segunda-feira, 1 de agosto de 2016

O fundador da Congregação do Santíssimo Redentor

O mês de agosto abre com a memória litúrgica de Santo Afonso Maria de Ligório, eminente jurista que dispôs toda a sua ciência para o serviço da Teologia Moral. E este é o legado aos seus filhos em religião, os redentoristas, que fundaram a Academia Afonsina para o estudo avançado da Teologia Moral, a qual oferece licenciaturas e doutoramentos nesta matéria disciplinar.
Celebra-se, pois, a 1 de agosto, a memória de um santo Religioso, Bispo e Doutor da Igreja que se tornou pelo seu ensino e testemunho “patrono dos confessores e dos teólogos de doutrina moral” e o precursor das chamadas missões populares.
Afonso Maria de Ligório nasceu no dia 27 de setembro 1696, em Marianella, perto de Nápoles na Itália. Era filho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles. O pai era capitão da Marinha Real e a mãe católica fervorosa. Ainda pequeno, recebeu de São Francisco de Jerónimo, da Companhia de Jesus, o seguinte vaticínio: “Esta criança, não morrerá antes dos 90 anos. Será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus”.
A vontade paterna destinou-o aos estudos das artes liberais, das ciências exatas e das disciplinas jurídicas, conseguindo rápidos e surpreendentes progressos, tanto assim que, aos 17 anos de idade se doutorou, na Universidade de Nápoles, em direito civil e em direito eclesiástico e começou o seu trabalho no foro como advogado, função em que obteve renome. Também o pai lhe tinha preparado noiva rica e nobre, mas tal pretensão não teve entrada no coração de Afonso, que parecia ter reservado lugar apenas para a vida religiosa.
Como advogado de renome, patrocinou uma causa de grande importância do Duque Orsini contra o grão-duque de Toscana. Meticulosamente estudou o processo, reviu os autos, conferiu os documentos e fez uma brilhante defesa no foro. A vitória parecia mais que garantida quando o contra-atacante lhe chamou a atenção para uma pequena falha que lhe passara despercebida. Afonso reconheceu que se enganara, sustentando involuntariamente uma falsidade, e percebeu a índole falaciosa deste mundo e dos seus tribunais.
Esta autoadvertência para a fragilidade dos julgamentos humanos, defendendo culpados e condenando inocentes, fê-lo mudar radicalmente de vida. Depois de profunda reflexão, a ponto de passar três dias seguidos em frente ao crucifixo, decidiu-se pela renúncia à profissão, à herança e aos títulos de nobreza, e acolheu a sua via vocacional, já que o Senhor o queria a advogar as causas de Cristo. Esta mudança custou-lhe grave desavença com o pai, que não podia conformar-se com a opção do filho de renúncia aos títulos de nobreza e à rica herança familiar. Assim, Afonso Maria de Ligório, jovem e brilhante advogado abandonou em definitivo a advocacia para se dedicar às causas do Evangelho. Completou os estudos de Teologia e foi ordenado sacerdote aos 30 anos de idade, no dia 21 de dezembro de 1726.
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Desde então colocou todos os seus conhecimentos de oratória e os demais dons ao serviço de Cristo, dedicou-se sobretudo à pregação, com o lema: “Deus me enviou a evangelizar os pobres”. Procurando de preferência os pobres e as crianças abandonadas pelas ruas de Nápoles, decidiu morar no Hospício dos Padres Chineses e pensou seriamente ir para as missões pagãs. Ao invés, os planos de Deus acabaram por o conduzir, em 1729, a um convento de irmãs em Scala, perto de Amalfi, por ter adoecido e necessitar de convalescença e repouso. Nesse convento, a Irmã Maria Celeste Crostarosa revelou a visão que tivera no dia 3 de outubro de 1731: “Afonso estava designado por Deus para fundar uma Congregação”. Aí começou a tensão entre a vontade de Deus e a humildade do designado – luta que passou a ser um contínuo martírio para Afonso. A religiosa chegou a adverti-lo no sentido de que Deus não o queria em Nápoles, mas que o chamava a fundar um novo Instituto. Teve de enfrentar outra vez a forte oposição do pai, que o recriminava. Todavia, a vontade divina venceu e, a 9 de novembro de 1732, fundou em Scala, a Congregação do Santíssimo Redentor ou Congregação dos Padres Redentoristas, que no começo tinha o nome de Instituto do SS.mo Salvador. Os primeiros companheiros de Afonso eram todos sacerdotes, que logo começaram a dedicar-se à pregação.
Não tardou a surgir o confronto de ideias e opções. Queriam uns que o Instituto, além da pregação, se dedicasse ao ensino. Contudo, Afonso insistiu na exclusividade da pregação aos pobres nas regiões de gente abandonada, na forma de missões e retiros. E fez vencer o seu ponto de vista. E, em 1749, o Papa Bento XIV aprovou as Regras do Instituto, que tinha por fim a imitação de Jesus e a pregação de missões e retiros de preferência às classes mais abandonadas.
À frente dos seus confrades palmilhou as cidades e vilas do Sul da Itália, convertendo pecadores, reformando costumes e santificando famílias. Mais do que pela palavra, pregava pelo exemplo de virtude, de penitência e de caridade. As cidades disputavam Afonso como pregador. Tendo um dia chegado ao seu conhecimento que o queriam nomear arcebispo de Palermo, pediu orações para que se evitasse “o grande escândalo” de tal nomeação. Porém, em 1762, o Papa Clemente XIII impôs-lhe a mitra de Santa Águeda dos Godos, que Afonso recebeu, aos 66 anos de idade, em consonância com o aforismo eclesial, “Vontade do Papa é a vontade de Deus”.
