quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Jogar temerariamente o destino do mundo

O líder da Coreia do Norte entretém-se a fazer provocatórias experiências com mísseis balísticos e, ultimamente, com a bomba de hidrogénio. Isto sucede num contexto de radicalização dos partidos e dos detentores do poder em vários recantos do orbe, de que resultou a eleição de Donad Trump com um exercício inusitado da presidência norte-americana cujos contornos ainda estão por definir, mas cujas ameaças internas e externas se têm revelado deveras preocupantes.
Na verdade, a Coreia do Norte – que está sob o regime de sanções da parte da ONU por via das temerárias experiências balísticas com que tenta mostrar o seu poderio militar – fez, no passado dia 3 de setembro, o seu 6.º teste nuclear, desta vez com o lançamento experimental duma bomba de hidrogénio, a mais potente até à data (provocou considerável abalo sísmico na fronteira da China, além de aluimentos de terras) – um artefacto termonuclear que, segundo o regime de Pyongyang, pode ser instalado num míssil intercontinental. Foi o seu ensaio nuclear mais poderoso até à data, provocando ameaças dos EUA quanto a uma  eventual “massiva resposta militar”.
A comunidade internacional condenou unanimemente o novo desenvolvimento de armamento norte-coreano. Com efeito, após uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no dia 4, os Estados Unidos propuseram votar novas sanções ao regime de Kim Jong-un, medida que já tinha sido defendida pela Coreia do Sul e pelo Japão. Evidentemente, o país em situação mais receosa é a Coreia do Sul, que tem vindo a fazer várias manobras militares e até a disparar mísseis para o mar, simulando ataques ao principal local de testes nucleares norte-coreano e tem desenvolvido exercícios militares conjuntos com os EUA. Admitiu mesmo autorizar os EUA a destacarem armas nucleares para lá. E, ainda no dia 4, o Presidente norte-americano falou ao telefone com o seu homólogo sul-coreano, tendo concordado em classificar o teste nuclear subterrâneo do dia 3 pela Coreia do Norte como uma provocação sem precedentes.
A predita reunião de emergência do Conselho de Segurança foi marcada depois de Pyongyang revelar que detonou uma bomba de hidrogénio e 6 dias depois de este Conselho ter condenado fortemente o lançamento de um míssil pela Coreia do Norte sobre o Japão.
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Durante aquele encontro, vários membros do Conselho de Segurança pediram mais sanções contra o regime de Pyongyang depois de este ter feito mais um ensaio nuclear.
A embaixadora dos EUA na ONU Nikki Haley afirmou que o líder norte-coreano está “a pedir uma guerra”, prometendo que os EUA vão ver os países que fazem negócios com aquele país, entre os quais está a China – ou seja, “os que estão a ajudar as suas intenções nucleares, imprudentes e perigosas” – e apresentar um projeto de resolução durante esta semana, para procurar tê-la pronta a 11 de setembro. E garantiu “a guerra nunca é algo que os EUA queiram” e que não a querem agora. Porém, advertiu que “a paciência do nosso país não é ilimitada”. Esta decisão dos EUA foi tomada ao mesmo tempo que os dirigentes de Seul garantiram que o regime de Pyongyang está a preparar mais um teste de míssil balístico. Mas esta decisão tem um futuro incerto.
A Federação Russa e a China, por sua vez, apelaram ao diálogo com o regime de Pyongyang e propuseram uma abordagem com duas componentes: a Coreia do Norte suspende o desenvolvimento dos seus programas de mísseis e nuclear; e os EUA e a Coreia do Sul suspendem os seus exercícios militares conjuntos. Mas os EUA recusaram a ideia.
