segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Fátima: Peregrinação Jubilar das Bandas Filarmónicas

O Santuário de Fátima foi, no passado dia 16 de setembro, palco da Peregrinação Jubilar das Bandas Filarmónicas inserida nas celebrações do Centenário das Aparições. Foram cerca de 40 bandas filarmónicas com 1750 músicos que rumaram à Cova da Iria, oriundas de 16 dioceses de Portugal. Em declarações à Sala de Imprensa do Santuário de Fátima, o Padre Joaquim Ganhão, coordenador da peregrinação, desafiara todos os peregrinos a “virem cantar as maravilhas de Deus”, neste ano que tem sido vivido com um “grande Magnificat”. E justificava a iniciativa:
As bandas filarmónicas têm no nosso país uma missão e um lugar muito significativo de missão com a Igreja e sobretudo com a piedade mariana. Muitas das festas que de norte a sul acontecem são festas dedicadas a Nossa Senhora e muitas dessas bandas participam nessas procissões e ainda tocam nas igrejas e missas.”.
Segundo o coordenador, este seria “um dia atípico naquilo que é a normal vivência do Santuário de Fátima, o que mostra o interesse e a atenção para com esta peregrinação”.
Fazendo a conexão do evento e da atividade das bandas filarmónicas, o Padre Ganhão inferia:
A mensagem de Fátima traz não só a mensagem da alegria e convite à conversão, mas é também um desafio da fé vivida e testemunhada. A música ajuda a testemunhar isso mesmo, por ser um veículo privilegiado: vejamos a experiência do Francisco com a sua flauta e mesmo a Bíblia convida a louvar o Senhor ao som da música.”.
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O dia dividiu-se em dois momentos: a manhã dedicada aos desfiles e saudações individuais a Nossa Senhora, e a tarde dedicada à eucaristia no Recinto de Oração.
No período da manhã, os desfiles iniciaram-se fora do Santuário, em dois pontos distintos, dos quais partirão as bandas em direção ao Santuário: Rotunda da Rodoviária Nacional e Rotunda de Santo António, a norte e a sul do Santuário, respetivamente. Este foi, segundo o coordenador da Peregrinação, o ato destinado a “encher a cidade de música ao longo de toda a manhã, expressão de que este Centenário tem sido vivido em festa, não só em Fátima, mas na Igreja e no Santuário”, com o objetivo “levar a expressão sonora além dos limites do Santuário”.
Os desfiles culminaram na Capelinha das Aparições, onde cada banda fez a sua saudação individual a Nossa Senhora. Às 12 horas, ocorreu a saudação conjunta também na Capelinha das Aparições, com três composições musicais: “Bendizemos o teu nome”, “Sobre os braços da Azinheira” e o refrão do “Hino do Centenário”. E, após um tempo livre para almoço, decorreu a Celebração Eucarística, às 15 horas, no Altar do Recinto de Oração. As bandas acompanharam musicalmente durante a missa apenas a procissão de entrada e de saída da Imagem de Nossa Senhora. Integraram a procissão de entrada e a procissão final cerca de 160 músicos, de todas as 40 bandas presentes. Durante a celebração eucarística, soou a marcha “Fátima”, da autoria do Capitão Amílcar Morais, em estreia absoluta por esta ocasião. Segundo nota do compositor,
Esta mar­cha solene escrita para banda filarmónica é uma composição musical com propositada abordagem ao modo dórico, linguagem musical gregoriana que faz parte da essência do canto monódico da liturgia da Igreja”.
Na ocasião da referida saudação conjunta,  o vice-reitor do Santuário, Padre Vítor Coutinho, afirmou que a celebração deste Centenário ficaria incompleta se não houvesse um momento de festa como este. A este respeito, interrogou-se a si e aos presentes:
Como poderia a celebração deste Centenário não contar também com esta vossa presença, de bandas filarmónicas, que todas as semanas, por todo o País contribuem para o ambiente de festa de tantas comunidades e ajudam muitas comunidades cristãs a celebrar as festas da sua fé?”.
