A agência Ecclesia,
a 18 de agosto, publicou uma crónica de Paulo Caetano, detentor do pelouro do
Património na Câmara Municipal de Seia, que refere o Santuário de Nossa Senhora
do Ar, situado na área do município de Seia, como um dos “maiores símbolos em
termos religiosos e turísticos” da diocese da Guarda. Trata-se dum lugar que
“representa a beleza harmoniosa do ponto mais alto de Portugal continental” – a
Torre da Serra da Estrela – “criando um sentimento de paz nas pessoas,
convidando-as para realidades mais sublimes e profundas”.
Fazendo alusão ao texto publicado no último número do semanário
ECCLESIA (29.07.2016), sublinha que “a devoção a Nossa
Senhora do Ar teve origem na ligação das pessoas a Nossa Senhora do Loreto, que
teve grande difusão no século XVI”.
Segundo a tradição, a casa que, em Nazaré,
serviu de habitação a Jesus, Maria e José, foi local de peregrinação durante 13
séculos. Tendo a região onde ela se situava sido devastada pelo Emir
Alá-el-Din e a casa de Nazaré estado na iminência de ser destruída, terá esta
sido salva por anjos que a conseguiram retirar e levar para Loreto, em Itália, no ano de 1294.
Desta feita, Loreto tornou-se local de peregrinação e até de devoção de
muitos dos Papas. E, em Portugal, temos o santuário de Nossa Senhora da Lapa,
em Quintela, do município de Sernancelhe, que o Padre António Cordeiro
considerava o Loreto Lusitano.
A iconografia tradicional da Senhora do
Loreto apresenta-a
vestida com um manto que cobre, quase na totalidade, o Menino Jesus,
conferindo-lhe uma forma aerodinâmica cuja força propulsora será dos anjos que
a suportam.
A 24 de março de 1920 (festa do anjo São Gabriel, mensageiro de
Nazaré),
Bento XV, acedendo ao desejo do clero, mercê da predita forma aerodinâmica, declarou
a Virgem do Loreto, Padroeira Universal da
Aviação. E, a 12 de setembro do mesmo ano, os aviadores reuniram-se
em massa na Basílica do Loreto e
fizeram oficialmente a consagração à sua Padroeira. Porém, em 1921, um incêndio destruiu a imagem, pelo que em 1922, Pio XI benzeu a nova imagem da Virgem do Loreto,
esculpida sem grandes diferenças em relação à anterior, sendo então esta
acompanhada por aviadores da Capela Sistina para a Basílica do Loreto, aonde
chegou a 8 de Setembro.
Tem a Senhora do Loreto em Alcafozes, Idanha-a-Nova, especial
devoção e culto da parte do povo e da Igreja, que, apesar de desconhecerem as
circunstâncias e a origem do aparecimento da imagem da Senhora do Loreto naquela zona, sempre lhe dedicaram
grande afeição. Os festejos em sua homenagem têm, para esta zona, grande
significado e adesão e ocorrem, habitualmente, no último fim de semana de agosto ou primeiro de setembro.
E atualmente a sua capela, em Alcafozes,
já tem um interessante e curioso espólio de ofertas relacionadas com a área da
aviação civil, comercial e militar.
***
Embora a padroeira dos aviadores fosse e
ainda seja Nossa Senhora do Loreto, um grupo de aviadores militares de
Portugal, liderado pelo seu diretor, o major Salvador
Alberto du Courtiils Cifka Duarte, difundiu no meio aeronáutico do país,
a partir de 1924, uma devoção particular a Nossa Senhora do Ar. Tal devoção
levou a que a Senhora do Ar fosse entronizada como padroeira da Força Aérea
Portuguesa (FAP), o que foi ratificado por Breve do Papa João XXIII, “Aligera Cymba”, de 15 de
janeiro de 1960. A sua imagem original foi adquirida em Paris, em 192-6 e
encontra-se em Sintra, na Base Aérea n.º 1 da FAP.
