É este o pano de fundo da
peregrinação internacional aniversária da 5.ª Aparição de Nossa Senhora em
Fátima, a cujas celebrações presidiu o penitenciário-mor da Santa Sé, cardeal italiano
Mauro Piacenza, e que decorreu entre os dias 12 e 13 de setembro, em torno do
tema “Mãe da Igreja, rogai por nós”.
Esta peregrinação internacional aniversária contou com 157 grupos inscritos
(8982
peregrinos),
provenientes de 35 países, tendo marcado presença dois cardeais, 18 bispos e
340 sacerdotes. O Santuário de Fátima destacou a peregrinação do Apostolado
Mundial de Fátima da Republica Checa, acompanhada pelo cardeal Dominik Duka, Presidente
da Conferência Episcopal daquele país. E, além da peregrinação nacional da República
Checa, estiveram (e ainda estão) presentes na Cova da Iria mais de mil colaboradores e
benfeitores da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que celebra 70 anos de
existência e o 50.º aniversário da sua consagração a Nossa Senhora de Fátima (ora renovada) – e cujas jornadas
peregrinacionais se estendem até ao dia 15.
A AIS integra esta peregrinação internacional
aniversária a Fátima reiterando a consagração a Nossa Senhora que realizou há
50 anos. E, por estes dias, colaboradores e benfeitores estão na Cova da Iria
para juntos renovarem os três pilares da sua ação internacional: informação,
oração e partilha – que se estende a tantos cenários onde os cristãos são
perseguidos por motivos de fé.
***
Na Conferência de Imprensa que se tornou usual antes do início das
peregrinações aniversárias, no dia 12, Dom Mauro Piacenza, também presidente
internacional da AIS, advertiu para a necessidade de preservar a presença
cristã no Médio Oriente e manifestou a sua preocupação com os “focos” de
potenciais “graves guerras”, lembrando que a AIS começou o seu trabalho há 70
anos, após a destruição do nazismo e da perseguição religiosa nos países do
antigo bloco comunista do Leste da Europa. Destacando a ação desta fundação
pontifícia junto das comunidades cristãs no Médio Oriente, “para que as terras
bíblicas não fiquem desprovidas da vida cristã”, admitiu que “o panorama não é
idêntico ao final da II Guerra Mundial, mas há muitíssimas necessidades”,
Segundo este alto responsável pontifício, os esforços da AIS estão
concentrados no Iraque e na Síria, com a reconstrução de casas e Igrejas,
inclusive de comunidades ortodoxas, num esforço “ecuménico”, para que a
presença cristã não se “evapore”.
Mauro Piacenza sublinhou a ligação da AIS à mensagem de Fátima,
“uma luz que diz toda a misericórdia de Deus com a sua gente” e de cuja
solicitude “a AIS quer ser baços e mãos”.
A conferência de imprensa contou com a presença do
secretário-geral internacional da AIS, Philipp Ozores, que realçou a ação da
fundação em 150 países (reuniu aqui 23 secretariados) para “fortalecer a Igreja Católica na sua
mensagem de fé”, com ênfase nos cristãos perseguidos.
E Catarina Martins de Bettencourt, diretora da Fundação AIS em Portugal,
falou, por sua vez, numa peregrinação “muito importante”, tendo em conta que a
presença de mais de mil pessoas manifesta a “vitalidade da obra”, centrada nos
que sofrem em todo o mundo “por causa da perseguição religiosa”. E não se
esqueceu de deixar uma homenagem a Dom António Francisco dos Santos, Bispo do
Porto, que faleceu do dia 11, recordando a sua “simpatia, generosidade e
partilha de afetos, especialmente para com os mais pobres”.
***
No início da peregrinação, a 12 de setembro, o cardeal Dom Mauro
Piacenza, penitenciário-mor da Santa Sé, saudou os peregrinos como se
fosse o anfitrião e, declarando perante milhares de pessoas reunidas no Recinto
de Oração, disse:
“Bem-vindos à terra da Senhora de Branco: coloquemos a nossa
peregrinação, peregrinação de fé, sob a proteção dos Pastorinhos: que eles nos
ajudem a compreender a verdadeira mensagem de Fátima”.
