Na sua
última recitação pública do Angelus do ano de 2019, Francisco
propôs a Sagrada Família de Nazaré como modelo para nossas famílias. E explicou
que o termo ‘sagrada’ insere esta família no âmbito de santidade que é dom de
Deus, mas igualmente uma adesão livre e responsável ao projeto de Deus”. Assim
foi para a família de Nazaré: “totalmente
disponível à vontade de Deus”.
Por outro
lado, o Papa fez votos por que todos terminem o ano em paz, paz do coração e
comunicando-se em família, uns com os outros. Na verdade, a família é um
tesouro precioso que precisa ser apoiado e tutelado, frisou o Santo Padre neste
domingo, 29, Festa da Sagrada Família, quando passou uma tarefa à família: “retomar a comunicação em família: os pais,
os pais com os filhos, com os avós, os irmãos entre eles.
Dirigindo-se
aos inúmeros peregrinos e turistas presentes na Praça São Pedro em domingo
ensolarado, com a temperatura por volta dos 9º C, Francisco chamou a atenção
para o facto de “os três componentes da Família de Nazaré”, se ajudarem uns aos
outros a descobrir e a realizar o plano de Deus”, e explicitou o papel
desempenhado por cada um nesta missão divina.
Começando
por Maria, disse:
“Como não ficarmos maravilhados, por
exemplo, com a docilidade de Maria à ação do Espírito Santo, que lhe pede que
se torne mãe do Messias? Maria, como toda a jovem do seu tempo,
estava para concretizar o seu projeto de vida, isto é, casar-se com José. Mas,
quando percebe que Deus a chama para uma missão particular, não hesita em
proclamar-se sua ‘serva.”.
Maria ouve a
Palavra de Deus e coloca-a em prática. Com
efeito, sendo a serva do Senhor, ousou pedir que se faça em Si aquilo que a
Palavra de Deus exarou a seu respeito.
E o Sumo
Pontífice assegurou que Jesus exaltará a grandeza de Maria não tanto pelo seu
papel de mãe, mas pela sua obediência a Deus: “Bem-aventurados os que ouvem a
palavra de Deus e a põem em prática, como Maria”. E, “quando não compreende bem os eventos que a envolvem, Maria medita no
silêncio, reflete e adora a iniciativa divina”. Tanto assim é que “a sua
presença aos pés da Cruz consagra essa total disponibilidade”.
Quanto a
José, que “não fala, mas age obedecendo”, “é o homem do silêncio, o homem da
obediência”, sob a condução de Deus, representada pelo anjo. Diz o Santo
Padre, referindo-se ao trecho de Mateus tomado para a Liturgia da Palavra da
Festa no Ano A (Mt 2, 13-15.19-23):
“A página do Evangelho de hoje
recorda três vezes essa obediência de José, relacionada com a fuga para o Egito
e com o retorno à terra de Israel. Sob a guia de Deus, representada pelo anjo,
José distancia a sua família das ameaças de Herodes e salva-a. A Sagrada Família solidariza-se assim com
todas as famílias do mundo forçadas ao exílio, solidariza-se com todos aqueles
que são forçados a abandonar a própria terra por causa da repressão, da
violência, da guerra.”.
Na verdade,
é José, que para proteger a Sagrada Família e em obediência ao Anjo do Senhor,
a torna emigrante e refugiada. Mas hoje há tantos e tantas que se toram
refugiados, sem haverem tido quem os avisasse. Não o fazem por obediência, mas
por desejo de sobreviver!
Por fim
Jesus, a terceira ou a primeira pessoa da Sagrada Família. Nele, segundo o
Papa, houve somente “sim”, o que é manifestado em tantos momentos da sua vida
terrena, citando o episódio em que seus pais aflitos o acharam no Templo
pregando aos doutores da lei, ou o da sua oração de entrega ao Pai no Jardim
das Oliveiras, todos eventos que são a perfeita realização das próprias
palavras de Cristo que diz: “Não quiseste sacrifício nem oblação [...]. Então
disse: “Eis que eu venho [...] fazer a tua vontade, Meu Deus”.
