quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O Orçamento do Estado para 2020 vai ser aprovado na generalidade


O Bloco de Esquerda (BE) foi a primeira formação partidária a anunciar que não votaria a favor do OE2020, dizendo que não se revia minimamente na proposta governamental, mas foi dizendo que a posição poderia evoluir consoante o que viesse a ser negociado com o PS.
O PCP foi o primeiro partido a anunciar a abstenção, dado o Governo ter manifestado alguma abertura para a melhoria da proposta de lei e confiando em avanços em sede de discussão na especialidade na Comissão de Orçamento e Finanças. A seguir, veio o PAN sustentado na mesma lógica. E hoje, dia 9 de janeiro, veio o BE com a manifestação da sua posição abstencionista, estribado na abertura do Governo para um aumento extraordinário das pensões mais baixas e para o términus mais rápido das taxas moderadoras nos Centros de Saúde. 
Depois do PCP e do PAN, o BE anunciou que vai abster-se na votação do Orçamento. O Bloco junta-se, assim, ao PCP e ao PAN que anunciaram o mesmo sentido de voto, o que significa que os votos favoráveis dos deputados do PS são suficientes para que o documento seja aprovado na votação na generalidade a 10 de janeiro. Catarina Martins anunciou que as pensões voltarão a ter aumento extraordinário em 2020 e falou num “reforço ambicioso” do investimento no SNS (Serviço Nacional de Saúde). Ao todo são sete as garantias que o BE leva de uma “negociação tardia”, como a classificou Catarina Martins.
A negociação foi feita em “condições muito difíceis” e só terminou “esta manhã”, explicou a líder do BE, referindo que, “até à última hora”, o BE acordou “medidas concretas e uma redação precisa” de um pacote de medidas de respostas à emergência no setor da saúde, onde se inclui o reforço, no Orçamento para o próximo ano, de 180 milhões de euros do investimento em meios complementares de diagnóstico no SNS. Além disso, o BE diz que da negociação com o PS saiu também a eliminação imediata das taxas moderadoras em cuidados de saúde primários, já neste Orçamento, em vez da forma faseada como estava previsto na proposta inicial do Executivo, medida que terá um impacto orçamental de 20 milhões de euros. E a isenção vai estender-se aos meios complementares de diagnóstico a partir de janeiro de 2021.
Neste pacote dirigido ao SNS, o Governo aceitou ainda a proposta do BE para a criação de um regime de exclusividade, “de dedicação plena” para trabalhadores e médicos. O modelo será aplicado de forma progressiva aos coordenadores das Unidades de Saúde Familiar e aos diretores de Centros de Responsabilidade Integrados. E também aceitou a criação de “equipas de saúde mental na comunidade”, a “criação de internamento psiquiátrico nos hospitais que não oferecem estas respostas”, que sejam dispensados fármacos antipsicóticos nas consultas de especialidade hospitalar ou de medicina geral e familiar.
No quadro de outras medidas, além do SNS, o BE vangloria-se por ter obtido nova redução das propinas no primeiro ciclo do ensino superior, em 20%, com a propina máxima a cair de 871 euros para 697 euros. Segundo a Coordenadora do BE, a redução das propinas em 2020 terá um impacto orçamental na ordem dos 50 milhões de euros.
Outra garantia obtida pelo BE na negociação com Centeno foi o alargamento do Complemento Solidário para Idosos, com a eliminação da ponderação nos 2.º e 3.º escalões de rendimento dos filhos para definir o valor a atribuir. Esta medida custa 12 milhões de euros.
Quanto ao aumento extraordinário das pensões, a líder do BE explicou que também ficou acordado com o Governo que vai acontecer em 2020 de forma “semelhante” e “em linha” com o que aconteceu na anterior legislatura, a XIII, mas sem esclarecer o modelo concreto. No ano passado, este aumento até 10 euros para pensões até aos 653,6 euros e até 6 euros para os três escalões mais baixos entrou em vigor logo em janeiro, mas em 2017 e 2018 chegou apenas no mês de agosto. É caso que “está ainda em aberto”, disse Catarina Martins.
Também está em aberto a discussão para as questões da energia e salários, disse a líder do BE, em que “não houve acordo”. O partido tem-se batido pela redução do IVA da luz e quer propor a redução generalizada do imposto e também a baixa dos custos da energia por via das rendas excessivas. E, dizendo que o pacote de medidas, agora acordado, só garante a viabilização da proposta na primeira votação, assegurou não prescindir da baixa dos custos da energia”, continuando este percurso na discussão na especialidade, até porque “as medidas que estão em aberto são questões fundamentais para o Bloco de Esquerda”. Ou seja, deixa a pressão sobre o Governo na especialidade, para depois anunciar a orientação do voto na votação final.
