Decorreu de a 12 e 13 de agosto,
como habitualmente, a Peregrinação Internacional Aniversária de agosto, que
celebra a quarta aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos – sob o tema “Alegrai-vos no Senhor” – e que inclui a Peregrinação Nacional dos Migrantes. Presidiu Dom Vincenzo Zani,
arcebispo de Volturno e Secretário da Congregação para a Educação Católica.
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Na
conferência de imprensa de apresentação da peregrinação, na tarde do dia 12, no
Santuário da Cova da Iria, Dom Angelo Vincenzo Zani destacou a ligação da
mensagem de Fátima à temática do migrante e do refugiado, sublinhando a educação
como resposta ao problema dos migrantes e dos refugiados e enaltecendo o
significado da mensagem de Fátima como “esta misericórdia que parte do coração
de Deus, um coração que está aberto, dilatado, para com quem mais precisa”. O
arcebispo apontou Maria de Nazaré como a
verdadeira peregrina que “nos ensinou a sermos peregrinos” e que, pelo seu
exemplo, nos ensina a acolher, pois
onde quer que chegava “fazia casa” e tornava-se “vizinha”. A este respeito, afirmou:
“É isso que precisamos hoje de nos
tornarmos mais próximos uns dos outros e isso consegue-se através da educação,
que é a resposta e a chave para o problema dos migrantes e dos refugiados. […].
Tão importante como o valor do acolhimento é o valor de educação: educar é
responder a um direito individual de crescer e de se relacionar com outros, é
uma forma de alcançar uma realização pessoal; mas é também ajudar uma pessoa a
ser o protagonista de uma humanidade nova”.
Para Dom
Vincenzo, “educar significa incluir, acolher e colocar em diálogo as culturas e
as religiões”; e “abrir-se ao outro promovendo uma verdadeira cultura do diálogo”.
Indicando o exemplo da Senhora na educação
dos pastorinhos para a importância da oração, da penitência, da reparação e
sobretudo da conversão para um mundo de
paz, concluiu que “é esta a atualidade das aparições de Fátima e da
mensagem de Nossa Senhora”.
A propósito
do tema das migrações e dos refugiados, o Bispo de Leiria-Fátima Marto, citando
várias intervenções do Papa Francisco, sublinhou a “carga simbólica de um gesto
novo da parte dos muçulmanos que foi a sua participação em grande número nas celebrações
católicas fúnebres do padre Hammel”, decapitado em 26 de julho:
“Parece ser um sinal de viragem
promissor de novos tempos e de novas relações para a paz no mundo”.
Comentando a dramática situação criada pelos fogos florestais,
Dom António Marto disse que a revitalização da
agricultura, o cultivo e os incentivos ao regresso às terras deviam ser “uma
das prioridades da política nacional”. E apelou à responsabilidade dos
políticos para uma “política eficaz” de prevenção dos incêndios florestais, no
quadro de uma política eficaz de prevenção, que não fique só nas palavras e nas
boas intenções”, sustentando que a prevenção se deve estender aos cidadãos e
sociedade civil.
Depois,
informou que o Santuário de Fátima se associa à campanha de auxílio às vítimas
dos incêndios que têm afetado Portugal, nestas últimas semanas,
disponibilizando um donativo imediato de apoio às vítimas de 50 mil euros. Referiu
a este respeito:
“O Santuário
adere de alma e coração a esta campanha, desde já, oferecendo um donativo de 50
mil euros e não fechando as portas à possibilidade de um outro donativo
porventura necessário”.
Participaram
também na conferência de imprensa Dom António Vitalino, bispo de Beja e vogal
da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, e Eugénia
Quaresma, diretora da Obra Católica Portuguesa das Migrações – que apresentaram
a Peregrinação do Migrante e do Refugiado, no âmbito da 44.ª Semana Nacional
das Migrações que termina no dia 14 e tem como tema “Migrantes e refugiados – rosto de
misericórdia”.
Eugénia
Quaresma pegou no exemplo dos incêndios que grassam em todo o país para frisar
que “a tragédia não faz aceção de pessoas e o socorro também não”, e
remetem-nos para uma ideia comum: o primeiro impulso é salvar a vida e o
segundo gesto é o da cooperação e vizinhança – o que se faz trabalhando em rede.
