O líder da Coreia do Norte entretém-se a fazer provocatórias
experiências com mísseis balísticos e, ultimamente, com a bomba de hidrogénio.
Isto sucede num contexto de radicalização dos partidos e dos detentores do
poder em vários recantos do orbe, de que resultou a eleição de Donad Trump com
um exercício inusitado da presidência norte-americana cujos contornos ainda
estão por definir, mas cujas ameaças internas e externas se têm revelado
deveras preocupantes.
Na verdade, a Coreia do Norte – que está sob o regime de sanções da parte da ONU por
via das temerárias experiências balísticas com que tenta mostrar o seu poderio
militar – fez, no passado dia 3 de setembro, o seu 6.º teste nuclear, desta vez
com o lançamento experimental duma bomba de hidrogénio, a mais potente até à
data (provocou considerável abalo sísmico na fronteira da China, além de aluimentos
de terras) – um
artefacto termonuclear que, segundo o regime de Pyongyang, pode ser instalado
num míssil intercontinental. Foi o seu ensaio nuclear mais poderoso até à data,
provocando ameaças dos EUA quanto a uma eventual “massiva resposta militar”.
A comunidade internacional condenou unanimemente o novo desenvolvimento de
armamento norte-coreano. Com efeito, após uma reunião de emergência do Conselho
de Segurança das Nações Unidas, no dia 4, os Estados Unidos propuseram votar
novas sanções ao regime de Kim Jong-un, medida que já tinha sido defendida pela
Coreia do Sul e pelo Japão. Evidentemente, o país em situação mais receosa é a
Coreia do Sul, que tem vindo a fazer várias manobras militares e até a disparar
mísseis para o mar, simulando ataques ao principal local de testes nucleares norte-coreano
e tem desenvolvido exercícios militares conjuntos com os EUA. Admitiu mesmo autorizar
os EUA a destacarem armas nucleares para lá. E, ainda no dia 4, o Presidente
norte-americano falou ao telefone com o seu homólogo sul-coreano, tendo
concordado em classificar o teste nuclear subterrâneo do dia 3 pela Coreia do
Norte como uma provocação sem precedentes.
A predita reunião de emergência do Conselho de Segurança foi marcada depois
de Pyongyang revelar que detonou uma bomba de hidrogénio e 6 dias depois de
este Conselho ter condenado fortemente o lançamento de um míssil pela Coreia do
Norte sobre o Japão.
***
Durante aquele encontro, vários membros do Conselho de Segurança pediram
mais sanções contra o regime de Pyongyang depois de este ter feito mais um
ensaio nuclear.
A embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley afirmou que o
líder norte-coreano está “a pedir uma guerra”, prometendo que os EUA vão ver os países que fazem
negócios com aquele país, entre os quais está a China – ou seja, “os que estão
a ajudar as suas intenções nucleares, imprudentes e perigosas” – e apresentar
um projeto de resolução durante esta semana, para procurar tê-la pronta a 11 de
setembro. E garantiu “a guerra nunca é algo que os EUA queiram” e que não a
querem agora. Porém, advertiu que “a paciência do nosso país não é ilimitada”. Esta
decisão dos EUA foi tomada ao mesmo tempo que os dirigentes de Seul garantiram
que o regime de Pyongyang está a preparar mais um teste de míssil balístico. Mas
esta decisão tem um futuro incerto.
A Federação Russa e a China, por sua vez, apelaram ao diálogo com o regime
de Pyongyang e propuseram uma abordagem com duas componentes: a Coreia do Norte
suspende o desenvolvimento dos seus programas de mísseis e nuclear; e os EUA e
a Coreia do Sul suspendem os seus exercícios militares conjuntos. Mas os EUA
recusaram a ideia.
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, disse aos jornalistas, após a reunião
do Conselho de Segurança, que as sanções são insuficientes e que são
necessárias negociações. Outros diplomatas, designadamente franceses,
britânicos e italianos, reiteraram exigências no sentido de que o regime norte-coreano
suspensa os seus programas balísticos e de armas nucleares e reclamaram mais
sanções. A este respeito, disse o embaixador japonês, Koro Bessho, aos
jornalistas antes da reunião:
“Não
podemos desperdiçar mais tempo. E para tal precisamos que a Coreia do Norte
sinta a pressão.”.
