sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

São Nicolau Taumaturgo, que deu origem à figura do Pai Natal


Celebra, 6 de dezembro, a Igreja Católica São Nicolau de Mira, padroeiro das crianças, que se diz ter dado origem à figura do Pai Natal, a figura mítica do velhinho da Lapónia que se faz transportar num trenó puxado por uma junta de renas e carregado de prendas para crianças e adultos, figurando nesta quadra pré-natalina nos festejos sociais que têm a ver com o Natal e que entra pelas casas adentro na noite de Natal, não se contentando já com laçar as prendas pela chaminé de modo que a lareira se encha.
Não sei se fazer coincidir o mítico Pai Natal com a figura histórica do Bispo de Mira é uma postura ajustada. Lá que a ternura do Pai Natal, a quem se motivam as crianças a pedir prendas até por carta ou e-mail, se coaduna com o ardil do santo bispo é verdade, mas os fins de justiça e atenção aos pobres da parte de Nicolau estão longe dos fins comerciais e fautores do consumo do venerando velho de barbas brancas, carapuça e fato vermelhos orlados de um tecido que se assemelha a lã branca (assim construído para propaganda da cola-cola) a satisfazer os caprichos inocentes dos pequeninos consumidores e as necessidades factícias dos grandes. É a obediência ao social e economicamente correto!
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O nome Nicolau vem do grego Nikólaos, composto pelos elementos níke, que quer dizer “vitória” e laós que significa “povo”. Nestes termos significa “aquele que vence com o povo” ou “aquele que conduz o povo à vitória”. Ora aquele que vence junto com o povo corporiza uma pessoa dotada de grande simpatia e capacidade de comunicação, que consegue fazer-se entender até mesmo com um olhar ou uma mudança no tom da voz.
O som da pronúncia do nome Nicolau é similar aos nomes: Nick, Nicolai, Nicoli, Nicolae, Neculai, Nicolay, Nikolai, Nigel, Nikhil, Nicole, Nicoly, Nycole, Nicolly, Nigella, Najla, Najila, Nikole, NIklaus, Nico, Nikolas, Nicholas, Nicollas, Klaus.
Nicolau também ficou conhecido como o nome de muitos papas (v.g: Nicolau I ou Nicolau Magno), imperadores (v.g: Nicolau II, da Rússia), patriarcas (v.g: Nicolau I e II de Constantinopla) e pesquisadores de grande importância para a humanidade, como Nicolau Maquiavel e Nicolau Copérnico, bem como localidades e ilhas, incluindo a cidade na parte oriental da ilha de Creta: Hágios Nikolaos
 Do santo cuja memória litúrgica se faz a 6 de dezembro de cada ano os livros litúrgicos dizem muito pouco. O missal romano diz laconicamente:
São Nicolau, Bispo de Mira, na Lícia, na hodierna Turquia, ilustre pela sua santidade e pela sua intercessão ante o trono da divina graça”.
E a Liturgia das Horas refere:
Bispo de Mira, na Lícia (hoje Turquia), morreu nos meados do século IV e foi venerado em toda a Igreja, sobretudo a partir do século X”.
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O ACI digital dedicou-lhe, em 2018, um artigo em que se destaca um dito de São Nicolau, comummente tido como padroeiro das crianças, mas também das moças solteiras, dos marinheiros, dos viajantes e da Rússia, Grécia e Turquia: “Seria um pecado não repartir muito, sendo que Deus nos dá tanto”. E refere que um azeite milagroso brota dos seus restos mortais, que serviu para a cura dos doentes.
Por se tratar dum santo dos primeiros séculos, pouco se sabe com exatidão a respeito dele, salvo que nasceu na Licia (atual a Turquia), numa família muito rica em que sobressaía um tio Bispo que o ordenou sacerdote. Os pais de Nicolau morreram a ajudar os doentes vitimados por uma epidemia e deixaram considerável fortuna ao filho. Porém, o jovem decidiu reparti-la entre os pobres e tornar-se monge. Mais tarde, peregrinou ao Egito e à Palestina, onde palmilhou a Terra Santa. Retornado à cidade de Mira (também na Turquia), onde os bispos e sacerdotes discutiam no templo sobre quem devia ser eleito novo Bispo da cidade. Ao final, decidiram que seria o próximo sacerdote que ingressasse no recinto. Nesse momento, São Nicolau entrou e foi eleito prelado por aclamação de todos.
Com uma perseguição promovida pelo imperador Diocleciano contra os cristãos, ele foi preso, sendo libertado apenas quando o imperador Constantino subiu ao trono. Dizia São Metódio:
Graças aos ensinamentos de Nicolau, a metrópole de Mira foi a única que não se contaminou com a heresia ariana, a qual rechaçou firmemente, como se fosse um veneno mortal”.
Registe-se que o arianismo negava a divindade de Jesus Cristo. Dessa forma, São Nicolau combateu incansavelmente o paganismo e a heresia.
Defensor da justiça, salvou três jovens de ser executados, vítimas de um suborno do governador Eustácio, que logo se arrependeu ao ser repreendido por Nicolau. Três oficiais foram testemunhas destes factos e, posteriormente, quando estavam em perigo de morte, rezaram a São Nicolau. O santo apareceu em sonhos a Constantino e ordenou-lhe que os libertasse porque eram inocentes. Assim, depois de os soldados dizerem ao imperador que tinham invocado São Nicolau, ele libertou-os, com uma carta ao Bispo, em que lhe pedia que rezassem pela paz no mundo.
O santo é patrono dos marinheiros porque, no meio duma tempestade, alguns marinheiros começaram a clamar: “Oh Deus, pelas orações de nosso bom Bispo Nicolau, salva-nos”. Nesse momento, conta-se, apareceu São Nicolau sobre o navio, abençoou o mar e este acalmou-se. Em seguida, o Bispo desapareceu. Segundo o costume do Oriente, os marinheiros do mar Egeu e do mar Jónico têm uma “estrela de São Nicolau” e desejam boa viagem dizendo: “Que São Nicolau leve o teu leme”.
Conta-se que três meninos foram assassinados e lançados num barril de sal. Mas, pela oração de São Nicolau, os infantes voltaram à vida, o que fez dele padroeiro das crianças e levou a que na iconografia o santo seja representado com três pequenos ao seu lado.
Outra lenda narra que na Diocese de Mira havia um vizinho em extrema pobreza (muito menos tinha condições de pagar o dote de casamento delas) que decidiu expor as suas três filhas virgens à prostituição para que toda a família pudesse sobreviver. Nicolau, procurando evitar que tal sucedesse, na escuridão da noite, atirou pela chaminé da casa daquele homem uma bolsa com moedas de ouro. Com o dinheiro, a filha mais velha casou-se. Quis o santo fazer o mesmo em benefício das outras duas, mas na segunda ocasião, depois de atirar a bolsa sobre a parede do pátio da casa, acabou descoberto pelo pai das jovens, que lhe agradeceu pela sua caridade. Por isso, ficou padroeiro das raparigas solteiras em idade de casar.
São Nicolau faleceu a 6 de dezembro, mas não sabe com exatidão se foi no ano 345 ou 352. Mais tarde, a sua devoção aumentou e foram-lhe atribuídos inúmeros milagres. No século VI, o imperador Justiniano construiu uma igreja em Constantinopla (hoje Istambul) em sua honra e o santo tornou-se popular em todo o mundo. Em 1087 os seus ossos foram resgatados de Mira, que já estava sob domínio dos muçulmanos, e levados para Bari, na costa da Itália. Por isso, é chamado São Nicolau de Mira ou São Nicolau de Bari. As suas relíquias repousam na Igreja de “San Nicola de Bari”, na Itália.
São Nicolau é patrono da Rússia, Grécia e Turquia. Além disso, é honrado em cidades da Itália, Holanda, Suíça, Alemanha, Áustria e Bélgica.
Dos seus restos mortais, como se disse, brota um azeite conhecido como o “Manna di S. Nicola”. Em Mira, dizia-se que “o venerável corpo do Bispo, embalsamado no azeite da virtude, suava uma suave mirra que o preservava da corrupção e curava os doentes, para glória daquele que tinha glorificado Jesus Cristo, nosso verdadeiro Deus”.
A sua figura bondosa e caridosa passou a ser associada em muitos lugares à figura do Pai Natal nos países latinos, que traz presentes para as crianças na Noite de Natal. Na Alemanha, é Nikolaus, e nos países anglo-saxões, Santa Claus.
Neste período, este simbolismo deve remeter para São Nicolau e, assim, recordar a todos do amor e caridade para com as crianças e os mais pobres, além da alegria de servir a Deus.
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Em suma, mais do que alimentar caprichos, necessidades factícias, comércio em barda e asfixiante, consumismo escravizante e quase indigno, importa voltar ao sentido profundo de justiça comutativa, distributiva e social, gerando equidade e a igualdade possível, e à atenção eficaz aos mais débeis pela idade, pela saúde ou pela falta de recursos. Talvez assim nos aproximemos mais um pouco da mística do Natal e da lição do presépio onde todos cabem e aprendem se tiverem boa vontade.
2019.12.06 – Louro de Carvalho

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