sábado, 30 de setembro de 2017

“Sempre conseguiste levar-me a Fátima”

Dom António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima foi recebido, na manhã de hoje, dia 30 de setembro, pelo Papa Francisco, no Vaticano, num ambiente “muito afetuoso e bem-disposto”. Tratou-se de uma visita de cortesia em que o responsável pela diocese que acolhe o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima pretendeu agradecer ao Sumo Pontífice a sua peregrinação a Fátima a 12 e 13 de maio, na primeira da série de peregrinações internacionais aniversárias do Centenário das Aparições, em que procedeu à canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta.
O encontro ocorreu durante o período de audiências que o Papa realizou. Após ter recebido um cardeal, quatro bispos, entre os quais o de Leiria-Fátima, e o embaixador do Uruguai, Francisco concedeu uma audiência à Associação Nacional de Municípios Italiana, na Sala Clementina.
De acordo com a Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, a audiência teve a duração de 15 minutos e, além do bispo de Leiria-Fátima, estavam presentes o reitor do Santuário de Fátima, Padre Carlos Cabecinhas, o vice-reitor, Padre Vítor Coutinho, e a ex-postuladora da Causa de Canonização de Francisco e Jacinta Marto, Irmã Ângela Coelho.
Em declarações à Ecclesia, o prelado do Lis disse que encontrou o Papa muito “alegre, satisfeito e afetuoso”, felicitando-o por ter conseguido com que presidisse à primeira peregrinação internacional do Centenário das Aparições, em Fátima. Terá o Pontífice dito a Dom António Marto “Sempre conseguiste levar-me a Fátima”, quando o recebeu com um “grande abraço”.
Esta visita era exclusivamente para, antes que terminasse o centenário, “agradecer ao Papa a peregrinação dele a Fátima”, disse o Bispo, frisando que a audiência fora uma oportunidade para conversar sobre a vida no Santuário e sobre o “aumento de peregrinos”, concretamente de grupos da Ásia. Mas aproveitou o ensejo para informar o Papa de que a peregrinação internacional de 12 e 13 de maio de 2018 será presidida pelo cardeal Jonh Tong, de Hong Kong, e a de outubro do mesmo ano por Dom Alexis Mitsuru Shirahama, bispo de Hiroshima.
Por seu turno, o Papa congratulou-se com isso e disse que era preciso prestar atenção à Ásia, pelo que falou da sua próxima visita a Mianmar, a antiga Birmânia, e ao Bangladesh, entre os dias 27 de novembro e 2 de dezembro. Nesses dias, em Mianmar, passará pelas cidades de Rangum e Nepiedó, seguindo depois para o Bangladesh para visitar a cidade de Daca.
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Na audiência, o Bispo falou ao Papa sobre a canonização dos pastorinhos, presidida por Francisco no dia 13 de maio, em Fátima, e sobre o aumento da devoção aos videntes de Fátima, visível no “triplicar” das visitas aos seus túmulos. Sobre o tema, o prelado contou:
Num diálogo muito fecundo, de quem lê a alma humana e deixa a gente surpreendida, o Papa falou da busca da inocência num mundo perturbado e da atenção e cuidado que é necessário dar às crianças”.
Por outro lado, colóquio com o Papa foi uma oportunidade para falar da misericórdia, concretamente sobre a celebração do sacramento da Reconciliação no Santuário de Fátima, com Bergoglio a “querer saber como se realiza” e a sublinhar que “é preciso ser misericordioso”, acentuando que “Deus é muito misericordioso com as misérias humanas”.
Na celebração do encerramento oficial da série de peregrinações aniversárias internacionais do Centenário das Aparições de Fátima, que vai decorrer a 12 e 13 de outubro, sob a presidência do Bispo de Leiria-Fátima, o mesmo vai transmitir os agradecimentos do Papa, pois, como refere:
O Papa pediu-me para transmitir aos peregrinos o agradecimento pelo acolhimento caloroso dispensado em Portugal, a memória grata da sua peregrinação, que constitui uma bênção para a Igreja, envia uma bênção especial para todos os peregrinos do Santuário e pediu-me para dizer aos peregrinos que não se esquecessem de rezar por ele”.
Segundo o que Dom António Marto declarou à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, no final da audiência, a frase “Sempre conseguiste levar-me a Fátima” agora foi já a repetição da exclamação que tivera o Papa quando chegou, a 12 de maio, à Base Aérea de Monte Real.
Por outro lado, se o responsável episcopal pelo Santuário, ao agradecer a visita papal, se fez porta-voz dos “ecos nacionais e internacionais que a peregrinação teve”, também o Santo Padre lhe replicou que ficara “muito contente e que a peregrinação tinha superado as suas próprias expectativas deixando-o surpreendido” e que “a peregrinação foi uma bênção para a Igreja”.
No contexto do tema da misericórdia abordado por Francisco e Dom António, o Papa quis obsequiar todos os elementos do grupo com a oferta do seu livro “O nome de Deus é Misericórdia”, autografado.
