domingo, 14 de agosto de 2016

No 75.º aniversário do martírio do fundador da Milícia da Imaculada

Os dias 14 e 15 de agosto de 1941 ficaram como indelével pedra de toque na História da Igreja da contemporaneidade, dolorosamente integrada no período mais infernal da História Humana no século XX, inferno provocado pela sanha de homens cruéis inspirados na idiota purificação da raça humana através da pretensa eliminação duma etnia plurimilenar.
O silêncio e a oração do Papa Francisco nos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, no passado dia 29 de julho, constituem o melhor sermão para que se faça memória do terrível holocausto dos nossos tempos civilizacionais. Francisco encontrou-se com sobreviventes, deixou uma vela junto do muro onde os prisioneiros eram fuzilados em Auschwitz e rezou na cela onde foi martirizado São Maximiliano Kolbe, que se ofereceu para morrer em vez de um pai de família, em 1941. No campo de concentração de Birkenau, o Santo Padre cumprimentou vinte e cinco “Justos entre as nações” – título conferido pelo Estado de Israel a pessoas que não são judias, mas que arriscaram as suas vidas durante o Holocausto para salvar vidas de judeus. Também em Birkenau, Francisco fez uma oração silenciosa e deixou uma vela. Um rabino, por seu turno, entoou em hebraico o Salmo 130.
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Porque, a 14 de agosto se faz memória litúrgica de São Maximiliano Kolbe, aqui fica a referência à sua personalidade e ao seu apostolado.
Nascido a 8 de janeiro de 1894, em Zdunska-Wola, na Polónia, Raimundo Kolbe era o segundo filho de Julio e Maria Dabrowska, membros da Ordem Terceira Franciscana e tecelões da cidade. Tendo o menino apenas 10 anos de idade, Nossa Senhora apareceu-lhe e ofereceu-lhe duas coroas, uma branca e outra vermelha, significando a branca a pureza e a vermelha o martírio. Como o menino respondeu que aceitava as duas, Nossa Senhora olhou-o com doçura e desapareceu.
Raimundo nunca mais se esqueceu daquele dia e sentiu que estava destinado a amar incondicionalmente a Mãe Imaculada. Entrou, em 1907, no seminário dos Frades Menores Conventuais e mudou-se para Roma, em 1912, para continuar os estudos eclesiásticos na Pontifícia Universidade Gregoriana e no “Seraphicum” da sua Ordem e, a 1 de Novembro de 1914, após 3 anos de votos temporários na família franciscana, Raimundo emitiu a profissão solene, tornando-se Frei Maximiliano Maria Kolbe. A adição de “Maria” ao nome religioso expressa fielmente a sua espiritualidade mariana. E, ainda estudante, na noite do dia 16 de outubro de 1917, na vigília da Festa de Santa Margarida Maria Alacoque, Frei Maximiliano fundou o movimento de apostolado mariano chamado “Milícia da Imaculada” com mais seis estudantes do seminário: Padre Giuseppe Pal, romeno; Padre Quirico Pignalberi, da província de Roma; Padre Antonio Glowinski, romeno; Frei Antonio Mansi e Frei Enrico Granata, da Província de Napoles; e Frei Girolano Biasi, da Província de Pádua.
Ordenado sacerdote a 28 de abril de 1918 e regressado à Polónia, começou o seu apostolado mariano com a publicação do boletim mensal “O Cavaleiro da Imaculada”; em 1927, fundou a “Cidade da Imaculada”, um centro de vida religiosa e de diversas formas de apostolado; em 1930, partiu para o Japão, onde fundou uma instituição semelhante à da Polónia e onde deixou fecundo trabalho apostólico; e, regressado definitivamente ao seu país, dedicou-se inteiramente à sua obra com diversas publicações religiosas, de modo que a II Guerra Mundial o surpreendeu à frente dum imponente complexo editorial da Polónia.
Como sacerdote, Maximiliano empenhou-se em ensinar com afinco o caminho da salvação, sobretudo pelo apostolado através da imprensa e pôde, assim, evangelizar em muitos países.
