O Santuário de Fátima foi, no passado dia 16 de setembro, palco da Peregrinação
Jubilar das Bandas Filarmónicas inserida nas celebrações do Centenário das
Aparições. Foram cerca de 40 bandas filarmónicas com 1750 músicos que rumaram à
Cova da Iria, oriundas de 16 dioceses de Portugal. Em declarações à Sala de
Imprensa do Santuário de Fátima, o Padre Joaquim Ganhão, coordenador da
peregrinação, desafiara todos os peregrinos a “virem cantar as maravilhas de
Deus”, neste ano que tem sido vivido com um “grande Magnificat”. E justificava a iniciativa:
“As bandas filarmónicas têm no nosso país
uma missão e um lugar muito significativo de missão com a Igreja e sobretudo
com a piedade mariana. Muitas das festas que de norte a sul acontecem são
festas dedicadas a Nossa Senhora e muitas dessas bandas participam nessas
procissões e ainda tocam nas igrejas e missas.”.
Segundo o
coordenador, este seria “um dia atípico naquilo que é a normal vivência do
Santuário de Fátima, o que mostra o interesse e a atenção para com esta
peregrinação”.
Fazendo a
conexão do evento e da atividade das bandas filarmónicas, o Padre Ganhão
inferia:
“A mensagem de Fátima traz não só a mensagem
da alegria e convite à conversão, mas é também um desafio da fé vivida e
testemunhada. A música ajuda a testemunhar isso mesmo, por ser um veículo
privilegiado: vejamos a experiência do Francisco com a sua flauta e mesmo a
Bíblia convida a louvar o Senhor ao som da música.”.
***
O dia
dividiu-se em dois momentos: a manhã dedicada aos desfiles e saudações
individuais a Nossa Senhora, e a tarde dedicada à eucaristia no Recinto de
Oração.
No período
da manhã, os desfiles iniciaram-se fora do Santuário, em dois pontos distintos,
dos quais partirão as bandas em direção ao Santuário: Rotunda da Rodoviária
Nacional e Rotunda de Santo António, a norte e a sul do Santuário, respetivamente.
Este foi, segundo o coordenador da Peregrinação, o ato destinado a “encher a
cidade de música ao longo de toda a manhã, expressão de que este Centenário tem
sido vivido em festa, não só em Fátima, mas na Igreja e no Santuário”, com o
objetivo “levar a expressão sonora além dos limites do Santuário”.
Os desfiles
culminaram na Capelinha das Aparições, onde cada banda fez a sua saudação
individual a Nossa Senhora. Às 12 horas, ocorreu a saudação conjunta também na
Capelinha das Aparições, com três composições musicais: “Bendizemos o teu nome”, “Sobre
os braços da Azinheira” e o refrão do “Hino
do Centenário”. E, após um tempo livre para almoço, decorreu a Celebração
Eucarística, às 15 horas, no Altar do Recinto de Oração. As bandas acompanharam
musicalmente durante a missa apenas a procissão de entrada e de saída da Imagem
de Nossa Senhora. Integraram a procissão de entrada e a procissão final cerca
de 160 músicos, de todas as 40 bandas presentes. Durante a celebração
eucarística, soou a marcha “Fátima”, da autoria do Capitão Amílcar Morais, em
estreia absoluta por esta ocasião. Segundo nota do compositor,
“Esta marcha solene escrita para banda
filarmónica é uma composição musical com propositada abordagem ao modo dórico,
linguagem musical gregoriana que faz parte da essência do canto monódico da
liturgia da Igreja”.
Na ocasião
da referida saudação conjunta, o vice-reitor do Santuário, Padre Vítor
Coutinho, afirmou que a celebração deste Centenário ficaria incompleta se não
houvesse um momento de festa como este. A este respeito, interrogou-se a si e
aos presentes:
“Como poderia a celebração deste
Centenário não contar também com esta vossa presença, de bandas filarmónicas,
que todas as semanas, por todo o País contribuem para o ambiente de festa de
tantas comunidades e ajudam muitas comunidades cristãs a celebrar as festas da
sua fé?”.
Prosseguiu
acentuando que, “com arte e com alma, ‘com a tuba e a trombeta’, como diz a
Sagrada Escritura, elevaremos ao Senhor uma prece de gratidão e de louvor”, e que
“celebrar aquilo que alimenta a nossa alma e que preenche o nosso coração
faz-nos olhar com confiança para o futuro e dá força à nossa esperança”. E
exortou:
“Façamos festa, com tudo o que temos
e somos. Celebremos na alegria a bondade do Senhor.”.