Não pode, acerca da misericórdia, ser ignorado o facto de ontem, dia 29 de setembro, o Papa ter recebido, ao meio dia, na Sala Clementina uns 60 participantes na Plenária do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (por ocasião da sua assembleia plenária), entidade que organizou, a nível central, o Jubileu da Misericórdia nos termos da Bula “Misericordiae Vultus”. Nesse encontro, Francisco exprimiu satisfação por poder refletir com eles sobre “a urgência que a Igreja sente, neste momento histórico, de renovar os esforços e o entusiasmo na sua perene missão de evangelização”. E agradeceu a Dom Rino Fisichella, Presidente daquele Conselho, o empenho com que promete continuar a levar adiante essa missão para fazer viver à comunidade eclesial os frutos do Ano Jubilar da Misericórdia. Foi ano de graça para a Igreja e não podemos permitir que esse grande entusiasmo seja diluído ou esquecido. O Povo de Deus sentiu fortemente o dom da misericórdia e redescobriu o Sacramento  da Reconciliação como eloquente expressão da bondade e ternura ilimitada de Deus. Por isso, A Igreja tem a grande responsabilidade de continuar, sem parar, a ser instrumento de misericórdia”.  
O anúncio da misericórdia que se concretiza e se torna visível no estilo de vida dos crentes é parte intrínseca do empenho de cada evangelizador. Assim, o Pontífice recomendou o não esquecimento das palavras de São Paulo: louvar a Deus que nos tornou fortes em Jesus Cristo e usou da misericórdia para connosco. E fê-lo para que quem é chamado a evangelizar seja também misericordioso para com os outros.
Detendo-se depois, propriamente sobre o tema da evangelização, o Papa argentino afirmou a necessidade de ter sempre presente que a evangelização, pela sua natureza, “pertence ao povo de Deus”, sublinhando, a este respeito, dois aspetos:
“O primeiro é o contributo que cada povo e as respetivas culturas dão ao caminho do Povo de Deus”.  Na verdade, de cada povo emerge uma riqueza que a Igreja é chamada a reconhecer e a valorizar com vista na unidade de “todo o género humano”.  E diz o Papa que as boas tradições que, em cada povo, constituem essa riqueza
São autênticos dons que exprimem a variedade infinita da ação criadora do Pai e que convergem na unidade da Igreja para fazer crescer a necessária comunhão a fim de ser semente de salvação, prelúdio de paz universal e lugar concreto de diálogo”.
Um segundo aspeto é que este ser “Povo evangelizador” induz a tomada de consciência de uma chamada que transcende a mera disponibilidade pessoal, inserindo-se numa “trama complexa de relações interpessoais”. Isto leva a viver “a profunda unidade e humanidade da Comunidade dos crentes” – algo que assume peculiar importância nesta época em que surge com força uma cultura nova, fruto de tecnologias, que fascina, mas que, ao mesmo tempo, carece de verdadeira relação interpessoal e  interesse pelo outro.
O Papa frisou ainda o grande conhecimento que a Igreja tem dos povos e que a tornam capaz de valorizar o património cultural, moral e religioso que perfila a identidade de gerações inteiras, assegurando que é, por isso,
Importante saber penetrar no coração da nossa gente, para descobrir aquele sentido de Deus e de amor que dá confiança e esperança para olhar para a frente com serenidade, não obstante as graves dificuldades e pobreza que somos obrigados a viver devido à avidez de poucos”.
Ora, se formos capazes de olhar em profundidade, poderemos encontrar o genuíno desejo de Deus que torna inquieto os corações de tantas pessoas  caídas, sem quererem, no abismo da indiferença que não deixa saborear a vida e construir serenamente o próprio futuro. E “a alegria da evangelização pode chegar a elas e dar-lhes de novo a força para a conversão”.
O Papa concluiu desejando aos membros do Pontifício Conselho para a Nova Evangelização um bom trabalho, sobretudo o da preparação do próximo Dia Mundial dos Pobres, que ocorrerá a 19 de novembro, mas não sem advertir que a “nova etapa da evangelização que somos chamados a percorrer é certamente obra de toda a Igreja, povo de Deus a caminho”. Há, pois, que redescobrir este horizonte de sentido e de concreta praxe pastoral a fim de favorecer o impulso para a própria evangelização, sem esquecer o valor social que pertence à genuína promoção humana integral”.
Provavelmente, segundo a sua missão dos Santuários e, em especial o de Fátima, têm especial responsabilidade neste quadro da nova evangelização, no testemunho doutrinal e atitudinal da misericórdia e na atenção ao desenvolvimento humano e integral – vertentes que levam a que do Dia Mundial dos Pobres não se reduza a mais uma efeméride, mas constitua uma oportunidade para a reflexão e o relançamento da estratégia de combate à pobreza e à luta pela dignidade da pessoa humana.
