quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Mensagem de Ano Novo do Presidente da República a partir do Corvo


Este ano, e pela primeira vez, a mensagem de Ano Novo do Presidente da República foi transmitida a partir do Corvo, a ilha mais pequena do arquipélago dos Açores, onde Marcelo Rebelo de Sousa fez a sua passagem de ano com os habitantes daquela ilha açoriana, a 1.890 quilómetros de Lisboa.
A este respeito disse que era “uma sensação única, feita de admiração pela gesta açoriana, de orgulho de ser português e de compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós”.
E, desejando um 2020 “de esperança”, com um “Governo forte, concretizador e dialogante”, uma “oposição forte e alternativa”, pediu que se concentrem esforços “na saúde, na segurança, na coesão e inclusão”.
Depois de confessar a sua admiração pelo povo corvino e pelo povo açoriano em razão da “coragem dos que a tudo resistem para poderem ficar” e da genuína manifestação de saudade pelos que partiram e partem e se espalham pelos cinco continentes”, enunciou o “compromisso para com os que mais longe estão de tantos de nós”. Depois, exprimiu o seu voto e o seu assumido compromisso por que “amanhã seja melhor do que hoje”, por que “2020, no que de nós depender, seja melhor do que 2019”.
E, numa mensagem de 8 minutos que, pela primeira vez, foi transmitida à hora de almoço, vaticinou:
Dois mil e vinte será um ano de começo de um novo ciclo, no mundo, na Europa, em Portugal. Um novo ciclo que tem de ser de esperança mais do que de descrença ou desilusão.”.
E especificou que, “no mundo, esperança quer dizer superação das ameaças de guerras comerciais entre grandes potências, maior atenção ao apelo de António Guterres para as alterações climáticas, respeito dos direitos humanos, procura de paz nos conflitos (…),soluções conjuntas para imigrantes e refugiados, maior atenção à miséria e à fome e à insegurança que os explicam, construção de pontes em clima de relações de todos com todos”. Já na Europa, significa que os governantes “reforcem unidade”, “evitem adiamentos”, “marquem uma posição com peso no mundo”, “não hesitem no combate climático” (…) minimizem os resultados do brexit, “promovam crescimento e emprego” e “combatam as desigualdades. E de Portugal diz:
Em Portugal, esperança quer dizer Governo forte, concretizador e dialogante, para corresponder à vontade popular, que escolheu continuar o mesmo caminho, mas sem maioria absoluta, oposição também forte e alternativa ao Governo, capacidade de entendimento entre partidos quando o interesse nacional o assim exija, Justiça respeitada (…), Forças Armadas por todos tratadas como efetivo símbolo de identidade nacional, Forças de Segurança apoiadas (…), comunicação social resistente à crise financeira que a vai corroendo, poder local penhor de maior coesão social, descentralizando com determinação e sensatez e (…) crescimento, emprego e preocupação climática duradouros, inovação na ciência e tecnologia e (…), na educação, e mobilização cívica para, (…) enfrentarmos chocantes manchas de pobreza, estrangulamentos na saúde, carências na habitação, urgências para com cuidadores informais e sem-abrigo”.
Além da esperança que incute, apela ao trabalho e, olhando à escassez de recursos, quer que se determinem prioridades “na saúde, na segurança, na coesão e inclusão, no conhecimento e no investimento”, para que a esperança se converta em realidade.
E lembrou alguns eventos e efemérides que ocorrerão em 2020: o caminho para a Presidência do Conselho Europeu no primeiro trimestre de 2021; a Conferência Mundial dos Oceanos que as Nações Unidas, entre nós, promoverão este ano; e a celebração de dois séculos sobre a Revolução que marcou o início da passagem da Monarquia Absoluta para a Monarquia Liberal.
E não deixou de lembrar os 40 anos sobre o devastador sismo que provocou dezenas de mortos, constituindo um teste à vontade de tantos tão abnegados em todo o arquipélago.
Em suma, o Presidente pôs um foco especial na pobreza e na exclusão social e apelou a uma maior participação de todos: “Esperem e trabalhem”.
Além da política, o Presidente enumerou praticamente todas as áreas do serviço público, da justiça às forças armadas e forças de segurança, passando pela educação e a saúde, onde é necessário continuar a apostar. Deixou uma palavra para a comunicação social, que deve ser “resistente à crise financeira que a atravessa”, outra para o poder local, que se espera que contribua para a coesão social. E apelou também a uma maior participação cívica. Não é sem motivo que alguns anotam que a mensagem presidencial é generalista. Porém, é de registar que o residente se mostrou particularmente preocupado com as injustiças sociais, a pobreza e o risco de pobreza (que ainda afetam um em cada cinco portugueses, disse), aqueles que se sentem “longe” ou porque estão efetivamente longe da sua pátria, como os emigrantes, ou porque se sentem excluídos (por serem mulheres, deficientes, vítimas de violência...).
E deixou a máxima a estimular o moral pátrio: “Nós, portugueses, nunca desistimos de acreditar”.
***
O PS, como era espectável, colou-se à mensagem presidencial dizendo que bem compreende o sentido do diálogo e da estabilidade e que vai contar com Marcelo para realizações até final da legislatura.
Enquanto o PSD diz não responder à mensagem de Ano Novo do Presidente, o PCP desvaloriza o diálogo que não tenha resultados práticos, O BE diz que é “muito significativo” Marcelo ter lembrado a ausência de maioria absoluta em cenário de debate do Orçamento de Estado e sublinha que foi essa a opção dos portugueses e o CDS-PP diz que é uma mensagem generalista, que não esconde a realidade penalizadora que o país apresenta.  
Por outro lado, o CDS-PP responde à necessidade de oposição forte a que o Presidente referiu, pois garantiu que tem sido uma oposição ‘alternativa, forte e eficaz’ e que continuará a sê-lo quando “reencontrar a sua liderança”, lembrando que o partido vai a votos para eleger o seu presidente em janeiro.
É pena que o Governo não se sinta espicaçado pela mensagem, mais do que simplesmente conformado e que o maior partido da oposição não tenha um plano coerente e aguerrido de oposição. Com efeito, serve-se o país governando, mas a oposição pode imprimir uma dialética que desmascare atempadamente as debilidades e malícias governamentais e mostrar qual a sua perspetiva da governação, pois as campanhas eleitorais, por força das circunstâncias, estão pejadas de cosmética. E as gentes precisam de saber das realidades!  
2020.01.01 – Louro de Carvalho

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