sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Maria na tessitura da Tradição da Igreja

A Tradição da Igreja fala abundantemente de Nossa Senhora, razão pela qual a Igreja Lhe presta o culto de hiperdulia (veneração especial). Os Padres e Doutores incrementam a fé da Igreja. Será, pois, útil passar em revista, por amostra, algo do que eles nos oferecem sobre a Virgem Maria.
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O título de Mãe de Deus configura uma verdade transmitida pelos discípulos do Senhor, apesar de não usarem a expressão. E assim reza a instrução dos Padres da Igreja, como se discrimina:
Atanásio (295-373), na 3.ª parte do livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, dá frequentemente à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus, ensinando:
“A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e caraterística afirmar de Cristo Salvador essas duas coisas: que Ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é a Palavra do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que, nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus”.
E, mais adiante, continua:
“Houve muitos que já nasceram santos e livres de todo pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; e João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de Maria Mãe de Deus”.
Cirilo de Alexandria (370-442), falando com abundância da Mãe de Deus, começa por dizer:
“Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. Realmente, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou?”.
E, referindo-se às palavras de Santo Atanásio, acima referidas, explica:
“Estas palavras são dum homem inteiramente digno de crédito, sem receio, e a quem podemos seguir com toda a segurança. Com efeito, ele jamais pronunciou uma só palavra que fosse contrária às Sagradas Escrituras. De facto, a Escritura, verdadeiramente inspirada por Deus, afirma que a Palavra de Deus se fez carne, uniu-se à alma dotada de alma racional.”.
Cirilo prossegue o seu discurso na sequência do que disse Atanásio na linha da Escritura:
“A Palavra de Deus assumiu a descendência de Abraão e, formando para si um corpo vindo de uma mulher, tornou-se participante da carne e do sangue. Assim, já não é somente Deus mas também homem, semelhante a nós, mercê da sua união com a nossa natureza. Por conseguinte, o Emanuel, Deus-connosco, possui duas realidades, isto é, a divindade e a humanidade. Todavia é um só Senhor Jesus Cristo, único e verdadeiro Filho por natureza, ainda que ao mesmo tempo Deus e homem. Não é apenas um homem divinizado, igual aos que pela graça se tornam participantes da natureza divina, mas é verdadeiro Deus que, para nossa salvação, se tornou visível em forma humana.”.
E chama, em abono da fiabilidade da sua argumentação, o testemunho de Paulo aos Gálatas:
“Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei, a fim de resgatar os que estavam sujeitos à Lei e para que todos recebêssemos a filiação adotiva” (Gl 4,4-5).
Na homilia pronunciada no Concílio de Éfeso (431) contra Nestório, que negava ser Maria Mãe de Deus, exprimia-se assim:
“Contemplo esta assembleia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente para aqui acorreram. Embora oprimido por grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento, vão realizar se entre nós as doces palavras do salmista David: ‘Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos bem unidos!’ (Sl 133/132,1).”.
Associando Maria ao mistério da Trindade e ao mistério da Encarnação, saúda:
“Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nesta igreja de Santa Maria Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos o que vem em nome do Senhor (Mt 21,9). Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível.”.
Acentuando a mediação materna de Maria, o santo exprime-se orante e encomiasticamente:
“Por ti, é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti, se festeja e é adorada no universo a cruz preciosa; por ti, exultam os céus; por ti, se alegram os anjos e os arcanjos; por ti, são postos em fuga os demónios; por ti, cai do céu o diabo tentador; por ti, é elevada ao céu a criatura decaída; por ti, todo o género humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti, o santo batismo purifica os que creem; por ti, recebemos o óleo da alegria; por ti, são fundadas igrejas em toda a terra; por ti, as nações são conduzidas à conversão”.
Falando de Maria, interroga-se e responde:
“E que mais direi? Por Maria, o Filho Unigénito de Deus veio iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte (Lc 1,79); por ela, os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela, os apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela, reinam os reis em nome da Santíssima Trindade”.
E, interpelando os seus ouvintes, esclarece e exorta ao louvor à Trindade:
“Quem de entre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo o louvor? Ela é mãe e virgem. Coisa admirável! Este milagre me deixa extasiado. Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou a ponto de escolher uma serva para ser a sua mãe? Tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade, com santo temor veneremos a indivisível Trindade, ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos.”.
Ireneu (140-202) ensina que, no Cristo que nasce de Maria, a humanidade toda renasce à vida, a solidariedade entre Cristo e os homens tem esta consequência: conceção e nascimento de Jesus são a redenção dos homens por antecipação. E, fazendo o paralelo com Eva, especula:
“Como por uma virgem desobediente foi o homem ferido, caiu e morreu, por uma virgem obediente à palavra de Deus, o homem recobrou a vida. Era justo e necessário que Adão fosse restaurado em Cristo e Eva fosse restaurada em Maria, para que uma virgem feita advogada duma virgem apagasse e abolisse por sua obediência virginal a desobediência de uma virgem.”.
