Que o 3.º domingo do Advento é de alegria esperançosa testemunha-o
a passagem bíblica tomada para 1.ª Leitura a Liturgia da Palavra (Is 35, 1-6a.10), que exibe o termo que significa “alegria”
4 vezes; e, nos ativermos a palavras com valor semântico semelhante, o leque ficará
ampliado: alegrem-se, rejubile, exulte, prazer, contentamento.
O trecho de Isaías é, de facto, um hino à alegria, destinado
a acordar a esperança e a revitalizar o ânimo dos exilados, pois Deus “aí está
para fazer justiça”: vai intervir na história, salvar Judá do cativeiro e abrir
uma estrada no deserto para que o Povo regresse em triunfo a Sião.
Na verdade, é anunciada a chegada de Deus, para dar a vida ao
seu Povo, para o libertar e conduzir, num cenário de alegria e de festa, para a
terra da liberdade.
O profeta interpela a natureza e pede-lhe que se associe à
alegria ansiosa dos homens e se prepare para a ação libertadora de Deus em prol
do seu Povo: o deserto e o descampado (estéreis e desolados) são incitados a revestir-se de vida abundante (como o Líbano, o monte Carmelo ou a
planície do Sharon, zonas proverbiais de vida e de fecundidade) e a enfeitar-se de flores de todas
as formas e cores. Assim, a própria natureza manifestará a sua alegria pela
intervenção salvadora de Jahwéh e será o cenário adequado à intervenção de Deus.
Ademais, a magnificência das árvores e das plantas será a imagem da glória e da
beleza do Senhor e falará a todos da grandeza de Deus, da sua capacidade para
fazer brotar vida onde só havia morte, desolação, esterilidade. Depois, a
palavra do profeta dirige-se aos homens. Não ao desânimo, à cobardia, ao baixar
os braços, porque Deus está para salvar e libertar! Os exilados devem unir-se à
natureza nessa corrente de alegria e vida nova, pois a libertação chegou. E, como
resultado, os olhos dos cegos abrir-se-ão e desimpedir-se-ão os ouvidos dos
surdos. O coxo andará e saltará como um veado; o mudo falará e cantará de
alegria. A ação de Deus é excessiva, porque transformadora e geradora de vida
nova em abundância. A marcha do Povo da terra da escravidão para a da liberdade
será um novo êxodo, onde se repetirão as maravilhas operadas pelo Deus
libertador aquando do primeiro êxodo; não obstante, este segundo êxodo será mais
grandioso, quanto à manifestação e à ação de Deus. Será uma peregrinação
festiva, feita na alegria. O resultado final será o reencontro com Sião, a
eterna felicidade, a alegria sem fim.
O Evangelho (Mt 11, 2-11) descreve,
de forma sugestiva, a ação de Jesus, o Messias esperado.
O evangelista, depois de mostrar as atitudes que as distintas
pessoas e grupos assumem ante Jesus, pretende explicitar os sinais de reconhecimento
da ação messiânica de Jesus. O sinal dado aos pastores pelo anjo foi o do
menino envolto em panos e deitado na manjedoura, o sinal dado aos doutores no encontro
do Templos aos seus 12 anos foi a inteligência e sabedoria plasmadas na pertinência
das perguntas que fazia e na doutrina das respostas que dava. Agora os sinais vêm
compendiados na resposta à pergunta dos enviados de João, preso por ordem de
Herodes Antipas, a quem o Batista criticara por viver maritalmente com a cunhada,
se Jesus é “o que está para vir”. João esperava um Messias que viesse lançar
fogo à terra, castigar maus e pecadores, iniciar o “juízo de Deus”, mas Jesus
aproximou-Se dos pecadores, marginais, impuros e deu-lhes a mão, oferecendo-lhes
a salvação. Porém, o Mestre é compassivo e claro para com os discípulos do
Batista, piscando-lhes, segundo Mateus, os olhos.
O texto tem duas partes. Na 1.ª, Jesus responde à pergunta de
João e insinua que é o Messias; na 2.ª, temos a apreciação que o próprio Jesus
faz da figura e da ação profética de João. Jesus tem indubitavelmente consciência
de que é o Messias. E, para dar a resposta, recorre a um conjunto de citações
de Isaías que definem, na perspetiva dos profetas, a ação do Messias enviado de
Deus: dar vida aos mortos (cf Is 26,19),
curar os surdos (cf Is
29,18), dar vista aos
cegos, dar liberdade de movimentos aos coxos (cf Is 35,5-6), anunciar a Boa Nova aos pobres (cf Is 61,1). Ora, se Jesus realizou estas obras
(cf Mt caps 8.9) e fez ressurreições, é porque é o
Messias, enviado por Deus para libertar os homens e para lhes trazer o “Reino”.
A sua mensagem e os seus gestos contêm uma proposta libertadora que Deus faz
aos homens. Na verdade, os discípulos de João (alguns vieram a ser também discípulos de jesus) hão de ir dizer-lhe o que viram e
ouviram: os cegos veem, os coxos andam,
os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e a boa nova é
anunciada aos pobres (Mt
11,5-6; cf Lc 7,21-23). Aliás
estes sinais estão presentes em Lc 4, no episódio em que Jesus lê na sinagoga
de Nazaré a passagem de Isaías que reza:
“O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos
cativos e, aos cegos, a
recuperação da vista, a mandar
em liberdade os oprimidos, a
proclamar um ano favorável da parte do Senhor” (Lc 4,18-19; cf Is 61,1-2a).
Repare-se que, após a leitura em que fez o corte isaiano da proclamação
do “dia
da vingança da parte do nosso Deus”, disse: “Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir” (Lc 4,21). De facto, os sinais do Reino são claros em Jesus.
E, sim, aqui temos as credenciais do Cristo que esperamos com paciência como o agricultor
espera pacientemente o fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia e
fortalecendo os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima, sem nos
queixarmos uns dos outros, e tomando como modelo de sofrimento e de paciência os
profetas, que falaram em nome do Senhor (cf Tg 5, 7-10) e que em Cristo veem a profecia
chancelada pela rubrica da autenticidade.
De
facto, a profecia de João não foi em vão: diminuiu-se para que o Messias crescesse,
este que o Batista apresentou como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo (vd
Jo 1,29.36). E Jesus
elogia-o perante as multidões. Mateus utiliza um recurso retórico muito
conhecido: uma série de perguntas que instam os ouvintes a responder. E o Messias
esclarece: João não é um pregador oportunista cuja mensagem segue as modas, ou o
convencido elegante que vive no luxo; João é um profeta e mais do que profeta. É
o precursor do Messias
E
a questão pertinente para nós é se queremos ser como João, o profeta que se
diminui para que o Outro cresça e se veja onde está, no Céu e na Terra, no
Templo e no mundo dos pobres e marginais, doentes e diminuídos. É sempre o Cristo
que quer renascer e viver em nós! Temos que lhe fazer caminho e dar espaço e morada
em nós e entre nós.
2019.12.15
– Louro de Carvalho
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