A sucessão
de Prefeitos
O Santo
Padre, no passado dia 8 de dezembro, nomeou Prefeito da Congregação para a
Evangelização dos Povos Luis Antonio Tagle, Cardeal Arcebispo de Manila, que já
se despediu da Arquidiocese, sucedendo no cargo, a partir de janeiro, ao Cardeal
Fernando Filoni, ora nomeado Prefeito emérito do mesmo dicastério e Grão-Mestre
da Ordem do Santo Sepulcro de Jerusalém (em latim: Ordo Equestris Sancti Sepulcri Hierosolymitani – OESSH).
O Papa
reconheceu que o Cardeal “dedicou generosamente todas as suas energias aos
campos que lhe foram confiados pelos Pontífices”. A Congregação enviou uma
mensagem de bons votos, regozijando-se com a nomeação, oferecendo “sinceras
felicitações” e acolhendo o novo prefeito, o cardeal Tagle. E o Prefeito
emérito, vincando que o Papa confia o trabalho de evangelização no mundo para
apoiar as jovens igrejas para que o anúncio de Cristo seja uma prioridade em
todas as atividades pastorais, deixou à agência Fides uma declaração em que porfia que a Congregação é “uma obra que confiamos
e voltamos a Deus, que é seu autor”:
“Nos últimos anos tive a
oportunidade de aprender, tanto na Congregação como em vários países, em cerca
de 50 viagens pastorais na Ásia, África, América Latina, Oceânia, o belo rosto
das igrejas locais. Vi o empenho de traduzir o Evangelho segundo as necessidades
e exigências das multidões de fiéis de cada cultura e língua, confiados aos
cuidados da Congregação. A ajuda e o apoio de bispos, sacerdotes, religiosos e
religiosas, catequistas, têm sido e são fundamentais nesta obra missionária.
Apreciei toda a sua riqueza, desde a formação espiritual, à formação moral, à
formação intelectual e escolástica, à ajuda social, muito concreta, às
populações em situação de migração, perseguição, violência, discriminação. É
uma obra que confiamos e voltamos a Deus, que é seu autor.”
Sobre o empenho pela formação superior, discorreu:
“O empenho na formação superior dos
sacerdotes, seminaristas e religiosos deve ser incansável, através dos vários
colégios de Roma e de todos os lugares, em seminários ou instituições
religiosas; e é essencial atualizar e formar os professores dos seminários, para
garantir uma qualidade sempre cada vez melhor do ensino. Igualmente importante
é a formação dos responsáveis pelos seminários, reitores e vice-reitores, dos
quais depende, em grande medida, a correta formação da vida sacerdotal e
religiosa. A Congregação da ‘Propaganda Fide’ organiza e apoia este
compromisso.”.
E, em termos pessoais, confidenciou:
“Estou grato a todos aqueles que colaboraram
e continuam a colaborar neste precioso serviço. Gostaria de mencionar com
gratidão a grande generosidade dos benfeitores, dos que amam as missões e os
apoiam, tanto através da oração como da contribuição financeira. Creio que cada
um deles, como todo cristão, deve sentir-se parte desta obra missionária e
sentir a gratidão íntima porque, através do pequeno instrumento que é cada um
de nós, Deus realiza a sua missão e constrói o seu Reino.”
***
Por sua vez, o Cardeal Tagle, de 62 anos, reagiu à nomeação dizendo:
“Se está é a vontade de Deus, e estou convencido disso, fico feliz em
iniciar este novo serviço. (…). Todo o cristão
é chamado a comunicar, com a ua vida, a presença e a compaixão de Cristo.”
Por outro
lado, o purpurado, que afirmou tudo isto a propósito da obra missionária,
delineando os desafios pastorais da comunicação e da evangelização no mundo
digital, participou, no passado dia 10, em Manila, capital das Filipinas, na
inauguração do Instituto Veritas de Comunicação Social (Veritas
Institute of Social Communication), iniciado
sob o departamento de Comunicação Social da FABC (Federação
das Conferências Episcopais da Ásia). Ao “L’Osservatore Romano”, disse que se
confiou à Virgem Maria e, sobre o seu novo cargo, afirmou estar sereno:
“Se está é a vontade de Deus, e estou convencido disso, fico feliz em
iniciar este novo serviço. O Santo Padre enviou-me uma mensagem, entregando-me
uma nova responsabilidade: Estou-lhe grato pela confiança que há em mim.”.