Agostinho (+430) aprecia a doutrina da Mariologia pelo lado sexista. E, falando de Maria, diz:
“Pelo sexo feminino caiu o homem e pelo sexo feminino encontrou sua reparação. Pois, uma Virgem deu à luz a Cristo, e uma mulher anunciou a ressurreição! Pela mulher veio a morte. Pela mulher chegou a vida.” (Sermão 232,2).
E, referindo-se a Cristo, ensina:
”Enquanto Cristo é gerado pelo Pai, Deus de Deus, não é sacerdote. Ele o é em razão da carne que assumiu, em razão da vítima que oferece e recebeu de nós.” (vd A Virgem Maria, Ed. Paulus, 1996).
Equacionando a problemática do pecado e da virgindade de Maria, discorre: 
“Nem se deve tocar na palavra ‘pecado’ tratando-se de Maria; e isto em respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça. Nosso Senhor entrou por sua livre vontade no seio de Virgem. Engravidou sua Mãe, mas sem a privar da virgindade. Tendo-se formado a si mesmo, saiu e manteve íntegras as entranhas da mãe. Desta maneira, revestiu aquela de quem se dignou nascer, com a honra de mãe e com a santidade de virgem.”.
Isto significa que não nos é lícito calar o que somos incapazes de esclarecer e que somos induzidos a louvar para o nosso silêncio não ser ingratidão. O que não se pode exprimir dignamente pode-se crer firmemente (cf Sermão 215,3). Maria permaneceu virgem concebendo o Filho, ao dá-lo à luz, ao carregá-lo, ao alimentá-lo do seu seio – virgem sempre (Sermões 186,1- 3.°, Natal).Veio Cristo habitar um seio materno, deixando-o intacto. Como no sepulcro nenhum morto foi sepultado, nem antes nem depois (Jo 19,41) também no seio de Maria, nem antes nem depois, ser mortal algum foi concebido (De fide et symbolo IV,8.11). Virgem concebeu, virgem deu à luz, virgem viveu até à morte, embora desposada com um operário (A Instrução dos Catecúmenos 22,40). A nossa fé não é ficção. Nunca vimos o rosto da Virgem Maria da qual, sem contacto de varão e sem detrimento da virgindade no parto, nasceu o Senhor Jesus milagrosamente (A Trindade VIII,5,7). Na verdade, era digno e de todo conveniente que o parto da que havia procriado o Senhor do céu e da terra e que permanece virgem após ter dado à luz, fosse celebrado não só com festejos humanos, mas com cânticos sublimes de louvor, pelos anjos. (Sermão 193,1-10.° do Natal). Causa admiração o parto duma Virgem. A integridade virginal permanece inviolada na concepção e no parto. Já era Filho único do Pai aquele que nasceu como filho único de sua Mãe (Sermão 192,1- 9.° do Natal).
E interpelando o seu interlocutor, Agostinho diz:
“Causa-te estranheza, [ó Porfírio] porventura, o inusitado parto de uma Virgem? Nem sequer isto deve constranger-te. Digo mais: isto deve conduzir-te a aceitar a ter piedade, porque aquele que é admirável nasce admiravelmente.” (De Civitate Dei, X,29,1.2).
Sobre a questão dos ‘irmãos de Jesus’, diz Agostinho:
“Quando ouvirdes falar dos ‘irmãos do Senhor’, pensai que se trata de algum parentesco que os une a Maria, sem imaginar ter ela tido outros filhos (Comentário do Evangelho de João XXVIII, 3). Com efeito, o hábito da nossa Escritura santa é de não restringir esse nome de ‘irmãos’ a filhos nascidos do mesmo homem e da mesma mulher. É preciso penetrar o sentido das expressões empregadas pela Sagrada Escritura, que tem o seu modo de dizer, a sua linguagem própria.”.
E esclarece mais em detalhe e à Luz do antigo Testamento, quem ignora essa linguagem sobre se o Senhor tem irmãos e se Maria teve ainda outros filhos:
“De modo algum!  Qual é, pois, a razão de ser da expressão ‘irmãos do Senhor?’ Irmãos do Senhor eram os parentes de Maria. Como se demonstra isso? Pela própria Escritura, que chama, por exemplo, Lot de irmão de Abraão (Gn 13,8 e 14,14). E ele era tio de Lot e, todavia, chamam-se ambos de irmãos unicamente por serem parentes. Também Labão era tio de Jacob, por ser irmão de Rebeca, esposa de Isaac. Lede a Escritura e vereis que tio e sobrinho tratavam-se por irmãos (Comentário do Ev. de João X,2).”.
