Os Estados-membros
da ESA (Agência Espacial
Europeia) encontraram-se
em Sevilha, nos dias 27 e 28 de dezembro de 2019, para definirem a estratégia
da agência para a próxima década.
Portugal,
que investirá 250
milhões de euros em 2030 e espera mais mil empregos qualificados no setor,
assumiu, em conjunto com a França, a presidência do Conselho Ministerial da ESA
entre 2020 e 2023, segundo informação do MCTES (Ministério da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior) por comunicado
que detalhava algumas das propostas nacionais para o futuro da agência que
estiveram em debate no predito encontro, a conferência “Space 19+”.
O encontro,
que decorreu no Palacio de Congresos y Exposiciones de Sevilha, juntou os
Estados-membros que integram a ESA e serviu para definir “a estratégia da
agência e os níveis de investimento para os próximos cinco anos”, de 2020 a
2024. Estiveram ainda em discussão “novos programas, no que diz respeito às
áreas da exploração, acesso e transporte (lançadores), operações e investigação, entre outros domínios do
setor espacial”, como informou o Governo.
No encontro,
o MCTES, liderado por Manuel Heitor, apresentou o seu plano de implementação da
estratégia “Portugal Space 2030”.
Segundo Manuel
Heitor, esta conferência representou “um momento crítico para a Europa promover
a sua posição competitiva no contexto espacial global”.
O conselho,
presidido pela comitiva portuguesa e francesa da ESA, aprovou “um portefólio ambicioso de programas espaciais com um orçamento superior a 14 biliões de
euros” e abordou também “os desafios ligados ao setor”.
Enquanto
tiver a presidência do Conselho Ministerial, Portugal espera mobilizar todos os
Estados-membros da ESA no empenho sério em torno do balanço contínuo das
atividades espaciais e do fortalecimento do papel da ESA na Europa em estreita
articulação com a Comissão Europeia”.
Os números
são ambiciosos. Em Portugal, o Governo prevê que, em 2030, a contribuição
nacional para a Agência seja 20% superior à atual, atingindo os 250 milhões de
euros. O MCTES prevê também que o investimento público na área do Espaço possa
“servir para alavancar um investimento global de 2500 milhões de euros, com um
equilíbrio de 50/50 entre receitas públicas e privadas, de forma que o setor do
Estado cresça dos atuais 40 a 50 milhões anuais, para cerca de 500 milhões
anuais de faturação em 2030”.
E estima-se que
venham a ser criados “cerca de mil empregos qualificados nos próximos dez
anos”, nas áreas de “Observação da Terra, Telecomunicações e desenvolvimento de
pequenos satélites”. Porém, os resultados só serão obtidos com recurso a “uma
estratégia nacional desenvolvida em consonância com a Agência Espacial
Portuguesa, a indústria nacional e internacional e instituições de interface”.
***
Entretanto, em
outubro de 2019, a NASA revelou que sismos de magnitude 3,7 e 3,3 em Marte
produziram sons peculiares – tão suaves que são quase impercetíveis – graças
aos quais os geólogos da NASA descobriram que Marte pode ser mais parecido com
Lua do que com a Terra. A agência espacial norte-americana publicou dois ficheiros com sons peculiares
detetados em Marte pela sonda InSight. A agência crê que foram provocados por
dois sismos no Planeta Vermelho: um de magnitude 3,7 na escala de Richter; e
outro de magnitude 3,3. Podem ser ouvidos no site da agência com uso de bons headphones e
num sítio sossegado.
O primeiro
áudio foi gravado a 22 de maio de 2019, quando o sismómetro da sonda InSight,
equipado por um instrumento extremamente sensível às vibrações inventado por engenheiros
franceses, detetou um sismo de magnitude 3,7 na escala de Richter na superfície
marciana. Nesse momento, a missão já decorria há 173 dias marcianos (o som é tão
suave que é quase impercetível). O segundo
“som peculiar” foi detetado em Marte uns meses mais tarde, a 25 de julho,
quando um sismo de magnitude 3,3 na escala de Richter chegou aos sensíveis
ouvidos do sismómetro da sonda InSight. A missão decorria havia 235 dias
marcianos na altura em que este ficheiro de áudio foi gravado. Pode ouvir-se,
mas com mais dificuldade que o primeiro.
Num
comunicado de imprensa, a NASA explicou que os registos sonoros captados pelo
sismómetro estão numa frequência “muito abaixo da capacidade auditiva humana” e
que, portanto, “tiveram de ser acelerados e ligeiramente processados para serem
audíveis através de headphones“. Embora tão subtis, estes ficheiros
de áudio cumprem o objetivo de descobrir o que há debaixo do pó vermelho da
superfície marciana. Os astrofísicos norte-americanos dizem que “os dois [sons]
sugerem que a crosta marciana é como uma mistura da crosta da Terra com a da
Lua” e que “Marte, com a sua superfície cheia de crateras, é ligeiramente mais
parecido com a Lua, com ondas sísmicas a agitarem durante mais ou menos um
minuto, enquanto na Terra os sismos podem surgir e desaparecer em segundos”.
