberam “remuneração variável” e “voto de confiança”, mesmo com resultados negativos. O documento, cujo teor foi revelado na CMTV por Joana Amaral Dias, é crítico, sobretudo, do período 2000-2008 em que “não foi obtida evidência dos princípios orientadores para a remuneração variável aplicada, concluindo-se que as decisões foram tomadas de forma avulsa”, pois, ante “resultados negativos foi decidido atribuir remuneração variável e emitido voto de confiança”. E a auditoria realçou que nunca foi identificada “a atribuição de remunerações variáveis em forma de instrumento financeiro” que incentivassem a um equilíbrio entre capital e riscos, nem a implementação de cláusulas de ‘clawback’, que permitem vincular os gestores com as decisões passadas.
EY acredita que estas medidas poderiam ter contribuído para um “processo de decisão de crédito mais sustentado e atento ao risco, tendo por referência as operações analisadas na presente auditoria”, permitindo ainda apurar responsabilidades “nas perdas significativas verificadas entre 2011 e 2015”. Mas revelou que “o volume de imparidades da CGD evoluiu de 46,9% em 2013 para 58,1% em 2015” no setor da construção e imobiliário, quando os restantes bancos apresentaram todos a situação inversa, reduzindo as imparidades na concessão de crédito às empresas deste segmento.
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Confrontado com estes dados, Fernando Faria de Oliveira, antigo presidente da CGD, recusa ter facilitado na concessão de crédito durante o tempo em que esteve à frente do banco público. E diz não se lembrar (Mais um exemplo de bavismo!) de qualquer operação de crédito ter sido aprovada pela gestão do banco contra qualquer declaração de voto desfavorável do conselho de risco.  
Estranho, não?! Faria de Oliveira é presidente da APB (Associação Portuguesa de Bancos), associação que representa o setor. Mas, antes disso, foi presidente executivo (2008-2011) e chairman (2011-2013) do banco público. E o relatório da auditoria forense da EY aos atos de gestão da CGD, que abrange o período em que Faria de Oliveira esteve à frente do banco (compreende os anos entre 2000 e 2015), concluiu que, ao longo destes anos, as sucessivas administrações ignoraram os pareceres dos órgãos competentes ou aprovaram operações de crédito que não apresentavam garantias suficientes, concretizando negócios que vieram a revelar-se de risco “considerado elevado ou grave”.
Este relatório já está nas mãos do Ministério Público e também do Banco Central Europeu (BCE), o que pode levar a que nomes de antigos responsáveis da CGD venham a enfrentar dificuldades caso necessitem de aval do supervisor para exercício de funções na banca.
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Para tudo isto não faltou dinheiro, senhor Ministro das Finanças e senhores/as seus/as antecessores/as. Mas, para recuperação integral dos salários dos trabalhadores públicos, sua progressão na carreira e fixação de pensões decentes de suas reformas e aposentações não há. Quer dizer: o Governo só vê com um dos olhos – o esquerdo ou o direito, conforme alegadamente seja a sua composição… E o Zé que os ature!
2019.01.22 – Louro de Carvalho

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