quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A mensagem profética de Maria em Fátima continua atual

É este o pano de fundo da peregrinação internacional aniversária da 5.ª Aparição de Nossa Senhora em Fátima, a cujas celebrações presidiu o penitenciário-mor da Santa Sé, cardeal italiano Mauro Piacenza, e que decorreu entre os dias 12 e 13 de setembro, em torno do tema “Mãe da Igreja, rogai por nós”.
Esta peregrinação internacional aniversária contou com 157 grupos inscritos (8982 peregrinos), provenientes de 35 países, tendo marcado presença dois cardeais, 18 bispos e 340 sacerdotes. O Santuário de Fátima destacou a peregrinação do Apostolado Mundial de Fátima da Republica Checa, acompanhada pelo cardeal Dominik Duka, Presidente da Conferência Episcopal daquele país. E, além da peregrinação nacional da República Checa, estiveram (e ainda estão) presentes na Cova da Iria mais de mil colaboradores e benfeitores da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que celebra 70 anos de existência e o 50.º aniversário da sua consagração a Nossa Senhora de Fátima (ora renovada) – e cujas jornadas peregrinacionais se estendem até ao dia 15.
A AIS integra esta peregrinação internacional aniversária a Fátima reiterando a consagração a Nossa Senhora que realizou há 50 anos. E, por estes dias, colaboradores e benfeitores estão na Cova da Iria para juntos renovarem os três pilares da sua ação internacional: informação, oração e partilha – que se estende a tantos cenários onde os cristãos são perseguidos por motivos de fé.
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Na Conferência de Imprensa que se tornou usual antes do início das peregrinações aniversárias, no dia 12, Dom Mauro Piacenza, também presidente internacional da AIS, advertiu para a necessidade de preservar a presença cristã no Médio Oriente e manifestou a sua preocupação com os “focos” de potenciais “graves guerras”, lembrando que a AIS começou o seu trabalho há 70 anos, após a destruição do nazismo e da perseguição religiosa nos países do antigo bloco comunista do Leste da Europa. Destacando a ação desta fundação pontifícia junto das comunidades cristãs no Médio Oriente, “para que as terras bíblicas não fiquem desprovidas da vida cristã”, admitiu que “o panorama não é idêntico ao final da II Guerra Mundial, mas há muitíssimas necessidades”,
Segundo este alto responsável pontifício, os esforços da AIS estão concentrados no Iraque e na Síria, com a reconstrução de casas e Igrejas, inclusive de comunidades ortodoxas, num esforço “ecuménico”, para que a presença cristã não se “evapore”.
Mauro Piacenza sublinhou a ligação da AIS à mensagem de Fátima, “uma luz que diz toda a misericórdia de Deus com a sua gente” e de cuja solicitude “a AIS quer ser baços e mãos”.
A conferência de imprensa contou com a presença do secretário-geral internacional da AIS, Philipp Ozores, que realçou a ação da fundação em 150 países (reuniu aqui 23 secretariados) para “fortalecer a Igreja Católica na sua mensagem de fé”, com ênfase nos cristãos perseguidos.
E Catarina Martins de Bettencourt, diretora da Fundação AIS em Portugal, falou, por sua vez, numa peregrinação “muito importante”, tendo em conta que a presença de mais de mil pessoas manifesta a “vitalidade da obra”, centrada nos que sofrem em todo o mundo “por causa da perseguição religiosa”. E não se esqueceu de deixar uma homenagem a Dom António Francisco dos Santos, Bispo do Porto, que faleceu do dia 11, recordando a sua “simpatia, generosidade e partilha de afetos, especialmente para com os mais pobres”.
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No início da peregrinação, a 12 de setembro, o cardeal Dom Mauro Piacenza, penitenciário-mor da Santa Sé, saudou os peregrinos como se fosse o anfitrião e, declarando perante milhares de pessoas reunidas no Recinto de Oração, disse:
Bem-vindos à terra da Senhora de Branco: coloquemos a nossa peregrinação, peregrinação de fé, sob a proteção dos Pastorinhos: que eles nos ajudem a compreender a verdadeira mensagem de Fátima”.