Sobre a
notícia da nomeação, disse:
“Recebi vários e-mails e mensagens do mundo
inteiro: da África, Oriente Médio, de países asiáticos como o Japão e Camboja e
muitas outras nações. Isso mostra-me que entre os fiéis há um entusiasmo pela
obra de evangelização.”.
Na abertura
do instituto de comunicação, em Manila, Tagle deteve-se no tema da
evangelização, frisando que, apesar da necessidade de pessoas qualificadas para
os vários campos da formação e comunicação social, o anúncio do Evangelho parte
da “espiritualidade de escuta”:
“A nossa parte para a evangelização é escutar a Deus e escutar um ao
outro com paciência, interesse e atenção. Muitas vezes, quando falamos de
comunicação, temos pressa e não ouvimos as pessoas. Não prestamos muita atenção
em ouvir os outros com o coração. Este é o primeiro passo necessário na
evangelização.”.
***
A
Congregação para a Evangelização dos Povos
A Bula Inscrutabili Divinae
(22 de junho 1622) de Gregório XV iniciou-a sob a designação de ‘Propaganda Fide’. E surgiram mais documentos
pontifícios fundamentais como: Romanum decet (da mesma data), Cum inter multiplices (14 de dezembro de 1622), Cum nuper (13 de Junho de 1623) e Immortalis Dei (1 de agosto de 1627).
A sua tarefa primordial é a propagação da Fé pelo mundo, coordenando as
forças missionárias, proporcionando diretivas para as missões, promovendo a
formação do clero e hierarquias locais, incentivando a fundação de novos
Institutos missionários e provendo às ajudas materiais para as atividades
missionárias. É ela, pois, o instrumento ordinário do Papa e da Santa Sé, para
o exercício da jurisdição sobre todas as missões e a cooperação missionária.
Dos mais importantes resultados que marcam a sua existência nestes quase 4
séculos, destacam-se: a Instrução de 1659 (ou Magna Charta de Propaganda), dirigida aos Vigários Apostólicos na
China e Indonésia, com diretivas para os Missionários (Merecem atenção duas: o convite a promover o clero local e o empenho para a
inculturação, com a proibição de combater os costumes e as tradições locais,
com exceção dos contrastantes com a fé e a moral); e o Pontifício Colégio Urbano, fundado
por Urbano VIII (1623-1644) em 1627, para acolher os seminaristas dos países de
missão, que teve a sede, até 1926, no edifício de Propaganda, Praça Espanha (Roma), após o que foi mudada
para a colina Gianicolo (Roma), em edifício construído pela
Congregação, e que preparou gerações de sacerdotes autóctones e a maioria dos
Bispos das novas Igrejas particulares, que hoje, na sua maioria, proveem à
formação do próprio clero nos seminários menores e maiores locais. Todavia,
hoje em Roma, junto aos seminaristas escolhidos e enviados pelos Bispos para o
Colégio Urbano, também estão sacerdotes que completam a sua formação teológica
pastoral nos Pontifícios Colégios de S. Pedro Apóstolo e S. Paulo Apóstolo.
Na sua plurissecular história, a Congregação valorizou, desde o início, a atividade
cultural e científica. A principal expressão desta atividade é a
Universidade Urbaniana. Urbano VIII, pela Bula Immortalis Dei Filius
(1 de agosto de 1627) fundou o Pontifício Ateneu de Propaganda Fide, com a Faculdade
de Teologia e de Filosofia. No mesmo Ateneu, a Congregação dos Seminaristas e
das Universidades dos Estudos erigiu, por Decreto de 1 de setembro de 1933, o Pontifício Instituto Missionário Científico,
com direito a conferir os graus académicos nas disciplinas missiológicas e
jurídicas. Pelo Motu Proprio Fidei Propagandae (1 de outubro de 1962), São João XXIII condecorou o Ateneu com o título de Pontifícia Universidade Urbaniana. Atualmente, na sede sobre a
colina Gianicolo, encontram-se as faculdades de Teologia,
Filosofia, Direito Canónico e Missiologia, anexando o Instituto de Catequese Missionária,
cujos alunos residem, na sua maioria, no Colégio Missionário Mater
Ecclesiae de Castelo Gandolfo. Frequentam a Universidade cerca
de 2.000 estudantes, com aproximadamente 170 professores no corpo docente. Nela
se encontra a Biblioteca Missionária,
que teve papel fundamental durante a Exposição Missionária querida por Pio XI
para o Ano Santo de 1925. Hoje a Biblioteca contém quase 350.000 volumes, sendo
que, a partir de 1933, em cada ano publica uma valorosa Bibliografia
Missionária (o catálogo de todas as publicações, a nível mundial,
no âmbito missionário). Já em 1626 foi instituída a Tipografia, dita Poliglota, para imprimir
livros nas línguas locais, tarefa efetivada de forma notável. Durante o
Pontificado de São Pio X, a Tipografia Poliglota de Propaganda foi associada à
Tipografia Vaticana. E continua o seu empenho cultural e missionário na recolha
dos documentos missionários (ordenados e conservados no Arquivo
iniciado com a fundação de Propaganda e aberto hoje aos estudiosos de todo o
mundo).
