segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Ano Jubilar dos Mártires de Marrocos e de Santo António em Coimbra


A Diocese de Coimbra está em jubileu desde o dia 12 de janeiro deste ano, com a abertura da Porta Santa, na Igreja de Santa Cruz, até 17 de janeiro de 2021, para celebrar o VIII centenário do martírio dos primeiros frades que São Francisco de Assis enviou em missão para Marrocos e cujas relíquias repousam em Coimbra, bem como a importância que este facto teve na vocação de Santo António, de modo que seja assumida de todo a espiritualidade antoniana.
O Jubileu foi convocado por Dom Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra, em Carta Pastoral de Anúncio do Ano Santo, acompanhada pelo Decreto da Santa Sé que, em nome do Papa Francisco, proclama um Jubileu com indulgência plenária para todos os dias do Ano Santo.
Para participar no Ano Santo e alcançar a Indulgência Jubilar, propõe-se a peregrinação à Igreja de Santa Cruz e à de Santo António dos Olivais, que pode ser feita individualmente, em grupo e, de forma especial, por paróquia ou unidade pastoral. Um Itinerário do Peregrino ajudará cada um a viver mais profundamente a peregrinação.
Além da passagem pela Porta Santa, é possível a visita à Exposição Jubilar e a visualização de um documentário histórico. Também estará disponível a todos com diversos recursos um Guião Jubilar para preparar a vivência espiritual e catequética deste Ano Santo.
A 16 de Janeiro de 2020, comemoram-se os 800 anos do martírio de Berardo, Otão (sacerdotes), Pedro (diácono), Acúrsio e Adjuto (leigos), que se dedicaram apaixonadamente à pregação e à evangelização em Marrocos, não obstante a perseguição. São Francisco de Assis, ao saber do seu martírio, terá confessado: “Agora posso dizer que tenho cinco verdadeiros frades menores”.
Tal facto, juntamente com a chegada das Relíquias dos Mártires à Igreja de Santa Cruz, impressionou de tal modo o neossacerdote Fernando Martins de Bulhões que ele se decidiu, nesse ano de 1220, a fazer-se Frade Menor. E, assumindo o nome de António, foi recebido no convento de Santo António Abade dos Olivais.
Este Jubileu propõe à Igreja a celebração da fidelidade da fé, o reacendimento do ímpeto missionário nos corações dos fiéis e a dinamização duma cultura evangelizadora. Por outro lado, na preparação para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2022, celebra-se o jovem António, que, seduzido pelo exemplo dos Mártires de Marrocos, se tornou um apaixonado pela missão. O Jubileu será porta aberta a todos, para que possa cada um redescobrir “a alegria do Evangelho [que] enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus” (EG 1), e o ensejo para a tomada de consciência do drama dos cristãos perseguidos atualmente e da necessidade de um salutar diálogo inter-religioso na construção da paz.
Na carta pastoral endereçada à diocese, Dom Virgílio Antunes aponta o “discurso forte contra todas as descriminações” das “sociedades modernas”, que, “não raro, dão lugar a outras, entre as quais a discriminação social e cultural dos cristãos”. E assegura:
Um ano jubilar é sempre um ano de graça para os cristãos que se dispõem a fazer caminho, no seguimento das inspirações próprias das figuras ou circunstâncias que o motivam”.
Na carta pastoral, o prelado define “cinco desafios” para o Ano Jubilar: o da Evangelização; o da Espiritualidade; o da Renovação Cultural; o da Vocação Cristã e das Vocações na Igreja; e o desafio da Renovação da Piedade Popular Antoniana”. Manifesta o desejo de que a celebração jubilar “constitua um forte incentivo para a renovação da Igreja, para o fortalecimento da fé das comunidades da Diocese de Coimbra e seja semente de novos cristãos”. Considera que “numa sociedade religiosa do passado ou numa sociedade secularizada do presente, persiste a urgência de evangelizar”. E, dando o exemplo de “Santo António que, não podendo ir para as terras de África, como desejou, percorreu os longos caminhos do Sul da Europa a anunciar o que viu e ouviu no encontro com Cristo”, sublinha:
Mais do que nunca, sente-se a necessidade de evangelizar o interior do ser humano, as suas conquistas científicas e técnicas, as relações sociais, económicas e políticas, e até a própria religiosidade cristã vivida no espaço eclesial”.