Falando do Centenário das Aparições, defendeu que “a mensagem profética de Maria” continua atual, não se limitando ao período de 1917 a 2000, ano em que se revelou publicamente a terceira parte do chamado Segredo de Fátima. E afiançou que “o triunfo do Coração Imaculado de Maria é o acontecer de Cristo nas consciências dos homens e na história do mundo”.
O penitenciário-mor alertou para a implantação de uma “ditadura do pensamento único” e da “guerra aos bocados”, a nível mundial, que o Papa Francisco tem denunciado e que “poderia deflagrar de um momento para o outro”. Por isso, sustentou:
Olhando para o cenário mundial, seria impossível negar a atualidade de Fátima”.
O cardeal Piacenza deixou uma mensagem especial de boas-vindas aos participantes na peregrinação da AIS, desafiando-os a “levar sempre o amor, a misericórdia, o socorro de Jesus a todas as situações de sofrimento em que a Igreja se encontra no mundo”.
Este momento de oração na Capelinha das Aparições contou com a saudação de Dom António Marto, Bispo de Leiria-Fátima – que no dia 13 não iria poder estar presente por se encontrar no Porto para as exéquias solenes de Dom António Francisco dos Santos –, recordando as “vítimas dos incêndios” antes de rezar pela paz no Médio Oriente, pelos refugiados e pelos cristãos perseguidos. O responsável pela Diocese do Lis agradeceu a presença do cardeal italiano, presidente internacional da fundação AIS, em peregrinação a Fátima nos seus 70 anos de existência e nos 50 anos de consagração da Obra à Virgem. E prosseguiu Dom António Marto:
Aqui em Fátima experimentamos de modo particular que temos uma mãe, como aqui disse repetidamente o Papa Francisco”.
O Bispo de Leiria-Fátima saudou os peregrinos “do país e do mundo”, com destaque para a peregrinação da República Checa, acompanhada pelo cardeal Dominik Duka, presidente da Conferência Episcopal local, que no final da celebração do 13 de setembro iria receber solenemente uma Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima.
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Na homilia da Missa do dia 12, o cardeal Piacenza disse que, cem anos depois das aparições, Fátima está por completar, garantindo:
Estaria em erro quem pensasse que a missão profética de Fátima já está concluída. Fátima não terminou.”.
O Presidente da Celebração Eucarística lembrou que a Virgem Maria apareceu em Fátima, não só para exortar os homens à conversão e à oração, mas com um propósito profético: o de cada um se encontrar internamente com Cristo, se converter e ser testemunho para os outros.
Só assim o Coração Imaculado de Maria triunfará. Para o cardeal,
O triunfo do Coração Imaculado de Maria é isto mesmo: o acontecer de Cristo nas consciências dos homens e na história do mundo; o acontecer de Cristo e, com Ele, d’Aquela que O gerou, oferecendo-O por nós e pela nossa salvação; o acontecer, antes de mais em nós, da salvação que nasce do encontro redentor com Cristo e que, por isso, através de nós, leva à apresentação ao mundo do Senhor.”.
O penitenciário-mor da Santa Sé alertou ainda para as consequências duma “recusa definitiva de Deus” e afirmou que a oração é “um grande exorcismo sobre o mundo”. Segundo o cardeal, “também neste sentido, Fátima, ainda não se completou”, porque “não se completou ainda a missão da Igreja, que permanecerá viva até ao fim dos séculos, em todas as circunstâncias históricas e apesar de todas as adversidades vindas da cultura e do poder”.
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Na homilia do dia 13, o cardeal Piacenza denunciou o que qualificou como um ataque “sem precedentes” à família e à vida na sociedade contemporânea, dizendo sem papas na língua:
Este violento ataque à família é sem precedentes na história, tanto de um ponto de vista cultural como sob o aspeto jurídico”.
O responsável da Santa Sé falou duma “destruição cultural da família”, convocando os peregrinos a “resistir, resistir, resistir com a força da fé e da caridade” e advertindo para as consequências do “tremendo ataque ao matrimónio que, em todo o mundo, foi desencadeado, qual último assalto do maligno”. E sustentou ancorado na mensagem bíblica:
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança e pô-lo nessa irrenunciável relação de unidade dual entre homem e mulher, que é pressuposto indispensável para a vida”.