Prosseguiu acentuando que, “com arte e com alma, ‘com a tuba e a trombeta’, como diz a Sagrada Escritura, elevaremos ao Senhor uma prece de gratidão e de louvor”, e que “celebrar aquilo que alimenta a nossa alma e que preenche o nosso coração faz-nos olhar com confiança para o futuro e dá força à nossa esperança”. E exortou:
Façamos festa, com tudo o que temos e somos. Celebremos na alegria a bondade do Senhor.”.
À Eucaristia, acompanhada pela banda sinfónica portuguesa, seguiu-se a procissão com a imagem de regresso à Capelinha das Aparições onde as bandas interpretaram algumas peças musicais. Segundo o padre Joaquim Ganhão, o Santuário de Fátima encomendou uma marcha para oferecer sendo interpretada pelas bandas presentes.
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Na celebração da Missa, no Recinto de Oração, o já referido vice-reitor do Santuário, que presidiu, sublinhou a importância da música na vida das pessoas e da Igreja, dizendo:
A música põe-nos em sintonia com os irmãos e ajuda-nos a rezar todos juntos como sendo um só corpo, como assembleia orante. A música torna o nosso louvor mais solene e desperta em nós emoções que nos abrem horizontes novos.”.
A partir duma citação do papa Bento XVI, segundo a qual a música nasce da experiência do amor e da dor e da experiência do encontro com Deus, o sacerdote sublinhou a importância da música e do canto em Fátima “porque, sem música e sem canto, ficamos mais distantes da experiência que aqui nos é oferecida”. Referindo-se a este evento da Peregrinação Jubilar das Bandas Filarmónicas, iniciativa integrada nas celebrações do Centenário das Aparições, o Padre Coutinho elogiou a presença destas bandas que “faz suscitar um belo ambiente de festa e reforça a alegria da celebração”. E acrescentou que “em Fátima há sempre um convite à festa, porque nos sentimos em casa e porque a vida ganha aqui outro sabor”, sublinhando:
É festa porque junto do Coração de Maria experimentamos de forma renovada a alegria de nos entregarmos a Deus, ao Deus que nunca nos abandona”.
A partir da perícopa evangélica do Evangelho de São João, que nos apresenta Jesus, crucificado, acompanhado por Maria, Sua Mãe, pelo discípulo amado e pelas mulheres que se mantiveram fiéis à relação com o Senhor, o Presidente da Celebração  afirmou que a cruz  “é imagem de todos os dramas da história”, representando “todos os humilhados e sofredores do mundo”, bem como os que “se sentem longe de Deus ou  os que duvidam da Sua presença”. E afiançou:
Tal como o Evangelho, Fátima fala-nos de amor e de sofrimento e fala-nos do Deus que dá sentido à dor e abre horizontes ao amor”.
Sublinhando a importância de compreendermos que a vida é feita de adversidades, assegurou que “a cruz diz-nos que o amor implica a dor”, mas que Deus “nunca abandona os que ama”. E, interpelando a assembleia ali convocada e reunida, disse:
A dúvida sobre a força do amor também nos atormenta a nível pessoal, caros Amigos. Quem de nós não deseja ter alguém na vida com quem possa contar sempre? Quem de nós não deseja viver amores e amizades de fidelidade inquestionável?”.
Não perdeu o ensejo de lembrar a 3.ª parte do Segredo, que fala dum povo que caminha rumo a uma cruz, ao lado da qual está a Senhora, e acentuou que a figura da Mãe de Deus junto à cruz
É imagem daquilo que acontece na realidade: nas cruzes da vida humana, Maria está sempre presente, com o seu cuidado materno, a garantir-nos que Deus não deixa de nos acompanhar com o seu amor terno”.
E enalteceu o estatuto peculiar de Maria em Fátima, idêntico ao do Evangelho:
Também em Fátima, Maria é a Mãe junto à cruz: é Aquela que se coloca ao lado da humanidade destruída pelo ódio e ferida por tantas dores. Em Fátima, Maria é a Mãe que se apresenta com um coração capaz de acolher todas as nossas preces, com um coração onde nos podemos refugiar e onde encontramos consolo.”.