O embaixador russo, Vassily Nebenzia, disse aos jornalistas, após a reunião do Conselho de Segurança, que as sanções são insuficientes e que são necessárias negociações. Outros diplomatas, designadamente franceses, britânicos e italianos, reiteraram exigências no sentido de que o regime norte-coreano suspensa os seus programas balísticos e de armas nucleares e reclamaram mais sanções. A este respeito, disse o embaixador japonês, Koro Bessho, aos jornalistas antes da reunião:
Não podemos desperdiçar mais tempo. E para tal precisamos que a Coreia do Norte sinta a pressão.”.
No passado dia 5, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que a aplicação de novas sanções contra Pyongyang será “inútil e ineficaz”, prevendo uma “histeria militar” em torno da Coreia do Norte (histeria que não tem sentido), que “pode levar a uma catástrofe planetária”. Obviamente que, segundo as palavras de Putin (à margem de uma cimeira dos países BRICS: países de economias emergentes, como Brasil, Rússia, Índia, China…), “a Rússia condena estes exercícios” da Coreia do Norte, que reivindicou o teste bem-sucedido de uma bomba H, “mas o recurso a sanções é, neste caso, inútil e ineficaz”. De facto, o uso da força militar contra o país é “um caminho para parte alguma”, mas que pode conduzir a uma “catástrofe global”.
O Presidente norte-americano disse estar a avaliar a possibilidade de suspender o comércio com qualquer país que tenha negócios com Pyongyang e insinuou que não descarta um ataque à Coreia do Norte.
O governo chinês (o principal aliado diplomático do regime de Kim Jong-un) advertiu que as sanções contra a Coreia do Norte não solucionarão a crise na península coreana se não forem abertas outras vias para reduzir a tensão. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, declarou:
A força militar nunca é uma opção e as sanções por si não oferecem uma saída”.
Geng, porém, não revelou se a China apoiará uma nova ronda de sanções contra o vizinho e limitou-se a dizer que as “decisões do Conselho de Segurança dependem do resultado das discussões entre os membros” do organismo.
Numa altura em que os EUA, França e Reino Unido defendem uma resposta mais firme contra o regime norte-coreano, após este ter realizado novo ensaio nuclear, Geng instou a que se retomem as conversações e acolheu com agrado a disposição da Suíça de atuar como “mediadora” na crise, dizendo:
A China dá as boas-vindas e fomenta todas as propostas e esforços que levem ao alívio da tensão”.
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Esta situação faz rever, da parte das autoridades nipónicas, para o dobro a potência do último teste nuclear norte-coreano. E a Coreia do Sul, preocupada pelo teste, fez, no passado dia 5, exercícios de tiro real no mar, pelo segundo dia consecutivo.
O Presidente russo, que esteve na China para participar numa cimeira de dirigentes das principais economias emergentes, afirmou aos jornalistas ter dito a um dos homólogos que a Coreia do Norte “iria comer erva, mas não desistir do seu programa (nuclear), se não se sentisse segura”. Assim, alertou para a importância de todas as partes afetadas pela crise, incluindo a Coreia do Norte, não enfrentarem “ameaças de aniquilação” e andarem “no caminho da cooperação”.
E o embaixador russo na ONU repetiu as observações de Putin mais tarde. Na verdade, Vassily Nebenzia disse que a Federação Russa considerava que as sanções contra a Coreia do Norte não funcionam e que os dirigentes de Moscovo queriam que a nova resolução da ONU sobre a Coreia do Norte se focasse mais numa solução política. E, nestes termos, adiantou que a única iniciativa no papel era uma proposta sino-russa de suspensão por suspensão, que contemplasse a paragem dos testes nucleares e de mísseis por parte da Coreia do Norte em troca da paragem dos exercícios militares conjuntos entre norte-americanos e sul-coreanos.
Disse também aos jornalistas, no dia 5, na sede da ONU, que o seu país acolhia bem outras iniciativas, adiantando que a Suíça se tinha oferecido para serviços de mediação, e que “ficaria feliz, se isso funcionar”.
