segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Vem aí o Plano Nacional das Artes

As GOP (Grandes Opções do Plano) para 2018, a aprovar a par da Lei do Orçamento do Estado, incluem a criação de um Plano Nacional das Artes, a funcionar, na área da Cultura, em ligação com os já existentes planos nacionais de Leitura e do Cinema.
Segundo o documento, a que a Lusa teve acesso no passado dia 15 de setembro,
O Governo continuará o seu trabalho olhando a cultura e a arte como fatores de inclusão social e de criação de emprego, investindo na criação de projetos de incentivo à inovação e coesão social”.
Trata-se, como pode ler-se na última página do predito documento, de “um plano integrado de agregação do acesso dos cidadãos a todas as expressões artísticas: o Plano Nacional das Artes que funcionará em integração com o Plano Nacional de Leitura (PNL) e o Plano Nacional de Cinema (PNC)”. Em dois pontos adicionais, o Executivo diz pretender o desenvolvimento de “projetos em parceria para territórios específicos visando a coesão territorial”, bem como o fomento dum “programa de promoção do ensino artístico”. Por outro lado, intenta lançar e consolidar “plataformas que agreguem a informação cultural do país e a disponibilizem a todos os públicos”, para lá de facilitar “o acesso à cultura, através da digitalização e disponibilização para fruição pública de bens, obras, acervos e arquivos culturais”, e desenvolver “estratégias de facilitação à acessibilidade dos cidadãos aos organismos e iniciativas culturais”.
Esta ideia-projeto já constava no Programa Nacional de Reformas para 2017, segundo o qual será constituído um
Grupo de trabalho interministerial que promova a coordenação do plano em estreita ligação ao Plano Nacional de Leitura e ao Plano Nacional do Cinema, desenvolvido pelo Instituto do Cinema e Audiovisual em colaboração com o Ministério da Educação, incluindo a acessibilidade dos arquivos pela Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema”.
O PNC, cuja criação foi veiculada em Diário da República em 2013, é
Um programa de literacia para o cinema e de divulgação de obras cinematográficas nacionais junto do público escolar, garantindo instrumentos essenciais e leitura e interpretação de obras cinematográficas junto dos alunos das escolas abrangidas pelo programa”.
Por sua vez, o PNL, lançado em 2006, estabelece como objetivos para a década entre 2017 e 2027: o apoio e fomento de “programas especialmente vocacionados para favorecer a integração social pela leitura, em diferentes suportes; a formação dos diferentes segmentos da população (crianças, jovens e adultos); a inclusão de pessoas com necessidades específicas; o desenvolvimento articulado duma cultura científica, literária e artística; e, ainda, o acesso ao saber e à cultura com recurso às tecnologias de informação e comunicação”.
Estes planos incluem listas de obras recomendadas ou de referência nas respetivas vertentes.
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Recorde-se que PNL foi aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 86/2006, de 1 de junho, assumindo-se como resposta institucional à preocupação pelos níveis de literacia da população em geral e, em particular, dos jovens, significativamente inferiores aos da média europeia. Concretiza-se num conjunto de estratégias de promoção do desenvolvimento de competências nos domínios da leitura e da escrita, bem como do alargamento e aprofundamento dos hábitos de leitura, sobretudo entre a população escolar.
De entre as principais ações promovidas ou a promover, destacam-se: a promoção da leitura diária em jardins de infância e escolas de 1.º e 2.º ciclos nas salas de aula, da leitura em contexto familiar, da leitura em bibliotecas públicas e noutros contextos; o recurso aos meios de comunicação social e a campanhas de sensibilização da opinião pública; e a produção de programas centrados no livro e na leitura a emitir pela rádio e pela televisão. Para tanto, o PNL, entre outros instrumentos, tem recorrido a estudos técnicos que permitam operacionalizar metas a atingir, em cada fase, criar mecanismos de avaliação para verificar a respetiva consecução e avaliar a eficácia das diferentes ações lançadas no âmbito do PNL, sujeitos a apreciação dum conselho científico de especialistas convidados para o efeito pelos membros do Governo com a responsabilidade pelo Plano.
Em 2009 e reiterando os objetivos, recursos e métodos, procedeu a Resolução do Conselho de Ministros n.º 33/2009, de 30 de dezembro, a uma alteração cirúrgica da anterior, que passou basicamente pela nomeação de novo comissário do PNL.
