De 16 a 21 de janeiro de 2020, em Bissau
e Bafatá, na Guiné-Bissau, decorreu o XIV Encontro de Bispos dos Países
Lusófonos (EBPL), para partilha das realidades sociais e eclesiais, tendo como tema
principal “O diálogo inter-religioso como
promotor da paz e do desenvolvimento”.
Participaram: de Angola, Dom Filomeno Vieira Dias, Arcebispo de Luanda e Presidente
da Conferência Episcopal de Angola e S. Tomé (CEAST), e Dom António Jaca, Bispo de Benguela
e Secretário da CEAST; do Brasil, Dom
Manoel João Francisco, Bispo de Cornélio Procópio e Presidente da Comissão
Episcopal para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); da Guiné
Bissau, Dom José Câmnate na Bissign, Bispo de Bissau, Dom Pedro Carlos
Zilli, Bispo de Bafatá, e Dom José Lampra Cá, Bispo auxiliar de Bissau; de Portugal, Cardeal Dom Manuel Clemente,
Patriarca de Lisboa e Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), Dom Joaquim Mendes,
Bispo Auxiliar de Lisboa, Padre Manuel Barbosa, Secretário da CEP, e Dr. Jorge
Líbano Monteiro, Presidente da Fundação Fé e Cooperação (FEC); e de São Tomé e Príncipe, Dom Manuel António Mendes
dos Santos, Bispo de São Tomé e Príncipe.
Após a sessão pública de abertura,
presidida por Dom José Câmnate na Bissign na Cúria Diocesana, os trabalhos
decorreram no Seminário Maior de Bissau, confirmando o Regulamento Interno do EBPL
e aprovando a agenda do encontro. Além da partilha da situação em cada país
sobre o tema principal, foram abordadas outras temáticas comuns: a aprovação
final da tradução do Missal Romano para os países lusófonos; a cooperação entre
seminários maiores e universidades católicas; o ponto da situação quanto às
normas e estruturas das dioceses e das conferências episcopais sobre a proteção
de menores e pessoas vulneráveis. Foi ainda dada por Dom Joaquim Mendes informação
detalhada sobre a organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2022, foram
abordados aspetos em relação à presença de jovens dos países lusófonos, que se
espera numerosa, foi calendarizada a peregrinação dos símbolos da JMJ (Cruz e Ícone Mariano) nos países lusófonos de África entre finais de abril e novembro de 2020,
que constituirá intenso momento pastoral rumo à JMJ Lisboa 2022, e foi referido
que o XV EBPL deverá decorrer em Moçambique em 2022, em data a anunciar proximamente.
Os Bispos participaram em relevantes encontros
no contexto do tema que os ocupou ao longo daqueles dias: a conferência pública
no Centro Paroquial de Brá, em Bissau, em que intervieram alguns Bispos,
representantes das Comunidade Islâmica e da Igreja Evangélica e a Embaixadora
da União Europeia (UE); a Oração pela Paz em Bafatá, com orações e reflexões
proferidas por católicos e muçulmanos; a visita à Mesquita do Bairro da Ajuda
em Bissau. Esteve sempre presente a oração e o apelo comum à unidade, à
reconciliação, à paz e ao desenvolvimento.
No final da Santa Missa na Catedral de
Bissau, no dia 19, foi proclamado o “Compromisso
de Bissau pela Paz, a Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço Lusófono”,
que reassume as principais conclusões dos trabalhos e manifesta a vontade dos
Bispos de continuarem a aprofundar a reflexão e o diálogo ecuménico e
inter-religioso, em particular com os irmãos evangélicos e muçulmanos.
Foi deixado público agradecimento aos Bispos
de Bissau e Bafatá e seus colaboradores pelo excelente acolhimento a todos os
participantes, bem como às comunidades e instituições eclesiais e civis que
acolheram os Bispos de modo tão hospitaleiro, sendo de relevar os encontros na
Presidência da República, na Embaixada da UE, no Liceu João XXIII, na Fundação
Fé e Cooperação, na Rádio católica Sol Mansi, no Seminário Maior de Bissau e na
Universidade Católica da Guiné-Bissau, onde houve reunião com a reitoria,
professores e estudantes. (vd comunicado da CEP, de 21 de janeiro).
***
O susomencionado compromisso de Bissau pela
Paz, a Fraternidade Humana e a Vida em Comum no Espaço Lusófono consubstancia-se
na “vontade
de continuar a aprofundar a reflexão e o diálogo e a desenvolver parcerias e
ações conjuntas nos países lusófonos”, convidando “todos os que se
revejam neste compromisso”, a que se associem “no desenvolvimento desta missão”.
E, porque “a paz é dom de Deus e construção fraterna”, os Bispos prometem, com
fé e confiança em Deus, juntos “construir a paz na fraternidade e na
solidariedade, na convivência e na reconciliação, na justiça e na esperança”.
As motivações que levam os Bispos lusófonos
a este compromisso são: a Declaração
sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Vida em Comum, assinada,
em 2019, em Abu Dhabi, pelo Papa Francisco e o Grande Imã da Fé Muçulmana de
Al-Azhar, Ahmed el-Tayeb, que convida “todas
as pessoas, que trazem no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana, a
unir-se e trabalhar em conjunto, de modo que tal documento se torne para as
novas gerações um guia rumo à cultura do respeito mútuo, na compreensão da
grande graça divina que torna irmãos todos os seres humanos”; o facto de a “Guiné-Bissau,
cuja população professa diferentes religiões (tradicionais,
muçulmana, cristãs e outras), ser um país “em que o diálogo ecuménico e inter-religioso tem uma grande
relevância no dia a dia das pessoas e das comunidades”; a longa experiência dos
Bispos de Bissau e Bafatá, em conjunto com os líderes muçulmanos e evangélicos,
“no diálogo e ação inter-religiosa, na prevenção e mediação de conflitos e na
criação de um ambiente favorável à paz e ao desenvolvimento”, que serve de
inspiração e base de reflexão para todo o espaço lusófono; as experiências dos
outros países também ricas e com real impacto na vida dos seus países e
comunidades; e a mensagem do Papa para o 53.º Dia Mundial da Paz, que frisa:
“O mundo não precisa de palavras
vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo, sem
exclusões nem manipulações. De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz
quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade
mais além das ideologias e das diferentes opiniões.”.
Na verdade, o diálogo, a compreensão e a
promoção da cultura de tolerância e aceitação dos outros e de convivência
pacífica contribuem para reduzir “os problemas económicos, sociais, políticos e
ambientais”, que muito pesam sobre a humanidade, em particular os mais
vulneráveis; e “juntamente com outros grupos religiosos, cristãos e muçulmanos”
– e parceiros sociais e políticos – podem melhorar “o seu envolvimento uns com
os outros, começando na reflexão sobre valores compartilhados, desenvolvendo
confiança, partilhando preocupações comuns e aprofundando o diálogo em suas
múltiplas possibilidades em conteúdo e forma”: oração e espiritualidade, justiça
social, ecologia integral e direitos humanos, convivência na hospitalidade
mútua. (vd documento da CEP, 21 de janeiro).
***
Santa ousadia! Parabéns, senhores Bispos
do espaço lusófono.
2020.01.22 – Louro de Carvalho
Sem comentários:
Enviar um comentário