Depois do predito breve de João XXIII, subscrito pelo cardeal
Domenico Tardini, a imagem de Nossa Senhora do Ar, nova padroeira da Força
Aérea Portuguesa, foi entronizada em Seia, em 1962, pelo bispo da Guarda, Dom
Policarpo da Costa Vaz. Paulo Caetano explica:
“A
partir desta data, a Força Aérea Portuguesa era a única Força Aérea no mundo
que tinha uma Santa por padroeira por despacho papal, Nossa Senhora do Ar – razão
pela qual a Força Aérea, ainda hoje, celebra missas de Ação de Graças a Nossa
Senhora do Ar”.
O templo de Seia foi construído
em 1962, por iniciativa da FAP, quando
edificou, no ponto mais alto da Serra da Estrela, duas torres-radar para a
Esquadra 13 do Grupo de Deteção Alerta e Conduta de Intercepção.
Do conjunto arquitetónico formado pelas antigas
instalações do Grupo de Deteção Alerta e Conduta de Intercepção, com a então
Sede em São Romão, Seia, a Capela de Nossa Senhora do Ar tornou-se um espaço
exclusivo e singular em que os peregrinos podem fazer uma caminhada pelos
trilhos da Serra da Estrela para observar e absorver a paisagem excecional
que se transforma em louvor existencial.
A dita Esquadra
13 foi descativada no início da década de 1970, pelo que as suas instalações
foram desocupadas e, mais tarde, entregues ao Estado, o qual, por sua vez,
as colocou sob a alçada do turismo local. E, por audaz iniciativa da Turistrela
– empresa que explora o turismo na Serra da Estrela, que a recuperou e entregou
à Diocese da Guarda –, a capela reabriu ao culto em outubro de 2007, sendo retomado
o seu uso de celebrações religiosas, após várias décadas de abandono à
intempérie e ao vandalismo dos transeuntes, situação que também originou o desaparecimento
de imagens e de peças de paramentaria. (cf semanário Ecclesia, cit, pgs
44-45).
Atualmente sob a alçada da Diocese da Guarda, a capela acolhe,
assim, diversas celebrações religiosas, muitas delas presididas pelo Bispo da
Guarda, D. Manuel da Rocha Felício”, que tem acarinhado o santuário. Ainda no
passado dia 20 de junho, centenas de peregrinos subiram até ao Santuário de
Nossa Senhora do Ar para celebrarem o Jubileu da Misericórdia.
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Também nos Açores se situa a Igreja de Nossa Senhora do Ar, que se localiza no bairro do Aeroporto, na
freguesia e concelho da Vila do Porto, na ilha de Santa Maria. O primitivo templo
foi edificado, juntamente com o Aeroporto, em 1944, pelo Comando das Forças Armadas dos
Estados Unidos da América para o
atendimento das necessidades espirituais do pessoal da base. Com caraterísticas
ecuménicas, o imóvel era destinado à prática dos principais cultos professados
por aquele pessoal: catolicismo, protestantismo e judaísmo – facto que, à época,
causou certa admiração, não apenas aos marienses, mas aos açorianos em geral. Para esse fim, ao fundo do grande
salão, o interior do edifício possuía uma espécie de palco com um altar muito simples destinado aos cultos
referidos. Posteriormente, foi construída uma pequena capela onde se venerava uma imagem de Nossa
Senhora do Ar, padroeira da Força Aérea Portuguesa, e onde se encontrava o
sacrário, com vista ao culto e devoção eucarística. Esta capela, destinada
exclusivamente ao culto católico, após autorização do Bispo de Angra, Dom Guilherme
da Cunha Magalhães, para o culto
dominical, foi consagrada a 6 de abril de 1947. Foi o seu primeiro responsável
eclesiástico o padre Artur Brandão, que faleceu no naufrágio do navio de
cabotagem interinsular N/M Arnel, no
baixio dos Anjos, em 19 de setembro de 1958.