À Eucaristia, acompanhada pela banda
sinfónica portuguesa, seguiu-se a procissão com a imagem de regresso à
Capelinha das Aparições onde as bandas interpretaram algumas peças musicais. Segundo
o padre Joaquim Ganhão, o Santuário de Fátima encomendou uma marcha para
oferecer sendo interpretada pelas bandas presentes.
***
Na
celebração da Missa, no Recinto de Oração, o já referido vice-reitor do
Santuário, que presidiu, sublinhou a importância da música na vida das pessoas
e da Igreja, dizendo:
“A música põe-nos em sintonia com os
irmãos e ajuda-nos a rezar todos juntos como sendo um só corpo, como assembleia
orante. A música torna o nosso louvor mais solene e desperta em nós emoções que
nos abrem horizontes novos.”.
A partir duma
citação do papa Bento XVI, segundo a qual a música nasce da experiência do amor
e da dor e da experiência do encontro com Deus, o sacerdote sublinhou a
importância da música e do canto em Fátima “porque, sem música e sem canto,
ficamos mais distantes da experiência que aqui nos é oferecida”. Referindo-se a
este evento da Peregrinação Jubilar das Bandas Filarmónicas, iniciativa
integrada nas celebrações do Centenário das Aparições, o Padre Coutinho elogiou
a presença destas bandas que “faz suscitar um belo ambiente de festa e
reforça a alegria da celebração”. E acrescentou que “em Fátima há sempre um
convite à festa, porque nos sentimos em casa e porque a vida ganha aqui outro
sabor”, sublinhando:
“É festa porque junto do Coração de
Maria experimentamos de forma renovada a alegria de nos entregarmos a Deus, ao
Deus que nunca nos abandona”.
A partir da
perícopa evangélica do Evangelho de São João, que nos apresenta Jesus,
crucificado, acompanhado por Maria, Sua Mãe, pelo discípulo amado e pelas
mulheres que se mantiveram fiéis à relação com o Senhor, o Presidente da
Celebração afirmou que a cruz “é imagem de todos os dramas da
história”, representando “todos os humilhados e sofredores do mundo”, bem como
os que “se sentem longe de Deus ou os que duvidam da Sua presença”. E
afiançou:
“Tal como o Evangelho, Fátima
fala-nos de amor e de sofrimento e fala-nos do Deus que dá sentido à dor e abre
horizontes ao amor”.
Sublinhando
a importância de compreendermos que a vida é feita de adversidades, assegurou
que “a cruz diz-nos que o amor implica a dor”, mas que Deus “nunca abandona os
que ama”. E, interpelando a assembleia ali convocada e reunida, disse:
“A dúvida sobre a força do amor
também nos atormenta a nível pessoal, caros Amigos. Quem de nós não deseja ter
alguém na vida com quem possa contar sempre? Quem de nós não deseja viver
amores e amizades de fidelidade inquestionável?”.
Não perdeu o
ensejo de lembrar a 3.ª parte do Segredo, que fala dum povo que caminha rumo a uma
cruz, ao lado da qual está a Senhora, e acentuou que a figura da Mãe de Deus
junto à cruz
“É imagem daquilo que acontece na
realidade: nas cruzes da vida humana, Maria está sempre presente, com o seu
cuidado materno, a garantir-nos que Deus não deixa de nos acompanhar com o seu
amor terno”.
E enalteceu
o estatuto peculiar de Maria em Fátima, idêntico ao do Evangelho:
“Também em Fátima, Maria é a Mãe
junto à cruz: é Aquela que se coloca ao lado da humanidade destruída pelo ódio
e ferida por tantas dores. Em Fátima, Maria é a Mãe que se apresenta com um
coração capaz de acolher todas as nossas preces, com um coração onde nos
podemos refugiar e onde encontramos consolo.”.
