quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

A COP25 em Madrid: “é tempo de mudar”


Decorre em Madrid, de 2 a 13 de dezembro, a 25.ª Cimeira da ONU ou 25.ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, com a participação de milhares de especialistas e decisores políticos, de que se destacam 50 líderes mundiais, incluindo o Primeiro-Ministro português, António Costa.
Durante a COP25 estão presentes delegações de 196 países, bem como os mais altos representantes da UE (União Europeia) e várias instituições internacionais, o que pressupõe “a totalidade dos países do mundo”. Pedro Sánchez, chefe do governo espanhol, acompanhado pelo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, presidiram, no dia 2, à sessão de abertura da cimeira, que tem como lema “É tempo de atuar”.
A realização desta cimeira estava prevista para o Chile, mas no final de outubro o Governo chileno cancelou o evento alegando não ter condições devido a um movimento de contestação interna e de agitação civil. E o Governo espanhol avançou com a proposta de organizar a grande conferência anual sobre Alterações Climáticas e conseguiu ter tudo pronto para a sua inauguração, em Madrid, apesar de a presidência da reunião continuar a pertencer ao Chile.
As contribuições dos países para o Fundo Verde Climático de assistência aos países em desenvolvimento e a criação dum mecanismo de compensação às nações que sofram danos por causa de fenómenos climáticos extremos são alguns dos compromissos a que praticamente todos os países do mundo aderiram, mas que demoram a ser cumpridos 4 anos após a assinatura do Acordo de Paris. É uma cimeira decisiva a que acontece a praticamente um mês da entrada em vigor do Acordo de Paris, marcada para 2020, ano em que os países signatários devem apresentar medidas concretas para limitar o aumento da temperatura global e estabelecer novas metas para conter as suas emissões carbónicas.
Uma das questões centrais e que exigirá grandes negociações é a criação de um mercado global de licenças de emissões carbónicas, que não existe e que atualmente é uma manta regional fragmentada de venda e troca de licenças para poluir. Do lado da ciência, o sentido de emergência é claro: os mais recentes relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) apontam um cenário já irreversível de subida da temperatura global, subida dos níveis dos oceanos e uma cascata de efeitos combinados que significam catástrofes ambientais nas próximas décadas. Por isso, António Guterres, secretário-geral da ONU pede aos decisores que atuem em consonância com a ciência
Para cumprir o objetivo definido em Paris, em 2015, de limitar o aumento da temperatura global face aos níveis pré-industriais até 2100, será necessária uma redução anual de 7,6% das emissões de dióxido de carbono, segundo os últimos dados das Nações Unidas.
A par da COP25, organizações não governamentais e da sociedade civil promovem uma agenda paralela de atividades, nas quais pontua a presença da ativista sueca Greta Thunberg, o rosto de um movimento mundial protagonizado por muitos estudantes – em greves às aulas pelo clima – de contestação e exigência de respostas aos líderes mundiais. Convém referir, entre parêntesis, que as faltas às aulas por esta razão já são excessivas e que não devem os fãs de Thunberg, a consciência crítica dos poderes, idolatrá-la precisamente por aquilo que não deve ser, o abandono precoce da escolaridade. Recorde-se que a predita ativista sueca, de 16 anos, tem dado brado no mundo, pelos gestos e pelos discursos. E partiu, a 13 de novembro passado, do porto norte-americano Salt Ponds, no Estado de Virgínia, num catamarã, tendo chegado a Lisboa (embora com atraso considerável) e sido recebida no Parlamento português, a caminho de Madrid, no dia 3 deste mês.
João Pedro Matos Fernandes, Ministro do Ambiente e da Ação Climática, acompanhou o Primeiro-Ministro no início da COP25, mas só voltará a falar perante o plenário na segunda fase das declarações nacionais, que começa no dia 10.
No próximo dia 6, a discursar na COP25, estará Greta Thunberg, um “bom exemplo de um ativismo jovem, informado e capaz de mobilizar outros jovens”.
Ana Patrícia Fonseca, mais adiante referenciada, diz, a este respeito:
A sua passagem por Lisboa é circunstancial, mas é simbólica, mobilizadora e inspiradora para os tantos jovens que em Portugal se reveem nos apelos que faz. É uma feliz coincidência; os jovens receberam-na de forma tão calorosa, precisamente porque ela é um exemplo de uma jovem ativista, informada capaz de mobilizar e informar outros jovens.”.
E, sublinhando a importância de se formar uma sociedade civil, sustenta:
Toda a mobilização da sociedade civil traz pressão. É de preferir uma sociedade civil informada e mobilizada e que pressione a uma sociedade civil inoperante. Acredito muito no poder da sociedade civil capaz de informar e passar mensagens positivas e que apelam a uma ação forte e urgente.”.
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O Papa desafiou os participantes na COP25 a tomar medidas concretas para a implementação do Acordo de Paris, considerando que ainda se está “longe” desses objetivos. A mensagem papal, lida na capital espanhola pelo Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, vinca:
Infelizmente, após quatro anos, temos de admitir que esta consciência ainda é fraca, incapaz de responder de forma adequada ao forte sentido de urgência para uma ação rápida, exigida pelos dados científicos ao nosso dispor”.