Além disso, Putin encontrou-se com o seu homólogo sul-coreano, Moon Jae-in, à margem de uma cimeira económica no leste da Rússia, com o Kremlin a avançar que as posições de Moscovo e Seul se aproximaram após esta reunião. E Putin declarou após o encontro bilateral:
“O programa de Pyongyang é uma grave violação das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, mina o regime de não proliferação e cria uma ameaça à segurança do nordeste da Ásia”.
E prosseguiu:
“Ao mesmo tempo, é claro que é impossível resolver o problema da península coreana apenas com sanções e pressões”.
Moon, que já pediu à ONU novas e mais duras sanções contra Pyongyang, apelou à ajuda da Rússia, dizendo:
“Peço que coopere ativamente, pois desta vez é inevitável que que o abastecimento de petróleo seja, pelo menos, reduzido”.
E alertou:
“Se a Coreia do Norte não cessar as suas provocações podemos depararmo-nos com uma situação imprevisível”.
Por sua vez, Donald Trump, que já ameaçou fazer cair sobre a Coreia do Norte “o fogo e a fúria”, referiu, após uma conversa telefónica com o homólogo chinês, que uma ação militar contra o regime de Kim Jong-un não é a sua “primeira escolha, mas veremos o que acontece”.
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Xi Jinping disse a Trump que Pequim está focada em resolver a tensão nuclear na Península da Coreia pelo diálogo, garantindo que, simultaneamente, está a trabalhar de forma “inabalável” para a desnuclearização da região. Todavia, apesar da insistência de Pequim na solução pacífica, sabe-se que a sua Força Aérea fez exercícios junto da Península da Coreia, praticando métodos de defesa contra um “ataque surpresa” vindo do mar – exercícios que surgem na semana em que o exército sul-coreano realizou manobras navais com fogo real no Mar do Japão, sendo que Seul anunciou que o seu exército e o dos EUA têm previstos exercícios antissubmarinos neste dias.
O embaixador da Coreia do Norte em Madrid disse à TSF que os norte-americanos não cessaram as manobras militares, que são encaradas pelo regime de Kim Jong-un como exercícios de guerra. Assim, Kim Hyok-Chol avisou que Pyongyang responderá “de forma proporcional”, aduzindo que, “ao lidar com os americanos, as palavras são completamente inúteis”. E prosseguiu afirmando que “isto é apenas um assunto entre nós e os americanos” e que o país “ainda está tecnicamente em guerra com os Estados Unidos”. Por isso, “as outras pessoas, os outros povos do mundo, não têm que se preocupar com as nossas armas nucleares”.
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Não é verdade. O assunto não se reduz à relação Coreia do Norte-EUA e os outros povos têm mesmo de se preocupar com as armas nucleares da Coreia do Norte, como se explica a seguir.
Se fosse como diz Kim Hyok-Chol, não teria havido provocações à Coreia do Sul – a divisão da nação coreana não é pacífica de todo – nem sobre o Japão ou mesmo com uma porção da fronteira chinesa.
Por outro lado, há o receio das consequências da radioatividade resultante da energia nuclear não controlada, quer ao nível da contaminação quer ao nível dos abalos sísmicos ou dos meros aluimentos. Além disso, os povos têm a tentação das alianças e a ideia de ver, nos conflitos regionais, vantagens para si próprios. A guerra ´o monstro que dificilmente se satisfaz, a não ser ceifando vidas, haveres, culturas e dados civilizacionais.
Finalmente, a loucura inerente aos procedimentos internos norte-coreanos a formatar personalidades, atitudes e comportamentos inusitados nos cidadãos e nos grupos profissionais e sociais – aliada à postura sem escrúpulos de Trump e à incógnita atitudinal e comportamental de outros líderes (vg: russo, polaco, romeno, chinês…) – deixa o mundo inseguro e à beira de um ataque de nervos. Líderes políticos sem escrúpulos e que gostem de brincar com a guerra não cumprem a sua missão de líderes.
Precisa-se de muito e construtivo diálogo e da oração e compromisso dos crentes pela paz!

2017.09.07 – Louro de Carvalho

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