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Sempre conseguiste levar-me a Fátima” pode ser a frase a dizer à Senhora, ao Bispo ou ao organizador por cada um dos 20 sacerdotes que participaram na Peregrinação Jubilar dos Sacerdotes idosos e/ou doentes, que hoje terminou e que teve início no passado dia 28 de setembro, na Casa de Retiros de Nossa Senhora das Dores.
De facto, esta manhã na Basílica da Santíssima Trindade, os vinte padres concelebraram a Eucaristia presidida pelo Padre José Nuno silva, um dos capelães do santuário, que lembrou que a presença destes sacerdotes no Santuário de Fátima é “muito significativa porque simboliza os milhares de sacerdotes que aqui em Fátima confessaram milhões de peregrinos do mundo inteiro, que vieram à Cova da Iria ouvir uma palavra de misericórdia e conversão”.
“O Santuário de Fátima dá-vos graças”, reiterou o presidente da celebração, que afirmou, na homilia, que Deus “não nos livra de morrer, mas liberta-nos da morte”, de modo que “a morte deixa de ser a última palavra sobre o nosso destino”. Com efeito, “Deus oferece uma vitória sobre a morte, e essa é a verdade mais importante da nossa fé”. O capelão interrogou os presentes na celebração: “O que queremos de Deus? Que venha acelerado e nos arranque da morte sabendo que vamos morrer?”. E falando dos pastorinhos, disse:
Francisco e Jacinta não tiveram medo, mas viveram uma vida assumida e entregue a Deus, com paixão nos corações que salvava os outros”.
No final da celebração, um dos sacerdotes, o Padre António da Luz, proveniente dos Açores, com mais de 59 anos de sacerdócio, afirmou que “foram dias fantásticos”, especificando:
Foi uma iniciativa muito bem pensada, com momentos apropriados às nossas circunstâncias e necessidades, mesmo no que toca à temática considero que foi oportuna mesmo não sendo nova, porque a Verdade é sempre a mesma, mas de uma maneira adaptada à nossa condição”.
O sacerdote salientou a “forma diferente e nova como as coisas foram pensadas e transmitidas”, atribuindo-lhe um “grande valor”. E concluiu:
Mesmo em conversa com os outros colegas, estes mostraram-se edificados, e é uma opinião unânime, valeu muito a pena, e devemos muitas graças a Deus por isto ter acontecido”.
O responsável pela iniciativa, o Padre José Nuno Silva, deu as boas-vindas e lembrou:
Esta iniciativa é exatamente fazer justiça à história, a estes sacerdotes que anonimamente aqui ao longo de 100 anos acolheram quem aqui ouviu o apelo à conversão, e estes 20 que vêm participar representam milhares”.
O capelão, na abertura, disse que “Fátima tornou-se um confessionário de Portugal e mais tarde um confessionário global”. Na verdade, no ano Jubilar do Centenário das Aparições, o Santuário de Fátima reconhece que, ao longo de cem anos, muitos foram os corações tocados pela mensagem de Nossa Senhora, e esta atividade é “fazer um ato de justiça e gratidão”.
Para o Santuário de Fátima, há uma categoria de testemunhas privilegiadas deste toque da misericórdia e dos seus frutos: os sacerdotes. Muitos milhares, ano após ano, década após década, aqui exerceram o ministério da Reconciliação como confessores das multidões que ouviram e quiseram corresponder ao apelo à penitência que a Virgem Mãe aqui fez soar.
Como o programa previa, houve uma visita à exposição temática ‘As cores do Sol’, englobada na comemoração do centenário, e uma intervenção de Sónia Vazão sobre ‘A luz de Fátima no mundo contemporâneo’, bem como duas visitas/encontros sobre a ‘Irmã Lúcia, anciã da sabedoria de Deus’ e ‘Orar com São Francisco e Santa Jacinta Marto’.
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Sempre conseguiste levar-me a Fátima” pôde ser a frase que o recém-falecido (a 27 de setembro pp) Padre Joaquim Pereira da Cunha ao então Bispo do Porto, Dom António Francisco dos Santos, falecido a 11 de setembro, que diligenciou no sentido de o sacerdote então com 104 anos de idade (fez 105 a 8 de julho) poder cumprimentar o Papa na Basílica de Nossa Senhora do Rosário na manhã do dia 13 de maio. E é a frase que todos e cada um dos mais de 32 mil peregrinos da diocese do Porto, presentes na 2.ª Peregrinação diocesana ao Santuário de Fátima podem hoje rezar ao seu Bispo, que ali gizou um programa (agora testamento) pastoral e humanista para esta esperançosa e invicta Igreja da diocese portuense – bela na sua riqueza e diversidade, firme na sua unidade e forte na sua caridade pessoal e comunitária, estruturada e estruturante.
Sempre conseguiste levar-me a Fátima” é aquilo que muitos poderão dizer a familiares, amigos e orientadores ao verem-se tocados pelo amor carinhoso da Mãe de Misericórdia.

2017.09.30 – Louro de Carvalho 

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