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Este ano, a Resolução do Conselho de Ministros n.º 48-D/2017, de 31 de março, vem redefinir o horizonte temporal do PNL, transformando-o no Plano Nacional de Leitura 2027 e aprovando as suas linhas orientadoras.
No preâmbulo reafirma-se “a educação e a cultura como eixos de governação”, pressupondo a assunção da leitura como prioridade política e tomando “esta competência como básica para o acesso plural ao conhecimento e ao enriquecimento cultural”; perspetiva-se “o domínio alargado da competência da leitura” como “condição fundamental para a construção e consolidação de uma sociedade livre, com coesão social, acesso democrático à informação, ao conhecimento e à criação e fruição culturais”; e recorda-se que, nos últimos 10 anos, o PNL “concretizou um conjunto de estratégias destinadas a desenvolver as competências nos domínios da leitura e da escrita” e “a alargar e a aprofundar os hábitos de leitura” da nossa sociedade, designadamente da população escolar”.
Reconhecendo que “a análise dos indicadores relativos à literacia e às práticas de leitura em Portugal tem revelado uma evolução sustentada”, afirma-se ainda “a necessidade de um maior investimento numa política pública de leitura. Por isso, “a ampliação e o reforço do PNL, aprofundando a articulação entre a educação, a cultura, a ciência e a tecnologia, enquanto eixos transversais da intervenção na esfera pública”, constituem a expressão do empenho do Governo “numa estratégia nacional de elevação dos níveis de literacia, visando qualificar a população portuguesa e prepará-la para as exigências da sociedade do século XXI”. Prosseguindo na qualificação da população, releva-se “a construção de ambientes propícios à valorização do saber, que a literacia potencia, representando os hábitos continuados de leitura “uma vantagem no desempenho cognitivo e na aprendizagem, mobilizando a experiência cultural”.
Nesta nova etapa, a política de promoção da leitura tem de acentuar as linhas de força orientadoras e os programas estruturantes que marcaram o PNL entre 2006 e 2016 e projetar, para a próxima década, a “aposta em novas vertentes, contribuindo para a qualificação, a inovação e a competitividade da sociedade portuguesa”. Para tal, importa “robustecer a política do livro, da leitura e das bibliotecas, com o objetivo de favorecer os hábitos de leitura em toda a comunidade, reforçando-os no contexto educativo e formativo, com vista à aprendizagem ao longo da vida. Para cumprir este objetivo, esta nova etapa do PNL para 2017-2027 (PNL 2027) apoia e fomenta “programas especialmente vocacionados para favorecer a integração social através da leitura, em diferentes suportes; a formação dos diferentes segmentos da população (crianças, jovens e adultos); a inclusão de pessoas com necessidades específicas; o desenvolvimento articulado de uma cultura científica, literária e artística; e, ainda, o acesso ao saber e à cultura com recurso às tecnologias de informação e comunicação.
No âmbito do cumprimento do Programa do Governo e no das atribuições de outras entidades,
“Compete às áreas das autarquias locais, da cultura, da ciência, tecnologia e ensino superior e da educação, o desenvolvimento de uma política integrada de promoção da leitura e da escrita e das múltiplas literacias, nomeadamente, a cultural, a científica e a digital. Para este fim, concorrem diretamente o Programa de Promoção da Leitura, a Rede de Centros de Ciência Viva, a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, a Rede de Bibliotecas Escolares e as bibliotecas das instituições do ensino superior.”.
Por isso, o PNL 2027 – visando “a consolidação de uma política de parcerias, com contributo de mecenas e patrocinadores, bem como de outras entidades ligadas à cultura, à ciência, tecnologia e ensino superior e à educação, considerada fundamental para a criação de um ambiente social favorável à valorização do livro, da leitura e da experiência cultural e científica” – convoca como parceiros centrais:
As escolas, as bibliotecas, as instituições do ensino superior, os centros de formação, de reconhecimento, validação e qualificação, as unidades de investigação, as instituições de cultura, ciência e tecnologia e as autarquias locais”.
E, visando o “envolvimento mais vasto da sociedade”, pretende-se
Prosseguir a colaboração com um leque alargado de intervenientes, designadamente, associações, serviços educativos, mediadores de leitura, voluntários, escritores, ilustradores, criadores, investigadores, editores, livreiros, entre outros, que se disponibilizem a participar em ações ou a promover iniciativas”.