Jesus é,
pois, a vontade do Pai.
Assim, como disse
Francisco, “Maria, José e Jesus, a Família de Nazaré, representam uma resposta
uníssona à vontade do Pai. Os três componentes dessa família singular ajudam-se
reciprocamente a descobrir e a realizar o plano de Deus. Rezam, trabalham e
comunicam”. E então o Papa pergunta:
“Tu, em tua família, sabes comunicar-te, ou
és como aqueles jovens na mesa, cada um com o telemóvel, [que] estão [a trocar
mensagens] em chats?
É com base nesta pergunta que alguns dizem que o Papa Francisco condena
o uso dos telemóveis à mesa. Não sei se é bem assim, mas o telemóvel pode ser
um obstáculo à comunicação intrafamiliar, que é preciso recuperar. Trata-se do óbvio,
mais que de condenação.
Aquela mesa a que se reporta o Pontífice tem o espetáculo do silêncio,
como se estivessem na Missa. Não se comunicam. Ora, segundo o Papa Bergoglio, “devemos
retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os
avós, mas comunicar-se, com os irmãos, entre eles...”. Esta é, pois, uma tarefa
a ser assumida hoje, precisamente no dia da Sagrada Família.
Depois, é preciso considerar a Sagrada Família como modelo para as famílias, de modo que “pais e filhos se apoiem mutuamente na
adesão ao Evangelho, fundamento da santidade da família”. Para tanto, devemos
confiar a Maria, “Rainha da família”, todas as famílias do mundo, especialmente
as “provadas pelo sofrimento”, e invocar sobre elas “a sua materna proteção”.
Ao
saudar os peregrinos e turistas presentes na Praça, o Papa dirigiu uma saudação
às famílias:
“Hoje dirijo uma saudação especial às
famílias aqui presentes e às que participam de casa através da televisão e da
rádio. A família é um tesouro precioso: é preciso sempre apoiá-la, protegê-la:
em frente!”.
Efetivamente,
a família é um tesouro a ser protegido.
Antes de
despedir-se com o habitual “bom domingo, bom almoço e não se esqueçam de rezar
por mim”, o Papa fez votos por que todos terminem o ano em paz:
“Saúdo a todos e desejo a todos um bom
domingo e um final de ano sereno. Terminemos o ano em paz, paz de coração:
esses são meus votos para vós. E em família, comunicando-se. Agradeço-vos novamente
pelas felicitações [de Natal] e pelas orações.”.
Enfim, é
preciso “acabar o ano com paz no coração”.
***
Cotejando a
leitura do Evangelho e as outras (Sir 3,3-7.14-17a; e Cl 3,12-21), é possível enditar a
reflexão sobre a família.
A Amoris Laetitia, n.º 31, refere:
“O
bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja. Inúmeras são as
análises feitas sobre o matrimónio e a família, sobre as suas dificuldades e
desafios atuais. É salutar prestar atenção à realidade concreta, porque ‘os
pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história’
através dos quais ‘a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profunda
do inexaurível mistério do matrimónio e da família.”.
Pondo o olhar
nesta verdade, a Igreja estabeleceu a festa da Sagrada Família na quadra
natalícia, em que há mais vida de família, e apresenta-nos em Jesus, Maria e
José um modelo vivo da família, segundo os desígnios de Deus, ou seja, a
família que Deus quis.