Falando do Centenário das Aparições, defendeu que “a mensagem
profética de Maria” continua atual, não se limitando ao período de 1917 a 2000,
ano em que se revelou publicamente a terceira parte do chamado Segredo de
Fátima. E afiançou que “o triunfo do Coração Imaculado de Maria é o acontecer
de Cristo nas consciências dos homens e na história do mundo”.
O penitenciário-mor alertou para a implantação de uma
“ditadura do pensamento único” e da “guerra aos bocados”, a nível mundial, que
o Papa Francisco tem denunciado e que “poderia deflagrar de um momento para o
outro”. Por isso, sustentou:
“Olhando para o cenário mundial, seria impossível negar a atualidade de
Fátima”.
O cardeal Piacenza deixou uma mensagem especial de boas-vindas aos
participantes na peregrinação da AIS, desafiando-os a “levar sempre o amor, a misericórdia, o
socorro de Jesus a todas as situações de sofrimento em que a Igreja se encontra
no mundo”.
Este momento de oração na Capelinha das Aparições contou com a
saudação de Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima – que no dia 13 não iria poder
estar presente por se encontrar no Porto para as exéquias solenes de Dom
António Francisco dos Santos –, recordando as “vítimas dos incêndios” antes de
rezar pela paz no Médio Oriente, pelos refugiados e pelos cristãos perseguidos.
O responsável pela Diocese do Lis agradeceu a presença do cardeal italiano,
presidente internacional da fundação AIS, em peregrinação a Fátima nos seus 70
anos de existência e nos 50 anos de consagração da Obra à Virgem. E prosseguiu Dom
António Marto:
“Aqui em Fátima experimentamos de modo particular que temos uma mãe,
como aqui disse repetidamente o Papa Francisco”.
O Bispo de Leiria-Fátima saudou os peregrinos “do país e do
mundo”, com destaque para a peregrinação da República Checa, acompanhada pelo
cardeal Dominik Duka, presidente da Conferência Episcopal local, que no final
da celebração do 13 de setembro iria receber solenemente uma Imagem Peregrina
de Nossa Senhora de Fátima.
***
Na homilia da Missa do dia 12, o cardeal Piacenza disse que, cem anos
depois das aparições, Fátima está por completar, garantindo:
“Estaria em erro quem pensasse que a
missão profética de Fátima já está concluída. Fátima não terminou.”.
O Presidente da Celebração Eucarística lembrou que a Virgem Maria apareceu
em Fátima, não só para exortar os homens à conversão e à oração, mas com um propósito
profético: o de cada um se encontrar
internamente com Cristo, se converter e ser testemunho para os outros.
Só assim o Coração Imaculado de Maria triunfará. Para o cardeal,
“O triunfo do Coração Imaculado de
Maria é isto mesmo: o acontecer de Cristo nas consciências dos homens e na
história do mundo; o acontecer de Cristo e, com Ele, d’Aquela que O gerou,
oferecendo-O por nós e pela nossa salvação; o acontecer, antes de mais em nós,
da salvação que nasce do encontro redentor com Cristo e que, por isso, através
de nós, leva à apresentação ao mundo do Senhor.”.
O penitenciário-mor da Santa Sé alertou ainda para as consequências duma
“recusa definitiva de Deus” e afirmou que a oração é “um grande exorcismo sobre
o mundo”. Segundo o cardeal, “também neste sentido, Fátima, ainda não se
completou”, porque “não se completou ainda a missão da Igreja, que permanecerá
viva até ao fim dos séculos, em todas as circunstâncias históricas e apesar de
todas as adversidades vindas da cultura e do poder”.
***
Na homilia do dia 13, o
cardeal Piacenza denunciou o que qualificou como um ataque “sem precedentes” à
família e à vida na sociedade contemporânea, dizendo sem papas na língua:
“Este violento ataque à família é sem precedentes na história, tanto de
um ponto de vista cultural como sob o aspeto jurídico”.
O responsável da Santa Sé
falou duma “destruição cultural da família”, convocando os peregrinos a
“resistir, resistir, resistir com a força da fé e da caridade” e advertindo
para as consequências do “tremendo ataque ao matrimónio que, em todo o mundo,
foi desencadeado, qual último assalto do maligno”. E sustentou ancorado na
mensagem bíblica:
“Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e pô-lo nessa irrenunciável
relação de unidade dual entre homem e mulher, que é pressuposto indispensável
para a vida”.