Na Terra, as
fissuras na crosta são fechadas à medida que a água passa por elas e as
preenche com novos materiais, o que permite às ondas sonoras viajarem sem
interrupções mesmo que passem por fraturas antigas. Na Lua, as ondas sonoras
não conseguem viajar em linhas retas porque se cruzam com fissuras e crateras não
preenchidas. Precisam, pois, de muito mais tempo para chegar de um ponto ao
outro do corpo celeste – o que também sucede em Marte.
E não foi a
primeira vez que a NASA publicou os sons provocados pela passagem de ondas
sísmicas na sonda InSight. Em abril, quando a missão decorria há cerca de 4
meses, a agência divulgou o primeiro registo de um sismo em Marte e percebeu
que os sons provocados pelas ondas sísmicas em Marte viajavam em frequências
muito diferentes das observadas na Terra.
As notícias
sísmicas vindas de Marte chegaram poucos dias depois de Jim Green, líder dos
cientistas da NASA, ter dito que podemos estar a poucos anos de descobrir vida
extraterrestre ali. Disse ele ao The
Telegraph:
“Tenho estado preocupado com isso porque penso que estamos perto de a
encontrar e de fazer alguns anúncios”.
Não obstante,
o cientista afirma que a sociedade não está preparada para receber esse
conhecimento e apresenta algumas questões científicas:
“Essa vida será como nós [como a nossa]? Como estaremos relacionados?
Pode a vida mover-se de planeta em planeta ou temos uma faísca e o ambiente certo
e essa faísca gera vida?”.
E concorda
que a descoberta de vida fora da Terra seria algo “revolucionário”:
“Será como quando o Copérnico afirmou: ‘Não, nós é que andamos à
volta do Sol’. (…) Não há
motivos para acreditar que não há civilizações noutros lugares já que estamos a
encontrar exoplanetas por todo o lado.”.
***
Depois, não é só de Marte que vêm novidades. Vénus
também as origina, porquanto pode ter vulcões ativos. Cientistas cruzaram dados de laboratório com medições
de uma sonda da ESA e descobriram que Vénus pode ter vulcões ativos como a
Terra. A lava pode ter poucos anos – sugere o estudo publicado. Com efeito, uma
equipa de astrofísicos diz ter encontrado provas de que há vulcões ativos na
superfície do planeta Vénus. O estudo, publicado pela revista científica Science Advances, no dia 3 de janeiro, é
da Universities Space Research Association, uma associação privada de
universidade com programas de investigação na área do espaço.
A confirmarem-se
tais dados, Vénus é o único planeta principal, além da Terra, a ter vulcanismo
ativo na atualidade. Entre as luas do Sistema Solar, só mesmo Io, um satélite
natural que orbita Júpiter, tem vulcões que expelem lava vinda duma camada
magmática debaixo da superfície do corpo celeste. Marte também já teve
vulcanismo ativo (é aqui que fica o maior vulcão do Sistema Solar, o
Monte Olimpo, com 27 quilómetros de altura), mas cessou há milhões de anos.
Segundo um
artigo de divulgação do estudo publicado na página Phys.org, os cientistas
recriaram a atmosfera de Vénus em laboratório para descobrirem como é que os
minerais reagem às caraterísticas do planeta. Foi assim que descobriram que a
olivina, mineral abundante numa rocha magmática chamada basalto, se exposta a
temperaturas de 900ºC durante até um mês, fica revestida em poucas semanas por
magnetita e hematita, minerais ricos em óxido de ferro com uma cor vermelha
muito escura que são difíceis de detetar. Depois, os investigadores compararam
esses resultados com os dados obtidos ao longo dos anos pela sonda Venus
Express, desenvolvida pela ESA para a sua primeira missão espacial ao planeta. A
sonda detetou sinais de olivina na superfície de Vénus, indicando que se terá
formado há muito pouco tempo ou já estaria “escondida” pelos minerais escuros
que a sonda não consegue encontrar.
Esta
sugestão, aliada ao facto de os investigadores já terem encontrado altas
emissões de luz visível e próxima do infravermelho em vários locais da
superfície venusiana em 2010 e ao de a atmosfera de Vénus ser muito rica em
dióxido de enxofre, produto das erupções vulcânicas, levou a equipa a sugerir
que os “fluxos de lava em Vénus são muito jovens” e que podem ter “apenas
alguns anos de idade”. Justin Filiberto, cientista que liderou esta
investigação, diz que, “se Vénus for realmente ativo hoje, será um ótimo lugar
para visitar e entender melhor o interior dos planetas”. E adianta: “Poderíamos estudar como os planetas
arrefecem e porque é que a Terra e Vénus têm vulcanismo ativo, mas Marte não”.
***
Espera-se
que a presidência conjunta (Portugal e França) contribua para consolidar as informações de ordem sísmica marcianas e
confirme o vulcanismo de Vénus – a dizer se a olivina da superfície venusiana é
mesmo recente ou se estava oculta por minerais negros que escapam à sonda –,
investindo na ciência interplanetária em detrimento do turismo espacial.
2020.01.04 – Louro de Carvalho
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