A propósito, comentou:
“Este é o tempo de estarmos muito
conscientes dos valores e princípios que nos humanizam e que temos de pôr em
prática: deixarmo-nos interpelar pela realidade, rezando e operacionalizando no
terreno, imitando Maria que soube escutar a palavra de Deus e conseguiu discernir.
[…]. Caminhamos entre a empatia e a hostilidade e nós enquanto pastoral
queremos desconstruir mitos e manipulações políticas a que estamos sujeitos e
que nos conduzem ao medo”.
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Dos vários
momentos celebrativos no Recinto de Oração do Santuário de Fátima destaca-se a
Procissão das Velas e a Eucaristia Internacional, à noite do dia 12 a partir
das 21,30 horas; e no dia 13, a missa final, a partir das 10 horas.
Esta
celebração de agosto inclui a oferta do trigo (gesto que acontece desde 1940, quando um grupo de 17
pessoas da Juventude Agrária Católica da Diocese de Leiria ofereceu 30
alqueires de trigo para o fabrico de hóstias para consumo no Santuário) e, como habitualmente, a bênção dos
doentes e a Procissão do Adeus.
A partir de
1940, os peregrinos de várias dioceses (nacionais e estrangeiras) continuaram o gesto da oferta de trigo, a remeter
para a referência eucarística da mensagem de Fátima e para a lógica do dom que
se transforma num ato de caridade. Durante o ano de 2015 foram oferecidos 9.655
quilos de trigo e 483 quilos de farinha. Consumiram-se no Santuário,
aproximadamente, 16.300 hóstias e 1.450.000 partículas. Foram celebradas 7.223
missas – informou o Santuário.
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O arcebispo
de Volturno, durante a homilia que proferiu na Missa Internacional no Recinto de
Oração na noite do dia 12, afirmou que “todos somos migrantes, exilados e
estrangeiros”, pelo que “precisamos de encontrar um lugar seguro” para nos “sentirmos
em casa, acolhidos e amados” e os Santuários funcionam como esse espaço porque
promovem a comunhão.
Salientando que “peregrinar é fazer
a experiência da conversão”, Dom Vincenzo assegurou que “não se pode vir a
Fátima à procura de um pouco de alegria e de paz só para si”, pois “a mensagem
da Senhora convida a ir ao encontro dos irmãos e torna-se escola de caridade e
de serviço ao próximo”.
A partir dos
acontecimentos que a liturgia narra, o ilustre prelado da Cúria Romana traçou o
paralelo entre os factos subsequentes ao nascimento de Jesus, que abrangeram
toda a família (a partida
dos Magos, a crueldade de Herodes, o sonho de José e o êxodo como refugiados no
Egito) e a vida de
milhares de migrantes e de refugiados que têm de fugir à guerra, à fome e à
morte. E comentou:
“Estes acontecimentos mostram como
Jesus e a sua família fizeram uma experiência semelhante à de tantas famílias
de hoje, forçadas a abandonar as suas casas e a terra natal, por falta de
trabalho ou para se protegerem da violência por razões étnicas ou religiosas. A
sagrada família também viveu problemas semelhantes, mas a presença de Deus
deu-lhe a força, serenidade e paz interior.”
Postulando a “coragem
para caminhar nas vias estreitas e sinuosas deste mundo, confiantes do seu amor
(Cristo) entregue por nós até morrer na cruz”,
instou os peregrinos a que “acolham e guardem” a mensagem de “graça e
esperança” que a Senhora deixou, pois “a realidade à nossa volta não muda, mas
muda o nosso coração, o nosso olhar”. E recomendou “contemplação e adoração” como
atitude fundamental diante de Deus, “reconhecendo verdadeiramente a plenitude
do seu amor e da sua luz”. E explicitou o sentido da adoração:
“Adorar profundamente significa
abrir-se ao esplendor da verdade e ao calor da caridade divina. […]. Numa
cultura como a nossa, em que há confusão de ideias sobre Deus, sobre o homem e
sobre o mundo, adorar ajuda a abrir a mente e o coração, para melhor
compreender o plano de Deus e para amá-Lo em primeiro lugar, em resposta ao seu
amor”.
E terminou
apontando “a reparação como atitude de reconstrução”.
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Na homilia da
Missa do dia 13, perante milhares de peregrinos, o Secretário da Congregação
para a Educação Católica porfiou a atualidade da mensagem deixada pela Senhora
há cem anos e declarou que ela pode “ajudar-nos a ler a história e a ver
que é possível mudá-la a partir de dentro”, sobretudo num contexto “de III
Guerra Mundial em pedaços como refere o Papa”.
