No fim
de 2019, a nossa atitude não pode ser de gritos “Morra o velho” e “Viva o novo”,
“Adeus 2019”, como se fosse legítimo
atirar para prateleira do esquecimento na História o que se passou ao longo
destes 365 dias e que os anais históricos registarão se forem minimamente
atentos.
Com
turbulências e júbilos, com lutos e festas, com erros e êxitos, o ano prestes a
findar constitui um marco na História, uma pedra de cristal na vida das pessoas
e das comunidades.
Por
isso, é decente que se faça um momento de autocrítica.
Assim, o
político terá de se examinar em consciência se contribuiu, segundo a sua
condição, para o zelo e a gestão da coisa pública, para a promoção do bem
comum, para o bem-estar das populações e para o ordenamento sadio do território,
num planeta altamente ameaçado pelas alterações climáticas ou se apenas pensou
na conquista ou na manutenção do poder a qualquer preço e se o usou para
proveito próprio.
O
cidadão terá de pensar se tem exercido os direitos e cumprido e os deveres que
a cidadania lhe outorga, se tem pago os seus impostos, taxas e tarifas e se
honra os compromissos resultantes dos contratos em que é outorgante ou se se
alheia da vida pública, foge aos deveres fiscais e contratuais, primando pela
fuga, esquemas ou chico-espertismo.
O
empresário e o gestor (privado ou público) devem refletir se têm zelado os
interesses da empresa ou do serviço, não só em vista do lucro, mas também da
eficiência, sustentabilidade e alargamento de ação; dos seus trabalhadores,
garantindo-lhes salário condigno, boas condições de trabalho, descanso e
férias, articulação da vida profissional com a vida pessoal e familiar; e se têm
tido em conta a função social da propriedade, da empresa e do serviço, urgindo
o cumprimento de deveres e o exercício de direitos da parte de todos. Será que
o empresário tem feito refletir os quiçá elevados custos da produção,
circulação e distribuição no emagrecimento de salários (aduzindo
que melhor ganhar pouco do que estar desempregado) e no espezinhamento do
trabalhador ou na retenção das contribuições e impostos, nomeadamente no
atinente às verbas retiradas ao trabalhador?
O
trabalhador e o estudante devem questionar-se se têm cumprido escrupulosamente com
o seu dever de trabalho ou de estudo, se têm levantado a voz sempre que estão
em causa os seus direitos ou os dos colegas, sem têm zelado as pessoas, coisas
e bens culturais. Ao invés, não permanecerão, antes, calados com medo de
reivindicar ou não serão excessivos nas reivindicações de direitos esquecendo
os deveres e a boa consciência do trabalho e do estudo?
O homem
social tem-se relacionado bem com os demais, tem sido zeloso pelos interesses
da sociedade de que faz parte, da associação de que é membro, da cooperativa em
que está inscrito, do serviço de saúde ou na IPSS em que trabalha? Tem-se
interessado pela sorte dos que não têm bens, saúde, direitos, liberdade, sorte,
segurança física e proteção social?
Os
operadores da justiça (criminal, civil, administrativa,
fiscal, comercial e laboral)
têm sido escrupulosos na prevenção dos erros, incluindo a prevenção do crime,
na investigação criminal, na promoção da justiça, na presunção da inocência, na
promoção da justiça, na garantia da equidade, na defesa das liberdades, diretos
e garantias, na moderação e no evitar das deficiências e dos excessos?
Os
pastores das religiões têm sido solícitos pela sorte das suas ovelhas, assíduos
no cuidado pastoral, na promoção da fé, nas liturgias, na organização dos
serviços de justiça e caridade (sem as confundirem), na missionação? E os crentes
têm-se mostrado disponíveis para a cooperação com os pastores e com os
correligionários ou têm integrado a comunidade em situação rotineira ou
buscando prebendas, prestígio, capital de relação? Não se empenham no
apostolado, segundo a sua condição? São indiferentes? Querem galgar o lugar dos
outros? Causam divisões? Desleixam-se na incúria e negligência? Obedecem se solicitados
ou nem isso?
