sábado, 27 de agosto de 2016

Santa Mónica e Santo Agostinho

A Igreja Católica celebra a memória litúrgica de Santa Mónica a 27 de agosto e a de Santo Agostinho a 28 (este ano, cai em domingo, razão pela qual a memória litúrgica fica eclipsada com a liturgia dominical na maior parte das igrejas). Mãe e filho – dois santos admiráveis do século IV – são evocados, em razão da santidade de vida em que ficaram irmanados, em dias consecutivos do mês de agosto.
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Mónica nasceu no norte da África, em Tagaste (hoje, Argélia), na região de Cartago, no ano 331, numa família cristã e abastada que lhe entregou – segundo o costume da época e local – como esposa um jovem chamado Patrício, decurião e membro do conselho de Tagaste, que possuía terras, escravos e uma boa posição social.
Foi criada por uma escrava que tratava dos filhos dos senhores. Os manuscritos que recolheram a tradição oral sobre Mónica dizem que, desde criança, era muito religiosa e disciplinada. E, sempre que podia, ajudava os mais pobres e demonstrava muita paciência e mansidão.
Como cristã exemplar, a jovem esposa preocupava-se com a conversão da sua família, pelo que se consumiu na oração pelo esposo pagão, rude e violento e, sobretudo, pelo filho mais velho, Agostinho, que vivia nos vícios e pecado, por causa de quem derramou muitíssimas lágrimas.
São múltiplos os testemunhos das inúmeras preces, ultrajes e sofrimentos por que passou a mãe desvelada para ver a conversão e o batismo, tanto do marido como do filho, o que mereceu a recomendação do seu conselheiro espiritual de que persistisse na oração pois “é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”.
Mónica tinha três filhos: Agostinho, Navígio e Perpétua, que se tornou religiosa. A dificuldade em lidar com Agostinho, o mais velho e rebelde, chegou a tal ponto que, para lhe ensinar que as nossas ações neste mundo têm consequências, a mãe o proibiu de entrar  em casa, mas sem nunca desistir de rezar pela conversão do filho. Pelo contrário, passou a interceder, de forma especial, por este filho, que era dotado de aguda inteligência e duma inquieta busca da verdade, o que fez com que se resolvesse a procurar as respostas e a felicidade fora da Igreja. Por isso, envolveu-se em meias verdades e muitas mentiras e erros. Porém, a mãe – fervorosa e fiel – nunca deixou de interceder pelo filho com ardor amor e, durante 33 anos, e antes de morrer, em 387, ela mesma disse ao filho, já convertido e cristão, que a única coisa que a fazia desejar viver ainda um pouco era vê-lo cristão antes de morrer. Por isso, o filho Agostinho, que se tornara Bispo de Hipona, santo e doutor da Igreja, pôde escrever que ela o gerara tanto em sua carne, para que ele viesse à luz do tempo, como em seu coração, para que ele nascesse à luz da eternidade.
Exemplo de mãe verdadeiramente santa, alimentou a sua fé com uma vida intensa de oração e enriqueceu-a com as virtudes teologais da fé, esperança e caridade e com as virtudes morais da fortaleza, prudência, justiça e moderação.
Mónica deixou para todas as mães o ensinamento de que, além de educar os filhos para desenvolverem a sua personalidade e viverem em sociedade, é preciso também educá-los para Deus, desenvolvendo neles a vida espiritual. E ensina-nos que mães e pais se devem preocupar com a salvação e santificação de seus filhos.
Chegou ao termo da sua vida terrena em Óstia no ano 387, com a idade de 56 anos.
Santa Mónica foi canonizada pelo Papa Alexandre III, não por ter operado milagres ou por ser mártir (no sentido comum do termo), mas por ter sido a responsável humana pela conversão de Santo Agostinho e ensinado a fé cristã, a moral, o pudor e a mansidão, mostrando a força da intervenção feminina na família e na sociedade.
Mais tarde, foi declarada Padroeira das Associações das Mães Cristãs.
Agostinho, no seu famoso livro autobiográfico intitulado “Confissões”, fez um monumento indelével à memória da mãe, Santa Mónica. O corpo da Santa foi descoberto em 1430. O Papa Martinho V transportou-o para Roma e depositou-o na igreja de Santo Agostinho.
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Aurélio Agostinho, o Santo Agostinho de Hipona, foi um importante bispo cristão e teólogo. Nasceu em Tagaste (hoje, Argélia), na região de Cartago, no norte da África, em 354, e morreu em 430, supostamente a 28 de agosto, durante um ataque dos vândalos (povo bárbaro germânico) ao norte da África.
Era filho de mãe que seguia o cristianismo, Santa Mónica, porém o pai era pagão. Logo, na sua sua formação, teve importante influência do maniqueísmo (sistema filosófico e religioso que une elementos cristãos e pagãos e concebe o mundo regido por dois princípios eternos e antagónicos: bem e mal). 