Sob a égide da cruz, a Mãe está efetivamente do lado da humanidade sofrente, disponibiliza para todos e cada um de nós o seu coração como refúgio e consolo e torna-se profecia de Deus:
Em Fátima, a Virgem Maria reforça em nós a certeza de que o nosso Deus é Alguém com quem podemos contar sempre: Ele não desiste da humanidade e nada O fará afastar-se de nós, de cada um de nós. Em Fátima, Maria mostra-nos um Deus que se preocupa com os aflitos da humanidade e com a humanidade aflita. Temos um Deus que se aflige e preocupa, um Deus que tem coração, um Deus que ‘enxuga as nossas lágrimas’.”.
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Um dos momentos mais singulares da celebração no Recinto de Oração foi o acompanhamento do andor de Nossa Senhora – na entrada e no adeus – por duas filarmónicas, constituídas, cada uma, por 70 músicos, representando todas as filarmónicas ali presentes.
Como foi referido, esta Peregrinação peculiar integra-se no centenário, cujas celebrações começaram em 2010 e culminam, neste ano de 2017, num ano jubilar, em que damos graças a Deus pelo dom destas aparições e por tudo aquilo que Ele fez na Igreja, através de Fátima, ao longo destes 100 anos. Durante este ano celebrativo, muitos cristãos, individual e comunitariamente, desejam peregrinar ao Santuário para fazerem, sob a proteção do Imaculado Coração de Maria, uma caminhada de fé ao encontro do amor de Deus, para agradecer ao Senhor pelas suas maravilhas, para confiar à Mãe as preces de cada um e da humanidade inteira. Neste contexto, o Santuário de Fátima entendeu dever convidar para uma peregrinação própria todas as bandas filarmónicas, instituições com grande historial musical e associativo, com uma forte presença nas festas religiosas – peregrinação que foi uma bela ocasião para a experiência de peregrinos neste Santuário, celebrando a fé, louvando o Senhor com alegria e confiando-nos ao cuidado da Virgem Mãe.
Foram adrede escolhidos os cânticos, que foram devidamente preparados do ponto de visto técnico e distribuídos atempadamente, tendo sido todos convidados a preparar-se para que as celebrações fossem bem participadas, louvando o Senhor “com a tuba e a trombeta”, para que esta peregrinação nos ajude a viver em júbilo, na atitude de fé a que, em Fátima, a Mãe de Deus nos interpela. E, à medida que foram acontecendo as inscrições, foram dadas instruções sobre a programação e a logística do evento.
São cerca de 850 bandas filarmónicas que se espalham pelo país com uma grande tradição entre a cultura musical e a fé, sobretudo presentes nas manifestações da religiosidade popular onde Nossa Senhora tem grande presença. Trata-se dum património das comunidades a preservar e que deve servir a missão da Igreja, como referiu oportunamente à Agência Ecclesia o coordenador da Peregrinação, apontando a “grande motivação e entusiasmo das bandas participantes” desde a primeira hora.
A propósito, Vera Rainho, que integra a Banda Filarmónica de Instrução e Recreio da Abrunheira (Montemor-o-Velho), em que participa desde pequena por influência familiar, declarou ganhar-se “mais capacidade para o estudo desde criança” e desenvolverem-se “muitos conhecimentos” e sublinhou o “sentido de comunhão com todos” que se sente ao participar numa banda:
“A religião e a música sempre estiveram muito ligadas. Penso ser importante para a fé e para a ligação entre as várias bandas.”.
De Vila Real de Santo António chegaram 48 elementos da Banda Filarmónica da Associação Cultural da cidade, onde fazem muitas procissões e participam de atos religiosos todo o ano. O maestro Manuel Lopes Batista confirmou o entusiasmo desde a primeira hora para participar no Jubileu das bandas filarmónicas, em Fátima.
E da Banda Musical de São Vicente de Alfena chegaram 50 elementos para tocar em conjunto as músicas propostas pelo Santuário de Fátima. A este propósito, Francisco Pereira, percussionista, disse:
As filarmónicas, desde o seu início, tiveram uma forte componente religiosa, participando em procissões e eucaristias. São nas festas populares uma componente essencial, mas falta uma formação para a participação litúrgica. Estar presente na peregrinação é uma oportunidade para ‘mostrar a devoção à mãe Maria’.”.
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E foi assim o dia 16, em Fátima – Santuário e Cidade – uma inédita, bela e singular jornada de piedade, cultura e espetáculo. Quem havia de pensar!

2017.09.17 – Louro de Carvalho

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