Enfim,
pelo mal em que tivermos incorrido, fica bem hoje a confissão do mea culpa e pelo bem em nós ou por nós
operado, um profundo e alegre Deo gratias.
***
Não é
por acaso que no fim do ano, como nas Solenidades, tantas comunidades
religiosas, nomeadamente a diocese de Roma, cantam Te Deum, um hino de louvor
e de prece ao Deus santíssimo (três vezes santo), ao Deus da vida, da glória e da
misericórdia, cuja tradução oficial em português se transcreve a seguir.
Te Deum
Nós Vos louvamos, ó Deus, *
Nós Vos bendizemos, Senhor.
Toda a terra Vos adora, *
Pai eterno e omnipotente.
Os Anjos, os Céus e todas as
Potestades, *
Os Querubins e os Serafins Vos aclamam
sem cessar:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do
Universo, *
O céu e a terra proclamam a vossa
glória.
O coro glorioso dos Apóstolos, *
A falange venerável dos Profetas,
O exército resplandecente dos Mártires
*
Cantam os vossos louvores.
A santa Igreja anuncia por toda a
terra *
A glória do vosso nome:
Deus de infinita majestade, *
Pai, Filho e Espírito Santo.
Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, *
Filho do Eterno Pai,
Para salvar o homem, tomastes a condição
humana *
No seio da Virgem Maria.
|
Vós despedaçastes as cadeias da morte
*
E abristes as portas do Céu.
Vós estais sentado à direita de Deus,
na glória do Pai, *
E de novo haveis de vir para julgar os
vivos e os mortos.
Socorrei os vossos servos, Senhor, *
Que remistes com o vosso Sangue
precioso;
E recebei-os na luz da glória, *
Na assembleia dos vossos Santos.
¶ Salvai o vosso povo, Senhor, *
E abençoai a vossa herança;
Sede o seu pastor e guia através dos
tempos *
E conduzi-o às fontes da vida eterna.
Nós Vos bendiremos todos os dias da
nossa vida *
E louvaremos para sempre o vosso nome.
Dignai-Vos, Senhor, neste dia,
livrar-nos do pecado. *
Tende piedade de nós, Senhor, tende
piedade de nós.
Desça sobre nós a vossa misericórdia,
*
Porque em Vós esperamos.
Em Vós espero, meu Deus, *
Não serei confundido eternamente.
|
Te Deum é
um hino, usado principalmente na liturgia católica, como parte do Ofício
de Leituras (antigamente,
Matinas) da liturgia das
Horas e outros eventos solenes de ações de graças. O hino é encontrado também
na himnódia ou práticas
litúrgicas de outras igrejas cristãs, incluindo o Livro de Oração Comum da Igreja Anglicana, as Matinas luteranas e, de modo menos
regular, em outras denominações protestantes e evangélicas. Das palavras “Te
Deum laudamus” (Louvamos-Te,
Deus), deriva a denominação
por que o hino ficou conhecido. Também designa as suas traduções para os
diversos vernáculos a denominação latina.
A autoria do
hino é atribuída a Santo Ambrósio e a Santo Agostinho na ocasião do batismo
deste pelo primeiro na catedral de Milão, no ano 387. Porém, alguns atribuem
a sua autoria a Santo Hilario ou, mais recentemente, ao Bispo Nicetas
de Remesiana.
Além do canto
gregoriano, o texto foi musicado por vários compositores, entre eles Marc-Antoine
Charpentier, Henry Purcell, Jean-Baptiste Lully, Wolfang Amadeus
Mozart, Franz Joseph Hayden, Hector Berlioz, Bruckner, Antonín
Dvirák, António Francisco Braga, António Teixeira, Veríssimo Peliz, Kiko
Arguello, João de Sousa Carvalho, Lobo de Mesquita, José Maurício Nunes
Garcia e Padre Zezinho. Também compôs um Te Deum o
imperador Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal.
2019.12.31 –
Louro de Carvalho
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