Foi
precisamente a 3 de agosto de 2014 que chegou ao fim o Banco da Família
Espírito Santo dando origem a um Banco Mau (BES) para a gestão dos ativos
problemáticos e o Novo Banco (NB), cujo acionista é o Fundo de Resolução, para o
qual foi transferida de imediato e em definitivo a generalidade da atividade e
do património do antigo BES (Banco Espírito Santo).
Para
tanto, o Fundo de Resolução, constituído por um conjunto de bancos com
participação desigual no capital (sendo a CGD a entidade
com a maior fatia de participação)
teve de capitalizar o novo Banco em 4900 milhões de euros, para o que teve de
pedir emprestados cerca de 3900 milhões o fundo da troika.
A
ideia era estruturar a atividade do Banco, dar-lhe solidez e prepará-lo para a
venda nas melhores condições possíveis. A Ricardo Salgado, cujo império
financeiro terminou na data acima referida, sucedeu Vítor Bento ainda na
vigência do BES, que um mês depois abandonou a presidência do Conselho de
Administração ou por incapacidade ou por discordância em relação às exigências
orientadoras do BdP (Banco de Portugal). Surgiu à frente da novel
instituição um homem experiente na banca, Eduardo Stock da Cunha, que se
manteve na liderança até finais de julho (só abandona o lugar efetivamente
com a posse do sucessor).
E, apesar da dispensa de centenas de funcionários e colaboradores – por
reformas antecipadas, por rescisão por mútuo acordo ou por despedimento (o
NB gastou neste campo 57 milhões de euros)
– e do encerramento de balcões, o banco não ganhou a vitalidade que propalava,
não resistiu aos testes de stresse e não equilibrou contas. Ao invés, deixou
para trás uma plêiade de lesados, incluindo uma associação de explícitos
enganados e lesados do BES e os responsáveis responderam a uma Comissão Parlamentar
de Inquérito.
Várias
tentativas de venda do NB falharam, apesar de a Administração ter acabado por
contratar exclusivamente para o efeito Sérgio Monteiro, quadro do BdP e
ex-Secretário de Estado dos Transportes do Governo de Passos Coelho, em outubro
de 2015, a troco de um vencimento de 25,4 mil euros por mês (em
12 meses), que
totalizam 304,8 mil euros.
Os
prejuízos sucedem-se. Assim, no 1.º semestre de 2015, os prejuízos foram
contabilizados em 271,6 milhões; em novembro do mesmo ano, nos testes de
stresse, o NB revelou uma insuficiência de 1398 milhões, pelo que vendeu
ativos, como a Seguradora GNB e a participação do Fundo de Resolução no Novo
Banco (a
diferença entre os 4900 milhões e o empréstimo pedido ao fundo da troika) a um investidor privado; em
dezembro, recebeu uma capitalização de 1985 milhões, à custa da dívida sénior (recaem
as perdas sobre os investidores institucionais detentores de tais emissões); e no final do 1.º semestre de
2016, os prejuízos são de 362,6 milhões.
A
Stock da Cunha, que saiu sem pôr o banco a dar lucros, sucede António Ramalho,
até há pouco presidente da Infraestruturas de Portugal. É licenciado em
Direito, mas tem ligações profissionais à banca: esteve ligado ao Totta &
Açores, ao Pinto & Sotto Mayor e ao Crédito Predial Português, e foi
administrador do BCP. O novel líder, que aguarda luz verde por parte do BCE, tem
a missão de vender, até ao fim do ano, ativos imobiliários no valor de 700
milhões, alienar várias operações internacionais, designadamente as
subsidiárias BES Vénétie, em França, e NB Ásia, em Macau, e conseguir a venda
do NB.
***
E
se não conseguir?
Se
não for conseguida a venda do NB, das duas uma: ou será nacionalizado através
da integração na CGD (Caixa Geral de Depósitos), o banco público, ou será liquidado,
acarretando mais desemprego e mais prejuízos para os contribuintes, quer por
via do orçamento da Segurança Social que por via do Orçamento Geral.
Entretanto,
sabe-se que, se as tentativas de venda desta instituição bancária borregarem
mais uma vez – ou por os concorrentes se chegarem atrás ou se as exigências dos
reguladores e supervisores (BCE e BdP) forem inibidoras – José Maria
Ricciardi, o primo de Ricardo Salgado, poderá ser o rosto de um consórcio liderado
pelo Haitong para a compra de 30% do
NB.
É
de lembrar que o Haitong é um grupo chinês
que comprou o BESI (que passara para a esfera do NB) e deixou como seu presidente executivo
José Maria Ricciardi.
Ora,
como se dizia, se não resultar a venda prevista do NB, Sérgio Monteiro prevê
encontrar-se em setembro com Ricciardi, que já contactara, entretanto, o responsável
pela venda. O Haitong ficará com 30%
do NB – entre 1500 a 2000 milhões de euros – e o Fundo de Resolução ficará com
a maioria do capital que poderá alienar por dispersão em bolsa.
***
Porquê
dois anos a perder tempo de prejuízo em prejuízo, de capitalização em capitalização,
de estruturação em estruturação? Quando é que a banca portuguesa entra nos
carris? Sucedem-se os gestores, bem pagos, que eliminam balcões, trabalhadores,
vendem ativos e acumulam prejuízos…
E
foi o BPN, o BPP, o BES/GES, o Banif. Qual será o próximo? Quantas mais Comissões
Parlamentares de Inquérito terão de ser constituídas por causa da banca?
A
CGD ainda andou com as palhas à cinta, mas parece que se verá livre de escolhos
de maior, desde que o BCE e a Comissão Europeia se despreguem da sua rigidez e
quiçá de alguns interesses parcelares.
Bom,
com 19 pessoas altamente competentes no conselho de Administração da CGD só por
milagre é que a situação se manterá no vermelho ou mesmo na linha de água!
2016.08.03 – Louro de Carvalho
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