Hoje há no mundo 1.095 circunscrições dependentes da Congregação para
Evangelização dos Povos; uma centena de Institutos de Vida Consagrada de caráter
especificamente missionário ou nos territórios de direito missionário; as Pontifícias
Obras Missionárias; e o CIAM (Centro Internacional de Animação
Missionária), que, não obstante ter existido antes, tem a sede no moderno edifício (construído, nos meados de 1986, sobre a colina Gianicolo, nas
vizinhanças do Colégio Urbano). No CIAM realizam-se cursos de espiritualidade, de exercícios
espirituais, de atualização, abertos a sacerdotes, religiosos e leigos (que desejem aprofundar a própria vocação ou inspiração missionária).
O Concílio Vaticano II evidenciou a natureza missionária da Igreja e a
responsabilidade do Colégio dos Bispos e de cada Bispo com as suas Igrejas
particulares no empenho da missão ‘ad gentes’. São Paulo VI (1963-1978), pela Constituição Regimini
Ecclesiae Universae (15 de agosto de 1967), recompôs e amoldou a Cúria Romana
segundo as diretivas do Concílio. A Congregação de Propaganda assumiu o nome de
Congregação para a Evangelização dos Povos ou ‘Propaganda Fide’. O Decreto
conciliar Ad Gentes, sobre atividade
missionária, redefinira a função do Dicastério missionário, com indicações
sobre a composição dos seus órgãos diretivos. Em particular, o Decreto afirma:
“Para todas as missões e para toda a atividade missionária, haja um só
Dicastério competente, a saber, a Congregação de ‘Propaganda Fide’, que
orientará e coordenará, em todo o mundo, tanto a atividade como a cooperação
missionária, ressalvando-se, contudo, o direito das Igrejas orientais” (AG,
29).
Também, ressalta a necessidade de que
“Este Dicastério seja tanto instrumento de administração como órgão de
direção dinâmica, empregando os métodos científicos e os instrumentos adaptados
às condições atuais e tendo em conta a atual investigação da teologia, metodologia
e pastoral missionária” (AG, 29).
A Congregação é constituída por 49 Membros (35 Cardeais, 5
Arcebispos, 2 Bispos, 4 Diretores Nacionais das Pontifícias Obras Missionárias,
3 Superiores Gerais) e presidida pelo Cardeal Luis A. G. Tagle. O Secretário é Mons. Protase
Rugambwa. O Secretário Adjunto Mons. Giovanni Pietro Dal Toso. O
Subsecretário é o polonês P. Ryszard Szmydki, O.M.I. Prestam
ali também serviço estável
50 pessoas (nas duas secções: Secretaria e Administração). E a Congregação é assistida por um
Colégio de Consultores, peritos nas várias matérias eclesiásticas e oriundos de
diversos Países.
A Constituição Apostólica Pastor Bonus (28 de junho de 1988) estabelece:
“Compete à Congregação dirigir e coordenar no mundo inteiro a obra mesma
da evangelização dos povos e a cooperação missionária, salvaguardada a
competência da Congregação para as Igrejas Orientais” (art.º 85).
Ademais, o Dicastério tem direta e exclusiva competência sobre
os seus territórios, salvaguarda a competência dos outros dicastérios em variadas
matérias (cf artigos 88 e 89). E, nos territórios de sua competência, erige e
divide as Circunscrições missionárias segundo as suas exigências.