O Governo tem, por agora, a garantia de que a primeira votação da sua proposta no Parlamento será aprovada, ou seja, a aprovação do Orçamento na generalidade será um facto. O BE já tinha anunciado que não votava a favor do Orçamento e agora, sem surpresa, confirma que optará pela abstenção. PSD e Chega já anunciaram que vão votar contra o Orçamento, o que também fará o CDS-PP, embora os sociais-democratas não tenham os votos dos deputados da Madeira garantidos, que podem abster-se também. Enfim, é um orçamento que passa pela via da abstenção e à espera de contrapartidas em sede da discussão na especialidade.
***
Também no fim da manhã de hoje o PEV (Partido Ecológico os Verdes) veio manifestar publicamente a sua intenção de se abster na votação do OE na generalidade. Assim, no dia em que arrancou o debate na generalidade do documento, falta apenas conhecer-se, em termos da esquerda, a intenção de voto do Livre, que com uma deputada única, que pode não seguir a indicação do partido, não terá efeito nas contas finais para a aprovação do Orçamento no dia 10.
Antes da posição do BE e, agora, do PEV, as contas estavam a um deputado de distância para a aprovação da lei do Orçamento do Estado, na generalidade. A conferência de imprensa dos Verdes até sofreu uns ajustes no horário, não fosse coincidir com a hora a que o BE anunciava o seu sentido de voto. Mas o partido que vai a eleições coligado com o PCP acabou por revelar que iria abster-se também, sem grandes surpresas, mas depois dos outros, incluindo o BE. E também tal como com os outros partidos, houve o anúncio e um aviso. O deputado José Luís Ferreira frisou que “a abstenção na generalidade em nada compromete o sentido de voto dos Verdes na votação final global do Orçamento do Estado”. Para o PEV a abstenção equivale a “uma oportunidade para o PS poder refletir e perceber as reais necessidades do país e dos portugueses”.
Por outro lado o PEV será mais um partido a sentar-se no debate com o PS e o Governo aquando da discussão parlamentar na especialidade com um caderno de exigências que espera ser atendido: combate às alterações climáticas; combate às assimetrias regionais; maior investimento nos transportes públicos; e maior justiça fiscal. São os 4 eixos destacados pelo líder parlamentar dos Verdes que ainda não viram o Governo incluir no Orçamento do Estado nenhuma das suas propostas em concreto, mas apenas “umas migalhas”. E diz o deputado:
No Orçamento do Estado, o Governo teve em conta migalhas do que são as nossas pretensões. Na eficiência energética, no reforço de verbas para agricultura biológica, na proteção da floresta, por exemplo, mas em relação ao conjunto das propostas que vamos apresentar em sede de especialidade, nada.”.
José Luís Ferreira reiterou que este é um “orçamento de continuidade na forma como o Governo olha para as contas do défice”. E disse:
Havendo margem para uma real valorização dos salários e pensões; para o investimento nos serviços públicos; para encarar de frente o desafio ambiental, o PS prefere fazer bonito a Bruxelas em vez de dar resposta aos problemas do país”.
***
Na abertura do debate na generalidade do OE2020, o Chefe do Governo defendeu que este orçamento é o melhor dos cinco apresentados. António Costa defendeu que o Governo está aberto ao diálogo para melhorar o Orçamento do Estado para 2020, mas sinaliza que não dará tudo agora e que há um caminho de uma legislatura para o qual pede estabilidade política.
O Primeiro-Ministro explicou que este Orçamento “vai além da reposição de rendimentos”, “da recuperação dos cortes no investimento”, da “reversão do enorme aumento de impostos” e “da redução do défice”. E, depois, falou para os partidos à esquerda, avisando que, apesar da disponibilidade para melhorar o Orçamento em sede de especialidade, BE, PCP, PEV e PAN não deverão esperar conseguir tudo o que querem já este ano, pois é muito importante que todos compreendam que “este é apenas o primeiro Orçamento da nova legislatura”; é o começo, e não o fim, de um novo ciclo”.
   ***
Resta saber até onde o Governo cede às esquerdas e até que ponto estas se ficam para manterem, pelo menos, a abstenção na votação final global. De que o orçamento é um instrumento fundamental da governação não há dúvida. Que temos necessidades cuja colmatação não pode esperar é um facto e que temos compromissos internacionais que podem esperar mais um pouquito é justo que a UE o entenda e aposte mais na solidariedade para com os pequenos em nome da paz e do desenvolvimento.
Quanto ao mais, importa que o eleitorado se prepare para confirmar ou corrigir a sua votação em eleições legislativas em 2023 ou antes se os nossos representantes se desentenderem. E que não se refugiem na abstenção, a arma da comodidade!
2020.01.09 – Louro de Carvalho

Sem comentários:

Enviar um comentário