No passado dia 5, o Presidente russo, Vladimir
Putin, disse que a aplicação de novas sanções contra Pyongyang será “inútil e
ineficaz”, prevendo uma “histeria militar” em torno da Coreia do Norte (histeria que não tem sentido), que “pode levar a uma catástrofe planetária”.
Obviamente que, segundo as palavras de Putin (à margem de uma
cimeira dos países BRICS: países de economias emergentes, como Brasil, Rússia,
Índia, China…), “a Rússia condena estes exercícios” da Coreia do Norte, que reivindicou o
teste bem-sucedido de uma bomba H, “mas o recurso a sanções é, neste caso,
inútil e ineficaz”. De facto, o uso da força militar contra o país é
“um caminho para parte alguma”, mas que pode conduzir a uma “catástrofe global”.
O Presidente norte-americano disse estar a avaliar a possibilidade de
suspender o comércio com qualquer país que tenha negócios com Pyongyang e
insinuou que não descarta um ataque à Coreia do Norte.
O governo chinês (o principal
aliado diplomático do regime de Kim Jong-un) advertiu que as
sanções contra a Coreia do Norte não solucionarão a crise na península coreana
se não forem abertas outras vias para reduzir a tensão. Um porta-voz do Ministério dos
Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, declarou:
“A força
militar nunca é uma opção e as sanções por si não oferecem uma saída”.
Geng, porém, não revelou se a China apoiará uma nova ronda de sanções
contra o vizinho e limitou-se a dizer que as “decisões do Conselho de Segurança
dependem do resultado das discussões entre os membros” do organismo.
Numa altura em que os EUA, França e Reino Unido defendem uma resposta mais
firme contra o regime norte-coreano, após este ter realizado novo ensaio
nuclear, Geng instou a que se retomem as conversações e acolheu com agrado a
disposição da Suíça de atuar como “mediadora” na crise, dizendo:
“A China
dá as boas-vindas e fomenta todas as propostas e esforços que levem ao alívio
da tensão”.
***
Esta situação faz rever, da parte das autoridades nipónicas, para o dobro a
potência do último teste nuclear norte-coreano. E a Coreia do Sul, preocupada
pelo teste, fez, no passado dia 5, exercícios de tiro real no mar, pelo segundo
dia consecutivo.
O Presidente russo, que esteve na China para participar numa cimeira de
dirigentes das principais economias emergentes, afirmou aos jornalistas ter
dito a um dos homólogos que a Coreia do Norte “iria comer erva, mas não
desistir do seu programa (nuclear), se não se sentisse segura”.
Assim, alertou para a importância de todas as partes afetadas pela crise,
incluindo a Coreia do Norte, não enfrentarem “ameaças de aniquilação” e andarem
“no caminho da cooperação”.
E o embaixador russo na ONU repetiu as observações de Putin mais tarde. Na
verdade, Vassily Nebenzia disse que a Federação Russa considerava que as
sanções contra a Coreia do Norte não funcionam e que os dirigentes de Moscovo
queriam que a nova resolução da ONU sobre a Coreia do Norte se focasse mais
numa solução política. E, nestes termos, adiantou que a única iniciativa no
papel era uma proposta sino-russa de suspensão por suspensão, que contemplasse
a paragem dos testes nucleares e de mísseis por parte da Coreia do Norte em
troca da paragem dos exercícios militares conjuntos entre norte-americanos e
sul-coreanos.
Disse também aos jornalistas, no dia 5, na sede da ONU, que o seu país
acolhia bem outras iniciativas, adiantando que a Suíça se tinha oferecido para
serviços de mediação, e que “ficaria feliz, se isso funcionar”.