Assim, a predita Resolução pretende “promover o Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL 2027), no horizonte da próxima década, estabelecendo uma aposta na consolidação das ações concretizadas nos primeiros 10 anos do plano e em novas vertentes a desenvolver até 2027, através de um reforço da articulação entre as áreas das autarquias locais, da cultura, da ciência, tecnologia e ensino superior e da educação”; e aprovar as suas linhas orientadoras.
As linhas orientadoras para o PNL 2027 passam, entre outras vertentes,
- Pela criação dum vasto compromisso social em torno da promoção da leitura como prioridade política, com vista ao desenvolvimento da literacia e ao reforço dos hábitos de leitura na população;
- Pelo lançamento de programas dirigidos a crianças, jovens e adultos, visando desenvolver múltiplas literacias, como as da leitura e escrita, a digital, da informação visual, científica e tecnológica, por forma a preparar a população portuguesa para as exigências da sociedade do século XXI;
- Pelo reforço e diversificação da intervenção dirigida ao desenvolvimento de competências de crianças e jovens em contexto escolar e da população adulta em percurso de qualificação;
- Pela dinamização de nova vertente de intervenção focada na população (jovem adulta e adulta), em particular, nos segmentos da população que adquiriu de forma ténue competências leitoras ou que, por motivos diversos, não as adquiriu ao longo da vida;
- Pela implementação dum conjunto de ações de reforço das competências de leitura e escrita, dirigidas à inclusão das pessoas com necessidades específicas;
- Pela promoção das relações entre leitura, literatura, artes, ciências e tecnologia e do fomento da cultura científica, tecnológica e artística, em colaboração com instituições de ciência e de cultura;
- Pelo incentivo à produção e disseminação de conteúdos e estudos académicos sobre leitura e escrita;
- Pela promoção de projetos de formação de professores, mediadores de leitura, agentes culturais e outros intervenientes;
- Pelo reforço da ligação à sociedade e às comunidades locais, designadamente pela mobilização dos meios literários e científicos e dos órgãos da comunicação social, para a participação em projetos de promoção da leitura e da escrita;
- Pelo estabelecimento de novas parcerias e realização de ações concertadas, com o apoio de entidades públicas e privadas, nacionais e internacionais;
-Pela promoção de conteúdos inclusivos, interculturais e livres de estereótipos, que estimulem o pensamento crítico e a cidadania ativa;
- Pelo reforço da articulação entre a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, a Rede de Bibliotecas Escolares e as bibliotecas das instituições de ensino superior.
- Pela monitorização regular da execução dos programas e medidas constantes do PNL 2027 e garantir o cumprimento dos respetivos prazos;
- Pela criação duma comissão interministerial que estude, em regime de colegialidade, e proponha soluções ao Governo; criação dum conselho científico que de garantias de rigor científico e adequação das medidas e do processo; e criação duma comissão de honra, composta por individualidades que tenham contribuído significativamente com apoios ou serviços para a promoção da leitura, em reconhecimento do peso institucional do PNL 2027.   
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No atinente ao PNC (Plano Nacional de Cinema) recorde-se que é iniciativa conjunta da Presidência do Conselho de Ministros, através do Gabinete do Secretário de Estado da Cultura, e do então Ministério da Educação e Ciência, pelo Gabinete do então Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, conforme Despacho n.º 15377/2013, de 26 de novembro, e operacionalizado pelo ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual), pela Cinemateca Portuguesa — Museu do Cinema e pela DGE (Direção-Geral da Educação), ora assumida e continuada pelas instâncias congéneres.
O PNC é um programa de literacia para o cinema e de divulgação de obras cinematográficas nacionais junto do público escolar, garantindo instrumentos essenciais e leitura e interpretação de obras cinematográficas junto dos alunos das escolas abrangidas pelo programa, em paralelo e em complementaridade com o PNL.
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Ainda estão por definir a estrutura e as linhas orientadoras do Plano Nacional das Artes, mas se o Conselho de Ministros lhe imprimir, aliás tal como o deverá fazer ao PNC, a pedalada que se evidencia no PNL 2027, a Cultura passará a mandar em Portugal. Quem dera que mandasse mais que a finança, a banca ou as agências de rating!

2017.09.18 – Louro de Carvalho

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