Preside ao governo das missões e examina as questões e os relatórios
enviados pelos Ordinários e pelas Conferências Episcopais. Estão sujeitas
à Congregação as Sociedades de vida apostólica erigidas em favor das missões (art.º 90, § 2). E a Congregação administra o seu património e os outros bens destinados
às missões, mediante um departamento especial (art.º 92).
***
As Pontifícias Obras Missionárias (PP.OO.MM.)
Surgidas das Igrejas de antiga cristandade para sustentar a atividade dos
missionários no seio dos povos não cristãos, transformaram-se numa instituição
da Igreja Universal e de cada Igreja particular. A estas obras atribui-se lugar
especial no empenho da cooperação missionária, pois constituem uma única
instituição que compreende em si 4 pontifícias obras distintas umas das outras.
Em comum, têm objectivo primário e principal de promover o espírito missionário
e universal no seio do Povo de Deus, que realizam pela informação e consciencialização
sobre as missões, promoção das vocações missionárias, recolha e distribuição de
subsídios aos missionários, às suas atividades e às novas Igrejas locais, das
quais se procura favorecer a comunhão com as outras Igrejas para intercâmbio de
bens e ajudas.
Estas 4 Obras são: Propagação da Fé, fundada em Lião (França) em 1822 por Pauline
Jaricot, que promove a cooperação missionária em todas as comunidades cristãs,
para o que, além da recolha de ajudas, se ocupa das vocações missionárias, da
educação no espírito missionário, especialmente com iniciativas no mês
missionário de outubro; São Pedro
Apóstolo, fundada por Bigard em Caen (França) em 1889, que se ocupa da
formação do clero local nas Igrejas de missão, sobretudo com ajudas
financeiras, cuja generosidade se estendeu aos candidatos à vida religiosa (masculina e feminina); Santa Infância (ou Infância Missionária), fundada em 1843 por De Forbin Janson,
Bispo de Nancy (França), que visa educar as crianças no espírito
missionário, fazendo-as interessar-se pelas necessidades dos coetâneos dos
Países de missão, mediante a oferta de orações e ajudas materiais; e União Missionária, fundada em
Itália por P.e Manna em 1916, para a animação missionária de
pastores e animadores do Povo de Deus: sacerdotes, religiosos e religiosas e
Institutos seculares, procurando a promoção das Igrejas locais.
Cada uma tem a sua identidade e especificidade, tanto no objetivo
pretendido como nos meios e iniciativas com que o realiza, adaptando-os e
renovando-os segundo as diversas situações eclesiais e socioculturais em que
deve operar. E importa que, ao conservar a individualidade, evidencie a unidade
de espírito e de intenção que anima todas as Obras do Santo Padre e dos Bispos,
empenhadas em educar o Povo de Deus e num fecundo espírito missionário.
A nível internacional, a direção e a recíproca colaboração entre estas
Obras é garantida pela Comissão Suprema (presidida pelo Prefeito
da Congregação para Evangelização dos Povos) e pelo Conselho Superior (presidido pelo Presidente das Pontifícias Obras, que atualmente é o Secretário
Adjunto da Congregação). Cada Obra tem um secretário-geral. E a Comissão Suprema vigia a
atividade e funcionamento de cada Obra. O Conselho Superior (que se reúne em assembleia anualmente) distribui os subsídios ordinários e extraordinários. A nível nacional, as
Obras são guiadas e animadas pelo Diretor Nacional (nomeado pela Congregação para Evangelização dos Povos e pelo Conselho
Nacional, que mantém as relações e colabora com os organismos missionários da
Conferência Episcopal). E, a nível diocesano, há um Diretor das Pontifícias Obras, com a tarefa
de animar, para a missão universal, as várias expressões da atividade pastoral
(diocesana, paroquial, etc.) (cf CIC can.791, §2).
***
Distingue-se da Congregação o Pontifício Conselho para a Nova Evangelização
criado por Bento XVI pela Carta Apostólica Ubicumque et Semper, a 21 de setembro de 2010), para equacionar os temas e metodologias
da Nova Evangelização e revitalizar a Evangelização sobretudo os
territórios de tradição cristã onde o fenómeno da secularização se manifesta
com mais evidência.
2019.12.13 – Louro de
Carvalho
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