Erguido em madeira, foi destruído quase por completo por um
incêndio, a 12 de junho de 1985.
Foram
infrutíferos os esforços dos bombeiros e da população para salvar o templo, do
qual subsistiu apenas a torre sineira, de alvenaria, que havia sido construída recentemente.
Mas, com recursos públicos e da população, o templo foi reconstruído, tendo
sido, a 2 de janeiro de 2000, solenemente
inaugurado. Presentemente dispõe de
pároco próprio, que assiste a toda a população católica do Aeroporto.
***
E,
no dia 20 de outubro de 1995, na Base Aérea n.º 1, na Granja do Marquês, em
Sintra, o então Bispo Castrense e Patriarca de Lisboa, Dom António Ribeiro,
presidiu à cerimónia da solene entronização de Nossa Senhora do Ar como Padroeira
de todos os Aviadores Portugueses, com as honras e privilégios que lhe são
devidos.
O
evento religioso teve o patrocínio militar do CEMFA (Chefe do Estado-Maior da
Força Aérea),
General QE Aurélio Benito Aleixo Corbal, e constituiu um eloquente testemunho
de irmanação dos militares no ativo e na reserva ou na reforma, os sacerdotes
capelães militares no ativo e antigos, as famílias do militares e dos demais
devotos de Nossa Senhora do Ar.
O
General CEMFA, nas palavras que dirigiu no início da missa presidida por Dom
António Ribeiro, congratulou-se por haver sido distinguido com este “singular
privilégio” de “ser testemunha” de homenagem, tão merecida e inteiramente
devida, à Padroeira da Força Aérea”. E o presidente da celebração, na sua
homilia, suplicou a proteção da Virgem Santíssima para todos os aviadores
portugueses: “Que Ela os acompanhe sempre
pelos caminhos da Vida, na terra e no ar, os livre dos perigos e os defenda de
todas as adversidades”.
Celebrada
a Eucaristia e prestadas as honras militares pelo corpo de alunos da Academia
da Força Aérea, seguiu-se a procissão para a capela, com sobrevoo de formações
de aeronaves e acompanhada pela Banda da Força Aérea. Na capela, o Ordinário
Castrense proferiu a oração de Consagração
a Nossa Senhora do Ar, após o que recolocou a imagem no trono donde preside
de 1926. E, tendo como pano de fundo um mavioso canto a Nossa Senhora do Ar,
executado pelo coro da Força
Aérea, o Patriarca e o CEMFA assinaram um documento alusivo ao ato, onde consta
para a posteridade a memória do evento.
***
Para este ano de 2016, por disposição do Ordinariato
Castrense, a festa litúrgica de Nossa Senhora do Ar, Padroeira da Força Aérea
foi celebrada na Estação de Radar N.º 2, em Paços de Ferreira. Para além duma celebração
litúrgica mariana e procissão, procedeu-se à bênção e entronização da imagem de
Nossa Senhora do Ar. Estiveram presentes uma Alta Entidade militar, o bispo e
todos os capelães da Força Aérea. Mais foi referido que é desejo do Ordinário
Castrense dotar esta Unidade de um capelão que lá vá algumas vezes por mês.
***
Como
se vê, a fé católica e, em especial o culto mariano, não se encontra tão
distante da alma portuguesa e da família militar como às vezes se pensa. É preciso
aprender com todos.
Transcreve-se, a
propósito, um pequeno poema de António Henrique
Trigo Perestrello da Silva:
Com o seu manto
imaculado Sob o Céu azul estrelado De braços erguidos aos Céus E a CRUZ DE CRISTO ao lado
– Orai, por nós a DEUS!
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As ASAS
DE PORTUGAL Devotas do Teu altar Deu-mas DEUS para voar - Oh Nossa Mãe imortal |
“NOSSA SENHORA DO AR”!
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2016.08.19 - Louro de Carvalho
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