Como fizera na Missa da
Vigília da peregrinação, o cardeal italiano sublinhou o caráter
“profético” desta mensagem sobre a família:
“Estamos convencidos de que nada é mais profético, mais moderno, mais
anticonformista do que defender a vida, a educação, reconhecendo que elas
constituem hoje uma verdadeira emergência”.
Para o penitenciário-mor,
ser cristão na “velha e cansada Europa” é hoje “uma atitude contra a corrente;
sob certo ponto de vista, até mesmo uma atitude escarnecida”. Por isso, apelou:
“Vigiemos, pois, caríssimos irmãos, para que não acabe o ‘bom vinho’ da
nossa fé; para que o ‘bom vinho’ da nossa fé não se veja aguado pela nossa
constante mundanização, pelo ceder às tentações do mundo e à ditadura do
‘pensamento único’ que é difundido com todos os meios”.
***
No final da celebração, o
já referido cardeal checo Cardeal Dominik Duka recebeu
solenemente uma Imagem Peregrina de Nossa
Senhora de Fátima, que vai permanecer na República Checa até 8 de outubro,
percorrendo dioceses e santuários daquelas Igrejas locais. Por sua vez, Dom
Dominik Duka entregou ao Santuário de Fátima uma réplica da imagem do Menino Jesus de Praga em sinal de reconhecimento por esta
“ligação” entre Fátima e a história da República Checa, dizendo ao Reitor do
Santuário, ali em representação do prelado diocesano:
“Neste
lugar único, na Cova da iria, aqui em Fátima, queria agradecer-lhe
verdadeiramente de todo o coração, por este momento extraordinário, no qual,
com esta celebração eucarística, podemos conjuntamente dar graças a Nossa
Senhora de Fátima”.
Assim, no final da
peregrinação, o cardeal presidente da Conferência Episcopal da República Checa,
agradeceu, em Fátima a “liberdade reconquistada” no país, dizendo, perante os
milhares de peregrinos, incluindo os que integravam a peregrinação do
Apostolado Mundial de Fátima da Republica Checa, que “a
história das aparições de Nossa Senhora está ligada à história da nossa pátria
e da nossa Igreja na Boémia, Morávia e Silésia” e, por isso, pela segunda
vez, a Igreja checa decidiu fazer uma peregrinação nacional à Cova da Iria. E
especificou:
“Estamos aqui reunidos, pela segunda vez, para a
peregrinação nacional de agradecimento. Na primeira peregrinação, aqui,
demos graças pela liberdade reconquistada e, hoje, damos graças pela nova
geração, que cresceu nesta liberdade: uma geração que não conheceu a prisão
nazi, a prisão comunista, o ultraje, a perda da liberdade, a perseguição pelo
exercício da fé religiosa. Encontramo-nos aqui, todos juntos – homens,
mulheres, mães, pais, filhos, religiosos e religiosas, sacerdotes e também
bispos”.
E, ao entregar ao Santuário a predita réplica da imagem
do Menino Jesus de Praga, confessou:
“Estamos aqui também para tomar
consciência de que é graças ao triunfo do Coração Imaculado de Maria que
podemos viver em liberdade”.
Por sua vez, o reitor do Santuário, ao entregar a
imagem peregrina da Virgem, afirmou-a como a “grande embaixadora da mensagem de Fátima e deste
Santuário” e fez votos de que possa
“Levar conforto a quantos sofrem, levar
força a quantos testemunham corajosamente a sua fé em ambiente adverso e abrir
caminhos para Deus no coração de quantos com ela contactarem”.
E o Cardeal Dominik Duka
afirmou, ainda, que apesar dos tempos serem outros, persistem “ataques à verdadeira humanidade do homem, à
religião, [o] que pretende destruir
a célula fundamental da sociedade e da Igreja, que pretende destruir a família”.
Por
isso deixou um compromisso:
“Queremos sustentar e promover, com a
oração, mas também com o nosso empenho concreto e incansável, a nossa
identidade cristã europeia, a qual não é concebível sem o culto mariano e sem o
símbolo da cruz – o testemunho do amor supremo de Deus para com o homem e do
homem para com o homem”.
***
Há,
pois, muito que aprender com Fátima e importa assumir um compromisso inabalável
com Cristo e com a Igreja num e para um mundo que precisa cada vez mais de
justiça, paz e fraternidade, pela inclusão, pela dignidade das pessoas – todas e
de cada uma.
2017.09.13 – Louro de Carvalho
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