E o Sumo Pontífice questiona se “temos de perguntar-nos seriamente se há vontade política para oferecer – com honestidade, responsabilidade e coragem – mais recursos humanos, financeiros e tecnológicos para mitigar os efeitos negativos da mudança climática”. Destacando a relevância do Acordo de Paris, assumido na COP21, com uma “consciência crescente” na comunidade internacional da necessidade de trabalhar em conjunto na defesa da natureza, exigindo que se passe das palavras a “ações concretas”, refere:
Atualmente, há um acordo cada vez maior sobre a necessidade de promover processos de transição e de transformação do nosso modelo de desenvolvimento, encorajando a solidariedade”.
E, alertando para a ligação entre alterações climáticas e pobreza, Francisco realça que vários estudos mostram que é “possível limitar o aquecimento global”, o que exige uma “forte vontade política” e uma redefinição do investimento público, dando prioridade às áreas que permitem manter um “planeta saudável para hoje e amanhã”.
A mensagem fala numa “mudança de civilização”, em favor do bem comum, face aos desafios das “emergências climáticas”, e observa:  
Tudo isto exige que reflitamos com consciência sobre o significado dos nossos modelos de consumo e de produção, bem como sobre o processo de educação e consciencialização, para os tornar consistentes com a dignidade humana”.
E, elogiando o compromisso das novas gerações, pede que os responsáveis políticos não passem aos jovens o “fardo” de resolver os problemas causados pela sua ação. A seguir, previne:
Há uma janela de oportunidade, mas não podemos deixar que se feche. Precisamos de aproveitar esta ocasião, através de ações responsáveis nos campos económico, tecnológico, social e educacional.”.
Na verdade, o Papa Francisco é uma das vozes que a nível mundial mais tem alertado a comunidade internacional para este problema e a sua encíclica ‘Laudato Si’ é um grande exemplo da sua voz nesta matéria.
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Também deveria merecer a nossa atenção, nesta matéria, Ana Patrícia Fonseca, representante da Plataforma Portuguesa das ONGD e responsável pelo departamento de educação para o desenvolvimento e Advocacia Social da ONGD Fundação Fé e Cooperação (FEC), que participa na COP25, conferência que tem a pretensão de pressionar países emissores a encontrar “balizas políticas e mecanismos” sustentáveis. Ana Patrícia, referindo que se vivem, em Madrid, dias de “grande expectativa” e de “apelo da urgência na ação”, explanou:
Ouve-se, nas conversas de corredor, que esta é uma COP preparatória do próximo ano, da COP 26, onde, aí sim, se vão pedir a todos os países que atualizem as suas contribuições determinadas a nível nacional. Mas a verdade é que esta COP é mais do que preparatória, porque é aqui que se vão definir as balizas políticas, regras, mecanismos e instrumentos.”.
A predita participante dá conta de que os 196 países chegam à COP “com todas as evidências científicas, com as soluções técnicas para resolver o problema e com caminhos dados pelos povos indígenas que nos mostram como viver com as alterações climáticas”. Por isso, afirma que “é agora o tempo de agir”. Com efeito, todos sabemos já “o que temos de fazer: a sociedade civil, os governos, as empresas todas sabem qual o seu papel, resta agora agir”, sublinha a ativista que, juntamente com Maria Marques, da FEC, representam a Plataforma Portuguesa das ONGD, na delegação portuguesa a participar na COP25. 
A grande a expectativa desta cimeira em torno dos países do G20 tem a ver com o facto de se esperar “um contributo mais ambicioso, sobretudo dos países que não estão a cumprir os compromissos que assumiram na redução do défice das emissões de carbono”. Na verdade, com a entrada em vigor do Acordo de Paris, marcada para 2020, que vai reger as medidas de redução de emissão de gases estufa para controlar o aquecimento global abaixo de 2.ºC, “espera-se que sejam sinalizadas as regras concretas da sua implementação”.
Ana Patrícia destaca também a necessidade de serem “reforçados e simplificados os mecanismos de financiamento do combate às alterações climáticas, nomeadamente, as regras relativas aos mercados de carbono”.
Por fim, emerge a expectativa de uma “revisão e operacionalização do mecanismo de Varsóvia que prevê o cálculo das perdas e danos para compensar as pessoas afetadas pelos desastres climáticos”.
A participante portuguesa explica que o “maior apelo” é o que está evidenciado no desafio do Papa Francisco deixado na mensagem que enviou aos participantes na COP25, questionando a vontade política para cumprir os acordos. Com efeito, a assinatura do Acordo de Paris implica a tomada de consciência da mudança climática e a identificação das melhores maneiras de implementar o Acordo mostraram uma crescente conscientização por parte dos vários atores da comunidade internacional sobre a importância e a necessidade de “trabalhar juntos na construção da Casa comum”. Porém, passados 4 anos – diz o Papa – “devemos admitir que essa consciência ainda é bastante fraca e incapaz de responder adequadamente a esse forte sentido de urgência com ações rápidas solicitadas pelos dados científicos à nossa disposição”, como os descritos nos recentes Relatórios Especiais do IPCC. Trata-se de estudos que mostram que “os atuais compromissos assumidos pelos Estados para mitigarem as mudanças climáticas e se adaptarem a elas estão longe dos realmente necessários para alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris”. Demonstram bem “a que distância estão as palavras de ações concretas”!
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Falai menos, políticos, e trabalhai mais.

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