Segundo a narração que ele próprio faz, Agostinho bebeu o amor de Jesus com o leite materno. Porém, como acontece muitas vezes, a influência do pai fez com que se retardasse o seu batismo, que ele acabou por não receber na infância nem na juventude. Estudou literatura, filosofia, gramática e retórica, vindo a tornar-se professor dessas disciplinas nas cidades italianas de Roma e Milão. Afastou-se imenso dos ensinamentos da mãe e, por causa de más companhias, entregou-se aos vícios. Cometeu maldades, viveu no pecado durante toda a juventude, teve uma amante (achava que era impossível um homem dormir sempre sozinho) de quem teve um filho ao qual pôs o nome de Adeodato (que em expressão latina significa “dado por Deus) e caiu na heresia gnóstica sob a égide dos maniqueus, para os quais trabalhou na tradução de livros.
Na cidade de Milão, para onde se transferira com a mãe, teve contacto com o neoplatonismo cristão. E, após uma juventude perturbada intelectual e moralmente, converteu-se genuinamente à fé cristã e foi batizado, na vigília pascal de 387, meses antes da morte da mãe, por Ambrósio, que era bispo de Milão e que também se tornou um grande e sábio santo.
Fora efetivamente levado pela mãe a ouvir os célebres sermões do santo bispo e nutrido com a leitura da Sagrada Escritura e da vida dos santos. E Agostinho converteu-se realmente, recebeu o Batismo aos 33 anos e dedicou-se a uma vida de estudos e oração.
Agostinho dizia-se um apaixonado pela verdade, que, de tanto buscar, acabou por reencontrar na Igreja Católica. “Ó beleza, sempre antiga e sempre nova, quão tarde eu te amei!”; “fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós!” – são comoventes gritos de alma passados a escrito por ele nas “Confissões”, onde relata a sua vida de pecador arrependido.
Regressado à pátria, levou uma vida de grande ascetismo, tendo vivido em regime monasterial durante algum tempo, vindo a receber a ordenação sacerdotal em 391. Em 395, foi eleito bispo coadjutor de Hipona (cidade do norte do continente africano), passando a bispo diocesano pouco tempo depois. Apesar de ter deixado o mosteiro devido à ordenação episcopal, continuou a levar vida de asceta na casa episcopal; e legou aos companheiros uma “regra”, pelo que é considerado o pioneiro e padroeiro do clero regular.
Pronunciou importantes sermões, que acabou por passar à escrita. Como bispo daquela diocese, durante 34 anos, foi modelo perfeito do rebanho a que ministrou sólida formação cristã.
As suas obras, em que combateu fortemente os erros da época e ilustrou sabiamente a fé católica, influenciaram muito o pensamento teológico da Igreja Católica na Idade Média e ainda hoje continuam a influenciar grandes pensadores, mesmo não cristãos. Que o diga Bento XVI, sobretudo na versão de Joseph Ratzinger!
Em “A Cidade de Deus”, Agostinho combate as heresias e o paganismo e faz cerrada apologia do cristianismo contra os ataques que o Império contra esta religião disparava. Na obra “Confissões” faz uma descrição íntima e confessionalista da sua vida pessoal antes da conversão ao cristianismo. Analisava a vida levando em consideração a psicologia e o conhecimento da natureza. Porém, o conhecimento e as ideias eram de origem divina que passavam ao homem por uma iluminação de Deus. Para o bispo de Hipona, nada era mais importante do que a fé em Jesus e em Deus. A Bíblia, por exemplo, deveria ser analisada, tendo em conta os conhecimentos naturais de cada época. Defendia também a predestinação, conceito teológico que afirma que a vida de todas as pessoas é traçada anteriormente por Deus. 
Foi canonizado por aclamação popular e, mais tarde, em 1298, declarado Doutor da Igreja pelo papa Bonifácio VIII.
Santo Agostinho é considerado o santo protetor dos teólogos, impressores e cervejeiros.
Das obras que legou à posteridade, ressaltam: Da Doutrina Cristã (397-426); Confissões (397-398); A Cidade de Deus (413-426); Da Trindade (400-416); RetrataçõesDe Magistro; 350 Sermões; Sobre a livre escolha da vontade; e Conhecendo a si mesmo.
De Santo Agostinho, disse o Papa Leão XIII: “É um génio vigoroso que, dominando todas as ciências humanas e divinas, combateu todos os erros do seu tempo”.  
A sua vida demonstra o poder da graça de Deus, que vence o pecado e sempre, como Pai, espera a volta do filho pródigo, e constitui uma lição para nunca desesperarmos da conversão de ninguém, por maior e mais refinado pecador que seja, e para estarmos sempre sinceramente à procura da verdade e do bem.
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Dois santos – mãe e filho – de quem não se pode dizer que a santidade resultou da simples hereditariedade, mas da oração de alguém e da abertura a Deus por parte de outrem: dom e esforço, fé e determinação, esperança e trabalho, amor e misericórdia.

2016.08.27 – Louro de Carvalho 

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