Pastoreou aquela sua diocese, durante 13 anos, com prudência e santidade: reformou-lhe o clero, os costumes e as Igrejas; e mudou a vida religiosa nos mosteiros e nos conventos. Os diocesanos reconheceram que tinham um santo como bispo, quando Afonso vendeu até as alfaias, os móveis do seu pobre palácio e o seu anel de bispo para acudir aos necessitados. Em 1775, a seu pedido por motivo de saúde e estilo, o Papa Pio VI dispensou-o do múnus episcopal. O bispo emérito voltou pobre para o seu convento e teve o desgosto de ver a cisão no seu Instituto e, por desavenças internas e intrigas, foi excluído da Congregação que fundara.
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Afonso era um artista proficiente (historiador, pregador, poeta e exímio musicista) e os pais, percebendo o seu jeito juvenil para as artes, tinham contratado vários dos mestres mais ilustres ao tempo para o treinarem adequadamente na música, na pintura, na poesia e na literatura. Colocou toda a criatividade literária e artística ao serviço da missão cristã e pedia o mesmo a todos os que se juntavam à sua congregação. As suas biografias referem que, nos seus últimos anos, gostava de ir até ao teatro local, que na época gozava de péssima reputação. E, sempre que ia a algum recital, como fazia depois de ser ordenado sacerdote, tirava os óculos e sentava-se bem no fundo, simplesmente ouvindo a música sem prestar atenção a mais nada.
Sobretudo nos últimos 12 anos de vida escreveu 111 obras sobre espiritualidade e teologia. As 21 500 edições das suas obras, traduzidas para 72 línguas, comprovam que Afonso é, de facto, um dos autores católicos mais lidos. A oração e o seu poder, o amor, o seu relacionamento pessoal com Cristo e sua experiência em primeira mão sobre as obras pastorais fizeram de Afonso um dos grandes mestres da vida espiritual. A obra musical mais conhecida deste mestre espiritual é o hino natalino “Quando Nascetti Ninno”, escrito em napolitano e traduzido depois para o italiano pelo Papa Pio IX  como “Tu scendi dalle stelle (“Tu desces das estrelas”).
Nos últimos anos de vida, como se disse, dedicou-se à escrita, enriquecendo a coleção de obras ascéticas e teológicas. Distinguiu-se sobretudo no campo da Mariologia e no da Teologia Moral.
No campo da Mariologia, Santo Afonso escreveu As Glórias de Maria, Devoção Mariana, Orações à Mãe Divina, Canções Espirituais, A Verdadeira Esposa de Cristo, As Visitas ao Santíssimo Sacramento e à Virgem Maria, entre muitas outras. A sua doutrina, de natureza maioritariamente pastoral, redescobriu, integrou e defendeu a mariologia de Santo Agostinho e de Santo Ambrósio (também Doutores da Igreja) e de outros Padres da Igreja. Representa a apologia intelectual da Mariologia no século XVIII, o período do Iluminismo, contra o frio racionalismo que combatia de maneira inflamada o entusiasmo mariano.
Porém, o maior contributo de Ligório para a Igreja católica reside no campo da ciência Moral com a sua Teologia Moral, obra que nasceu da experiência pastoral de Afonso, da sua habilidade em responder às questões práticas enfrentadas pelos e com os fiéis e do seu contacto casuístico com os problemas do dia a dia. Ele era contra o legalismo estéril e o rigorismo estrito. De acordo com Afonso, estes eram caminhos contrários ao Evangelho pois tal rigor jamais foi ensinado ou praticado pela Igreja”, muito menos por Jesus Cristo. O seu sistema de teologia moral destaca-se pela prudência, evitando tanto o relaxamento como o rigor excessivo. Geralmente é atribuída a Afonso, nos casos da conscienciosa inculpavelmente duvidosa ou em matérias discutíveis, a posição de equiprobabilista, a evitar tanto o rigorismo jansenista como o laxismo e como o simples probabilismo.
Costuma dizer-se que deixou: aos sacerdotes, sobretudo aos confessores e pregadores, a sua célebre Teologia Moral; e, ao povo cristão, livros repletos de verdadeira e ungida piedade, tais como as Meditações sobre a Paixão do Salvador, As Glórias de Maria, As Visitas ao SS.mo Sacramento e Tratado sobre a oração.
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Afonso Maria de Ligório morreu, com 91 anos de idade, no dia 1 de agosto de 1789, no convento de Nocera dei Pagani na Itália. Foi canonizado, em 1839, pelo Papa Gregório XVI e proclamado Doutor da Igreja (Doctor Zelantissimus), em 1871, pelo Papa Pio IX.
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Quando contemplamos um céu estrelado, extasiamo-nos com as miríades de astros a cintilarem nas etéreas vastidões. Entretanto, outra constelação há, ainda mais bela e reluzente que a fixada no firmamento: são os Santos da Igreja Católica, fulgurantes exemplos para todos os fiéis. Um desses  grandes luminares do cristianismo é Santo Afonso Maria de Ligório.
- (Arautos do Evangelho)

2016.08.01 – Louro de Carvalho

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