Uma vez que,
tal como no passado o mundo “sofre novos processos de mudança que questionam a
religião e o papel da Igreja”, a mensagem de Fátima pode dar-nos a chave de
leitura desses acontecimentos a partir de três atitudes:
- “Nunca
virar as costas a Deus, mas procurar sempre a sua face e a sua presença” perante
o “clima de relativismo, de positivismo e de neopaganismo em que o lugar de
Deus é ocupado por novos ídolos e onde o homem parece conduzir a própria
existência só no horizonte temporal e material”, deixando-se mergulhar “numa
noite escura que oculta os valores do Espírito”;
- “Olhar
para os nossos irmãos com os olhos de Deus, colaborando para “curar as feridas
causadas pelo mal e pelo pecado, especialmente nas relações entre as pessoas e
os povos”, na certeza de que “cada gesto de amor para com o próximo é um ato de
reparação, porque é como reviver a lei pascal da morte para nós mesmos e de
ressurreição em Cristo”; e
- “Empenhar-se
no mundo para construir a paz e a fraternidade entre todos os povos”.
Trata-se,
pois, de “uma mensagem que nos projeta para a frente, na história, e ilumina os
passos a realizar”, sendo que é através da oração, como Nossa Senhora
recomendou aos pastorinhos, que o mundo pode construir a paz. E acrescentou:
“Tal como o
Espírito Santo infundiu nos apóstolos uma nova energia que os projetou na
missão de evangelização, assim também a oração ajuda o cristão a não se fechar
em si mesmo, mas anima-o a abrir-se para fazer transbordar o amor de Deus na
história”.
A concluir,
disse:
“Converter o
coração e a mente, através da oração e da penitência, significa começar a
construir a paz dentro de cada um de nós, para despertar a consciência da nossa
vocação a construir o bem. Rezar o Rosário pela paz, meditando os mistérios da
nossa fé, como nos foi pedido pela Santíssima Virgem, é contemplar a história
do mundo a partir da perspetiva de Deus.”.
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Também, no
final da celebração, o bispo de Leiria-Fátima deixou uma mensagem a todos os
peregrinos sublinhando a importância da “fraternidade e da comunhão”:
“Como é bom
e belo ver os irmãos viverem unidos nesta peregrinação que é um mosaico
de fraternidade, composto por pessoas vivas, que vêm de diferentes lugares,
para se reencontrarem com alegria na casa da mãe”.
O prelado
deixou também palavras de “solidariedade e alento” para as vítimas dos fogos e
para todos aqueles “que até à exaustão física e psicológica” lutam para
pôr fim aos fogos.
Foi ainda
benzida a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, que o Comissariado da
Terra Santa em Portugal levará para uma das igrejas do Patriarcado Latino em
Jerusalém.
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Além do predito donativo, o Santuário de Fátima tem procurado apoiar os
bombeiros.
O envio daquela ajuda com caráter de urgência junta-se a outras ações regulares
e permanentes que o Santuário tem procurado desenvolver no âmbito da ação
sócio-caritativa – acrescentou o reitor, Padre Carlos Cabecinhas, durante a
mencionada conferência de imprensa. Entre elas, destacou uma que “é
particularmente querida ao Santuário que são as férias para pais e crianças
portadoras de deficiência”.
Decorreram durante este mês de julho as quatro sessões de acolhimento no
Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto, em colaboração com os
religiosos Silenciosos Operários da Cruz,
mensageiros do Movimento da Mensagem de Fátima e inúmeros voluntários, em
Fátima. Estes “campos de férias” (que já vão na 10.ª edição tendo apoiado mais de 700 jovens
portadores de deficiência)
acolhem cerca de 70 jovens, alguns deles com deficiências profundas por forma a
proporcionar descanso aos pais que lhes prestam cuidado e assistência durante
todo o ano. Trata-se de “uma atividade que nos está particularmente a peito
porque sentimos que vamos ao encontro dos mais pobres entre os pobres”,
sublinhou o Padre Carlos Cabecinhas, destacando que este ano o número de
utentes é maior porque houve um alargamento deste acolhimento a deficientes
profundos na Páscoa, durante a Semana Santa, e haverá outro no Natal.
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Enfim, um Santuário atento à mensagem e às realidades bem dramáticas,
a gerar cada vez mais plurivalente o mosaico da fraternidade!
2016.08.13 – Louro
de Carvalho
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