domingo, 29 de dezembro de 2019

A comunicação em família no quadro da virtude, um tesouro precioso


Na sua última recitação pública do  Angelus do ano de 2019, Francisco propôs a Sagrada Família de Nazaré como modelo para nossas famílias. E explicou que o termo ‘sagrada’ insere esta família no âmbito de santidade que é dom de Deus, mas igualmente uma adesão livre e responsável ao projeto de Deus”. Assim foi para a família de Nazaré: “totalmente disponível à vontade de Deus”.
Por outro lado, o Papa fez votos por que todos terminem o ano em paz, paz do coração e comunicando-se em família, uns com os outros. Na verdade, a família é um tesouro precioso que precisa ser apoiado e tutelado, frisou o Santo Padre neste domingo, 29, Festa da Sagrada Família, quando passou uma tarefa à família: “retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, os irmãos entre eles.
Dirigindo-se aos inúmeros peregrinos e turistas presentes na Praça São Pedro em domingo ensolarado, com a temperatura por volta dos 9º C, Francisco chamou a atenção para o facto de “os três componentes da Família de Nazaré”, se ajudarem uns aos outros a descobrir e a realizar o plano de Deus”, e explicitou o papel desempenhado por cada um nesta missão divina.
Começando por Maria, disse:
Como não ficarmos maravilhados, por exemplo, com a docilidade de Maria à ação do Espírito Santo, que lhe pede que se torne mãe do Messias? Maria, como toda a jovem do seu tempo, estava para concretizar o seu projeto de vida, isto é, casar-se com José. Mas, quando percebe que Deus a chama para uma missão particular, não hesita em proclamar-se sua ‘serva.
Maria ouve a Palavra de Deus e coloca-a em prática. Com efeito, sendo a serva do Senhor, ousou pedir que se faça em Si aquilo que a Palavra de Deus exarou a seu respeito.
E o Sumo Pontífice assegurou que Jesus exaltará a grandeza de Maria não tanto pelo seu papel de mãe, mas pela sua obediência a Deus: “Bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática, como Maria”. E, “quando não compreende bem os eventos que a envolvem, Maria medita no silêncio, reflete e adora a iniciativa divina”. Tanto assim é que “a sua presença aos pés da Cruz consagra essa total disponibilidade”.
Quanto a José, que “não fala, mas age obedecendo”, “é o homem do silêncio, o homem da obediência”, sob a condução de Deus, representada pelo anjo. Diz o Santo Padre, referindo-se ao trecho de Mateus tomado para a Liturgia da Palavra da Festa no Ano A (Mt 2, 13-15.19-23):
A página do Evangelho de hoje recorda três vezes essa obediência de José, relacionada com a fuga para o Egito e com o retorno à terra de Israel. Sob a guia de Deus, representada pelo anjo, José distancia a sua família das ameaças de Herodes e salva-a. A Sagrada Família solidariza-se assim com todas as famílias do mundo forçadas ao exílio, solidariza-se com todos aqueles que são forçados a abandonar a própria terra por causa da repressão, da violência, da guerra.”.
Na verdade, é José, que para proteger a Sagrada Família e em obediência ao Anjo do Senhor, a torna emigrante e refugiada. Mas hoje há tantos e tantas que se toram refugiados, sem haverem tido quem os avisasse. Não o fazem por obediência, mas por desejo de sobreviver!
Por fim Jesus, a terceira ou a primeira pessoa da Sagrada Família. Nele, segundo o Papa, houve somente “sim”, o que é manifestado em tantos momentos da sua vida terrena, citando o episódio em que seus pais aflitos o acharam no Templo pregando aos doutores da lei, ou o da sua oração de entrega ao Pai no Jardim das Oliveiras, todos eventos que são a perfeita realização das próprias palavras de Cristo que diz: “Não quiseste sacrifício nem oblação [...]. Então disse: “Eis que eu venho [...] fazer a tua vontade, Meu Deus”.
Jesus é, pois, a vontade do Pai.
Assim, como disse Francisco, “Maria, José e Jesus, a Família de Nazaré, representam uma resposta uníssona à vontade do Pai. Os três componentes dessa família singular ajudam-se reciprocamente a descobrir e a realizar o plano de Deus. Rezam, trabalham e comunicam”E então o Papa pergunta:
Tu, em tua família, sabes comunicar-te, ou és como aqueles jovens na mesa, cada um com o telemóvel, [que] estão [a trocar mensagens] em chats?
É com base nesta pergunta que alguns dizem que o Papa Francisco condena o uso dos telemóveis à mesa. Não sei se é bem assim, mas o telemóvel pode ser um obstáculo à comunicação intrafamiliar, que é preciso recuperar. Trata-se do óbvio, mais que de condenação.
Aquela mesa a que se reporta o Pontífice tem o espetáculo do silêncio, como se estivessem na Missa. Não se comunicam. Ora, segundo o Papa Bergoglio, “devemos retomar a comunicação em família: os pais, os pais com os filhos, com os avós, mas comunicar-se, com os irmãos, entre eles...”. Esta é, pois, uma tarefa a ser assumida hoje, precisamente no dia da Sagrada Família.
Depois, é preciso considerar a Sagrada Família como modelo para as famílias, de modo que “pais e filhos se apoiem mutuamente na adesão ao Evangelho, fundamento da santidade da família”. Para tanto, devemos confiar a Maria, “Rainha da família”, todas as famílias do mundo, especialmente as “provadas pelo sofrimento”, e invocar sobre elas “a sua materna proteção”.
 Ao saudar os peregrinos e turistas presentes na Praça, o Papa dirigiu uma saudação às famílias:
Hoje dirijo uma saudação especial às famílias aqui presentes e às que participam de casa através da televisão e da rádio. A família é um tesouro precioso: é preciso sempre apoiá-la, protegê-la: em frente!”.
Efetivamente, a família é um tesouro a ser protegido.
Antes de despedir-se com o habitual “bom domingo, bom almoço e não se esqueçam de rezar por mim”, o Papa fez votos por que todos terminem o ano em paz:
Saúdo a todos e desejo a todos um bom domingo e um final de ano sereno. Terminemos o ano em paz, paz de coração: esses são meus votos para vós. E em família, comunicando-se. Agradeço-vos novamente pelas felicitações [de Natal] e pelas orações.”.
Enfim, é preciso “acabar o ano com paz no coração”.
***
Cotejando a leitura do Evangelho e as outras (Sir 3,3-7.14-17a; e Cl 3,12-21), é possível enditar a reflexão sobre a família.
A Amoris Laetitia, n.º 31, refere:
O bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja. Inúmeras são as análises feitas sobre o matrimónio e a família, sobre as suas dificuldades e desafios atuais. É salutar prestar atenção à realidade concreta, porque ‘os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história’ através dos quais ‘a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profunda do inexaurível mistério do matrimónio e da família.”.
Pondo o olhar nesta verdade, a Igreja estabeleceu a festa da Sagrada Família na quadra natalícia, em que há mais vida de família, e apresenta-nos em Jesus, Maria e José um modelo vivo da família, segundo os desígnios de Deus, ou seja, a família que Deus quis.
- A Família, obra de Deus: “Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe (honrar o pai obtém o perdão dos pecados e honrar a mãe faz acumular um tesouro). Deus formou o homem e a mulher e deu-lhes uma lei: “Os dois serão uma só carne”. A união de um só homem e uma só mulher unidos fielmente durante a vida inteira pertence ao seu ADN. Uma família saudável equilibrada, aquecida pelo amor, é fundamental para o normal desenvolvimento da pessoa humana. A vida familiar beneficia, em primeiro lugar, os dois cônjuges, ajudando-os a crescer humana e sobrenaturalmente, e, através deles os filhos, que os pais não devem exasperar. O amor humano matrimonial precisa da exclusividade – um só homem e uma só mulher – e da perenidade – para sempre, pois, enquanto viverem os dois, cada dificuldade é superada e o amor vai-se tornando cada vez de melhor qualidade. O amor vivido em família é o ouro da família, enquanto o serviço mútuo é a sua prata.
- Deu-lhe Deus uma Lei. “Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados, e acumula um tesouro quem honra sua mãe. Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos e será́ atendido na sua oração. Quem honra seu pai terá́ longa vida, e quem lhe obedece será́ o conforto de sua mãe.”. E as relações entre pais e filhos estão no 4.º Mandamento da Lei de Deus: “Honra teu pai e tua mãe”. Esta honra a que se refere o Mandamento abarca três aspetos importantes para a saúde da família: amor – na verdade, há uma dívida de amor insolúvel para com os que nos chamaram à vida, pois, sem terem tomado qualquer compromisso por voto ou juramento, fizeram um colossal investimento de amor em cada um de nós; respeito ou reverência – há uma distância considerável de idade entre pais e filhos, razão por que devia haver uma exigência de comportamento respeitoso para com os nossos pais, pois, além da idade, há uma maestria resultante da experiência e da sabedoria acumulada ao longo do tempo e nas agruras da vida; e obediência – esta virtude está na linha da exigência que os pais têm de educar os filhos (Pois como podem os pais ministrar a educação aos filhos, se eles desobedecem, recusando aceitá-la?), só encontrando duas limitações: os pais não podem mandar aos filhos o que seja contra a lei de Deus e respeitar a sua consciência livre, terminando o dever de obediência quando cessa a tarefa educativa, ou seja, quando o filho ou filha segue o seu caminho vocacional.
- As virtudes na família, segundo São Paulo. “Como eleitos de Deus, santos e prediletos, revesti-vos de sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, se algum tiver razão de queixa contra outro.”.
A família é uma escola de virtudes humanas e sobrenaturais: misericórdia é preciso começar por esta virtude, pois, se não houver o perdão gratuito, a vida da família torna-se impossível e a misericórdia leva a esperar pacientemente que a porta do coração se abra a quem a ela bate constantemente; bondadeé preciso não só querer bem, mas pensar sempre o melhor, fazer a leitura mais benigna, para que o coração se abra à bondade; humildade nós somos fundamentalmente iguais e carentes de ajuda (Talvez o Senhor nos tenha feito incompletos, para que a comunhão se torne mais fácil para nós), sendo que a humildade leva a pessoa a ajustar-se, a agradecer continuamente, a usar de respeito pelos outros e a pedir perdão; mansidão o próprio Jesus, que se apresenta como modelo de mansidão e de humildade de coração, anuncia nas bem-aventuranças que não são os violentos os conquistadores do mundo, mas os mansos, pois à pessoa mansa e delicada todas as portas e corações se abrem, já que a sua mansidão resplandece no silêncio, nas palavras, nas atitudes e no olhar; e paciência – é pela paciência que nos possuiremos a nós próprios e seremos capazes de conviver alegremente com os outros, esperando-nos a prova dela diante dos palradores incontinentes e importunos ou quando somos surpreendidos por uma notícia ou resultado desagradáveis e quando é necessário recomeçar a partir da terceira vez, sem que o resultado esteja garantido.
Cada uma destas virtudes merece bem um assíduo exame de consciência para avaliarmos diante de Deus em que ponto estamos no âmbito da nossa progressão no caminho do bem.
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Que a família modelar (Jesus, José e Maria) ajude a educação do nosso lar na virtude, na alegria!
2019.12.29 – Louro de Carvalho

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