Como fizera na Missa da Vigília da peregrinação, o cardeal italiano sublinhou o caráter “profético” desta mensagem sobre a família:
Estamos convencidos de que nada é mais profético, mais moderno, mais anticonformista do que defender a vida, a educação, reconhecendo que elas constituem hoje uma verdadeira emergência”.
Para o penitenciário-mor, ser cristão na “velha e cansada Europa” é hoje “uma atitude contra a corrente; sob certo ponto de vista, até mesmo uma atitude escarnecida”. Por isso, apelou:
Vigiemos, pois, caríssimos irmãos, para que não acabe o ‘bom vinho’ da nossa fé; para que o ‘bom vinho’ da nossa fé não se veja aguado pela nossa constante mundanização, pelo ceder às tentações do mundo e à ditadura do ‘pensamento único’ que é difundido com todos os meios”.
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No final da celebração, o já referido cardeal checo Cardeal Dominik Duka recebeu solenemente uma Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, que vai permanecer na República Checa até 8 de outubro, percorrendo dioceses e santuários daquelas Igrejas locais. Por sua vez, Dom Dominik Duka entregou ao Santuário de Fátima uma réplica da imagem do Menino Jesus de Praga em sinal de reconhecimento por esta “ligação” entre Fátima e a história da República Checa, dizendo ao Reitor do Santuário, ali em representação do prelado diocesano:
Neste lugar único, na Cova da iria, aqui em Fátima, queria agradecer-lhe verdadeiramente de todo o coração, por este momento extraordinário, no qual, com esta celebração eucarística, podemos conjuntamente dar graças a Nossa Senhora de Fátima”.
Assim, no final da peregrinação, o cardeal presidente da Conferência Episcopal da República Checa, agradeceu, em Fátima a “liberdade reconquistada” no país, dizendo, perante os milhares de peregrinos, incluindo os que integravam a peregrinação do Apostolado Mundial de Fátima da Republica Checa, que a história das aparições de Nossa Senhora está ligada à história da nossa pátria e da nossa Igreja na Boémia, Morávia e Silésia” e, por isso, pela segunda vez, a Igreja checa decidiu fazer uma peregrinação nacional à Cova da Iria. E especificou:
Estamos aqui reunidos, pela segunda vez, para a peregrinação nacional de agradecimento. Na primeira peregrinação, aqui, demos graças pela liberdade reconquistada e, hoje, damos graças pela nova geração, que cresceu nesta liberdade: uma geração que não conheceu a prisão nazi, a prisão comunista, o ultraje, a perda da liberdade, a perseguição pelo exercício da fé religiosa. Encontramo-nos aqui, todos juntos – homens, mulheres, mães, pais, filhos, religiosos e religiosas, sacerdotes e também bispos”.
E, ao entregar ao Santuário a predita réplica da imagem do Menino Jesus de Praga, confessou:
“Estamos aqui também para tomar consciência de que é graças ao triunfo do Coração Imaculado de Maria que podemos viver em liberdade”.
Por sua vez, o reitor do Santuário, ao entregar a imagem peregrina da Virgem, afirmou-a como a “grande embaixadora da mensagem de Fátima e deste Santuário” e fez votos de que possa
 “Levar conforto a quantos sofrem, levar força a quantos testemunham corajosamente a sua fé em ambiente adverso e abrir caminhos para Deus no coração de quantos com ela contactarem”.
 E o Cardeal Dominik Duka afirmou, ainda, que  apesar dos tempos serem outros, persistem “ataques à verdadeira humanidade do homem, à religião, [o] que pretende destruir a célula fundamental da sociedade e da Igreja, que pretende destruir a família”.
Por isso deixou um compromisso:
Queremos sustentar e promover, com a oração, mas também com o nosso empenho concreto e incansável, a nossa identidade cristã europeia, a qual não é concebível sem o culto mariano e sem o símbolo da cruz – o testemunho do amor supremo de Deus para com o homem e do homem para com o homem”.
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Há, pois, muito que aprender com Fátima e importa assumir um compromisso inabalável com Cristo e com a Igreja num e para um mundo que precisa cada vez mais de justiça, paz e fraternidade, pela inclusão, pela dignidade das pessoas – todas e de cada uma.

2017.09.13 – Louro de Carvalho    

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