Logo no início da II Grande Guerra Mundial, a Polónia foi tomada por nazistas e, com isto, Frei Maximiliano foi preso por duas vezes, sendo que a prisão definitiva, ocorrida em 1941, o levou para Varsóvia e, posteriormente, para o campo de concentração em Auschwitz, onde no campo de extermínio evangelizou heroicamente com a vida e com a morte. Se um prisioneiro lograva escapar, o comandante do campo nazista escolhia 10 homens para serem mortos à fome (uma forma de dizimação). Sucedeu que, em virtude da fuga dum prisioneiro, uma dessas 10 pessoas escolhidas era um pai de família que desesperadamente caiu em prantos ao ser escolhido. Foi então que Frei Maximiliano Maria ofereceu a própria vida para salvar aquele homem.
Na sua cela, Kolbe celebrava a missa todos os dias e cantava hinos com os prisioneiros que o ouviam. A sua fé era inabalável e desejava comunicar a paz aos outros condenados nos seus últimos dias de vida, cantando e orando juntos, dizendo-lhes que em breve estariam no céu com Maria. Após duas semanas de desidratação e fome, Frei Maximiliano era o único que ainda permanecia vivo e, por isso, foi morto pelos nazistas com uma injeção letal de ácido carbólico no dia 14 de agosto de 1941. Os restos foram cremados no dia 15 de agosto, o dia da festa da Assunção de Maria (Hoje, solenidade).
Maximiliano Maria Kolbe, mártir e idealizador da Milícia da Imaculada, foi beatificado por Paulo VI, a 17 de outubro de 1971, e canonizado a 10 de outubro de 1982, por João Paulo II.
Maximiliano Kolbe foi um apóstolo do culto de Nossa Senhora, do ângulo do seu primeiro, originário e privilegiado esplendor, o da sua autodefinição em Lourdes: a Imaculada Conceição. Por isso, torna-se impossível separar o nome, a atividade e a missão de Kolbe do nome, atividade e missão de Maria Imaculada.
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Do campo de concentração de Auschwitz e do santo devoto de Maria Imaculada falou João Paulo II, na homilia da Missa de canonização deste santo mártir polaco:
“De facto, no final de Julho de 1941, quando por ordem do chefe do campo foram colocados em fila os prisioneiros destinados a morrer de fome, este homem, Maximiliano Maria Kolbe, apresentou-se espontaneamente, declarando-se pronto a morrer em substituição de um deles. Esta disponibilidade foi acolhida, e ao Padre Maximiliano, após mais de duas semanas de tormentos por causa da fome, foi enfim tirada a vida com uma injeção mortal, a 14 de Agosto de 1941. Tudo isto ocorreu no campo de concentração de Auschwitz, onde foram levadas à morte durante a última guerra cerca de quatro milhões de pessoas, entre as quais também a Serva de Deus Edite Stein (a carmelitana Irmã Teresa Benedita da Cruz), cuja causa de Beatificação está em andamento junto da competente Congregação. [Foi canonizada pelo Papa João Paulo II, em 1998].
Depois de frisar que “a desobediência a Deus, Criador da vida, que preceituou ‘não matarás’, causou nesse lugar o imenso morticínio de tantos inocentes”, referiu-se a Kolbe como “um prisioneiro do campo de concentração que reivindicou, em lugar da morte, o direito à vida de um homem inocente, um dos quatro milhões”, e declarou:
“Este homem (Franciszek Gajowniczek) vive ainda e está presente entre nós. Padre Kolbe reivindicou em favor dele o direito à vida, ao declarar a disponibilidade de morrer em lugar dele, porque era um pai de família e a sua vida era necessária aos seus entes queridos. Padre Maximiliano Maria Kolbe reafirmou assim o direito exclusivo do Criador à vida do homem inocente e deu testemunho a Cristo e ao amor. Escreve de facto o apóstolo João: Nisto conhecemos a caridade: Ele (Jesus) deu a Sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (1Jo 3,16).