Sob a égide
da cruz, a Mãe está efetivamente do lado da humanidade sofrente, disponibiliza
para todos e cada um de nós o seu coração como refúgio e consolo e torna-se
profecia de Deus:
“Em Fátima, a Virgem Maria reforça
em nós a certeza de que o nosso Deus é Alguém com quem podemos contar sempre:
Ele não desiste da humanidade e nada O fará afastar-se de nós, de cada um de
nós. Em Fátima, Maria mostra-nos um Deus que se preocupa com os aflitos da
humanidade e com a humanidade aflita. Temos um Deus que se aflige e preocupa,
um Deus que tem coração, um Deus que ‘enxuga as nossas lágrimas’.”.
***
Um dos
momentos mais singulares da celebração no Recinto de Oração foi o
acompanhamento do andor de Nossa Senhora – na entrada e no adeus – por duas
filarmónicas, constituídas, cada uma, por 70 músicos, representando todas as
filarmónicas ali presentes.
Como
foi referido, esta Peregrinação peculiar integra-se no centenário, cujas
celebrações começaram em 2010 e culminam, neste ano de 2017, num ano jubilar,
em que damos graças a Deus pelo dom destas aparições e por tudo aquilo que Ele
fez na Igreja, através de Fátima, ao longo destes 100 anos. Durante este ano
celebrativo, muitos cristãos, individual e comunitariamente, desejam peregrinar
ao Santuário para fazerem, sob a proteção do Imaculado Coração de Maria, uma
caminhada de fé ao encontro do amor de Deus, para agradecer ao Senhor pelas
suas maravilhas, para confiar à Mãe as preces de cada um e da humanidade
inteira. Neste contexto, o Santuário de Fátima entendeu dever convidar para uma
peregrinação própria todas as bandas filarmónicas, instituições com grande
historial musical e associativo, com uma forte presença nas festas religiosas –
peregrinação que foi uma bela ocasião para a experiência de peregrinos neste
Santuário, celebrando a fé, louvando o Senhor com alegria e confiando-nos ao
cuidado da Virgem Mãe.
Foram adrede escolhidos os cânticos, que foram devidamente preparados do
ponto de visto técnico e distribuídos atempadamente, tendo sido todos convidados
a preparar-se para que as celebrações fossem bem participadas, louvando o
Senhor “com a tuba e a trombeta”, para que esta peregrinação nos ajude a viver
em júbilo, na atitude de fé a que, em Fátima, a Mãe de Deus nos interpela. E, à medida que foram acontecendo as inscrições, foram
dadas instruções sobre a programação e a logística do evento.
São cerca de 850 bandas filarmónicas que
se espalham pelo país com uma grande tradição entre a cultura musical e a fé,
sobretudo presentes nas manifestações da religiosidade popular onde Nossa
Senhora tem grande presença. Trata-se dum património das comunidades a
preservar e que deve servir a missão da Igreja, como referiu oportunamente à
Agência Ecclesia o coordenador da
Peregrinação, apontando a “grande motivação e entusiasmo das bandas
participantes” desde a primeira hora.
A propósito, Vera Rainho, que integra a Banda Filarmónica de Instrução e Recreio da
Abrunheira (Montemor-o-Velho), em que participa desde pequena por
influência familiar, declarou ganhar-se “mais capacidade para o estudo desde
criança” e desenvolverem-se “muitos conhecimentos” e sublinhou o “sentido de
comunhão com todos” que se sente ao participar numa banda:
“A religião e a música sempre
estiveram muito ligadas. Penso ser importante para a fé e para a ligação entre
as várias bandas.”.
De Vila Real de Santo António chegaram 48
elementos da Banda Filarmónica da Associação Cultural da cidade, onde fazem
muitas procissões e participam de atos religiosos todo o ano. O maestro Manuel
Lopes Batista confirmou o entusiasmo desde a primeira hora para participar no
Jubileu das bandas filarmónicas, em Fátima.
E da Banda Musical de São Vicente de
Alfena chegaram 50 elementos para tocar em conjunto as músicas propostas pelo
Santuário de Fátima. A este propósito, Francisco Pereira, percussionista,
disse:
“As filarmónicas, desde o seu início, tiveram uma forte componente
religiosa, participando em procissões e eucaristias. São nas festas populares
uma componente essencial, mas falta uma formação para a participação litúrgica.
Estar presente na peregrinação é uma oportunidade para ‘mostrar a devoção à mãe
Maria’.”.
***
E foi assim o dia 16, em Fátima –
Santuário e Cidade – uma inédita, bela e singular jornada de piedade, cultura e
espetáculo. Quem havia de pensar!
2017.09.17 – Louro de
Carvalho
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