- A Família, obra de Deus: “Deus quis honrar os pais nos filhos e
firmou sobre eles a autoridade da mãe”
(honrar o pai obtém o perdão dos pecados e honrar a mãe faz acumular um tesouro). Deus formou o homem e a mulher e
deu-lhes uma lei: “Os dois serão uma só carne”. A união de um só homem e uma só
mulher unidos fielmente durante a vida inteira pertence ao seu ADN. Uma família
saudável equilibrada, aquecida pelo amor, é fundamental para o normal
desenvolvimento da pessoa humana. A vida familiar beneficia, em primeiro lugar,
os dois cônjuges, ajudando-os a crescer humana e sobrenaturalmente, e, através
deles os filhos, que os pais não devem exasperar. O amor humano matrimonial
precisa da exclusividade – um só homem e uma só mulher – e da perenidade – para
sempre, pois, enquanto viverem os dois, cada dificuldade é superada e o amor
vai-se tornando cada vez de melhor qualidade. O amor vivido em família é o ouro
da família, enquanto o serviço mútuo é a sua prata.
- Deu-lhe Deus uma Lei. “Quem honra seu pai obtém o perdão
dos pecados, e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai
encontrará alegria nos seus filhos e será́ atendido na sua oração. Quem honra
seu pai terá́ longa vida, e quem lhe obedece será́ o conforto de sua mãe.”.
E as relações entre pais e filhos estão no 4.º Mandamento da Lei de Deus: “Honra
teu pai e tua mãe”. Esta honra a que se refere o Mandamento abarca três
aspetos importantes para a saúde da família: amor – na verdade, há uma
dívida de amor insolúvel para com os que nos chamaram à vida, pois, sem terem
tomado qualquer compromisso por voto ou juramento, fizeram um colossal investimento
de amor em cada um de nós; respeito ou reverência – há uma
distância considerável de idade entre pais e filhos, razão por que devia haver
uma exigência de comportamento respeitoso para com os nossos pais, pois, além
da idade, há uma maestria resultante da experiência e da sabedoria acumulada ao
longo do tempo e nas agruras da vida; e obediência – esta virtude está na
linha da exigência que os pais têm de educar os filhos (Pois como podem os pais ministrar a
educação aos filhos, se eles desobedecem, recusando aceitá-la?), só encontrando duas limitações: os
pais não podem mandar aos filhos o que seja contra a lei de Deus e respeitar a
sua consciência livre, terminando o dever de obediência quando cessa a tarefa
educativa, ou seja, quando o filho ou filha segue o seu caminho vocacional.
- As virtudes na família, segundo
São Paulo. “Como
eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de
misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos
outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro.”.
A família é
uma escola de virtudes humanas e sobrenaturais: misericórdia – é preciso começar por esta virtude, pois, se não houver o
perdão gratuito, a vida da família torna-se impossível e a misericórdia leva a
esperar pacientemente que a porta do coração se abra a quem a ela bate constantemente;
bondade – é preciso não só querer bem, mas
pensar sempre o melhor, fazer a leitura mais benigna, para que o coração se
abra à bondade; humildade – nós somos fundamentalmente iguais e carentes de ajuda (Talvez o Senhor nos tenha feito
incompletos, para que a comunhão se torne mais fácil para nós), sendo que a humildade leva a pessoa
a ajustar-se, a agradecer continuamente, a usar de respeito pelos outros e a
pedir perdão; mansidão – o próprio Jesus, que se apresenta como modelo de
mansidão e de humildade de coração, anuncia nas bem-aventuranças que não são os
violentos os conquistadores do mundo, mas os mansos, pois à pessoa mansa e
delicada todas as portas e corações se abrem, já que a sua mansidão resplandece
no silêncio, nas palavras, nas atitudes e no olhar; e paciência – é pela
paciência que nos possuiremos a nós próprios e seremos capazes de conviver
alegremente com os outros, esperando-nos a prova dela diante dos palradores
incontinentes e importunos ou quando somos surpreendidos por uma notícia ou
resultado desagradáveis e quando é necessário recomeçar a partir da terceira
vez, sem que o resultado esteja garantido.
Cada uma
destas virtudes merece bem um assíduo exame de consciência para avaliarmos
diante de Deus em que ponto estamos no âmbito da nossa progressão no caminho do
bem.
***
Que a família
modelar (Jesus, José e
Maria) ajude a educação
do nosso lar na virtude, na alegria!
2019.12.29 –
Louro de Carvalho
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