De Maria e da Igreja, diz o santo doutor da Igreja:
“O seio de Maria é a câmara nupcial. É aí que Ele se tornou a cabeça da Igreja. (Comentário do Evangelho de João). Para esse fim [a Encarnação], criou a Virgem, a que Ele escolheu para que lhe desse o ser em seu seio (De peccatorum meritis et remissione II, 24,38). Maria deu à luz corporalmente a Cabeça deste corpo. A Igreja dá à luz espiritualmente os membros dessa Cabeça. Nem em Maria nem na Igreja, a virgindade impede a fecundidade. E nem numa nem noutra a fecundidade destrói a virgindade’ (A Virgindade Consagrada II,2).”.
Na preponderância de Maria sobre as outras mulheres e a relação com Cristo, explana:
“Entre todas as mulheres, Maria é a única a ser ao mesmo tempo Virgem e Mãe, não somente segundo o espírito, mas também pelo corpo. Cristo nasceu com efeito da Mãe que embora em contacto com varão concebeu intacta e sempre intacta permaneceu, concebeu virgem, dando à luz virgem, virgem morrendo, embora desposada com o carpinteiro, extinguiu todo orgulho da nobreza carnal. Uma virgem concebe, virgem leva o fruto, uma virgem dá à luz e permanece perpetuamente virgem.”.
Efrém (306-373) doutor da Igreja, diz de Maria:
Virgem gerou a Luz, sem ficar com nenhum sinal, como a sarça que ardia ao fogo sem se consumir”.
Epifânio (+403) comenta o testamento do Senhor no alto da cruz:
“Voltando-se o Senhor, viu o discípulo a quem amava e disse-lhe a respeito de Maria: ‘Eis aí tua Mãe’; e à Mãe: ‘Eis aí teu filho’ (Jo 19,26). Ora, se Maria tivesse filhos ou se o seu esposo ainda estivesse vivo, porque a confiaria a João o Senhor ou João a ela? E porque não a confiou a Pedro, a André, a Mateus, a Bartolomeu? Fê-lo a João por causa da sua virgindade. A ele foi que disse: ‘Eis aí a tua mãe’. Não sendo mãe corporal de João, o Senhor queria significar ser ela a mãe ou o princípio da virgindade: dela procedeu a Vida.”.
E, sublinhando a fundamentação do novo parentesco na virgindade e na espiritualidade, afirma:
“Nesse intuito dirigiu-se a João, que era estranho, que não era parente, para indicar que a sua Mãe devia ser honrada. Dela, na verdade, o Senhor nascera, quanto ao corpo; a sua encarnação não fora aparente, mas real. E, se ela não fosse verdadeiramente sua Mãe, aquela de quem recebera a carne e que o dera à luz, não se preocuparia tanto em recomendá-la como a sempre Virgem. Sendo sua Mãe, não admitia mancha alguma na sua honra e no admirável vaso do seu corpo. Mas prossegue o Evangelho: ‘e a partir daquele momento, o discípulo a levou consigo’. Ora, se ela tivesse esposo, casa e filhos, iria para o que era seu, não para o alheio. (PG, 42, 714s).”.
João Crisóstomo (349-407) diz de Maria:
 “Virgem que permaneceu virgem sendo verdadeiramente mãe”.
Gregório Magno (540-604), Papa e doutor da Igreja, sintetiza o estatuto de Maria: 
Virgem que deu à luz e, enquanto dava à luz, duplicava a virgindade”.
Cirilo de Jerusalém (370-444), doutor da Igreja, fala sobre a Imaculada questionando que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que o inimigo a possuísse e habitasse.
João Damasceno (675-749), na homilia da Dormição de maria na festa da Assunção, sustenta:
“Quem ama ardentemente uma coisa costuma trazer o seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não se me censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe do meu Deus, como oferenda em honra da sua partida. Isto não será favor para ela, mas servirá a mim mesmo e a vós, aqui presentes… Não é Maria que precisa de elogios, nós é que precisamos da sua glória.”.
Falando da glorificação de Maria, interroga-se, invoca e discorre:
“Um ser glorificado, que glória pode receber ainda? A fonte da luz, como será iluminada ainda? Ela [Maria] cativou o meu espírito, ela reina sobre a minha palavra, dia e noite sua imagem me é presente. Mãe do Verbo, dá-me de que falar!… Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua santa e divina Assunção.”.
E fazendo entroncar este privilégio mariano no mistério da encarnação e no da redenção, diz:
“Aquele que desceu ao seio virgíneo para ser concebido e encarnar, sem deixar o seio do Pai, Aquele que pela Paixão marchou voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando ao Pai, como não pôde atrair ao Pai a sua Mãe segundo a carne? Como não elevaria da terra ao céu a que fora um verdadeiro céu sobre a terra? Hoje, da Jerusalém terrestre, a Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do alto; aquela que concebera como seu primogénito e unigénito o Primogénito de toda a criatura e o Unigénito do Pai vem habitar na Igreja das primícias; a arca do Senhor, viva e racional, é transportada ao repouso de seu Filho.”.