Sobre o perfil mariano deste filho de São Francisco de Assis, o Papa polaco diz:
“A inspiração de toda a sua vida foi a Imaculada, à qual confiava o seu amor por Cristo e o seu desejo de martírio. No mistério da Imaculada Conceição manifestava-se aos olhos da sua alma aquele mundo maravilhoso e sobrenatural da Graça de Deus oferecida ao homem. A fé e as obras de toda a vida do Padre Maximiliano indicam que ele entendia a sua colaboração com a Graça divina como uma milícia sob o sinal da Imaculada Conceição. A caraterística mariana é particularmente expressiva na vida e na santidade do Padre Kolbe. Com esta caraterística foi marcado também todo o seu apostolado, tanto na Pátria como nas missões.”
Quanto ao significado litúrgico do sucedido no Bunker da fome em Oswiecim (Auschwitz), a 14 de Agosto de 1941, João Paulo II explicita, evocando o Livro da Sabedoria:
“Deus provou Maximiliano Maria e achou-o digno de Si (cf Sb 3,5). Provou-o como ouro na fornalha e aceitou-o como holocausto (cf Sb 3,6). Embora aos olhos dos homens tenha sido atormentado, todavia a sua esperança está cheia de imortalidade, pois as almas dos justos estão na mão de Deus e nenhum tormento as tocará. E quando, humanamente falando, lhes chegam o tormento e a morte, quando aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos..., quando a sua saída deste mundo é considerada uma desgraça..., eles estão em paz: eles experimentam a vida e a glória na mão de Deus (cf Sb 3,1-4). Tal vida é fruto da morte à semelhança da morte de Cristo. A glória é a participação na Sua ressurreição.”
Cumpriram-se as palavras dirigidas por Cristo aos Apóstolos para que fossem e dessem fruto e o seu fruto permanecesse (cf Jo15,16) – acrescenta o Papa Wojtyla. Por isso, o fruto da morte heroica de Maximiliano Kolbe perdura como sinal de modo admirável na Igreja e no mundo.
Claramente a Igreja aceita, com veneração e gratidão, este sinal de vitória obtida pela força da Redenção de Cristo e procura decifrar a sua eloquência com toda a humildade e amor. Sempre que proclama a santidade dos seus filhos e filhas, ela procura agir com toda a precisão e responsabilidade devidas, penetrando em todos os aspetos da vida e da morte dos servos de Deus. Todavia a Igreja está, ao mesmo tempo, atenta ao sinal da santidade dado por Deus nos seus servos terrenos, para não perder a sua plena eloquência e o seu significado definitivo.
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Também Paulo VI, no ato de beatificação, se refere a Kolbe na sua dimensão mariana:
“E Kolbe, como toda a doutrina, toda a liturgia e toda a espiritualidade católica, vê Maria inserida no desígnio divino, como termo fixo de eterno conselho, a cheia de graça, a sede da sabedoria, a predestinada à maternidade de Cristo, a rainha do reino messiânico (Lc 1,33) e ao mesmo tempo como a serva do Senhor, a eleita para oferecer à encarnação do Verbo a sua insubstituível cooperação, a Mãe do homem-Deus, nosso Salvador. Maria é Aquela pela qual os homens chegam a Jesus e Aquela pela qual Jesus chega aos homens.”  
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No dizer do Papa que o beatificou e do Papa que o canonizou, Kolbe, pelo seu perfil mariano, é qualificado e classificado entre os grandes santos e os espíritos videntes que perceberam, veneraram e cantaram o mistério de Maria, conexo com o de Cristo e com o da Igreja. Não lhe prestam o culto de latria, devido só a Deus, nem o de simples dulia, atribuível aos anjos, santos e santas, mas o de hiperdulia ou veneração especial, porque Mãe de Deus e da Igreja, porque próxima de cada um de nós e imagem, tipo e modelo da Igreja peregrina sob a batuta do Espírito Santo.
2016.08.14 – Louro de Carvalho

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