Por isso, entende que o Santo convoca a Diocese “para uma nova etapa evangelizadora e acompanha, com a sua intercessão, a nossa alegria e entusiasmo de seguir o seu exemplo”.
Segundo Dom Virgílio, “as perseguições aos cristãos ainda não acabaram e vão renascendo em lugares concretos, tornando-se o maior dos desafios e a prova de fogo para a fortaleza da fé”; e os cristãos estão “diante do desafio” do testemunho de fé e esperança, “perante a possibilidade de uma rejeição civilizada ou de uma perseguição cultural e ideológica bárbara”.
O Bispo, defendendo que o diálogo cultural e religioso é um dos fatores de que depende a paz no mundo, escreve:
A paz está dependente de muitos fatores e, entre eles, conta-se certamente o diálogo cultural e religioso, que assenta no respeito pelo princípio da dignidade da pessoa humana, com os consequentes direitos e deveres, e nos valores fundamentais, como são a vida, a paz, a verdade, a liberdade, a justiça, a solidariedade e a caridade”.
O prelado destaca que, de entre os muitos pontos a considerar no caminho de encontro e diálogo, se encontram as questões “ligadas à ética, muito frequentemente lugar de fraturas profundas”, vincando que, “de igual modo, as relações ecuménicas e o diálogo inter-religioso precisam de estar na ordem do dia, para que sejam elemento decisivo na construção de um mundo mais coeso e fator decisivo na construção da paz”. E aborda a devoção e a piedade popular antonianas sustentando que “precisam de forte renovação, para que não se reduzam a rituais ou festas vazias de sentido espiritual e pastoral, mas sejam momentos aptos para gerar o crescimento da fé, do amor a Deus e de santificação dos fiéis”.
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Os Mártires de Marrocos, naturais de Narni (Itália) abraçaram o exemplo de vida de Francisco de Assis e ingressaram na Ordem dos Frades Menores. Partindo de Assis em 1219, passaram por Coimbra, onde conheceram o Cónego Regrante Fernando de Bulhões (o futuro Santo António). De passagem por Sevilha pregavam a fé de Cristo nas mesquitas. Conduzidos ao sultão, foram encarcerados e transferidos para Marrocos com ordem de não pregarem mais o nome de Cristo. Porém, continuaram com grande coragem a anunciar o Evangelho, pelo que foram presos, torturados e decapitados em Marraquexe, a 16 de janeiro de 1220. E o Infante Dom Pedro trouxe para Santa Cruz de Coimbra os seus restos mortais, que foram acolhidos por grande multidão de fiéis, a qual lhes atribuiu singela veneração. Foi o corajoso exemplo de fé destes frades que motivou António a mudar de vida e a ingressar na nascente ordem franciscana.
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Um vasto programa celebrativo, reflexivo, orante e cultural ajudará os fiéis à vivência do jubileu, sendo de destacar, além das visitas às igrejas de Santa Cruz e de Santo António dos Olivais, a peregrinação de fiéis de Narni a Coimbra e a de fiéis de Coimbra a Marrocos, bem como a peregrinação das relíquias dos mártires e de António pela Diocese de Coimbra. É pena que o jubileu não tenha abrangido o país inteiro perpassado por forte devoção antoniana, nomeadamente a diocese de Lisboa. Mas a comunhão intereclesial pode prevalecer.
Enfim, pela fé, evangelização e cultura num mundo secularizado tantas vezes hostil, avante!
2020.01.13 – Louro de Carvalho

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