Sobre o significado da Assunção da Virgem Santa Maria, ensina:
“As portas do paraíso abrem-se para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão. Aquela que foi o leito nupcial onde se deu a divina encarnação do Verbo veio repousar em túmulo glorioso, como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até à câmara das núpcias celestes, onde reina em plena luz com o seu Filho e seu Deus, deixando-nos também como lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra.”
Assegurando que Maria morreu efetivamente, justifica:
“Era preciso que o ser formado da terra à terra voltasse, para dali subir ao céu, recebendo o dom da vida perfeita e pura a partir da terra, após ter-lhe entregue o seu corpo. Era preciso que, como o ouro no crisol, a carne rejeitasse o peso da imortalidade e se tornasse, pela morte, incorruptível, pura, e assim ressuscitasse do túmulo.”.
Por isso exorta os cristãos:
“Erguei vossos olhos, Povo de Deus, alçai vosso olhar! Eis em Sião a Arca do Senhor Deus dos exércitos, a quem vieram pessoalmente prestar assistência os Apóstolos, tributando o seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e recetáculo de Deus. Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus: por causa de Adão entrega o seu corpo à terra, mas por causa de seu Filho eleva a alma aos tabernáculos celestes! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens em sua alegria, a boca dos oradores em seus panegíricos, o coração dos sábios em suas dissertações sobre essa maravilha, os velhos de veneráveis cãs em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nesta homenagem, que ainda assim, não seria suficiente.”.
E pede associação espiritual a Maria com hinos inspirados na saudação angélica:
“Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: ‘Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!’.” (PG. 96, 753´761).
Ildefonso de Toledo (617-667) enaltece a virgindade de Maria, sustentando que a sua pureza fica salva no anúncio angélico sobre a sua prole e a virgindade encontra segurança no nome do Filho, permanecendo “honesta e íntegra depois do parto”. Não se questiona da Virgem o pudor no parto, a integridade na geração e a total virgindade no momento de dar à luz. Não se nega a maternidade porque foi virgem nem a glória da virgindade, porque foi mãe. Desconhecer a harmonia que une as duas realidades é ignorar a verdade contida nelas. Negar a maternidade ou a virgindade de Maria injuria Deus, nega que ele possa fazer a sua vontade, manter virgem a que encontrou virgem. Significa dizer que a divindade do Omnipotente trouxe a Maria detrimento em vez de benefício, que a enfeiou Aquele que a enchera de beleza, ao criá-la. E diz o santo:
“Maria é Virgem por graça de Deus, virgem de homem, virgem por testemunho do anjo, virgem por declaração do esposo, virgem sem sombra de dúvida, virgem antes da vinda do seu filho, virgem depois de concebê-lo, virgem no parto, virgem depois do parto. Fecundada pelo Verbo e de repleta, dignamente deu o à luz, em nascimento humano, sim, conforme à condição e à verdade das coisas humanas, mas de modo intacto, incorrupto e totalmente íntegro.”.
Sobre a origem dessa articulação harmoniosa entre a maternidade e a virgindade, ensina:
Isso, ela deve-o a um dom divino, a uma divina graça, a uma divina concessão, mediante uma obra totalmente nova, de eficácia nova, de realização inédita, mantendo-se virgem pela conceção e depois da conceção, pelo parto, com o parto e depois do parto, virgem com o que havia de nascer, com o que nascia, virgem depois do seu nascimento. Dita, pois, esposa e virgem, escolhida para esposa e virgem, criada como esposa e virgem. Sempre virgem, apesar do filho e do esposo, alheia a toda união e comércio conjugal. Verdadeiramente virgem e santa, virgem gloriosa, virgem honrada. E após o nascimento do Verbo encarnado, após a natividade do homem assumido em Deus, do homem unido a Deus, mais santa virgem ainda, santíssima, mais bem-aventurada, mais gloriosa, mais nobre, mais honrada, e mais augusta.’  (Patrologia Latina 96,58).
É da Tradição da Igreja a antiquíssima antífona que ainda hoje rezamos com verdadeira devoção mariana:
“À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.”.
Cf Bíblia dos Capuchinhos, 1998; Catecismo da Igreja Católica; Coyle, K., Maria tão plena de Deus e tão nossa, Paulus,2012; Caridade, E. L., http://cncmb.org.br/maria-na-tradicao.html; Felipe Aquino – http://cleofas.com.br/maria-na-tradicao-da-igreja/; Liturgia das Horas, 4 vol., Gráfica de Coimbra,1983; Spretnak, C. Saudades de Maria, Caleidoscópio, 2008).

2017.08.31 – Louro de Carvalho

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