Além disso, Putin
encontrou-se com o seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, à margem de uma
cimeira económica no leste da Rússia, com o Kremlin a avançar que as posições
de Moscovo e Seul se aproximaram após esta reunião. E Putin declarou após o encontro bilateral:
“O
programa de Pyongyang é uma grave violação das resoluções do Conselho de
Segurança da ONU, mina o regime de não proliferação e cria uma ameaça à
segurança do nordeste da Ásia”.
E prosseguiu:
“Ao mesmo
tempo, é claro que é impossível resolver o problema da península coreana apenas
com sanções e pressões”.
Moon, que já pediu à ONU novas e mais duras sanções contra
Pyongyang, apelou à ajuda da Rússia, dizendo:
“Peço que
coopere ativamente, pois desta vez é inevitável que que o abastecimento de petróleo
seja, pelo menos, reduzido”.
E alertou:
“Se a
Coreia do Norte não cessar as suas provocações podemos depararmo-nos com uma
situação imprevisível”.
Por sua vez, Donald Trump, que já ameaçou fazer cair sobre a
Coreia do Norte “o fogo e a fúria”, referiu, após uma conversa telefónica com o
homólogo chinês, que uma ação militar contra o regime de Kim Jong-un não é a
sua “primeira escolha, mas veremos o que acontece”.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Xi
Jinping disse a Trump que Pequim está focada em resolver a tensão nuclear na
Península da Coreia pelo diálogo, garantindo que, simultaneamente, está a
trabalhar de forma “inabalável” para a desnuclearização da região. Todavia, apesar
da insistência de Pequim na solução pacífica, sabe-se que a sua Força Aérea fez
exercícios junto da Península da Coreia, praticando métodos de defesa contra um
“ataque surpresa” vindo do mar – exercícios que surgem na semana em que o
exército sul-coreano realizou manobras navais com fogo real no Mar do Japão,
sendo que Seul anunciou que o seu exército e o dos EUA têm previstos exercícios
antissubmarinos neste dias.
O embaixador da Coreia do Norte em Madrid disse à TSF que os
norte-americanos não cessaram as manobras militares, que são encaradas pelo
regime de Kim Jong-un como exercícios de guerra. Assim, Kim Hyok-Chol avisou
que Pyongyang responderá “de forma proporcional”, aduzindo que, “ao lidar com
os americanos, as palavras são completamente inúteis”. E prosseguiu afirmando
que “isto é apenas um assunto entre nós e os americanos” e que o país “ainda
está tecnicamente em guerra com os Estados Unidos”. Por isso, “as outras
pessoas, os outros povos do mundo, não têm que se preocupar com as nossas armas
nucleares”.
***
Não
é verdade. O assunto não se reduz à relação Coreia do Norte-EUA e os outros
povos têm mesmo de se preocupar com as armas nucleares da Coreia do Norte, como
se explica a seguir.
Se
fosse como diz Kim Hyok-Chol, não teria havido provocações à Coreia do Sul – a divisão
da nação coreana não é pacífica de todo – nem sobre o Japão ou mesmo com uma
porção da fronteira chinesa.
Por
outro lado, há o receio das consequências da radioatividade resultante da
energia nuclear não controlada, quer ao nível da contaminação quer ao nível dos
abalos sísmicos ou dos meros aluimentos. Além disso, os povos têm a tentação
das alianças e a ideia de ver, nos conflitos regionais, vantagens para si próprios.
A guerra ´o monstro que dificilmente se satisfaz, a não ser ceifando vidas,
haveres, culturas e dados civilizacionais.
Finalmente,
a loucura inerente aos procedimentos internos norte-coreanos a formatar
personalidades, atitudes e comportamentos inusitados nos cidadãos e nos grupos
profissionais e sociais – aliada à postura sem escrúpulos de Trump e à
incógnita atitudinal e comportamental de outros líderes (vg:
russo, polaco, romeno, chinês…)
– deixa o mundo inseguro e à beira de um ataque de nervos. Líderes políticos
sem escrúpulos e que gostem de brincar com a guerra não cumprem a sua missão de
líderes.
Precisa-se
de muito e construtivo diálogo e da oração e compromisso dos crentes pela paz!
2017.09.07 – Louro de Carvalho
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